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Paulo Neto |
Esses dois temas, geralmente, são
considerados como alheios à Doutrina Espírita, aceitos como pertencentes exclusivamente
ao esoterismo. O que temos visto é que, quando determinada coisa tem alguma semelhança
com crenças esotéricas, muitos espíritas logo a rechaça, mesmo que não tenham feito
qualquer pesquisa nas obras da Codificação para saber se nelas há algo a
respeito.
O nosso propósito neste estudo é
exatamente esse, ou seja, pesquisar nas obras da Codificação para confirmarmos
ou não se nelas podemos encontrar apoio para aceitar, doutrinariamente, a aura
e os chacras como integrantes dos postulados espíritas, ou, quem sabe, abrir
portas para isso.
Aura
Encontramos, no Dicionário Houaiss,
a definição da aura para a Parapsicologia como sendo: “suposto
campo de energia que irradia dos seres vivos”.
Ao se pesquisar, nas obras da
Codificação, é fato que a palavra aura, não a encontramos mencionada em nenhuma
delas; porém, devemos procurar ver se essa ideia pode ser encontrada em alguma
das explicações, das quais não restem dúvidas de que se trata dela.
Na Revista Espírita 1865, mês de
outubro, e na Revista Espírita 1867, mês de junho, descobrimos, em
trechos de considerações de Allan Kardec (1804-1869), referências ao perispírito,
dois que merecem destaques:
Compreende-se, até um certo ponto, o
desenvolvimento da faculdade por um meio material, mas como a imagem de uma
pessoa distante pode se apresentar no copo? Só o Espiritismo pode resolver este
problema pelo conhecimento que dá da natureza da alma, de suas faculdades, das
propriedades de seu envoltório perispiritual, de sua irradiação, de seu
poder emancipador e de seu desligamento do envoltório corpóreo. […]. (KARDEC,
2000c, p. 295, grifo nosso).
Seria errado, pensamos, que se considerasse
o sonambulismo e a mediunidade como o produto de dois sentidos diferentes,
tendo em vista que não são senão dois efeitos resultantes de uma mesma causa.
Essa dupla faculdade é um dos atributos da alma, e tem por órgão o
perispírito, cuja irradiação transporta a percepção além dos limites da
ação dos sentidos materiais. Propriamente falando, é o sexto sentido, que é designado sob o nome de sentido espiritual. (KARDEC, 1999, p.
172, grifo nosso).
Embora ele tenha utilizado um termo
diferente, entendemos que essa irradiação do envoltório perispiritual, ou seja,
do perispírito, não é outra coisa senão aquilo que se entende por aura.
Em Obras Póstumas, vê-se uma
explicação bem interessante no artigo “Manifestações dos Espíritos”, que vem ao
encontro do que estamos falando:
O perispírito não se acha encerrado nos limites do
corpo, como numa caixa. Pela sua natureza fluídica, ele é expansível, irradia
para o exterior e forma, em torno do corpo, uma espécie de atmosfera que o pensamento e a força de vontade podem
dilatar mais ou menos. Daí se segue que pessoas há que, sem estarem em contato
corporal, podem achar-se em contato pelos seus perispíritos e permutar a seu
mau grado impressões e, algumas vezes, pensamentos, por meio da intuição.
(KARDEC, 2006a, p. 50, grifo nosso).
Confirma-se, portanto, a irradiação do
perispírito, que, para nós, como dito, se trata da aura.
Na obra No Invisível, Léon Denis
(1846-1927), fala desse tema:
Os eflúvios do corpo humano são luminosos, coloridos de
tonalidades diferentes – dizem os
sensitivos – que os distinguem na obscuridade. Certos médiuns os veem, mesmo em
plena luz, a escapar-se das mãos dos magnetizadores. Analisados ao espectroscópio,
a extensão das suas ondas tem sido determinadas segundo cada uma das cores.
Esses eflúvios formam em torno de nós camadas
concêntricas que constituem uma espécie de atmosfera fluídica. É a “aura” dos
ocultistas, ou fotosfera humana, pela
qual se explica o fenômeno da exteriorização da sensibilidade, estabelecidas
pelas numerosas experiências do Coronel De Rochas, do Dr. Luys, do Paul Joire,
etc. (102).
