Jose Sola
Este livro foi escrito pelo espirito de Manuel Maria Barbosa du Bocage, através das mãos saudosas de nosso médium impar, Francisco Candido Xavier.
O grande poeta português escreve pela psicografia de Chico Xavier uma coleção de sonetos.
O livro apresenta, ainda, uma biografia acompanhada de comentários e críticas, além de vários textos de poemas seus.
A obra deixa-nos em condições de entender a importância de Bocage na poesia portuguesa, criando um estilo que se destacou numa fase de indecisão da literatura portuguesa.
A coletânea dos doze sonetos, acompanhada de apreciação, comentários e glossário pelo Professor L. C. Porto Carreiro Neto, focaliza assuntos como o destino do corpo e da alma, a sobrevivência do Espírito, a comunicação dos Espíritos com os homens.
Mostra, também, que, no plano espiritual, a obra de Bocage continua, e quem possa imaginar de que se trata de uma literatura vulgar esta enganado.
Temos relatos históricos, que a maior parte das vezes não condizem com a realidade, tanto relatos que se referem aos acontecimentos vividos por uma sociedade, ou por um individuo.
Temos vários sonetos escritos por Bocage, que foram adulterados, e outros mesmos que foram escritos por terceiros e atribuídos a ele.
Literatura vulgar, pior do que isso, a uma literatura pornô, extremamente oposta a literatura original do mesmo.
Inquieto ou submisso, piedoso ou sarcástico, simples ou grandíloquo, inconsequente ou sentencioso – era o mesmo Bocage; era o jovem insatisfeito, que deixava a estrídula flauta de Pã caprípede por tanger a langorosa lira de Orfeu ou a maviosa cítara de Apoio; que tanto se arrojava aos pés da “ninfa etérea, de puníceo manto”, “mãe dos Amores, das espumas filha, que o amor na concha azul passeia airosa”, como se alcandorava ao regaço “da imaculada Virgem sacrossanta”, “Virgem depois de mãe, mulher bendita”; que, sem de todo desprezar a Calíope de Camões e a Erato de Anacreonte, preferia, no entanto, a Polímnia de Bernardim Ribeiro. E foi com a lira que viveu; que só a quebrou, para refazê-la depois, ao se desatarem os liames que lhe cativavam a ninfa do Espírito ao casulo terreno.
Sem duvida alguma, a literatura de Bocage variava conforme o momento, ora era dócil romântica, ora era agressiva, devido não concordar com os políticos da época, e discordava ainda da religião ortodoxa.
Esta postura franca lhe custou muitas perseguições da parte do estado, tanto quanto da parte da igreja.
Era Manuel Maria de Barbosa du Bocage um romântico por natureza; e na poesia, que lhe era a vida mesma, um lírico, índole esta que se lhe adivinhava já aos oito anos de idade! Em Setúbal nascera, numa época de transição literária, na qual a literatura de Portugal emergia do marasmo do pseudo-classicismo, ainda dominante no mesmo século XVIII, para o doce período do Romantismo.
Desviando-se dos moldes clássicos, demasiado rígidos, Bocage pendeu para a escola que seria a do inolvidável Antônio Feliciano de Castilho: era a luva que se lhe ajustava, por independer de regras convencionais e por visar o efeito da expressão; era a imaginação e a sensibilidade sobrepondo-se à convenção; era o individualismo, que não implicava, entretanto, qualquer óbice à expansão do gênio individual; era o desafogo dos sentimentos íntimos, revelados através da poesia lírica; era o instrumento que se oferecia ao poeta, vindo novamente ao planeta em época própria; era a expressão mesma do exuberante Espírito, ávido de desabafo em hinos à Natureza; e, com efeito, embora seu forte fosse o soneto, compôs vários gêneros da poesia, entre os quais odes satíricas e anacreônticas.
Recordava talvez, assim, o poeta a Arcádia antiga, ou, ainda, aquele país imaginário de puro bucolismo, de pastores fiéis ao amo; e quem sabe não fora Bocage um deles?
Insatisfeito, como sempre, não lhe agradou o estilo da famosa “Arcádia de Lisboa”, sucessora das pitorescas escolas que reinavam desde o século XII e que viveu de 1757 a 1774. Em divergência com Francisco Manuel do Nascimento, conhecido por “Filinto Elisio”, que compunha odes segundo o modelo do clássico Horácio, fundou o “Elmanismo”, o grupo dos admiradores de “Elmano”, adotado na Nova Arcádia. Era seu pseudônimo “Elmano Sadino”, sendo “Elmano” o anagrama de Manuel e “Sadino” por ter o vate nascido às margens do rio Sado.
Temperamento irrequieto, defrontou-se, no mundo, com os distúrbios que ele mesmo propiciava. Sedento de paisagens, por mais íntimo contato com a Natureza, viajou, por profissão espontaneamente eleita, até longes terras, e mais além pretendia se não fora motivo de força maior.
O espírito de liberdade o não deixava repousar, e assim vibra:
“Liberdade, onde estás? Quem, te demora?
