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quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

O Movimento Espírita e as diferentes linhas de pensamento (Leonardo Marmo Moreira)

Leonardo Marmo Moreira


O admirável orador espírita J. Raul Teixeira tem ocasião de afirmar que muitos companheiros dentro do chamado espiritualismo, com ênfase no Espiritismo, frequentemente dizem com certa precipitação: “Eu agora sou adepto de tal “corrente” de pensamento!”. E diz Raul: “E não é; porque não leu (muitos menos estudou), e não sabe o que significa tal corrente. E nós não podemos ser algo que a gente nem sabe direito do que se trata, ou seja, o que realmente significa tal proposta!”. E conclui o admirável expositor de Niterói: “É a chancela da ignorância!”.

O ilustre confrade, obviamente, está comentando a respeito de uma determinada parte daqueles que aderem a determinado autor ou linha de pensamento e não à totalidade dos membros de tais grupos. Entretanto, mesmo considerando tal ressalva, a análise sugere que necessitamos avançar com mais cuidado em relação à construção de nosso conhecimento sobre Espiritualidade, principalmente quando o cerne da questão abranger tópicos doutrinários fundamentais. Desta forma, dentro do nosso processo de “autodidatismo doutrinário”, seria fundamental uma mais bem cuidada escolha prévia de autores a serem lidos e estudados. Além disso, os estudos mais pormenorizados das obras fundamentais são importantes para evitarmos “eleições” de autores e propostas de duvidoso valor doutrinário.

Essa preliminar seleção, e consequente estudo, de obras mais consistentes em termos de conteúdo forneceria uma maior segurança na aquisição do conhecimento espiritual, principalmente para iniciantes no estudo do Espiritismo. Assim, o ideal seria que avançássemos com mais estruturação e planejamento no que se refere à construção do conhecimento: nem um comportamento excessivamente “neófobo” e nem uma atitude exageradamente “neofílica”, ou seja, não excluir, a priori, novos autores e muito menos menosprezar as referências doutrinárias fundamentais, que são as bases que nos trouxeram até aqui em termos de estudo das questões espíritas. Tal postura de cautela permitiria a elaboração de uma lista de prioridades em termos de leitura e estudo de obras, contemplando os chamados “autores clássicos” do Espiritismo e também novas contribuições, ditas “subsidiárias”, para o aprofundamento doutrinário.

De fato, a organização do Movimento Espírita, que é feita com o menor formalismo possível, o qual é necessário para cumprir legislações civis e promover uma distribuição mínima das tarefas das instituições espíritas, constitui um grande avanço no pensamento filosófico-religioso da Humanidade. Tal proposta tem como escopo buscar a chamada “pureza” do Cristianismo Nascente, que era minimamente organizado, visando potencializar a essência do trabalho pela verdadeira Espiritualidade, que é meta final de todos nós. Essa “simplicidade exterior” permite que cada indivíduo possa eliminar uma série de “bengalas psicológicas” anteriormente associadas às práticas religiosas a fim de poder visualizar, com mais foco, seu próprio mundo íntimo e questões verdadeiramente relevantes para a aquisição dos lídimos sensos de Imortalidade e de Espiritualidade. 

A grande conquista supracitada, contudo, tem um alto preço, que consiste em um maior grau de responsabilidade individual. Cada célula constituinte do Movimento Espírita tem significativo impacto em sua “vizinhança espiritual”, sendo um importante formador de opinião, mesmo sem o saber. 

Como, graças a Deus, não temos um indivíduo ou instituição “oficial” que receba atribuições de “infalibilidade”, todos nós, sem exceção, que nos consideramos Espíritas, e, principalmente, Espíritas atuantes, participamos do sincero e continuado debate de ideias inerentes ao Movimento Espírita, objetivando através de um estudo cada vez mais aprofundado, encontrar porções mais substanciais da “Verdade”. Tal meta será atingida paulatinamente, permitindo a obtenção de maiores graus de libertação de nossas paixões inferiores. Entretanto, se as referidas discussões, lenta e gradualmente, perderem a identidade doutrinária por excesso de contribuições acessórias e ausência de matérias essenciais, poderemos estar, involuntariamente, desviando os nossos esforços da rota doutrinária traçada pela “Falange do Espírito de Verdade”. Então, sem perceber, estaremos trilhando caminhos não necessariamente mais curtos para a nossa “Libertação Espiritual”.

Vale a lembrança do benfeitor Emmanuel na obra “Opinião Espírita”: “Jesus, a porta; Kardec, a chave!”. E também lembremos de Raul Teixeira: “Nossa proposta é Kardec!”.

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