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sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Retorno à simplicidade



SIMONE M. DE ALMEIDA PRADO

simone.aprado@yahoo.com

Orlândia, SP (Brasil)


“Homens fracos, que compreendeis as trevas de vossas inteligências, não afasteis o facho que a clemência divina coloca entre vossas mãos para iluminar vosso caminho e vos conduzir, filhos perdidos, ao regaço do Pai.” (O Espírito de Verdade)


Quando Jesus veio ter conosco, trouxe consigo poderosa ferramenta de instrução: a simplicidade. Não poderia ser de outra forma. Na condição de Espírito puro, optou pela simplicidade desde o berço. Não nasceu entre os poderosos, não buscou títulos terrenos. Não exigiu aplausos ou cobrou impostos de gratidão e reconhecimento. Falava em tom pacífico, sereno, por vezes enérgico, franco, mas não menos caridoso ou desabrido. Mesmo usando de linguagem muitas vezes simbólica, Jesus não prescindiu da simplicidade nos atos e nas palavras. Consciente das inúmeras controvérsias que adviriam da letra humana, e compreendendo que a humanidade levaria séculos para assimilar a verdade de seus ensinamentos, o Mestre transmitiu a sabedoria divina de forma simples, na mais clara intenção de preservá-la pelos séculos porvindouros. A essência moral da mensagem evangélica prevaleceu e, no tempo certo, o Consolador prometido veio lembrar a beleza e a profundidade das palavras de vida eterna, demonstrando a realidade do Espírito imortal, sempre amparado pela Misericórdia Divina.

"Que ouçam os que têm ouvidos para ouvir”, disse o Mestre. O Espiritismo é a chave que abre novos e vastos horizontes, fazendo luz nas sombras, falando ao coração e à razão. Seu advento marcou o retorno à simplicidade e à pureza do Cristianismo primitivo, desfigurado por interpretações mitológicas e ilusórias práticas de dominação e poder.

“O Espiritismo não criou igrejas, não precisa de templos suntuosos e tribunas luxuosas com pregadores enfatuados. Não tem rituais, não dispensa bênçãos, não promete lugar celeste a ninguém, não confere honrarias em títulos ou diplomas especiais, não disputa regalias oficiais. Sua única missão é esclarecer, orientar, indicar o caminho da autenticidade humana e da verdade espiritual do homem. Se não compreendermos isso e nisso não nos integrarmos, estaremos sendo pedras de tropeço para os que desejam realmente evoluir, não por fora, mas por dentro.” (PIRES, J. H.)

"Estamos convencidos, segundo as afirmativas dos nossos Benfeitores Espirituais, que a mais elevada função da Doutrina Espírita é a de restaurar os ensinamentos de Jesus com as elucidações de Allan Kardec, para a felicidade real das criaturas." (XAVIER, F. C./EMMANUEL)

O Espiritismo esclarece e confirma que na pureza dos ensinamentos de Jesus encontramos o caminho, a Verdade e a vida. Segundo Kardec, o verdadeiro espírita e o verdadeiro cristão são a mesma coisa. Como explicar então as estranhas práticas que temos aceitado, em nome do Espiritismo, e que vão de encontro à simplicidade adotada pelo Mestre? Por que permitir a introdução, nas casas espíritas, das chamadas terapias alternativas, sabendo que a casa espírita deve zelar pela pureza doutrinária, com vistas à transformação do ser humano de dentro para fora, e não o contrário?

Por qual motivo temos adotado métodos estranhos, advindos de outras crenças, nos trabalhos de desobsessão, ou aderindo a rituais e cerimônias com o fim de realizar casamentos entre adeptos da Doutrina, sabendo que tais posturas são totalmente incoerentes com a proposta espírita?

Por que temos esquecido de estudar as obras fundamentais de Allan Kardec para deitarmos os olhos em livros pobres no conteúdo e na forma, publicados sem qualquer cuidado e prudência, e muitas vezes em total desacordo com os conceitos espíritas?

Como justificar a exploração, o abuso e a vulgarização da mediunidade a pretexto de favorecer instituições de beneficência?

Praticamos o Espiritismo verdadeiro quando cobramos para divulgar a palavra evangélica, promovendo encontros e eventos dispendiosos, condicionando a participação dos ouvintes ao pagamento pelos benefícios espirituais que deverão receber? Onde a responsabilidade em manter acesa a chama do amor, da fé e da esperança, à maneira como nos foi passada pelo Mestre, a todos e ao alcance de todos?

Se o Consolador prometido nos relembra os ensinamentos de Jesus, pautados na simplicidade que ilumina e eleva o Espírito acima de todos os interesses puramente terrenos, como reconhecê-lo na ausência de clareza e naturalidade nas tribunas, ou ofertando a palavra apenas a um grupo seleto de intelectuais, em desarmonia com a maioria do auditório? A simplicidade que marcou o verdadeiro Cristianismo e que o Espiritismo incorpora e apresenta na sua feição de Evangelho redivivo precisa ser estendida a todos os atos relacionados à sua prática e divulgação, nos mais diversos setores da seara.

Se o que nos move, dentro dos princípios que abraçamos, é a caridade desinteressada, lembremos “que a boa intenção passará sem maior benefício, caso não se ligue à esfera da realidade imediata na ação reta”. (XAVIER, F. C.)

Jesus está no leme, mas o espírita assume grave compromisso perante sua consciência. "O patrimônio inestimável dos postulados espíritas está em nossas mãos." (VIEIRA, W.)

“(...) temos deveres intransferíveis para com a Doutrina Espírita (...) precisamos guardar-lhe a limpidez e a simplicidade com dedicação sem intransigência e zelo sem fanatismo.” (XAVIER, F. C. /EMMANUEL e BARBOSA, E.)

Ontem, desvirtuamos o Cristianismo e arcamos com as consequências do nosso despreparo e imaturidade; hoje, nossa responsabilidade é bem maior: manter acesa a luz da Verdade, evitando que os velhos erros se repitam. Erros que atrasaram o progresso em muitos anos, por rejeitarem a simplicidade grandiosa exemplificada pelo Cristo.

Referências bibliográficas:

PIRES, J. H. Curso Dinâmico de Espiritismo. O Grande Desconhecido. Ed.: Paideia, São Paulo, SP, 2000, cap. IV;

Kardec, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo: Ed.: IDE, Araras, SP, 2010, cap. VI;

VIEIRA, W. Conduta Espírita. Ed.: FEB, Rio de Janeiro, RJ, 2009, p. 63;

XAVIER, F. C./EMMANUEL. A Terra e o Semeador. Entrevistas. Ed.: IDE, Araras, SP, 2005, p.76;

XAVIER, F. C./EMMANUEL; BARBOSA, E. No mundo de Chico Xavier. Entrevistas. Ed.: IDE, Araras, SP, 2005, p. 95;

XAVIER, F. C. Pão Nosso, por Emmanuel. Ed.: FEB, Rio de Janeiro, RJ, 2009, lição 86.

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