Jorge Hessen
Há
poucos dias, um reconhecido divulgador do Espiritismo, utilizou-se das redes
sociais para confessar que “não era mais
espírita”. Ouvimos suas razões pelo “you tube” e percebemos a sua
ingenuidade, motivo pelo qual deliberamos comentar seu ato. Todavia, antes de explanar sobre a deserção do
propagandista insurgente e “ex-espírita”, asseguramos que não existe no
dicionário kardequiano o termo “ex-espírita”.
Até porque, uma vez ESPÍRITA, jamais serão desintegrados os ensinos revelados
pelos Espíritos aos que foram racionalmente abrangidos. Portanto, os que se assumem
“ex-espíritas” jamais foram ESPÍRITAS.
Em
Obras Póstumas encontramos o artigo “Desertores”, nele aprendemos que “entre os
ESPÍRITAS convictos, não há deserções, na lídima acepção do termo, visto como
aquele que desertasse por motivo de interesse ou qualquer outro, nunca teria
sido sinceramente ESPÍRITA; pode, entretanto, haver desânimos. Pode dar-se
que a coragem e a perseverança fraqueiem diante de uma decepção, de uma ambição
frustrada, de uma preeminência não alcançada, de uma ferida no amor-próprio, de
uma prova difícil.”[1]
Se
alguns “ex-espíritas” desertaram, aniquilando
o ideal, admitindo extinguir a chama da Doutrina dos Espíritos sob qualquer
pretexto, segundo as contingências históricas, podemos afiançar-lhes que o
Espiritismo permanecerá despontando sucessivamente por meio de diversos
instrumentos de desenvolvimento e expansão. Isto quer dizer que o Espiritismo
prosseguirá sempre, conquanto alguns, às vezes, abandonem a luta ou retrocedam,
devido às conveniências particularíssimas.
Digam
o que disserem, ou façam o que fizerem ninguém será capaz de privar o
Espiritismo do seu caráter revelador, da sua filosofia racional e lógica, da
sua moral consoladora e regeneradora. Qualquer oposição é impotente contra a
evidência, que inevitavelmente triunfa pela força mesma das coisas.
Muitos
antagonistas de Kardec acreditavam que o Espiritismo se extinguiria por causa
dos “espíritas” que se envolviam em desordem, arrogância ou deserção, onde
centros espíritas se esvaziavam ou até fechavam as suas portas, entretanto os Espíritos
não ficaram imóveis ou ociosos, ao contrário, solucionaram de maneira objetiva,
provocando novos fenômenos e fatos transcendentes, a fim de manterem desperta
as mentes humanas sob a pujante luz do Consolador Prometido.
É
óbvio que alguém que verdadeiramente estuda e busca o aperfeiçoamento moral dentro
dos ensinamentos do Espiritismo jamais (nunca mesmo!) será mental , intelectual
e sentimentalmente a mesma pessoa. O Espiritismo não impõe nada,
pelo contrário, expõe! Se é certo que todas as grandes ideias contam
apóstolos fervorosos e dedicados, não menos certo é que mesmo as melhores
dentre as ideias têm seus desertores. O Espiritismo não podia escapar aos
efeitos da fraqueza humana.
Alguns
“ex-espíritas” por algum tempo pregaram a união, semeando a separação; habilmente
levantaram questões importunas e ferinas; despertaram o despeito da
preponderância entre os diferentes grupos. Em verdade, todas as doutrinas têm tido seu Judas; o
Espiritismo não poderia deixar de ter os seus e eles ainda não lhe faltaram. Kardec
chamava-os de “espíritas de contrabando”, mas que também foram de alguma
utilidade: ensinaram ao verdadeiro ESPÍRITA a ser prudente circunspeto e a
não se fiar nas aparências. Sem dúvida, podem os tais “ex-espíritas” terem sido
crentes, mas, sem contestação, foram crentes egoístas, nos quais a fé racional
não ateou o fogo sagrado do devotamento e da abnegação.
Aos
que que lutam com coragem e perseverança cujo devotamento é sincero e sem
ideias preconcebidas os Bons Espíritos protegem manifestamente. É verdade! Os
Bons Espíritos ajudam-nos a vencer os obstáculos e suavizam as provas que
não possamos evitar-lhes, ao passo que, não menos manifestamente, abandonam os
que desertam e sacrificam a causa da verdade às suas ambições pessoais e
mesquinhas.
Quem
sabe possamos também chamar de desertores os que pregam virtudes religiosas e
sociais, acolhendo-se em trincheiras de usura, os que levantam casas de
socorro, desviando recursos que deveriam ser aplicados para sanar as dores do
próximo, as mães que, sem motivo, emudecem as trompas da vida no santuário do
próprio corpo, embriagando-se de prazeres que vão estuar na loucura, os que
passam as horas censurando atitudes de outrem, olvidando os deveres que lhes
competem os que condenam e amaldiçoam, ao invés de compreender e abençoar, os
que perderam a simplicidade e precisam de uma torre de marfim para viver.
Quando
perpetramos a deserção voluntária dos nossos deveres, diante das leis que nos
governam, decerto que imprimimos determinadas deformidades no corpo espiritual.
Benfeitores da Vida Maior são unânimes em declarar que, em todas as
ocasiões nas quais sejamos impulsionados a desertar das experiências a que Deus
nos destinou na vida terrestre, devemos recorrer à oração, ao trabalho, aos
métodos de autodefesa e a todos os meios possíveis da reta consciência, em auxílio
de nossa fortaleza e tranquilidade, de modo a fugirmos do profundo poço da irrealização
pessoal.
Referência bibliográfica:
[1]
KARDEC, Allan. Obras Póstumas, Os desertores, RJ: Ed FEB, 2001
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