Jorge Hessen
jorgehessen@gmail.com
Na Tailândia não se costuma dizer “não”. Isso é
evidente até mesmo nas palavras mais simples: "sim" é chai e o mais
próximo a "não"
que existe em tailandês é mai chai - que pode
ser traduzido como "não-sim". Com
uma cultura voltada para o coletivo, os tailandeses são ensinados a se
preocupar mais com o grupo do que consigo mesmos. É uma sociedade altamente
conservadora e tradicional, com uma tradição de que demonstrar prazer e emoção é controlada por
normas sociais restritas. “Um tailandês sempre vai dizer ‘sim’ porque a
etiqueta social determina que ele o faça." [1]
Do
mesmo modo, aqui no ocidente alimentamos
o falso conceito que quem é bom nunca diz “não”. Contudo, a
negativa salutar jamais perturba. O que despedaça é o tom contundente no qual é
vazado o “não”!
Proferir o “sim” ou
dizer o “não” exige
análise reflexiva e não deve nascer de um impulso ou estado de ânimo alterado
ou inerte. É evidente que "tanto quanto o ‘sim’ deve ser
pronunciado sem incenso bajulatório, o ‘não’ deve ser dito
sem aspereza".[2]
Há
dois mil anos Jesus nos ensinou: “seja o vosso falar: sim, sim; não, não". [3]
Tal princípio está contido em
O Sermão do Monte, que constitui a base do código de ética do Evangelho. Sobre
isso, adverte-nos Emmanuel: “o sim’ pode
ser aprazível em muitas circunstâncias, entretanto o ‘não’, em alguns
setores da luta humana, é mais construtivo". [4]
Consentir que
os outros decidam por nós é atitude de subserviência; não é humildade e muito menos
tolerância e nem brandura. Notemos que a nossa vontade é tão importante quanto
a vontade do nosso semelhante. Ora, os nossos anseios, sonhos e
emoções têm o mesmo valor dos das outras pessoas. Não admitamos
que determinem nossas aspirações, nossas ideias, nossas convicções religiosas,
nossas rotinas, nossos modos de ser. Se não agirmos com coragem seremos domados
na vontade, e o que é pior, seremos reprimidos nos próprios pensamentos.
Sem
ferirmos o próximo, e isso é mais do que óbvio, é imprescindível dizer o “não”. Precisamos
ter o traquejo para dizer o “não” sempre que a
situação nos convide a fazê-lo. Até porque, é impossível agradarmos as pessoas
a todo instante. Cedermos aos desejos e vontades dos outros pode ser a forma
mais fácil de relaxarmos o empenho de busca das nossas intransferíveis
necessidades de crescimento espiritual. Em certas ocasiões quando dizemos “sim” para os
outros, pagamos um preço elevado por isso.
Nem
sempre precisamos infligir nossa vontade, contudo não podemos deixar que os
outros se imponham sobre nós. Não é ajuizado dizer “sim” quando devemos
dizer “não”.
Porém, por que às vezes quando temos que impor o “não”, cedemos ao “sim”? Cada vez que
contemporizamos com o “sim” quando a
situação exige o “não”,
estamos nos definhando na autoridade moral, nos desmerecendo; estamos
enfim dando mais importância aos outros do que a nós mesmos.
Na
presunção de não magoarmos os outros, muitas vezes nos justificamos em demasia,
como se estivéssemos rogando perdão por não podermos acorrer. Não carecemos de
fazer isso! Não temos nenhuma necessidade de nos explicar em demasia e muito
menos pedir desculpas pela nossa opção de negativa.
Ora, se não estamos fazendo nada de
censurável ao priorizarmos outros compromissos, não precisamos ficar explicando
ou detalhando quais são essas prioridades. Em determinadas circunstâncias,
as nossas opções por fazer ou deixar de fazer algo é uma questão de
autoconsciência, portando não é da jurisdição de mais ninguém.
Aprendamos
a dizer “não”,
ou seja, se não desejamos tal ou qual coisa, digamos “não”; se não
concordamos com tal ou qual situação, pronunciemos “não’; se não
almejamos compartilhar, falar ou
adquirir algo, tão-somente digamos “não”.
O
bom senso nos sussurra que ao dizer “não” estamos apenas
dando uma resposta negativa, e isso não é insulto. Cabe aqui uma dica
cristã: que os nossos “nãos” sejam
proferidos sem rompantes e nem severidades e ponto final.
Referencias bibliográficas:
[2] XAVIER, Francisco Cândido. Pão Nosso, ditado pelo Espírito Emmanuel,
Cap. "O ‘não’ e a luta", RJ: Ed FEB, 1977
[3] Mateus 5, 37
[4] XAVIER, Francisco Cândido. Pão Nosso, ditado pelo Espírito Emmanuel,
Cap. "O ‘não’ e a luta", RJ: Ed FEB, 1977
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