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Luiz Carlos Formiga |
Cornélio
é alquimista e faz transmigração das almas. O enredo da peça teatral repousa no
Principio da Reencarnação, mas surge um elemento complicador. O casal retorna
de sexo trocado. Kardec diz que a ideia da reencarnação fornecerá, em profusão,
situações novas para todos os gêneros. Na mesma Revista, comenta outra peça.
Nela,
um sapateiro sente inveja de um jovem magistrado, que reside numa bela casa e ainda
tem uma escrava linda, para cuidar dele.
Cheio
de cobiça, o sapateiro aceita proposta de um gênio, desfarçado de galo, para vivenciar
a vida boa do vizinho. (*)
Um
gênio no corpo de um galo!
Encontramos
pior, um verdadeiro surto psicótico. Um gato evangelizador que falava de reencarnação.
(1) “Eu pensava que a morte existia. Que
tristeza. Eu pensava que a gente morria. Que incerteza. Hoje sei que a vida
continua. Que alegria. Hoje sei sou espírito encarnado. Obrigado Senhor,
obrigado!
O
gênio, agora sem o desfarce, diz que pode passar o sapateiro para o corpo do
magistrado e o magistrado para o corpo dele.
Aqui
não há troca de sexo, mas de corpo e ainda na mesma encarnação. Que loucura!
O
sapateiro, “entra” no corpo do feliz vizinho e descobre que o magistrado tinha
uma doença degenerativa. Envelhece com velocidade de Formula 1.
Essa
transformação traz à peça uma porção de complicações cômicas.
Kardec
não pode deixar de destacar o erro dos que confundem o Princípio da Reencarnação
com a transmigração ou metempsicose.
O
Codificador não condena peças com suas fantasias. Acha-as até salutar, diante
daquelas que colocam em cena a impertinência dos vícios e paixões.
Os Espíritos
amigos disseram que Deus era Inteligência Suprema e mostraram Seu Curriculum. Kardec indaga de novo. Quando dizemos que Deus é eterno, infinito,
imutável, imaterial, único, onipotente, soberanamente justo e bom, temos idéia
completa de seus atributos?
Depois de outras respostas aprendemos que Jesus havia sido o tipo mais
perfeito que Deus ofereceu ao homem, para lhe servir de guia e modelo.
Fiquei pensando nessa questão e me perguntei como um Ser tão especial havia
se relacionado com as mulheres? Aí, descobri que Suas atitudes, principalmente considerando
os costumes da época, foram revolucionárias.
Maria de Magdala era atormentada por sete demônios. O Mestre esteve
também com Salomé; a Samaritana; as duas que o ungiram; a mulher cananeia; a
viúva de Naim; a mulher hemorroissa.
Impressionou-me o caso da mulher encurvada, não porque foi numa sinagoga
e num sábado, mas porque ela orava. Isso é uma pista.
Lucas diz que ela (não sei se em outra vida fora feiticeira) carregava
“na corcunda” um espírito doente. A maldade é doença da alma.
O mal não é eterno. As memórias emocionais negativas estocadas, que podem
permanecer por milênios, um dia desaparecem diante do antibiótico da expiação e
da vacina do perdão, A pista: ela orava.
Todo ciclo expiatório também chega ao fim. Desaparecendo o carma, um mago
adversário já não poderá se afinizar. Foram dezoito anos de sofrimento redentor.
Agora já não existiam os defeitos pertinentes aos dois e a presença de Jesus ainda
causava mal-estar no algoz. Podemos dizer hoje que “uma feiticeira pode deixar
de ser corcunda”, só ficará assim se for teimosa.
Jesus deu muitas provas de sua “elevada estima e consideração”, carinho e
compreensão, pelo sexo oposto. Mantinha com elas uma relação aberta. Afinal, nasceu
de uma delas.
Kardec ficou penhorado antes e também depois de 1855, o ano em que entrou
em contato com as mesas girantes. Lembremos: Srª Plainemaison ofereceu sua casa; Srtas. Baudin (14 e 16
anos) receberam mensagens do Espírito de Verdade; com a Srta. Japhet (20 anos)
recebeu esclarecimentos complementares; com a Srta. Ermance Dufaut (14 anos)
concluiu “O Livro dos Espíritos”; trabalhou com a Srta.Roustan, Srta. Canu, Srta.
Carlotti, Senhora Lecrer e Senhora Clement. Ainda temos a amiga de todas as
horas, a Senhora Amélie Boudet.
O Codificador da Doutrina Espírita não tinha
preconceitos. Sobre isso, um médico foi tão
infeliz que causou comentários na WEB. (2)
“Fiz um
transplante de fígado sem chorar, estou tão orgulhosa!”
“Permaneci
sexy, depois de todo um dia de cultura de células”
Na próxima encarnação, o leitor aceitaria a escalação no time das
mulheres?
O problema é que temos conhecimento da existência das reencarnações compulsórias.
Fazer o que?
O Espiritismo, que foi acusado de “fábrica de loucos”, supera hoje nos
Centros Espíritas os grandes hospitais em número de consultas. (3) Na Revista
Espírita a peça de teatro traz Cornélio que era um mago ou feiticeiro que se ocupava
especialmente da transmigração das
almas. Isso aguça a curiosidade.
