Mauro
Quintella
Na coletânea
pós-morte chamada "OBRAS PÓSTUMAS", encontramos um texto de Kardec
intitulado "OS DESERTORES", onde o pensador francês analisa não só
a deserção, mas, também, outras situações problemáticas do movimento
espírita.
Os tipos de
indivíduos que caracterizam essas ocorrências estão relacionados abaixo:
1) simpatizantes que
desertaram por enfado ou interesses frustrados;
2) falsos espíritas
infiltrados no movimento por inimigos do Espiritismo para causaram discórdias e
escândalos;
3) falsos espíritas
que se infiltram no movimento espírita para causarem desunião;
4) espíritas que
apresentam declínio de ânimo na militância;
5) espíritas que
romperam com a orientação de Kardec.
Como já disse, o
artigo não trata só de deserção, que, segundo os dicionários, é o ato de
abandonar uma empreitada, um projeto, um movimento, um partido, mas também de
infiltração, desânimo e discordância.
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O primeiro grupo está
constituído da seguinte forma:
a) pessoas que
cansaram de se divertir com o fenômeno e não querem se aprofundar na vivência
dos postulados éticos do Espiritismo;
b) pessoas que
constataram que não obteriam ganhos pecuniários com a prática do Espiritismo.
Kardec os classificou
como desertores típicos, totalmente dispensáveis.
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O segundo grupo é
composto por falsos espíritas, comandados por inimigos do Espiritismo, que se
infiltram no movimento espírita para causarem discórdias e escândalos.
Acredito que essa
situação só aconteceu no tempo de Kardec, pois nunca vi ou ouvi falar de uma
ocorrência dessa espécie na atualidade.
Kardec não os
classificou como desertores, pois eram soldados teleguiados na guerra contra o
Espiritismo.
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O terceiro grupo é
composto por inimigos do Espiritismo que se fazem passar por espíritas para
semearem a desunião.
Mesmo comentário do
grupo anterior: nunca vi ou ouvi falar dessa ocorrência na atualidade, que deve
ter ocorrido apenas na época de Kardec.
Kardec não os
classificou como desertores, pois eram os comandantes da cruzada contra o
Espiritismo.
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O quarto grupo é
composto por espíritas que não abandonam as fileiras do Espiritismo, mas
apresentam um declínio de ânimo na militância, em decorrência da ausência de
devotamento e abnegação.
Kardec diz que essas
pessoas não desertam, mas esfriam, não se podendo contar com elas para o
trabalho na seara espírita.
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O quinto grupo é
composto por elementos que se afastam por discordarem das proposições de
Kardec.
O pensador francês
dividiu esse grupo em dois segmentos:
a) os discordantes
que são guiados pela sinceridade;
b) os discordantes
que são movidos pelo orgulho.
Segundo Kardec, os
primeiros não devem ser considerados desertores. Os segundos, sim.
No entanto, eu
acredito que sinceridade e orgulho não podem ser utilizados como parâmetros
para validação ou invalidação dos argumentos dos discordantes.
Além disso, Kardec
não poderia dizer que todos os elementos do segundo sub-grupo são desertores
porque algumas dessas pessoas abandonaram o círculo sob sua influência, mas
continuaram acreditando nos postulados básicos do Espiritismo e defendendo-os.
Por outro lado, como
o professor lionês não "privatizou" o uso da palavra espiritismo,
fica difícil dizer que só existe o Espiritismo fundado por Kardec.
A identificação dos
limites do Espiritismo fundado por Kardec também é prejudicada pelo resistência
contra as expressões espiritismo
kardecista e kardecismo,
fazendo com que elas não sejam usadas, pela maioria dos espíritas, para separar
alhos de bugalhos.
Por último, é preciso
considerar que a palavra desertor e
suas variações são muito usadas no ambiente militar, e, por isso, têm uma forte
conotação maniqueísta, induzindo-nos a pensar no desertor como alguém que está
nos combatendo ou desajudando, ensejando uma postura absolutamente
desnecessária na prática espírita, onde não estamos em guerra ou disputa com
ninguém, devendo nos preocupar apenas com a capacidade e qualidade de nosso
próprio time.
Por essas razões, eu
chamo os elementos do primeiro sub-grupo de discordantes moderados e os
elementos do segundo sub-grupo de discordantes radicalizados. Os
discordantes moderados não pretendem ombrear ou superar Kardec. Os discordantes
radicalizados não têm acanhamento em tentar ombrear ou superar Kardec.
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Como eu discordei
bastante de Kardec na análise de seu texto "OS DESERTORES", é
possível que alguns de vocês possam estar me classificando como um discordante
radicalizado. Se o fizeram, erraram. Defino-me como um discípulo de Kardec. Contudo,
meu discipulado é crítico, embora sem a pretensão egóica de emparelhar com meu
mestre em brilhantismo. Basta-me explicitar minhas discordâncias quando não
concordo com ele.
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