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domingo, 8 de fevereiro de 2015

Literatura “Espírita” Antidoutrinária [1] (Max Brügger)

“Quem Tem Muito Tem O Dever Moral De Ajudar Quem Tem Menos.”
Andrew Carnegie


Diante de uma enxurrada de livros de má qualidade que lotam todos os dias os clubes do livro com obras pseudomediúnicas, vamos juntos analisar e refletir sobre a necessidade de análise das novas obras e o grau de tolerância que devemos empregar.



“No mundo invisível como na Terra, não faltam escritores, mas os bons são raros”. (Allan Kardec, Revista Espírita, maio de 1863)
Quantidade versus Qualidade


A Doutrina Espírita recebe uma enxurrada de novas obras todos os anos o que acarreta uma dificuldade quanto à qualidade literária de livros que se dizem espíritas e não possuem compromisso responsável com a Codificação. Sabemos que o Espiritismo é composto pela tríade Filosofia, Ciência e Religião e por isso, desde seus primórdios, promove a chamada Fé Racionada. Vemos, muitas vezes, livros com conteúdo no mínimo duvidoso, quando não nefastos, sendo veiculados, emprestados e vendidos em instituições espíritas, sem que haja um minucioso exame de seu conteúdo a fim de garantir o verdadeiro teor doutrinário. Neste sentido, é de responsabilidade direta da direção da Casa Espírita usar da crítica na disponibilização de obras literárias na biblioteca da instituição.
Tolerância com obras falaciosas


Seria considerada essa ação “falta de tolerância”, “falta de caridade” ou “violação da liberdade de expressão”? O próprio pioneiro da doutrina, Kardec, nos instruiu a usar de severo critério quanto a conteúdos literários para leitura e estudo e principalmente para divulgação. Permitir que tais livros tendenciosos ou de escrita duvidosa circulem dentro da casa espírita dá margem aos praticantes “calouros” ou aos “menos informados” de fazerem enunciações públicas em nome da doutrina bendita e, por consequência, tornarem-se “cúmplices” de tais falácias. A divulgação de falsos ensinamentos doutrinários, ou sua permissão, é, aí sim, falta de caridade para com os desavisados ou menos conhecedores do Espiritismo.



Jorge Hessen, ilustre crítico espírita, escreve diversos exemplos em um de seus artigos para uma revista online:

“Há obstinados gênios das trevas divulgando ‘pérolas azuis’ do tipo ‘o mundo espiritual é uma cópia do mundo físico e não o contrário’; ‘a mulher desencarnada sofre fluxos menstruais’; ‘os Espíritos vão ao banheiro e dão descarga’, ‘instrutor espiritual conta piadas pornográficas’, ‘mentor descreve com minúcias as curvas sensuais de jovem desencarnada’, ‘mentor endossa o aborto de anencéfalos’. É chocante!” (1)


Parafraseando Kardec, os bons escritores são raros. Neste sentido, atualmente existe uma produção intensa de obras que se dizem espíritas, todavia sem teor doutrinário ou de conteúdo relevante. Um verdadeiro perigo no que tange novos adeptos, pois estes são facilmente fascináveis com preposições descabidas ditas espíritas. A falta de bom senso não é culpa deles, justamente por serem novos nos ensinamentos da doutrina. É de responsabilidade dos departamentos e dirigentes da Casa a disseminação de dizeres falaciosos como sendo a doutrina pura. Sobre isso, escreve, com maestria, 


José Passini:

Todos os espíritas temos responsabilidade definida em tudo o que apresentamos ou que apenas prestigiamos em nome da Doutrina. Cada espírita é, no âmbito de suas atividades, um guardião dos princípios básicos do Espiritismo, cabendo-lhe – para ter o direito de dizer-se espírita – o dever de resguardar-lhe a coerência, a nobreza, a objetividade, a clareza, a simplicidade e a fidelidade aos princípios ético-morais do Evangelho de Jesus e aos princípios doutrinários estabelecidos pelos Espíritos Superiores, codificados por Kardec.” (2)


Clubes do livro com obraspseudomediúnicas


Vemos então que a promoção e venda desenfreada de montantes literários que não condizem com a verdade espírita vem a ser um problema para os Centros Espíritas. Clubes de assinatura que promovem livros de variados e desconhecidos autores, sem que haja um exame crítico de seus conteúdos, são uma verdadeira “ré” no fornecimento de conhecimento doutrinário: produzem-se “toneladas” de informações fictícias e entregam aos assinantes como sendo verdades intocáveis. Infelizmente há editoras “espíritas” que editam, publicam e vendem obras dessa qualidade com fim meramente comercial e lucrativo; não devem os verdadeiros espíritas, os compromissados com a Doutrina bendita proferida por Kardec, compactuar e/ou corroborar com tal prática. Divaldo Franco, ilustre espírita brasileiro da atualidade, diz em uma entrevista que a produção é tão intensa que se torna impossível “separar o joio do trigo” de forma justa e efetiva.




