Jorge Hessen
Brasília-DF
Em face do histórico colapso econômico e político brasileiro, creio que esta não tenha sido a melhor ocasião para a realização dos Jogos Olímpicos no Brasil. Reconheço que a festa da abertura foi espetaculosa, talvez uma das mais “coloridas”. Mas quero meditar um pouco sobre o fantasma da inveja de um olímpico (parece que não tem nada a ver) porém, vejamos abaixo.
Há 12 anos a saga do maratonista brasileiro Vanderlei Cordeiro de Lima, que liderava , à época, a maratona da Olimpíada da Atenas em 2004, quando a 6 quilômetros da chegada, Cornelius Horan, um ex-padre irlandês, ultrapassou as faixas de segurança e agarrou-o conduzindo o atleta para a lateral da pista. Atordoado, Vanderlei conseguiu se recuperar e terminar a corrida, mas por causa dessa interrupção, em vez do plausível “ouro” naquele dia no pódio recebeu a medalha de bronze. Logicamente o imprevisto episódio ganhou destaque em todos os meios de comunicação da Terra.
Doze anos transcorridos e Vanderlei mais uma vez protagonizou um momento apoteótico quando foi o encarregado de acender a pira da primeira olimpíada realizada no Rio de Janeiro. Foi um sentimento de júbilo que o país reconheceu, demonstrando que a escolha desse protagonismo de Vanderlei não foi injusta. No entanto, avesso a esse momento apoteótico, Stefano Baldini, o vencedor da maratona da Olimpíada da Atenas em 2004, afirmou que aquela homenagem não devolveria a Cordeiro de Lima a suposta glória (medalha de ouro) roubada. Para Stefano o brasileiro não iria ganhar a maratona de 2004, porque ele (Stefano) e Mebrahtom Keflezighi iriam alcançá-lo e Lima teria ficado com o “bronze” da mesma forma.
Não é de hoje que Baldini tem afirmado que Vanderlei deve se contentar com o bronze. Sob o abalo da inveja Baldini tem dito que Cordeiro de Lima deveria agradecer à fatalidade de ter encontrado no seu caminho Cornelius Horan [o ex-padre lunático irlandês] , porque caso contrário, afirma Baldini – “ninguém se lembraria dele (Cordeiro de Lima)”. Entretanto, há exatos dois anos o maratonista brasileiro respondeu elegantemente a Stefano como notaremos adiante.
No dia 08 de agosto, em matéria sobre o episódio supramencionado, o jornal El País tratou a reação do ex-atleta italiano [Stefano Baldini] como… inveja. Pura e simplesmente inveja. “A história poderia ser contada não como uma parábola do espírito olímpico, (…) mas como uma alegoria da inveja”, escreveu o jornal espanhol. No dia 28 de agosto de 2014, Vanderlei Cordeiro de Lima comentou sobre quem teria ganho a prova de Atenas se o incidente não tivesse acontecido: Disse o brasileiro que “o impacto físico e psicológico do que ocorreu foi muito grande. Em situação normal, eu poderia não ganhar o ouro, mas a disputa iria para a final da prova, com certeza. Eu jamais vou dizer que seria o campeão. Não vou usar de um palavreado que o próprio Baldini adotou e foi infeliz. Jamais vou subestimar os demais adversários, ainda mais se tratando de uma situação que não aconteceu”.
Constata-se no testemunho do medalhista de ouro (Stefano), um depoimento desairoso, uma combinação de lamúrias invejosas e carência de ética esportiva, totalmente oposta aos valores olímpicos. Em verdade, doze anos após o incidente de Atenas, Vanderlei Cordeiro de Lima, humildemente se mantém à frente dos que querem impedi-lo de chegar em primeiro. [1]
Nos dias que seguirão normalmente após as Olimpíadas do Rio, poderemos ansiar pelas excelsas competições da humildade, da fraternidade entre os povos, da indulgência, da beneficência, socorrendo-nos mutuamente, a fim de que a inveja, o despeito, a maldade, o ciúme, a miséria moral de qualquer casta fuja humilhada, cedendo lugar ao ingente desempenho do afeto, do respeito, do amor segundo o Messias de Nazaré o viveu e nos instruiu.
A lição nos induz a refletir que poderemos estabelecer em nós mesmos o treinamento preparatório para o vínculo respeitoso, fraterno, solidário, dando início às futuras Olimpíadas do Evangelho cujo escopo do amor ao próximo será consagrada nas arenas do Orbe inteiro.
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