Quem faz que o teu influxo em nós não caia?
Porque (triste de mim!), porque não raia
Já a, esfera de Lísia a tua aurora?
Da santa redenção é vinda a hora
A esta parte do mundo, que desmaia:
Oh Venha... Oh! Venha, e trêmulo descaia
Despotismo feroz, que nos devora!
Eia! Acode ao mortal, que frio e mudo
Oculta o pátrio amor, torce a verdade,
E em, fingir, por temor, empenha estudo.
Movam, nossos grilhões tua piedade;
Nosso númen tu és, e glória, e tudo,
Mãe do gênio e prazer, ó Liberdade!”
A deplorável mentalidade da época mereceu, diversas vezes, a candente reprovação por parte do genial satírico, e Bocage “chibava” de rijo, sem peias nem rebuços, “na súcia, dos tafúis”.
Aumentava destarte sua própria, angústia, que lhe nasceu desde que ficara órfão de mãe aos dez anos de idade. Essa índole buliçosa lhe custou amargos dias, sobretudo naquele período de vero despotismo, assim governamental, como religioso; perseguido, em consequência de linguagem desenvolta, entregaram-no as autoridades civis ao “Santo Ofício”, a pretexto de ofensas à Fé.
Preferível lhe foi, por sem dívida, o enclausuramento nos cárceres daquele tribunal, donde foi removido para um mosteiro e depois para o Hospício de N. S. das Necessidades; as autoridades eclesiásticas o trataram porem, com brandura e com a consideração que lhes merecia o talento do ilustre prisioneiro.
Não quero crer que os maus versos de Bocage, isto é, aqueles em que estrugia a "vil matéria lânguida” em rasgos de sangue moço, fossem a revelação de caráter inferior. Todas as paixões, com as quais se lhe procure denegrir a memória, são frutos da mesma árvore, são contingências desse misto de luz e de treva, desse milagre – divino privilégio! – de sol e caligem coexistentes em tão minúsculo âmbito do cárcere carnal e que se chama criatura humana. Tudo, ao contrário, revelava, no poeta, ascensão; tudo lhe estuava de vida intensa.
Poderíamos dizer, por paradoxo, que o matara, não a míngua de energia, mas o excesso de vida; que cerrara os olhos à pletora de luz; que, à força de atropelar o trabalho de Cloto e de Láquesis, decidira Átropos escindir-lhe, duma vez, o fio mal tecido.
Cite-me, ainda, sua adesão, uns dois anos antes de partir para o “refulgente empíreo”, ao chamado “Grupo dos Filósofos”, que com o “Grupo dos Fidalgos” e o “Grupo dos Brejeiros” formava espécie de academia no convento de São Vicente. Porque sua preferência pelo “Grupo dos filósofos”? Por lhe parecer mais sincero nos propósitos: ao segundo mencionado pertenciam nobres enfatuados e vazios, com os quais a elevação de espírito do poeta absolutamente não se poderia coadunar; ao terceiro muito menos pudera dar apoio, pois nesse imperavam deidades muito diversas das musas.
Eis o Bocage, a quem o “das Gorgonas, das Fúrias negro bando” pretende lançar a pecha de “ser odioso, além de desgraçado”. Mas diz o forte bardo:
“Não me consterna, o ver-me trespassado
Com mil golpes cruéis de desventura,
Porque bem, sei que a frágil criatura,
Raramente é feliz no mundo errado.
Em o livro volta Bocage, encontramos um escrínio de beleza, expressão e luz escrito por um espírito indômito, repleto de genialidade, genialidade esta incompreendida, pelos contemporâneos de sua época.
E temos a destacar que a verdade sempre se impõe a mentira, a calunia, pois este poeta maravilhoso foi incompreendido, tido mesmo a conta de odiento, entretanto, viria pelas mãos de um médium inesquecível, apresentar seus valores legítimos.
Através das mãos de Chico Xavier, ele resgatou os valores que lhe eram devidos, confirmando as palavras de Jesus, de que não se pode deixar uma lâmpada debaixo do alqueire.
E tendo sido Bocage um personagem desclassificado pelos déspotas de sua época, imagem esta que foi aceita pela mídia que não analisa os fatos, que não se utiliza com a lógica e da razão, mereceu na doutrina espirita o direito de manifestar seus valores.
Neste caso como em diversos outros, o espiritismo tem sempre caminhado a frente, seja da ciência, da filosofia, ou das religiões, esclarecendo a verdade, desmitificando dogmas religiosos, ou científicos, apresentando-se como um facho luminescente, a clarear a senda da humanidade.
Nosso mestre Allan Kardec em o livro Céu e inferno, ou Justiça Divina, fez desmoronar o monumental edifício dos dogmas das religiões ortodoxas.
E é ainda o espiritismo através de suas obras básicas, que nos apresentou informações que contrariavam determinados dogmas da ciência, quando a mesma nos apresentou informações tidas como exatas, mas que não passam pelo crivo da lógica e da razão.
