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Paulo Neto |
Vamos falar de uma crença comum, talvez até mesmo universal, que, segundo o nosso entendimento, tem base doutrinária, mas, no início, poderá causar estranheza a alguns dos estudiosos do Espiritismo.
Será que o mau-olhado é simplesmente uma
superstição ou uma realidade percebida pela sabedoria popular? Eis a questão.
Mau-olhado ou olho gordo é uma crença folclórica (provavelmente muito antiga por ser observada entre
vários povos) de que a inveja de alguém, demonstrada pelo olhar ou não, pode
vir a ocasionar a degradação do alvo da inveja ou de uma boa sorte. Para tanto,
em todas as culturas em diversos tempos da história, foram criados amuletos
contra o mau-olhado, como nazar ().
Tradicionalmente associado a ideia de “secar com os
olhos” […].
Na tradição bíblica, o mau-olhado tem vinculações com a
restrição à cobiça (Êxodo 20). (WIKIPÉDIA, Internet, grifo nosso).
Trouxemos a definição na Wikipédia que,
embora não muito confiável, servirá apenas para ressaltar que muitas pessoas veem
o mau-olhado como uma crença folclórica. Mas não seria o caso de se questionar:
ora, se é uma tradição que se nota “em todas as
culturas em diversos tempos da história”, e que a todo o momento são
presenciadas e narradas ocorrências que levam pessoas a, pelo menos,
suspeitarem da sua existência, por que apenas se considera como produto do
imaginário?
Cada vez mais estamos convencidos de
que, quando uma coisa é Universal, ela é fato, embora possa ser interpretada de
forma equivocada, dada a falta de conhecimento dos mecanismos que a fazem
funcionar. Talvez um bom exemplo disso seja a crença em fantasmas, que é,
certamente, Universal, o que, no Espiritismo, se demonstrou ser a alma dos
mortos se manifestando aos “vivos”.
Popularmente praticam-se até mesmo
certos rituais na tentativa de se “fechar o corpo” contra o mau-olhado.
Comprova-se a sua realidade com duas
ocorrências, que são de conhecimento, especialmente, de pessoas do interior. Hoje
com a concentração urbana, está se perdendo essa cultura.
Uma delas é o mau-olhado dirigido contra plantas. Uma
pessoa visita outra, que tem um lindo vaso de samambaia; a visitante, olhando
para ele, diz: “Que samambaia linda, nunca vi uma igual”. É o que basta, no
outro dia de manhã, a pobre planta está toda desmilinguida, parecendo que lhe
passam uma baforada de fogo. Muitas plantas chegam mesmo a morrer, algumas
poucas conseguem sobreviver, mas dispensarão muitos cuidados.
A outra diz respeito a crianças que,
após elogio de determinada pessoa, muitas vezes amiga da família, ficam
agitadas, não conseguem dormir direito, até que alguém sugere: “Leve-a para
benzer”. Dito e feito, após ser benzida a criança volta à situação normal, um
anjinho.
As benzedeiras, são, geralmente,
senhoras maduras com desprendimento invejável que, via de regra, só praticam a
benzeção em crianças. O certo é que “dá certo”, quer acreditem ou não os que
não estão acostumados com “essas coisas” de gente do interior, ou da periferia
de cidades grandes.
Emmanuel, em O Consolador,
respondendo à pergunta “a chamada benzedura, nos meios populares, será uma
modalidade de passe?”, afirma categórico: “As chamadas 'benzeduras', tão
comuns no ambiente popular, sempre que empregadas na caridade, são expressões
humildes do passe regenerador, vulgarizando nas instituições espiritistas de
socorro e assistência”. (XAVIER, 1986a, p. 68)
Vejamos, em três fontes distintas, o
que temos para sustentação disso:
1ª) Estudiosos
Jacob de Melo (1952- ), em Cure-se e
cure pelos passes, aborda o tema:
Se existe um fluido ou uma energia benéfica, poderá
haver também aquela que prejudica?
