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Gerson Simões |
Prezado João Loes
Na matéria publicada na revista,
do dia 05/06/2013 - ANO 37 – Nº 2272,
com o título “A SENHORA DOS ESPÍRITOS”,
sob sua responsabilidade, devo esclarecer que você cometeu um grande equívoco
ao informar na página 80, que:
“A UMBANDA É UM RAMO DO
KARDECISMO QUE NASCEU COMO UMA OPÇÃO PARA QUEM CONCORDAVA COM AS PREMISSAS
BÁSICAS DE KARDEC, MAS NÃO SE VIA REPRESENTADO NA SUA PESADA TRADIÇÃO EUROPEIA.
SE OS KARDECISTAS VALORIZAM O CIENTIFICISMO, O ESTUDO E A ILUSTRAÇÃO, OS
UMBANDISTAS PREFEREM A EXPERIÊNCIA ACUMULADA NA PRÁTICA. SE NO KARDECISMO, AS
REFERÊNCIAS ESPIRITUAIS SÃO MÉDICOS E ESCRITORES, NA UMBANDA QUEM SURGE É O
PRETO VELHOE O CABLOCO”.
Lembro que você aprendeu na
cadeira de Antropologia, ministrada nos Ciclos Básicos dos cursos de
Jornalismo que, historicamente, a Umbanda teve início em nosso país no
século XVI, com a vinda dos nossos irmãos africanos através da escravatura
do negro no Brasil, os quais incorporaram impositivamente rituais do catolicismo
às suas crenças de origem. Já o Espiritismo teve início na França, a partir
de 18 de abril de 1857, com a publicação de "O Livro dos
Espíritos", que chegou ao Brasil por volta de 1860.
Portanto, a Doutrina Espírita não
tem vínculo algum com cultos de origem africana, seitas ou rituais de magismo,
pois não resulta de qualquer forma de sincretismo religioso e muito menos
vinculado se encontra a outras práticas assemelhadas, como é o caso da Umbanda,
que está mais próxima do Catolicismo do que de qualquer outro culto religioso
adotado no Brasil.
Esclarecemos ainda que quando o
Espiritismo se iniciou no Brasil, nas últimas décadas do século passado, já
haviam cultos africanos espalhados por todo o país e, particularmente, na
Bahia. Esses cultos, enraizados no Brasil desde o período colonial, absorveram
grande influência do catolicismo, resultando um sincretismo religioso, sem que
o Espiritismo tivesse exercido qualquer influência no seu surgimento, conforme
depoimentos de Manoel Querino, em Costumes Africanos no Brasil; Arthur Ramos, em Negro
Brasileiro; e Waldemar Valente, em Sincretismo Religioso Afro-Brasileiro.
Para facilitar ainda mais o entendimento da questão, ou seja, a
diferença entre o Espiritismo e a Umbanda, lembramos que o Espiritismo não tem
qualquer culto material e não adota nenhuma espécie de ritual, como: oferendas,
velas, imagens de santos, danças, uso de paramentos, procissões. Tudo isso são
coisas absolutamente estranhas ao Espiritismo, que não pratica nenhuma forma de
culto exterior, embora respeite todas as crenças. Assim sendo, vale frisar que
o Espírita (neologismo criado por Allan Kardec) é o seguidor do Espiritismo,
doutrina por ele codificada que não adota rituais de espécie alguma.
Por outro lado, não existe doutrina Kardecista. Allan Kardec não fundou
nenhuma religião. Ele próprio deixou bem claro que o Espiritismo - o Consolador
Prometido por Jesus - é de autoria dos espíritos, tendo ele sido apenas seu
codificador, ou melhor, o responsável na Terra pela sua coordenação ou sistematização.
Existe, sim, Doutrina Espírita ou Espiritismo, jamais kardecismo,
pois o Espiritismo é uma doutrina que não está centrada na pessoa de Allan
Kardec, como podemos nos referir ao cristianismo, ao budismo etc. Portanto a Doutrina é uma criação dos Espíritos, por isso mesmo, denomina-se
Espiritismo e não KARDECISMO
Outro fato, ainda, que não pode
ser deixado de lado é o de que o IBGE, de acordo com as determinações
estabelecidas pelo Ministério da Justiça diante da realidade brasileira, faz a
distinção em seus questionários para fins de coleta de dados, inclusive os do
último Censo, separando Católicos, Evangélicos, Espíritas, Umbandistas e
Candomblecistas.
Certo de estar colaborando para
que esta renomada revista da qual sou leitor de muitos anos, informe com
precisão os fatos para seus leitores, agradeço a atenção dispensada e coloco-me
a sua inteira disposição para qualquer esclarecimento posterior.
