Adolpho Bloch, um ucraniano que veio para o Brasil para fugir da revolução comunista de 1917 na Rússia, ficou impressionado com a dimensão territorial brasileira. Ele vinha de uma Europa destruída pela 1a. Guerra Mundial, onde movimentos separatistas eclodiam em todo o continente europeu.
Aqui se tornou um grande empresário, a ponto de a mídia nacional reconhecer seu prestígio e sua influência na vida política do país. Poucos anos antes de falecer, já no final do século passado, Bloch decidiu publicar na revista Manchete, de sua propriedade, em edição especial, uma série de matérias a respeito do Exército Brasileiro, com ênfase nas vitoriosas Batalhas de Guararapes. Essa sua decisão nasceu em consequência de duas constatações. A primeira era a certeza de que os êxitos dessas duas batalhas foram um verdadeiro símbolo da unidade nacional em virtude dos enfrentamentos entre os holandeses e a força formada pelo branco, o negro e o índio. A segunda era a presença das Forças Armadas que, atuando nas fronteiras terrestre e marítima, e ainda no interior, promovia a integridade territorial do Brasil.
Se estivesse vivo, estaria hoje apreensivo e abismado com o sensível momento por que passa a nação brasileira, onde as expressões "País dividido" e "Dois Brasis" são propaladas diuturnamente. Por seu aguçado tirocínio veria que há fissuras na integridade nacional que, dia a dia, vão se agravando e se constituindo em obstáculos que comprometem o entendimento democrático, necessário às atuais forças políticas. Tais fissuras, surpreendentemente, já são observadas no próprio seio da população. Tudo isso gera um antagonismo crescente "nunca visto neste país”, iniciado pelo grupo que nos governa, orientado por especialistas de marketing que não se importaram em empregar, principalmente nas propagandas e nos debates eleitorais, todos os meios para que a atual “presidenta” fosse reeleita.
O pobre já está sendo jogado contra a “zelite”; o trabalhador contra o patrão; o nordestino contra o sulista; o negro e o índio contra o branco; e o que é mais perigoso, abrangente e preconceituoso: o “nós contra eles”. Em síntese, um verdadeiro programa de ódio que já produz na sociedade sintomas de um transtorno de natureza psicossocial, onde o outro é o inimigo. E, para conturbar mais o quadro, esse ódio dá sinais de que não vai desaparecer tão cedo.
Em 1972 a Vila Isabel fez o povo delirar com o enredo denominado “Onde o Brasil Aprendeu a Liberdade”. O samba tinha belos versos, como por exemplo, “Aprendeu-se a liberdade - Combatendo em Guararapes - Brasileiros irmanados - Sem senhores e senzalas”. Infelizmente, o enredo da escola e o samba não estão mais em sintonia com o momento atual. Hoje há os “Senhores” que atuam em todo o campo político-social no qual grandes famílias se perpetuam em seus feudos, principalmente no Nordeste, e que juntamente com grupos empresariais de poder econômico dominam o mundo político, em prol de seus interesses, na maioria escusos. "Coronelismo" e a corrupção estão juntos. E as atuais “Senzalas”, selo de um empobrecimento crescente, estão cada vez mais presentes no país, movidas e alimentadas pelas "bolsas-família" e outras benesses doadas pelo governo central. Um voto imposto pelo patrão, ou seja, um voto encabrestado.
Além dessas preocupações políticas, há outras, tais como o rumoroso caso da Petrobrás, a fragilizada situação econômica, o baixíssimo produto interno bruto e o inevitável descontrole da inflação. Sem contar um Judiciário que, em curto prazo, com a próxima indicação de novos membros do STF pelo governo central, poderá vir a ser a nova "Casa Grande", sem dúvida um perigo iminente para o artigo 101 da Constituição Federal, pois poderá ser novamente ultrapassado por opção partidária e ideológica.
Oxalá forças vivas nacionais — tais como a oposição política e a imprensa livre e sem vínculos governamentais — se conscientizem do momento crítico pelo qual passa a nação brasileira. Que elas lutem e impeçam a realização de mudanças propostas pelo atual governo, principalmente as que visam implantar medidas que facilitarão o surgimento de regimes espúrios no Brasil. Que se contraponham ao que dizem os intelectuais gramcistas do Foro de São Paulo, quando apregoam que é com “pequenas vitórias que se chega à vitória final”. O decreto 8.243 (PNPS), felizmente rejeitado pela Câmara dos Deputados, foi uma das tentativas. Outras do mesmo teor poderão surgir com o objetivo de modificar estruturas e normas internas para criação de pseudodemocracias, como plebiscitos, referendos e novos decretos.
Entre as forças vivas acima mencionadas, as Forças Armadas devem ser incluídas. Elas fazem parte da sociedade e pela sua presença em todo território nacional conhecem a realidade brasileira e, sem dúvida, sabem que esses antagonismos já visíveis e crescentes poderão levar a nação a confrontos indesejáveis, como em épocas pretéritas.
Nos doze anos de governo petista elas permaneceram praticamente em total silêncio. Mas, agora, aspectos antagônicos e manifestos, e outros de cunho latente e sub-reptício, impõem que elas não fechem os olhos para o que está acontecendo no país e não fiquem mudas, para que não sejam acusadas de passividade perante a grave crise da história nacional. As suas ações e palavras desfrutam de alta credibilidade junto ao povo brasileiro, apesar das campanhas difamatórias que sofrem nestes últimos anos. Que em seus estudos de Estado-Maior levem em consideração esses novos antagonismos presentes na vida política do país, e que analisem o mapa do Brasil com o resultado das últimas eleições presidenciais, para que se inteirem dos riscos que ameaçam a integridade nacional.
Este escrito não é um delírio da "Direita Reacionária", e nem tampouco qualquer “apologia golpista”, mas um posicionamento de cidadãos conscientes que almejam um regime democrático sadio e justo para o Brasil e que abominam esse arremedo de regime “populista” e desagregador que aí está!
Gen-Ex R/1 Rômulo Bini Pereira
Ex-Chefe do Estado-Maior da Defesa
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