______
(102) […] Já
desde 1860 (“Revue Spirite”, pág. 81), Allan Kardec afirmava, de acordo com
as revelações do Espirito do Dr. Vignal, que os corpos emitem vibrações
luminosas, invisíveis aos sentidos materiais, o que mais tarde a Ciência
confirmou. O Espiritismo tem, pois, o mérito de haver, em primeiro lugar,
sobre esse como sobre tantos outros pontos, apresentado teorias físicas que a Ciência
não admitiu senão trinta anos depois, sob a reiterada pressão dos fatos.
(DENIS,
1987, p. 177, grifo nosso).
As considerações de Denis são claras em
apontar a irradiação do perispírito como sendo a aura. Sobre o que fala na
nota, fomos conferir e encontramos na Revista Espírita 1860, mês de
março, o artigo “Estudos sobre o espírito de pessoas vivas”, no qual se narra a
experiência, na Sociedade Espírita de Paris, em 03 de fevereiro de 1860,
relativa a evocação de espírito de pessoa viva. No caso em questão foi evocada
a alma do Dr. Vignal. Foram-lhe dirigidas várias perguntas, entre elas a de
número 15, da qual Denis tirou a informação.
Vemos em algumas descrições de pessoas
que têm a capacidade de ver a aura, no estado de vigília, dando-nos conta de que
são coloridas e também os sentimentos da pessoa estão como que “impregnados”
nela. Pessoas com raiva, ódio, desejo de vingança, por exemplo, são,
facilmente, detectadas, por eles, quando veem as suas auras. A bem da verdade,
isso não soa bem, parece mesmo ser algo estranho.
Quanto às cores, além do que foi dito
por Léon Denis, logo acima, procuramos ver se encontraríamos, nas obras da
Codificação, algo a respeito. Nelas nada vimos; porém, na obra publicada após o
desencarne de Kardec, fruto de alguns de seus manuscritos particulares – Obras
Póstumas –, apareceu-nos explicações que nos levaram a confirmar isso.
O fluido perispirítico é imponderável, como a luz, a eletricidade e o
calórico. É-nos invisível, no nosso estado normal, e somente por seus efeitos
se revela.
Torna-se, porém, visível a quem se ache no estado de
sonambulismo lúcido e, mesmo, no estado de vigília, às pessoas dotadas de dupla
vista. No estado de emissão, ele se apresenta sob a forma de feixes
luminosos, muito semelhante à luz elétrica difundida no vácuo. A isso, em
suma, se limita a sua analogia com este último fluido, porquanto não produz,
pelo menos ostensivamente, nenhum dos fenômenos físicos que conhecemos. No
estado ordinário, denota matizes diversos, conforme os indivíduos que o
emitem: ora vermelho fraco, ora azulado, ou acinzentado, qual ligeira bruma. As
mais das vezes, espalha sobre os corpos circunjacentes uma coloração amarelada,
mais ou menos forte. (KARDEC, 2006a, p. 121-122, grifo nosso).
Confirma-se, portanto, a sua coloração,
e também a irradiação do perispírito provocando uma certa luminosidade, que, um
pouco mais à frente, é novamente mencionada:
[…] Cada um de nós tem, pois, o seu
fluido próprio, que o envolve e acompanha em todos os movimentos, como a
atmosfera acompanha cada planeta. É muito variável a extensão da irradiação
dessas atmosferas individuais. Achando-se o Espírito em estado de absoluto
repouso, pode essa irradiação ficar circunscrita nos limites de alguns passos;
mas, atuando a vontade, pode alcançar distâncias infinitas. A vontade como que
dilata o fluido, do mesmo modo que o calor dilata os gases. As diferentes
atmosferas individuais se entrecruzam e misturam, sem jamais se confundirem,
exatamente como as ondas sonoras que se conservam distintas, a despeito da
imensidade de sons que simultaneamente abalam o ar. Pode-se, por conseguinte,
dizer que cada indivíduo é centro de uma onda fluídica, cuja extensão se
acha em relação com a força da vontade, do mesmo modo que cada ponto vibrante é
centro de uma onda sonora, cuja extensão está na razão propulsora do fluido,
como o choque é a causa de vibração do ar e propulsora das ondas sonoras. (KARDEC,
2006a, p. 123, grifo nosso).