Atenciosamente,
Gerson
Simões Monteiro
Escritor – Colunista do Jornal
EXTRA desde abril de 1998 - Ex-presidente da União das Sociedades
Espíritas do Estado do Rio de
Janeiro (USEERJ)
ANEXOS
1 -Para você se
atualizar na matéria, a fim informar corretamente os seus leitores sugiro a leitura das obras do meu
amigo com que trabalhei na CAPES – Ministério da Educação, o escritor
brasileiro,
especializado em temas afro-brasileiros,Edison de Souza Carneiro. Ele fez todos seus estudos em Salvador,
até diplomar-se em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito da Bahia, em 1936 (turma de 1935).
São elas
dentre outras:
- Negros Bantos, Editora Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1937;
- O Quilombo dos Palmares, Editora Brasiliense, São Paulo 1947, 1958;
- Candomblés da Bahia, Editora Museu do Estado da Bahia, Salvador, 1948, 1954, 1961;
- Antologia do Negro Brasileiro, Editora Globo, Porto Alegre, 1950;Religiões Negras, Editora
Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1963.
2 E PARA ESCLARECER MELHOR O QUE É O ESPIRITISMO AQUI VAI
RESUMIDAMENTE AS NOSSAS CONSIDERAÇÕES:
FUNDAMENTOS DA DOUTRINA
ESPÍRITA
1. O QUE É SER ESPÍRITA
Muitas pessoas desejam saber o que é o Espiritismo e por extensão, o que
é ser Espírita. Foi justamente para responder a essas duas questões que
escrevemos essas notas.
Procuramos, numa linguagem simples, colocar ao alcance de todas as
pessoas os princípios fundamentais do Espiritismo, utilizando os artigos
publicados aos domingos na coluna "Em Nome de Deus", do Jornal Extra,
e que agora são publicados no BLOG do jornal.
Nós vamos esclarecer neste primeiro capítulo “o que é ser
espírita?"; “em que se baseia a sua crença; e também a diferença entre ser
Espírita e ser
Verdadeiro Espírita”.
Bem, quando você pergunta de que forma uma pessoa se torna espírita
podemos responder dizendo: é quando ela crê e admite os seguintes princípios
básicos (ou fundamentais) da Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec.
Io) Na existência de Deus, criador de todas as coisas que se encontram
no Universo, isto é, os espíritos encarnados e desencarnados e o mundo
material.
2o) Na imortalidade da alma, que sobrevive após a morte do corpo físico,
É bom que se diga que isso foi comprovado cientificamente por Allan Kardec,
através de procedimentos por ele concebidos aos quais submeteu as inúmeras
mensagens recebidas por diversos médiuns.
3o) Na evolução de todos os espíritos pela reencarnação. Criados por
Deus na condição de simples e ignorantes, isto é, sem conhecimento algum e sem
nenhum progresso moral, eles podem, através das reencarnações, atingir a
perfeição espiritual, a mesma conquistada por Jesus.
4o) Na comunicação dos espíritos desencarnados com os encarnados, tal
como aconteceu no Monte Tabor, segundo a Bíblia, quando dois mortos - os
espíritos Elias e Moisés - conversaram com Jesus.
A pessoa, portanto, aceitando pela fé raciocinada esses princípios
fundamentais do Espiritismo, pode ser considerada espírita. No entanto,
reconhecemos o verdadeiro espírita por sua transformação moral, conforme
conceituação de Allan Kardec no capítulo "Sede Perfeitos" de O
Evangelho Segundo o Espiritismo. A transformação moral do espírita se dá quando
ele pratica a caridade em toda a sua extensão e procura melhorar-se moralmente
no modo de pensar e de agir.
Podemos afirmar que Chico Xavier foi exemplo de um verdadeiro espírita,
como foi Bezerra de Menezes - o médico dos pobres - quando esteve entre os
encarnados. Suas vidas são exemplos de humildade, de abnegação, e de profundo
respeito ao sofrimento alheio e de amor ao próximo, por terem adotado como lema
em suas vidas:
Concluindo podemos dizer que:
“Ser espírita
é crer na existência de Deus; na imortalidade da alma; na Evolução do espírito
pela reencarnação; e na comunicação dos espíritos”; e
que “O
verdadeiro espírita além de admitir e crer nos princípios fundamentais do
Espiritismo utiliza-os para modificar a sua conduta, tendo ----------
Mensagem encaminhada ----------
RESPOSTA DO JOÃO LOES
Gerson,
Muito obrigado
pelo seu e-mail. A informação que demos sobre a umbanda está de acordo com o
que nos disse a nossa fonte, o professor Reginaldo Prandi, docente do
departamento de sociologia da Universidade de São Paulo e autor do livro “Os
Mortos e os Vivos” (Ed. Três Estrelas, 2012). O crédito, por alguma razão,
acabou suprimido da arte que entrou na página 80 da matéria. Ainda assim, na
próxima edição, publicaremos uma carta da Federação Espírita Brasileira (FEB)
com o que ela entende ser o espiritismo e a umbanda. Entendimento, aliás, que
se alinha com o que vc anotou.
Obrigado mais
uma vez,
João Loes
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