Sem dúvida. Todas as vezes que vibramos
negativamente ou desejamos o mal para alguém, estamos produzindo um mau fluido,
um fluido desarmônico, um campo desestruturador. Por isso mesmo, este pode ser
qualificado como um fluido prejudicial. […].
O que seria um “mau-olhado”, um “quebranto”?
Da parte de quem o sofre, trata-se da absorção de
uma carga fluídica, a qual contamina ou mesmo congestiona um ou mais centros
vitais importantes, gerando a falência do(s) mesmo(s), terminando por
transferir a mazela para o(s) órgão(ãos) físicos correspondentes. Da parte
de quem o realiza é a emissão de uma carga fluídica muito densa, dirigida,
de forma intencional ou não, a pessoas, plantas e/ou animais.
Por que as crianças estão mais sujeitas aos
maus-olhados do que os adultos?
Porque nas crianças os centros vitais são “menores” e
mais sensíveis. Nelas eles estão estruturados para processarem fluídos mais
refinados e sutis do que os elaborados para os adultos, além de, por suas
dimensões, “trabalharem” menores quantidades de fluidos. Quando recebem
cargas fluídicas densas e/ou em grandes quantidades, esses centros entram
rapidamente em congestão fluídica, daí advindo a falência dos mesmos. […].
E para que serve o galho que a rezadeira usa?
É uma espécie de catalisador, um sinalizador. Estando a criança sob congestão fluídica, o passar da
mão da rezadeira fará a movimentação dos fluidos ali estacionados. Já que entre
a mão da rezadeira e o corpo da criança existe uma planta, os fluidos passarão
por esta. Como o meio vegetal é incompatível com as cargas fluídicas em
trânsito, ele vai fulminando e, a depender do quanta fluídico causador da
congestão, a fulminância será maior ou menor. […]. (MELO, 2003, p. 55-59, grifo
nosso).
No Programa Transição, número
007 de 23.11.2008, disponível no site Kardec.TV, o médium Divaldo Pereira
Franco (1927- ), explicando sobre o tema mau-olhado e feitiçaria, disse:
“[…] Naturalmente a Doutrina Espírita examina a
problemática do ponto de vista dos fenômenos anímicos. O denominado
mau-olhado nada mais é do que uma intensa vibração mental de alguém que é
dominado por sentimentos inferiores – a inveja, a competitividade – e ao
descarregar esta onda de sentimentos negativos e vibrações perversas, muitas
vezes atinge aquele contra o qual é dirigido esse pensamento perturbador. E
atinge-o porque o outro se encontra numa faixa vibratória equivalente, e
através do fenômeno da sintonia capta aquela descarga perturbadora. […]”.
(FRANCO, 2008, grifo nosso).
Na obra Diversidade dos carismas:
teoria e prática da mediunidade, de autoria de Hermínio Corrêa de Miranda (1920-2013), há referência sobre este assunto:
[…] E o problema do mau-olhado? Existe mesmo?
Como vimos, os espíritos não o negam ao afirmar que
há pessoas dotadas de grande força magnética da qual podem fazer mau uso.
(MIRANDA, 1991, p. 311, grifo nosso).
Um pouco mais a frente, detalhando,
explica Hermínio de Miranda:
É certo, porém, que forças mentais poderosas podem ser
manipuladas pelo pensamento e pela vontade. Não há, portanto, mau-olhado no
sentido de que um simples olhar possa fazer murchar uma planta ou adoecer uma
pessoa; há, contudo, sentimentos desarmonizados que, potencializados pela
vontade consciente ou inconsciente, acarretam distúrbios consideráveis em
pessoas, animais ou plantas.
O pensamento é a mais poderosa energia no Universo e
circula por um sistema perfeito de vasos comunicantes, através de toda a
natureza. Segundo as intenções sob as quais é emitido, tanto pode construir
como destruir. Dar vida, como retirá-la. Nada mais que isso. (MIRANDA, 1991, p.
320, grifo nosso).