Todos nós vivemos como numa redoma
luminosa ou envolto num halo, que nada mais é que a nossa aura irradiando luz e
cor.
Quanto aos sentimentos, vamos encontrar
em A Gênese, cap. XIV, explicações sobre as qualidades dos fluidos
espirituais, das quais transcrevemos estes trechos dos itens 16 e 17,
respectivamente:
[…] Sendo esses fluidos [fluidos espirituais] o veículo
do pensamento e podendo este modificar-lhes as propriedades, é evidente que
eles devem achar-se impregnados das qualidades boas ou más dos pensamentos que
os fazem vibrar, modificando-se pela pureza ou impureza dos sentimentos. Os
maus pensamentos corrompem os fluidos espirituais, como os miasmas
deletérios corrompem o ar respirável. […]. (KARDEC, 2007e, p. 325, grifo
nosso).
[…] Como os odores, eles [os fluídos] são designados
pelas suas propriedades, seus efeitos e tipos originais. Sob o ponto de
vista moral, trazem o cunho dos sentimentos de ódio, de inveja, de ciúme, de
orgulho, de egoísmo, de violência, de hipocrisia, de bondade, de benevolência,
de amor, de caridade, de doçura, etc. Sob o aspecto físico, são excitantes,
calmantes, penetrantes, adstringentes, irritantes, dulcificantes, soporíficos,
narcóticos, tóxicos, reparadores, expulsivos; tornam-se força de transmissão,
de propulsão, etc.
O quadro dos fluidos seria, pois, o de todas as
paixões, das virtudes e dos vícios da Humanidade e das propriedades da matéria,
correspondentes aos efeitos que eles produzem. (KARDEC, 2007e, p. 325-326,
grifo nosso).
Diante de tão claras explicações não
podemos deixar de levá-las em consideração para aceitar, de forma pacífica, a
realidade da repercussão dos sentimentos na aura, influenciando-a positiva ou
negativamente.
Temos na Revista Espírita 1867
algo que corrobora isso:
[…] Segundo os pensamentos que dominam num encarnado,
ele irradia raios impregnados desses mesmos pensamentos que os viciam ou
os saneiam, fluidos realmente materiais, embora impalpáveis, invisíveis para os
olhos do corpo, mas perceptíveis para os sentidos perispirituais, e visíveis
para os olhos da alma, uma vez que impressionam fisicamente e tomam
aparências muito diferentes para aqueles que estão dotados de visão espiritual.
(KARDEC, 1999, p. 130-131, grifo nosso).
Confirma-se que a irradiação vem
impregnada dos pensamentos e além disso que podem ser vistas pelos que são
dotados de vidência, ou por médiuns sonambúlicos.
Chacras
Novamente recorremos ao Dicionário
Houaiss, agora para ver a definição de chacra:
s.m. fil
rel em certas formas de hinduísmo
e no budismo, cada um dos centros de
acumulação de energia espiritual distribuídos pelo
corpo; xacra [Os chacras principais, situados ao longo do eixo vertical que
perpassa o centro do corpo, são em número de sete para a ioga e o tantrismo, e
quatro para o budismo; são
supostamente ativados através de meditação, ássanas,
recitação de mantras etc.].
Essa ligação com o hinduísmo e budismo
pode ser o motivo pelo qual não querem citá-los no Espiritismo. Aliás, o termo
apropriado para os espíritas seria: centros vitais ou centros vitais
perispirituais, segundo alguns estudiosos.
São mais fáceis de identificar na
Codificação do que a aura. Vejamos essas duas questões de O Livro dos
Espíritos:
140. Que se deve
pensar da teoria da alma subdividida em tantas partes quantos são os músculos e
presidindo assim a cada uma das funções do corpo?
