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segunda-feira, 7 de novembro de 2011

A BANALIZAÇÃO DA IMPROBIDADE, DO ENVILECIMENTO DA ÉTICA, NUMA ANÁLISE ESPÍRITA


O jargão "jeitinho brasileiro", ou levar vantagem a despeito de tudo e de todos, irrompe-se como uma finalidade cristalizada, que se potencializa e se generaliza no contexto da organização social. O envilecimento da ética, a degeneração moral “institucionalizada” (corrupção) no Brasil tem levado alguns historiadores a tentar explicar as causas plausíveis, considerando a tese da infeliz "herança patrimonialista lusitana", a fim de dar conta de se justificar o torpe caráter de alguns desonrados agentes do estado brasileiro que fazem do bem público uma propriedade privada.
Com os escândalos divulgados pela mídia, constata-se um entrelaçamento crescente e preocupante da administração pública com as atividades delituosas, mediante um sistêmico processo de pressões, chantagens, tráfico de influência, intimidações e corrupções, com a prática do suborno e da propina, dentre outras falcatruas morais inimagináveis. A defecção moral abrange a corrupção de costumes, a falta de caráter individual ou coletivo, o desleixo administrativo ou governamental, a falta de solidariedade num grupo humano, a indiferença pela sorte alheia ou pelos interesses públicos, a tolerância condescendente de superiores às falhas dos subalternos, filhos e tutelados (nepotismos).
Esse quadro imoral talvez nos permita evocar a emblemática figura do venturosíssimo dom Manuel, que ascendeu ao trono de Portugal circunstancialmente. Nono filho do irmão mais novo do rei Afonso V, suas chances de ganhar a coroa eram nulas, mas acabou por se beneficiar das reviravoltas políticas e da sequência de mortes que tiraram de seu caminho todos os pretendentes ao trono. Investido do título e do poder real em 1495, em três anos já entrava para a História, quando o navegador Vasco da Gama abriu o caminho oceânico para as pedrarias e especiarias das Índias. Com as naus da esquadra de Pedro Álvares Cabral, dom Manuel, rei “por acaso”, alcançou o pináculo almejado por toda uma linhagem de ambiciosos monarcas portugueses.
Nesses "descasos", há meio milênio o nosso país foi parcelado em algumas capitanias e os felizardos apossaram-se de imensas porções de áreas doadas pelo “dono” das terras descobertas. Para assegurar o domínio da terra e colonizá-la, a fim de não perder as riquezas naturais (vegetais e minerais), a estratégia portuguesa foi, a princípio, degredar (premiando) os proscritos peninsulares, enviando-os para a ilha Vera Cruz (depois terra de Santa Cruz) e hoje Brasil.
Para alguns estudiosos, essa decisão estabeleceu vínculo no imaginário de tais degredados, que nestas longínquas “terras de ninguém”, selvagens, inabitadas por “civilizados” não havia leis para regular suas sanhas criminosas. E ante essa história promíscua, a prática da rapinagem tem-se repetido através dos séculos, nas plagas do Cruzeiro do Sul. Isso inspirou o patriarca da Independência (José Bonifácio), reencarnado com o nome de Rui Barbosa, o Águia de Haia, a lançar o clamor de indignação ao deparar com todas as tramóias cometidas: "De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto".
Há alguns anos, a pensadora russo-americana Ayn Rand (1), no seu brado de indignação pronunciou: “Quando você perceber que, para produzir, precisa obter a autorização de quem não produz nada; quando comprovar que o dinheiro flui para quem negocia não com bens, mas com favores; quando perceber que muitos ficam ricos pelo suborno e por influência, mais que pelo trabalho, e que as leis não nos protegem deles, mas, pelo contrário, são eles que estão protegidos de você; quando perceber que a corrupção é recompensada, e a honestidade se converte em auto-sacrifício; então poderá afirmar, sem temor de errar, que sua sociedade está condenada.
Há putrefação moral na política, na polícia, na justiça, na administração pública, na educação, nas diversões públicas, na família, na economia, no Direito (isto é, no antiDireitro), nos medicamentos, nos discursos/argumentos pseudocientíficos, nas igrejas, nos centros espíritas.
É evidente que ficamos entristecidos quando sabemos, seja pela imprensa ou outros meios, que algumas instituições "filantrópicas" desviam recursos, emitem recibos forjados de falsas doações etc. Há centros que até dão uma 'ajudazinha' aos confrades, driblando o Imposto de Renda retido na Fonte... Imaginem! Instituições outras recebem, à guisa de doações, roupas, calçados, alimentos, eletrodomésticos etc., e os dirigentes se apropriam deles, com a maior naturalidade.
Fui agente fiscal do governo federal durante 40 anos de vida pública, constatei e autuei muitas situações deprimentes de irregularidades. Na minha experiência profissional, fico a imaginar: será que todos os que visam lucros financeiros (comerciantes de produtos espíritas que editam, difundem, vendem livros espíritas, CDs, DVDs de palestras) declaram corretamente os movimentos contábeis com os órgãos fazendários?
Que a consciência de cada um responda. Mas, em verdade, as falanges das trevas se organizam para obstruir muitos projetos cristãos. Os obsessores são inteligentes, organizados, e vão dando um passo de cada vez, pois conhecem muito bem pontos vulneráveis das pessoas de má fé.
Quantos administram através de escritórios e gabinetes luxuosos e desviam os valores que pertencem ao povo; que elaboram leis censuráveis, para os beneficiar e aos seus parentes; que deprimem os pobres, utilizando-se de medidas especiais (de exceção), que os neutralizam; que decretam servilismo das massas ingênuas, para que abiscoitem o que lhes pertence de direito, produzindo o detrito moral e os desarranjos psicológicos, psíquicos, espirituais.
Se quisermos viver um panorama social harmônico, devemos nos empenhar para promover uma reforma ética generalizada. Toda mudança começa em cada um de nós. Para que a sociedade melhore, cada qual deve se esforçar por se aprimorar. É imperativa a adoção de novos hábitos. Basta! De procurar levar vantagem, de fugir dos próprios deveres. Vamos, definitivamente, dar um “chega prá lá” nas mentiras, nas fraudes e na sonegação fiscal. Que se restabeleçam os valores da Ética Cristã e que se revitalize o mundo da honestidade.
Muitos se interrogam no imo da consciência: Haverá futuro promissor para uma sociedade estruturada assim como a nossa? Penso que sim! Considerando pelo lado, digamos, mais transcendente da questão, para apurar a estrutura social deste país, a tese de Humberto de Campo, contida no livro “Brasil coração do Mundo e Pátria do Evangelho”, assegura um norte de esperança para todos nós. Creio que na “Pátria do Evangelho” estão sendo programadas reencarnações de almas nobres e sábias, e esse fato nos aponta para um futuro menos conturbado para as futuras gerações de brasileiros.
Jorge Hessen
http://jorgehessen.net


Referência:

(1) Ayn Rand nasceu em 1905, em São Petersburgo, Rússia. E desencarnou em 1982, nos EUA. Rand se tornou a nascente [“fountainhead”] do Objetivismo, nome que ela deu à sua filosofia. Defendia que o direito do indivíduo à sua própria vida, e aos frutos do seu trabalho.

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