Ney Pietro Peres (?- ), em Manual
prático do espírita, trata desse assunto:
O próprio conhecimento popular já definiu o conceito de
“mau-olhado”, que, ao ser dirigido por determinadas criaturas, a tantos causa
prejuízos em seus bens materiais, quando não o mal-estar e a indisposição. É
a vibração que o invejoso emite de tão forte envolvimento negativo, que, ao
atingir alguém desprotegido e desprevenido, realmente pode provocar vários
males.
Muito cuidado, portanto, com os sentimentos de inveja
que venhamos a emitir para quem quer que seja, lembrando sempre que colheremos,
para nós mesmos, todo o mal que aos outros provocarmos. (PERES, 1989, p. 82,
grifo nosso).
2ª) Espíritos
O Espírito Antônio Carlos pela médium
Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho (?- ), na obra Ah, se eu pudesse voltar no
Tempo!, a certa altura, afirma:
[…] Incauto quem não crê que energias negativas,
sejam elas quais ou de quem forem, possam nos atingir, como também
aquele que acha que tudo que nos acontece é por influência alheia. Nunca se
deve esquecer das reações de nossas próprias ações. E se vibrarmos no bem, nada
de mal nos atingirá. (CARVALHO, 2006, p. 103, grifo nosso).
Joanna de Ângelis, mentora do
consagrado médium baiano Divaldo Franco, na obra Autodescobrimento – uma busca interior,
tece essas considerações:
[…] são muitos os efeitos perniciosos no corpo,
causados pelos pensamentos em desalinho, pelas emoções desgovernadas, pela
mente pessimista e inquieta na aparelhagem celular.
Determinadas emoções fortes – medo, cólera, agressividade, ciúme – provocam
alta descarga de adrenalina na corrente sanguínea, graças às glândulas
suprarrenais. Por vez, essa ação emocional reagindo no físico, nele produz
aumento da taxa de açúcar, mais forte contração muscular, face à volumosa
irrigação do sangue e sua capacidade de coagulação mais rápida.
A repetição do fenômeno provoca várias doenças como a diabetes, a artrite, a hipertensão… Assim, cada
enfermidade física traz um componente psíquico, emocional ou espiritual
correspondente. […] (FRANCO, 2006, p. 19-20, grifo nosso).
3ª) Na Codificação
Na obra A Gênese, cap. XIV – Os
fluidos, Kardec faz várias observações entre elas algumas que tocam diretamente
o nosso assunto. É importante buscarmos essa confirmação, pois validará todas
as opiniões anteriormente colocadas.
15. Sendo os fluidos o veículo do pensamento, este atua
sobre os fluidos como o som sobre o ar; eles nos trazem o pensamento, como o ar
nos traz o som. […].
16. Sendo esses fluidos o veículo do pensamento e
podendo este modificar-lhes as propriedades, é evidente que eles devem achar-se
impregnados das qualidades boas ou más dos pensamentos que os fazem vibrar,
modificando-se pela pureza ou impureza dos sentimentos. Os maus pensamentos
corrompem os fluidos espirituais, como os miasmas deletérios corrompem o ar
respirável. […].
17. […] Como os odores, eles [os fluídos] são
designados pelas suas propriedades, seus efeitos e tipos originais. Sob
o ponto de vista moral, trazem o cunho dos sentimentos de ódio, de inveja, de
ciúme, de orgulho, de egoísmo, de violência, de hipocrisia, de bondade, de
benevolência, de amor, de caridade, de doçura, etc. Sob o aspecto físico,
são excitantes, calmantes, penetrantes, adstringentes, irritantes,
dulcificantes, soporíficos, narcóticos, tóxicos, reparadores, expulsivos;
tornam-se força de transmissão, de propulsão, etc. O quadro dos fluidos seria,
pois, o de todas as paixões, das virtudes e dos vícios da Humanidade e das
propriedades da matéria, correspondentes aos efeitos que eles produzem.
18. […] O pensamento do encarnado atua sobre os fluidos
espirituais, como o dos desencarnados, e se transmite de Espírito a Espírito
pelas mesmas vias e, conforme seja bom ou mau, saneia ou vicia os fluidos
ambientes.
[…].