“Ainda isto depende do sentido que se empreste a
palavra alma. Se se entende por alma
o fluido vital, essa teoria tem razão de ser; se se entende por alma o Espirito
encarnado, é errônea. Já dissemos que o Espirito é indivisível. Ele imprime
movimento aos órgãos, servindo-se do fluido intermediário, sem que para isso se
dívida.”
a) Entretanto,
alguns Espíritos deram essa definição.
“Os Espíritos ignorantes podem tomar o efeito pela
causa.”
A alma atua por intermédio dos órgãos e os órgãos são
animados pelo fluido vital, que por eles se reparte, existindo em maior abundância
nos que são centros ou focos de movimento. Esta explicação, porém, não
procede, desde que se considere a alma o Espírito que habita o corpo durante a
vida e o deixa por ocasião da morte.
146. A alma tem,
no corpo, sede determinada e circunscrita?
“Não; porém, nos grandes gênios, em todos os que pensam
muito, ela reside mais particularmente na cabeça, ao passo que ocupa
principalmente o coração naqueles que muito sentem e cujas ações têm todas por
objeto a Humanidade.”
a) Que se deve
pensar da opinião dos que situam a alma num centro vital?
“Quer isso dizer que o Espírito habita de preferência
essa parte do vosso organismo, por ser aí o ponto de convergência de todas as sensações.
Os que a situam no que consideram o centro da vitalidade, esses a
confundem com o fluido ou princípio vital. Pode, todavia, dizer-se que a sede
da alma se encontra especialmente nos órgãos que servem para as manifestações
intelectuais e morais.”
(KARDEC,
2007a, p. 127-129, grifo nosso).
Embora não encontremos nas obras da
Codificação a especificação dos Centros Vitais, não há como negar a referência
a eles tomando-se o que está dito acima.
Podemos também citar Léon Denis, que,
em O Grande Enigma, disse: “A física atual nos demonstra que a matéria
se dissocia pela análise, se resolve em centros de forças, e que a força se
reabsorve no éter universal.” (DENIS, 1988, p. 19).
Em André Luiz, especialmente, na obra Evolução
em dois mundos, capítulo “Corpo Humano” (p. 25-30), temos a especificação dos
Centros Vitais ou Centros de Força. Também a autora espiritual Joanna de
Ângelis, através do médium Divaldo P. Franco (1927- ), fala dos Centros Vitais,
conforme se pode comprovar na obra Estudos Espíritas, capítulo 4,
Perispírito (p. 39-45). Aos interessados recomendamos a leitura dessas duas
obras.
Diante de tudo isso que encontramos,
entendemos, que tanto a aura como os chacras (Centros Vitais), são abordados
nas obras da Codificação, ainda que sob outras denominações, razão pela qual passamos a aceitá-los como
pontos doutrinários.
Claro que, por questão moral, respeitaremos todos
aqueles que não comungarem de nossa conclusão, já que estimaríamos que também
respeitassem a nossa opinião, que é a de uma pessoa que quer respaldar seus
estudos em bases doutrinárias, procurando, na medida do possível, deixar de lado
eventuais “achismos”.
Paulo
da Silva Neto Sobrinho
nov/2014.
Referências bibliográficas:
DENIS,
L. No invisível. Rio de Janeiro: FEB, 1987.
DENIS,
L. O grande enigma. Rio de Janeiro: FEB, 1988.
FRANCO,
D. P. Estudos Espíritas. Rio de Janeiro: FEB, 1982.
KARDEC,
A. A Gênese. Rio de Janeiro: FEB, 2007e.
KARDEC,
A. Obras Póstumas. Rio de Janeiro: FEB, 2006a.
KARDEC,
A. O Livro dos Espíritos. Rio de Janeiro: FEB, 2007a.
KARDEC,
A. Revista Espírita 1860. Araras, SP: IDE, 2000a.
KARDEC,
A. Revista Espírita 1865. Araras, SP: IDE, 2000c.
KARDEC,
A. Revista Espírita 1867. Araras, SP: IDE, 1999.
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