“Verificamos, neste momento, essa enxurrada perniciosa, porque saem mais de cinquenta títulos de obras pseudomediúnicas por mês, pelo menos que nos chegam através dos catálogos, tornando-se impossíveis de serem lidas. (…) É uma onda de perturbação para minar-nos por dentro. O Codificador nos recorda que os piores inimigos estão no próprio Movimento, o que torna muito difícil a chamada seleção natural.” (3)


Segundo ele, tais psicografias equivocadas são fruto da falta de humildade e de benevolência dos irmãos desencarnados que não tem compromisso com o ideal da caridade e do bem, aliados à condescendência dos indivíduos pseudo-médiuns que, de uma forma ou de outra, apenas ostentam e objetivam a fama momentânea. Ele acrescenta que o momento histórico o qual vivemos, de confusão e de equívocos sociais, propicia a geração de tais obras de conteúdo confuso escritos por esses irmãos menos esclarecidos, fazendo-se passar por grandes espíritas.




“Espíritos perversos, adversários do Bem, aproveitam-se do descalabro existente e inspiram pessoas invigilantes, presunçosas, falsamente humildes, mas prepotentes, tornando-as portadoras de mensagens destituídas de autenticidade, que geram confusão e dificuldades no Movimento Espírita.” (4)
Necessidade de Análise das Obras


Mesmo advindos de personalidades influentes e aclamadas do meio espírita, os livros devem ser criticamente e criteriosamente analisados, pois também há afirmações questionáveis em obras de pessoas assim citadas. Não me cabe aqui proferir nomes de livros e muito menos de autores, contudo é uma responsabilidade atentar para esses fatos. Afinal, já nos advertiu o mestre Kardec em uma publicação na Revista Espírita:




“Toda teoria em manifesta contradição com o bom senso, com uma lógica rigorosa e com os dados positivos que se possuem, por mais respeitável que seja a sua assinatura, deve ser rejeitada.” (5)


O próprio Kardec nos aconselha, nas obras da Codificação, analisar todo ensinamento que venha dos Espíritos julgando-os com o crivo da razão. Tal prática foi posteriormente conceituada de Controle Universal do Ensino dos Espíritos e, em suma, resume-se a isso: usar da razão lógica para referenciar os estudos doutrinários, ou seja, a busca da verdade nos textos psicografados, tendo sempre como base os ensinamentos por ele ditados, pode ser verificada neste controle universal, o qual independe a distância geográfica dos médiuns ou o nome e renome do “espírito-escritor”, desde que seus postulados estejam de comum acordo com os ensinamentos da Doutrina por ele desenvolvida. Para finalizar este assunto, trago um trecho proferido pelo Espírito Erasto à Kardec:





“Contra este escolho terrível vêm igualmente chocar-se as personalidades ambiciosas que, em falta das comunicações que os bons Espíritos lhes recusam, apresentam suas próprias obras como sendo desses Espíritos. Daí a necessidade de serem, os diretores dos grupos espíritas, dotados de fino tato, de rara sagacidade, para discernir as comunicações autênticas das que não o são e para não ferir os que se iludem a si mesmos. Na dúvida, abstém-te, diz um dos vossos velhos provérbios. Não admitais, portanto, senão o que seja, aos vossos olhos, de manifesta evidência. Desde que uma opinião nova venha a ser expendida, por pouco que vos pareça duvidosa, fazei-a passar pelo crisol da razão e da lógica e rejeitai desassombradamente o que a razão e o bom-senso reprovarem. Melhor é repelir dez verdades do que admitir
uma única falsidade, uma só teoria errônea.” (6)

Referências

1          Jorge Hessen, http://aluznamente.com.br/diluvio-de-livros-espiritas-delirantes, acessado em 15/10/2014

2          José Passini, http://passiniehessen.blogspot.com.br/2014/07
responsabilidade-nossa-jose-passini.html, acessado em 15/10/2014

3          Pereira Franco, http://orebate-jorgehessen.blogspot.com.br/2013_02_01_archive.html, acessado em 16/10/2014

4          Divaldo Pereira Franco, http://www.divaldofranco.com.br/noticias.php?not=98, acessado em 16/10/2014

5          Allan Kardec, http://www.febnet.org.br/ba/file/Downlivros/
revistaespirita/Revista1864.pdf, acessado em 17/10/2014

6          O Livro dos Médiuns, Allan Kardec, cap. XX, item 230.


(1)Texto de Max Brügger encomendado pela Canoro Audiobook.

Editoração de Leonardo Martins Gonçalves.




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