Nos tempos hodiernos temos a afirmação apresentada por parte da astronomia, ou astrofísica, de que o universo foi criado por Deus a quinze bilhões de anos, através de uma grande explosão, e infelizmente muitos espiritas, para não ficar fora de voga a aceitam.
Entretanto, conforme essa premissa, a criação do universo aconteceu a partir da explosão de um imenso ovo cósmico, composto de neutrinos, mas questionamos; onde se encontrava esse ovo cósmico?
Com certeza no espaço tempo (infinito), e esse espaço tempo, já era universo, e mais, o próprio ovo cósmico, já era um aglomerado de massa, também já era universo.
Entendemos de que a teoria da relatividade de Einstein, espaço, tempo, matéria e energia não passam de uma única e mesma coisa, esta correta, o universo é eterno, é infinito, e já sabemos que matéria é energia em aceleração, em movimento, em velocidade, e energia é matéria decomposta.
E também nos é possível raciocinar de que espaço é uma dimensão que nos seja possível percorrer, ou abranger, no entanto o espaço esta contido no infinito, tempo é um parâmetro que define nascimento e morte de um corpo qualquer, mas sabemos em doutrina espirita que existe uma causa que antecede a formação desse corpo, e essa causa sobrevive, o que nos leva a raciocinar de que o tempo é absorvido, pela eternidade.
Esta é uma das premissas equivocas, entretanto temos uma ainda maior, a que nos apresenta a ciência empírica de que Deus não existe, e com todo respeito que devemos aos homens da ciência, esta premissa não se sustenta, pois a vida não é uma premissa, não é uma ficção, é uma realidade, um fato.
Fato este que se repete infinitamente, propiciando a ciência à oportunidade de analise, de pesquisa, e mais a vida em seus variados momentos de manifestar-se, nos apresenta sempre um principio inteligente, principio este que transcende a mais genial inteligência humana.
Se o espiritismo se ativesse a ciência, não aceitaria a existência de Deus, tampouco a pluralidade dos mundos, o fenômeno da reencarnação, e outras verdades que nos foram reveladas.
Havendo apresentado esses equívocos da ciência, não a estamos depreciando, pois esta sem duvida alguma exerce um trabalho maravilhoso e profícuo mesmo, junto a humanidade, a esta devemos o progresso intelectivo, técnico de nossa sociedade, inclusive de equipamentos na área da saúde.
Com o avanço da ciência temos feito grandes descobertas, e no que respeita ao conforto conquistado em nossos lares, nas empresas, enfim na sociedade num geral, a ciência é que o devemos.
Então fica esclarecido que a ciência como uma disciplina que pesquisa, analisa os fenômenos, e as premissas que aventamos, é de ordem fundamental para o progresso e para a evolução da humanidade, não podemos viver sem ela.
O que seria da humanidade, não houvesse existido os grandes vultos da ciência, tais como Galileu, Ptolomeu, Einstein, etc., e muitos outros mais recentes?
Não teríamos feito as conquistas maravilhosas, que se fizeram, e dentre outras, lembramos a teoria da relatividade de Einstein, teoria esta que modificou por completo o conceito da física.
O espiritismo é um facho de luz, que resplende no horizonte de nossas almas, ainda incertas na caminhada ascensional que nos compete perfazer na estrada infinita na eternidade.
Mas infelizmente nem todos nós espiritas estamos atentos para esta realidade divina, e procuramos colocar esta luz maravilhosa debaixo do manto sombrio da ortodoxia, esquecendo-nos de que esta não pode ficar debaixo do alqueire, e cerceiam qualquer conhecimento que fuja a disciplina ortodoxa, acreditando que chegaram a ultima palavra em doutrina espirita.
Esqueceram-se, ou não aceitaram mesmo as palavras sabias de Emmanuel, quando nos afirmou que o espiritismo é a religião universal do amor e da sabedoria, pois se houvessem entendido, e procurariam extrapolar Kardec, não se deteriam a letra.
Ao espirita compete a postura de um livre pensador, tolerante, paciente, auscultador, entretanto atento à lógica e a razão, pois estes são parâmetros de que nos pediu Kardec, fizéssemos uso, mas infelizmente não o temos feito.
Eu teria por essa ortodoxia, um respeito infinito, se a mesma agisse de maneira imparcial, mas infelizmente, não é isto o que sucede, procuram pelo em casca de ovos, procurando equívocos nas obras de Emmanuel, Andre Luiz, mas aceitam pacíficos, e alguns prazerosos mesmo, obras do Bacceli, como Reencarnação no Mundo Espiritual, e pior, as obras do Robson Pinheiro, como obras espiritas; então para que serve esta ortodoxia?
Um livro como este, escrito por um poeta tido como detestável, contraria todas as ortodoxias existentes, para confirmar um fato, Bocage não morreu, e não era a figura detestável e odienta como o pintavam, pois suas poesias através de Chico Xavier, expressam doçura e amor.
Quem ainda não leu este compendio poético, leia, e se já leu volte a reler, pois vale a pena.
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