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sábado, 2 de setembro de 2017

TODA FEITICEIRA É CORCUNDA

Luiz Carlos Formiga


Cornélio é alquimista e faz transmigração das almas. O enredo da peça teatral repousa no Principio da Reencarnação, mas surge um elemento complicador. O casal retorna de sexo trocado. Kardec diz que a ideia da reencarnação fornecerá, em profusão, situações novas para todos os gêneros. Na mesma Revista, comenta outra peça.
Nela, um sapateiro sente inveja de um jovem magistrado, que reside numa bela casa e ainda tem uma escrava linda, para cuidar dele.
Cheio de cobiça, o sapateiro aceita proposta de um gênio, desfarçado de galo, para vivenciar a vida boa do vizinho. (*)
Um gênio no corpo de um galo!
Encontramos pior, um verdadeiro surto psicótico. Um gato evangelizador que falava de reencarnação. (1) “Eu pensava que a morte existia. Que tristeza. Eu pensava que a gente morria. Que incerteza. Hoje sei que a vida continua. Que alegria. Hoje sei sou espírito encarnado. Obrigado Senhor, obrigado!
O gênio, agora sem o desfarce, diz que pode passar o sapateiro para o corpo do magistrado e o magistrado para o corpo dele.
Aqui não há troca de sexo, mas de corpo e ainda na mesma encarnação. Que loucura!
O sapateiro, “entra” no corpo do feliz vizinho e descobre que o magistrado tinha uma doença degenerativa. Envelhece com velocidade de Formula 1.
Essa transformação traz à peça uma porção de complicações cômicas.
Kardec não pode deixar de destacar o erro dos que confundem o Princípio da Reencarnação com a transmigração ou metempsicose.
O Codificador não condena peças com suas fantasias. Acha-as até salutar, diante daquelas que colocam em cena a impertinência dos vícios e paixões.
Os Espíritos amigos disseram que Deus era Inteligência Suprema e mostraram Seu Curriculum. Kardec indaga de novo. Quando dizemos que Deus é eterno, infinito, imutável, imaterial, único, onipotente, soberanamente justo e bom, temos idéia completa de seus atributos?
Depois de outras respostas aprendemos que Jesus havia sido o tipo mais perfeito que Deus ofereceu ao homem, para lhe servir de guia e modelo.
Fiquei pensando nessa questão e me perguntei como um Ser tão especial havia se relacionado com as mulheres? Aí, descobri que Suas atitudes, principalmente considerando os costumes da época, foram revolucionárias.
Maria de Magdala era atormentada por sete demônios. O Mestre esteve também com Salomé; a Samaritana; as duas que o ungiram; a mulher cananeia; a viúva de Naim; a mulher hemorroissa.
Impressionou-me o caso da mulher encurvada, não porque foi numa sinagoga e num sábado, mas porque ela orava. Isso é uma pista.
Lucas diz que ela (não sei se em outra vida fora feiticeira) carregava “na corcunda” um espírito doente. A maldade é doença da alma.
O mal não é eterno. As memórias emocionais negativas estocadas, que podem permanecer por milênios, um dia desaparecem diante do antibiótico da expiação e da vacina do perdão, A pista: ela orava.
Todo ciclo expiatório também chega ao fim. Desaparecendo o carma, um mago adversário já não poderá se afinizar. Foram dezoito anos de sofrimento redentor. Agora já não existiam os defeitos pertinentes aos dois e a presença de Jesus ainda causava mal-estar no algoz. Podemos dizer hoje que “uma feiticeira pode deixar de ser corcunda”, só ficará assim se for teimosa.
Jesus deu muitas provas de sua “elevada estima e consideração”, carinho e compreensão, pelo sexo oposto. Mantinha com elas uma relação aberta. Afinal, nasceu de uma delas.
Kardec ficou penhorado antes e também depois de 1855, o ano em que entrou em contato com as mesas girantes. Lembremos: Srª Plainemaison  ofereceu sua casa; Srtas. Baudin (14 e 16 anos) receberam mensagens do Espírito de Verdade; com a Srta. Japhet (20 anos) recebeu esclarecimentos complementares; com a Srta. Ermance Dufaut (14 anos) concluiu “O Livro dos Espíritos”; trabalhou com a Srta.Roustan, Srta. Canu, Srta. Carlotti, Senhora Lecrer e Senhora Clement. Ainda temos a amiga de todas as horas,  a Senhora Amélie Boudet.
O Codificador da Doutrina Espírita não tinha preconceitos.  Sobre isso, um médico foi tão infeliz que causou comentários na WEB. (2)
“Fiz um transplante de fígado sem chorar, estou tão orgulhosa!”
“Permaneci sexy, depois de todo um dia de cultura de células”
Na próxima encarnação, o leitor aceitaria a escalação no time das mulheres?
O problema é que temos conhecimento da existência das reencarnações compulsórias. Fazer o que?
O Espiritismo, que foi acusado de “fábrica de loucos”, supera hoje nos Centros Espíritas os grandes hospitais em número de consultas. (3) Na Revista Espírita a peça de teatro traz Cornélio  que era um mago ou feiticeiro que se ocupava especialmente da transmigração das almas. Isso aguça a curiosidade.
