Jorge Hessen
O cálculo do biólogo Ernst Mayr, da Universidade Harvard, sobre a possibilidade de a natureza produzir seres inteligentes pelos processos evolutivos conhecidos é quase uma sugestão de que os seres humanos são mesmo produtos “sobrenaturais”. De 30 milhões de espécies vivas atualmente e de cerca de 50 bilhões de outras espécies vivas ou que já viveram e desapareceram, somente o homo sapiens desenvolveu inteligência superior.
Sabe-se que o homo sapiens surgiu na África Oriental entre 190.000 e 160.000 anos atrás, depois se espalhou para o leste do Mediterrâneo em torno de 100.000 a 60.000 anos atrás , e pode ter chegado na China há 80.000 anos passados. Atualmente os seres humanos estão distribuídos em toda a Terra. O homo erectus uma pré espécie crucial na evolução do ser humano atual (homo sapiens), que parece ter evoluído em solo africano há cerca de 1,8 milhões de anos, migrando posteriormente para a Ásia e depois para a Europa. Porém, foi há apenas 6.000 ou 8.000 anos a.C. que alguns homens abandonaram por fim a vida selvagem e deram-se à árdua agricultura que tornou possível o aparecimento das primeiras aldeias sedentárias no Oriente Médio. Os primórdios de nossa civilização urbana remontam aos mais primitivos sítios neolíticos, em Jericó, cerca 6000 a.C. e em Jarmo, no Iraque, cerca 4500 a.C.
Hoje, como explicar que nós, homo “erectus/sapiens”, tenhamos cérebros capazes de teoremas, teorias científicas e seriados de TV, num mundo em que nenhuma outra espécie foi muito além dos grunhidos e das ferramentas de pau e pedra. Analistas materialistas argumentam que o fator causador da inteligência humana se restringe à incapacidade dos bebês. Para os acadêmicos devaneadores os nenéns indefesos motivaram evolução da inteligência, afinal, não há nenhuma outra espécie de bebês tão “incapazes” como os humanos. Dizem!
Em verdade, a Terra não é o ponto de partida da primeira encarnação humana. O período da humanização começa, geralmente, em mundos ainda inferiores à Terra. Isto, entretanto, não constitui regra absoluta, pois pode suceder que um Espírito, desde o seu início humano, esteja apto a viver na Terra. Não é freqüente o caso; constitui antes uma exceção. Nos seres inferiores, cuja totalidade estamos longe de conhecer, é que o princípio inteligente se elabora, se individualiza pouco a pouco e se ensaia para a vida. É, de certo modo, um trabalho preparatório, como o da germinação, por efeito do qual o princípio inteligente sofre uma transformação e se torna Espírito. Entra então no período da humanização, começando a ter consciência do seu futuro, capacidade de distinguir o bem do mal e a responsabilidade dos seus atos.
Em verdade, o princípio inteligente consumiu, desde os vírus e as bactérias das primeiras horas do protoplasma na Terra, mais ou menos quinze milhões de séculos [1 bilhão e meio de anos], a fim de que pudesse, como ser pensante, embora em fase embrionária da razão, lançar as suas primeiras emissões de pensamento contínuo (inteligência humana) para os Espaços Cósmicos. ” [1] Diz-se que a força anímica no mineral é atração, no vegetal é sensação, no animal é instinto, no homem é razão e no anjo é divindade. Nessa direção caminha Leon Denis quando propõe a sua versão romântica e da evolução proferindo: que o princípio inteligente dorme na pedra, sonha na planta, agita-se no animal e desperta no homem. Ou seja: Na planta, a inteligência dormita; no animal, sonha; só no homem acorda, conhece-se, possui-se e torna-se consciente.
A inteligência é o atributo essencial do Espírito, em razão do qual toma ele conhecimento de sua própria existência e exerce atividades voluntárias e livres. Quando o Espírito atinge o grau de humanização, sua inteligência adquire desenvolvimento superior, como o surgimento da razão e do senso moral, que lhe facultam a capacidade de conceber e reconhecer a existência de Deus. Sendo a inteligência, em sua plenitude, a faculdade de pensar e agir racional e deliberadamente, os atos inteligentes são conscientes, voluntários, livres e calculados. São, além disso, suscetíveis de variações, porque a inteligência, variável e individual por excelência, é suscetível de progresso.
É bem verdade que o patinho logo que rompe a casca do ovo que o mantinha encerrado, se vê próximo um córrego ou um lago, por instinto corre alegremente para ele e lança-se na água, nadando imediatamente com perfeição. Onde aprendeu o pato a nadar? São igualmente instintivos o ato do castor, que constrói sua casa com terra, água e galhos de árvores; o ato dos pássaros, que constroem com perfeição seus ninhos; o ato da aranha, que tece com precisão sua teia. Vêem-se já aí alguns dos caracteres do instinto: é algo inato, perfeito e específico, ou seja, surge espontaneamente, sem prévia aprendizagem, em todos os indivíduos de uma mesma espécie e leva a atos completos, acabados, perfeitos, desde a primeira vez que são realizados.
Descrevem os Espíritos que a inteligência humana se comparada entre alguns homens e certos animais, percebe-se, muitas vezes, que é notória os animais terem a “inteligência” superior. Por isso, é difícil estabelecer uma linha de demarcação em alguns casos. Porém, ainda assim, o homem é um Ser à parte, que desce, às vezes, muito baixo [irracionalidade] ou pode elevar-se muito alto. “É bem verdade que o instinto domina a maioria dos animais; mas há os que agem por uma vontade determinada, ou seja, percebemos que há uma certa inteligência animal, ainda que limitada.” [2]
Na questão 593 de O Livro dos Espíritos, os benfeitores espirituais esclarecem que nos animais há mais do que simplesmente instintos. Há neles certa inteligência incipiente ou limitada. E para não deixar dúvidas, na pergunta 597, informam que esta inteligência capaz de, em pequeno grau, atenuar o determinismo biológico, dando-lhes um pouco de liberdade de ação e expressão de vontade íntima, sobrevive ao corpo físico. Não é, ainda, propriamente, um Espírito, alma humana encarnada, mas o princípio inteligente que faz parte da cadeia evolutiva referida na questão 540. [3]
A inteligência é uma propriedade comum, um ponto de contato entre a alma dos animais e a do homem. Porém os animais só possuem a inteligência da vida material. No homem, a inteligência proporciona a vida moral. O princípio inteligente que constitui a Alma de natureza especial de que são dotados, provem do elemento inteligente universal. Emanam de um único princípio a inteligência do homem e a dos animais. Porém, no homem, passou por uma elaboração que a coloca acima da que existe no animal.
Somente com a cooperação do Espiritismo poderá a ciência definir a sede da inteligência humana, não nos complexos nervosos ou glandulares do corpo perecível, mas no espírito imortal. Os valores intelectivos representam a soma de muitas experiências, em várias vidas do Espírito, no plano material e espiritual. Uma inteligência profunda significa um imenso acervo de lutas planetárias e extrafísicas. Atingida essa posição, se o homem guarda consigo uma expressão idêntica de progresso espiritual, pelo sentimento, então estará apto a elevar-se a novas esferas do Infinito, para a conquista de sua perfeição.
Referências bibliográficas:
[1] XAVIER, Francisco Cândido. Evolução em dois mundos, ditado pelo Espírito André Luiz, cap. VI , Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2012
[2] Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2001, perg. 592
[3] Idem questão 593, 597, 540
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