Hermínio
Miranda comenta que os Espíritos responderem, com lucidez e prudência, as
questões de números 551 a 557, sobre o “Poder oculto. Talismãs. Feiticeiros” (4)
Diz que a época não estava madura para o aprofundamento do problema, nem isto
seria apropriado no livro básico da Doutrina Espírita, mas que Eles disseram o suficiente para formular-se
um juízo sobre a matéria, levando em conta as superstições que prevaleciam
àquele tempo.
Os
Espíritos se limitaram a respostas sumárias, mas deixaram aberturas para futuros desdobramentos.
Aproveitaram
para ensinar que Deus não permitiria que um homem mau, com o auxílio de um
Espírito igual, fizesse o mal ao seu próximo.
Os
Espíritos também foram cautelosos quanto à crença no poder de enfeitiçar
declarando que esses fatos são naturais, mal observados e também mal
compreendidos. Disseram que algumas pessoas mal intencionadas podem dispor de
grande força magnética, tornando possível que outros Espíritos maus, possam
colaborar no mau uso dessa força. No
entanto, isso só acontece no caso do mal
ser possível. Naquilo que Deus não permite nada podem os Espíritos.
Não
nos impressionemos com os seus rituais, seus gestos, seus talismãs, suas
evocações, suas palavras misteriosas e secretas. Não temos que atuar sobre
esses sinais exteriores dos seus cultos.
Embora
não seja fácil lidar com os magos desencarnados, quando estamos num grupo
mediúnico bem constituído e harmonizado, eles nada conseguirão contra nós.
Somente sofreremos o que estiver autorizado pela nossa ficha cármica.
Nós temos que atuar é exatamente sobre a razão
e o sentimento dos Espíritos atormentados que parecem seguros de si e frios.
Toda
aparente serenidade desmorona, quando conseguimos convencê-los de seus trágicos
enganos. Estejamos prontos para ajudá-los, pois este é o momento mais grave,
mais sério, mais profundamente humano de suas vidas.
Será
necessário tratá-los com carinho, humildade e compreensão, porque a dor na
consciência quando desperta é, quase sempre, esmagadora.
Miranda
leciona ainda que, esses Espíritos que na Terra estiveram envolvidos nas
práticas mágicas, não desaparecem, nem perdem o conhecimento dos mecanismos de
certas leis do magnetismo, da hipnose, da manipulação de drogas e fluídos, de
forças naturais e de toda a “tecnologia” que lhes proporcionava poderes
secretos e misteriosos, mas muito reais.
Hoje,
com os esclarecimentos da Doutrina Espírita estamos em condições de entender
muitos desses segredos e mistérios. No fundo o mago sempre foi um médium,
assistido por Espíritos desencarnados afins e que possuem os mesmos interesses.
A
magia é mais comum do que desejaríamos admitir, e oferece riscos realmente
sérios, contra os quais os grupos mediúnicos têm que estar bem preparados e
assistidos. É claro que ela age apenas quando e onde encontra as brechas e o
condicionamento da culpa, da falta, do erro, que nos sintoniza com o mal e nos
expõe à aproximação dos cobradores.
Correremos
perigo se formos invigilantes. Deveremos nos perguntar, o que os problemas que
estamos vivenciando estão querendo nos dizer. (5)
Digo
isso porque tenho muitas cicatrizes. Não se pode sair sem sem queimaduras!
Afirma
Miranda que os magos desencarnados podem ser inteligentes, experimentados e conhecedores
profundos das fraquezas humanas. Eles não possuem escrúpulos e não temem
represálias. São ainda pouco acessíveis à doutrinação, ao apelo do amor e do
perdão.
Sabem
que somente estarão protegidos da dor, enquanto mantiverem em torno de si mesmos
o clima de terror. Atacam para não serem atacados, oprimem para não serem
oprimidos, espalham a dor para fugirem às suas próprias.
Todos
estão conscientes que terão que enfrentar a verdade, a realidade de si mesmos,
pois o mal não é eterno. Por enquanto
usam a vontade bem treinada, para movimentar, em seu proveito, as forças da
Natureza. Isto é um paradoxo, “com medo da morte eles se matam”, pois sabem que
quem semeia dor não pode colher paz.
O
trabalho de doutrinação é uma atividade do coração, muito pessoal,
essencialmente humana. Só pode ser realizado em clima de total doação, de
empatia, de profundo e sincero amor fraterno. Nele não há espaço para a
indiferença ou o comodismo.
O
grupo mediúnico é instrumento de socorro, ferramenta de trabalho, campo de
experimentações fraternas e escada. A escada é uma construção, por onde
sobem nossos irmãos desarvorados e nós, os
que tentamos nos redimir, na tarefa do serviço, de amor ao próximo.
Como
não existem doutrinadores perfeitos, contentemo-nos em ser razoáveis ao tempo
que procuramos adquirir as qualidades que ainda nos faltam.
Os
médiuns não podem enganar-se a si mesmos, o amor fraterno tem que emergir das
profundezas do ser, como um movimento irreprimível, no qual nos doamos
integralmente. Quando conseguimos nos transmutar em amor, ante os companheiros
que sofrem, eles não podem resistir. (6)
Depois
de anos de estudos e intensa atividade prática, Hermínio Miranda revela o segredo do resgate. (7)
(*) Revista Espírita. Jornal de Estudos
Psicológicos. 1868. Página 214. Editora Cultural Espírita Edicel LTDA. Tradução
de Júlio Abreu Filho.
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