Hermínio Miranda comenta que os Espíritos responderem, com lucidez e prudência, as questões de números 551 a 557, sobre o “Poder oculto. Talismãs. Feiticeiros” (4) Diz que a época não estava madura para o aprofundamento do problema, nem isto seria apropriado no livro básico da Doutrina Espírita, mas que  Eles disseram o suficiente para formular-se um juízo sobre a matéria, levando em conta as superstições que prevaleciam àquele tempo.
Os Espíritos se limitaram a respostas sumárias, mas deixaram  aberturas para futuros desdobramentos.
Aproveitaram para ensinar que Deus não permitiria que um homem mau, com o auxílio de um Espírito igual, fizesse o mal ao seu próximo.
Os Espíritos também foram cautelosos quanto à crença no poder de enfeitiçar declarando que esses fatos são naturais, mal observados e também mal compreendidos. Disseram que algumas pessoas mal intencionadas podem dispor de grande força magnética, tornando possível que outros Espíritos maus, possam colaborar  no mau uso dessa força. No entanto,  isso só acontece no caso do mal ser possível. Naquilo que Deus não permite nada podem os Espíritos.
Não nos impressionemos com os seus rituais, seus gestos, seus talismãs, suas evocações, suas palavras misteriosas e secretas. Não temos que atuar sobre esses sinais exteriores dos seus cultos.
Embora não seja fácil lidar com os magos desencarnados, quando estamos num grupo mediúnico bem constituído e harmonizado, eles nada conseguirão contra nós. Somente sofreremos o que estiver autorizado pela nossa ficha cármica.
 Nós temos que atuar é exatamente sobre a razão e o sentimento dos Espíritos atormentados que parecem seguros de si e frios.
Toda aparente serenidade desmorona, quando conseguimos convencê-los de seus trágicos enganos. Estejamos prontos para ajudá-los, pois este é o momento mais grave, mais sério, mais profundamente humano de suas vidas.
Será necessário tratá-los com carinho, humildade e compreensão, porque a dor na consciência quando desperta é, quase sempre, esmagadora.
Miranda leciona ainda que, esses Espíritos que na Terra estiveram envolvidos nas práticas mágicas, não desaparecem, nem perdem o conhecimento dos mecanismos de certas leis do magnetismo, da hipnose, da manipulação de drogas e fluídos, de forças naturais e de toda a “tecnologia” que lhes proporcionava poderes secretos e misteriosos, mas muito reais.
Hoje, com os esclarecimentos da Doutrina Espírita estamos em condições de entender muitos desses segredos e mistérios. No fundo o mago sempre foi um médium, assistido por Espíritos desencarnados afins e que possuem os mesmos interesses.
A magia é mais comum do que desejaríamos admitir, e oferece riscos realmente sérios, contra os quais os grupos mediúnicos têm que estar bem preparados e assistidos. É claro que ela age apenas quando e onde encontra as brechas e o condicionamento da culpa, da falta, do erro, que nos sintoniza com o mal e nos expõe à aproximação dos cobradores.
Correremos perigo se formos invigilantes. Deveremos nos perguntar, o que os problemas que estamos vivenciando estão querendo nos dizer.  (5)
Digo isso porque tenho muitas cicatrizes. Não se pode sair sem sem queimaduras!
Afirma Miranda que os magos desencarnados podem ser inteligentes, experimentados e conhecedores profundos das fraquezas humanas. Eles não possuem escrúpulos e não temem represálias. São ainda pouco acessíveis à doutrinação, ao apelo do amor e do perdão.
Sabem que somente estarão protegidos da dor, enquanto mantiverem em torno de si mesmos o clima de terror. Atacam para não serem atacados, oprimem para não serem oprimidos, espalham a dor para fugirem às suas próprias.
Todos estão conscientes que terão que enfrentar a verdade, a realidade de si mesmos, pois o mal  não é eterno. Por enquanto usam a vontade bem treinada, para movimentar, em seu proveito, as forças da Natureza. Isto é um paradoxo, “com medo da morte eles se matam”, pois sabem que quem semeia dor não pode colher paz.
O trabalho de doutrinação é uma atividade do coração, muito pessoal, essencialmente humana. Só pode ser realizado em clima de total doação, de empatia, de profundo e sincero amor fraterno. Nele não há espaço para a indiferença ou o comodismo.
O grupo mediúnico é instrumento de socorro, ferramenta de trabalho, campo de experimentações fraternas e escada. A escada é uma construção, por onde sobem  nossos irmãos desarvorados e nós, os que tentamos nos redimir, na tarefa do serviço, de amor ao próximo.
Como não existem doutrinadores perfeitos, contentemo-nos em ser razoáveis ao tempo que procuramos adquirir as qualidades que ainda nos faltam.
Os médiuns não podem enganar-se a si mesmos, o amor fraterno tem que emergir das profundezas do ser, como um movimento irreprimível, no qual nos doamos integralmente. Quando conseguimos nos transmutar em amor, ante os companheiros que sofrem, eles não podem resistir. (6)
Depois de anos de estudos e intensa atividade prática, Hermínio Miranda revela o segredo do resgate. (7)

(*)   Revista Espírita. Jornal de Estudos Psicológicos. 1868. Página 214. Editora Cultural Espírita Edicel LTDA. Tradução de Júlio Abreu Filho.  

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