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Luciano dos Anjos |
Prezado Nélson.
Essa história das traduções, novamente remontada, é velhíssima. Quando publicada pela primeira vez por um espírita, enviei as explicações que ora mando para você. Insiste-se numa versão falsa, que nunca foi verdadeira.
Quanto ao caso dos direitos autorais do Chico, trata-se de mera calúnia da Zibia, a que irei responder. Ela quer respaldo de um grande e honesto médium já desencarnado para justificar a fortuna que vem acumulando com seu negócio empresarial. Verdadeiro é que o primeiro livro mediúnico dela foi bom; depois que “recebeu” orientação do Alto para embolsar os direitos autorais, só lançou repetidas e insossas histórias de literatice macarrônica.
Infelizmente estamos vivendo um momento muito triste para a história do espiritismo no Brasil, que arrisca copiar a trajetória do passado europeu (onde Kardec e a doutrina se enterraram) e quer montar negócios como os tem a igreja católica e protestante. As iniciativas estão poluídas por uma enxurrada de justificativas lamacentas. Precisamos recalibrar as intenções despressurizadas pela ambição material.
Cordialmente,
LUCIANO DOS ANJOS.
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Li o texto sobre os livros da FEB e os direitos negados a empresários norte-americanos. Entendo a reação, baseada apenas no que foi contado por gente que não tinha nenhuma relação com a instituição. Naquela época, quem a presidia era o Wantuil de Freitas, um homem que dedicou sua vida ao espiritismo e exercia aquele cargo com segurança e bastante competência. Ao mesmo tempo, era compreensivo em momentos importantes e gostava de ouvir seus auxiliares mais próximos. Ouvia, por exemplo, o Armando de Assis, seu vice-presidente, cujas opiniões eram para o Wantuil de muito peso. E, também, não sei bem por qual importância, tinha interesse no meu entendimento sobre alguns assuntos. Daí que conheço sobejamente os fatos sobre o interesse dos empresários americanos em publicar as obras psicografadas pelo Chico. Tanto que, logo depois, o Reformador estampou uma nota a respeito do assunto em geral, advertindo e até lembrando que a FEB poderia recorrer à Justiça. Essa nota, por sinal, foi redigida por mim. A história é mais complexa do que muitos supõem. De início, para que se possa medir o tamanho do desconhecimento, anoto que quem inventou a história nem ao menos sabia onde os empresários americanos estiveram. Ora, eles nunca foram a Brasília, simplesmente porque, em abril de 1969, lá ainda não funcionava a FEB, cuja inauguração do cenáculo - primeiro passo - só vai acontecer em outubro de 1970.
Mas, vamos aos fatos, que sintetizarei em itens breves para não estender demais as explicações.
1. A FEB já vinha, àquela época, de algumas surpresas e alguns desgostos. Chegaram, inclusive, a traduzir livros do André Luiz sem nenhuma autorização, e lançá-los lá fora. Só se soube da leviandade quando um exemplar bateu nas mãos do Wantuil, que o repassou a mim e ao Armando. Uma vergonha. Impressão horrorosa, péssima tradução e com graves mutilações. Foram ao extremo absurdo de cortar capítulos em que a prece era valorizada.
2. Quando os empresários americanos procuraram a FEB, vieram com uma proposta indecorosa. Esclarecidos do que já houvera acontecido antes, propuseram, sim, que a própria FEB fizesse as traduções. Mas, partindo da nossa premissa de que o nosso propósito é sempre doutrinário, foi-lhes feita contraproposta no sentido de que eles se encarregassem das traduções para posterior avaliação da FEB, e que doassem os direitos dessas traduções. A FEB assumiria todo o trabalho restante, de impressão, etc. Ficaria com eles o direito de distribuição para o mundo inteiro, pelo que ganhariam uma comissão sobre as vendas e o principal caberia à FEB para cobertura de custos e o reinvestimento em novos lançamentos espíritas, que este é, afinal, o papel da FEB. Não toparam. Queriam simplesmente a autorizarão para a editoração e com eles ficariam todos os lucros. Ora, os lucros da FEB sempre foram reinvestidos na divulgação do espiritismo; os lucros deles seriam de desconhecida aplicação. Coisas de quem nunca teve o espírito dos brasileiros em relação a vantagens comerciais dentro do espiritismo, haja vista que por lá até hoje a mediunidade é profissionalizada. Basta abrir os jornais e verificar as ofertas... Afinal, não esqueçamos que eles eram exclusivamente empresários. Nenhuma editora do mundo concordaria com uma proposta daquelas. Nessas questões - frise-se -, a FEB sempre agiu com correção e honestidade.
3. O Chico não se irritou, nem foi parar em hospital por causa disso, mas ficou, sim, um pouco surpreso pelo desfecho das conversações; algum tempo depois, porém, foi logo informado de tudo e concordou com a posição do Wantuil.
4. Quanto ao mais, por enquanto não quero entrar em maiores detalhes sobre a decisão do Chico de não mais enviar nenhum livro para a FEB publicar, o que de fato aconteceu. Só que nada teve a ver com esse imbróglio das traduções negadas. O Chico agiu dessa maneira quando o Armando de Assis não quis mais candidatar-se à reeleição devido a lamentáveis ocorrências de ordem interna. O Armando e o Chico eram muito amigos. Ele ficou extremamente triste com os acontecimentos e tomou aquela decisão, cumprida até à desencarnação. Foi apenas um gesto de solidariedade ao Armando de Assis. Mas isso é história para ser contada numa outra ocasião, se for o caso. Quanto ao quase rompimento com as federadas, trata-se de pura fantasia. Houve algumas reações deles a determinados procedimentos, mas tudo muito normal, como sempre ocorreram desde que a FEB existe. E isso, afinal, é salutar para o movimento espírita. Ruim é acharem que todos os espíritas são santos e que todos pensam igual.
Eis a verdade do que houve. E tenho comigo, até hoje, correspondência trocada, naquela ocasião, entre a FEB e o erudito e correto Walace Leal Rodrigues, a propósito desse mesmo assunto.
LUCIANO DOS ANJOS
Rio, 12.6.2013
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