Atuando esses fluidos sobre o perispírito, este, a seu
turno, reage sobre o organismo material com que se acha em contacto molecular. Se
os eflúvios são de boa natureza, o corpo ressente uma impressão salutar; se são
maus, a impressão é penosa. Se são permanentes e enérgicos, os eflúvios
maus podem ocasionar desordens físicas; não é outra a causa de certas
enfermidades”. (KARDEC, 2007e, p. 324-327, grifo nosso).
Acreditamos que fica clara a posição
doutrinária a respeito do tema, considerando a base principal que é o livro A
Gênese, bem como as diversas opiniões acima mencionadas.
Oportuno, trazermos preciosa página do
Espírito Rosângela, psicografia de José Raul Teixeira (1949- ), que leva o título de “O Pensamento”:
Para você que sabe que o pensamento é energia a plasmar
a vida, surge o imperativo de bem cuidar de suas fontes, para melhorar o padrão
das vibrações que partem do imo da alma.
Pensar é construir…
Pensar é semear…
Pensar é produzir…
Veja bem o que semeia, o que produz, nas construções de
sua vida, com as suas ondas mentais.
Seu pensamento, inestancável, é você a projetar-se…
Pense melhor. Pensamento é vida!” (TEIXEIRA, 1996, p.
28-31).
Entendemos que todo cuidado é pouco,
porquanto… “o feitiço pode se virar contra o feiticeiro”: “[…] O desequilíbrio
da mente pode determinar a perturbação geral das células orgânicas. […] As
intoxicações da alma determinam as moléstias do corpo.” (instrutor ALEXANDRE em
Missionários da Luz) (XAVIER, 1986b, p. 315).
Voltemos ao Espírito Rosângela, na
mensagem “O hóspede”:
Inicie a higienização das peças interiores de sua alma,
coloque perfumes em sua casa íntima, envolva cada compartimento interno com o
necessário silêncio para que Ele se faça o mais suave Hóspede de sua vida, dela
jamais, então, se apartando.
De quem se trata? Por ventura ainda não se apercebeu
que lhe estou falando de Jesus?
Convide-O, pois, sem mais demora, e hospede-O para
sempre! (TEIXEIRA, 1996, p. 111).
Possamos seguir essas advertências para que não
venhamos a sofrer as consequências de nosso sentimento de inveja, que, na
verdade, é o móvel do mau-olhado.
Paulo da Silva Neto Sobrinho
Referências
bibliográficas:
CARVALHO, V. L. M. Ah, se
eu pudesse voltar no tempo! São Paulo: Petit, 2006.
FRANCO, D. P. Autodescobrimento
– uma busca interior. Salvador: LEAL, 2006.
KARDEC, A. A Gênese.
Rio de Janeiro: FEB, 2007e.
MIRANDA, H. C. Diversidade
dos carismas: teoria e prática da mediunidade. Vol. I. Niterói, RJ: Arte e
Cultura, 1991.
MELO, J. Cure-se e cure
pelos passes. Natal: Vida & Saber, 2003.
PERES, N. P. Manual
prático do espírita. São Paulo: Pensamento, 1989.
TEXEIRA, R. J. Rosângela.
Niterói, RJ: Fráter, 1996.
XAVIER, F. C. Missionários
da Luz. Rio de Janeiro: FEB, 1986b.
XAVIER, F. C. O Consolador.
Rio de Janeiro: FEB, 1986a.
FRANCO, D. P. Mau olhado e
feitiçaria in
http://www.kardec.tv/video/transicao-tv/371/transicao-007-mal-olhado-e-feiticaria,
acesso em 08.08.2013.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Mau-olhado,
acesso em 08.08.2013.]
Mau-olhado em plantas:
http://imguol.com/2012/10/26/ilustracao---olho-gordo-1351284447561_615x300.jpg
Mau-olhado criança
(adaptada):
http://www.meusnervos.com.br/wp-content/uploads/2013/01/Mal-olhado-medico-SUS-01.jpg
[1]
Nazar ou Pedra contra o mau-olhado também
chamada “olho turco” (em turco: nazar boncugu) é um amuleto que se destina a
proteger contra o mau-olhado […]. (WIKIPÉDIA).
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