SUICÍDIO - UMA FUGA SEM NORTE , SEM SENTIDO, SEM RAZÃO
Atualmente, como se não bastasse o inquietante “Dia Nacional de Prevenção ao Suicídio”, a Justiça francesa está investigando a onda de suicídios na operadora de telefonia France Telecom. Nos últimos anos, 46 funcionários da companhia se mataram – 11 deles apenas em 2010, segundo dados da direção da empresa e dos sindicatos. Infelizmente , são exatamente nos países ricos, em que a ambição e o materialismo se acentuam, onde sobressaem os preconceitos que o número de óbitos por suicídios é aterrorizante. Segundo estimativa dos estudiosos, alguns países do Velho Continente carecem de um “plano nacional para a prevenção de suicídios”, pois é ameaçador o número de mortes auto-infligidas.
Kardec escreveu que o suicídio é contagioso; “o contágio não está nem nos fluidos nem nas atrações; ele está no exemplo que familiariza com a ideia da morte e com o emprego dos meios para que ela se dê; isto é tão verdadeiro que quando um suicídio ocorre de uma certa maneira, não é raro ver vários deles do mesmo gênero se sucederem.”(2) Quinze anos antes da Revolução Francesa , o lançamento do livro “Werther” do poeta alemão Goethe, provocou uma onda de suicídio na Europa. “Romeu e Julieta, criação de Shakekspeare, assim como tantos Romeus e Julietas da vida real, se matam para vingar-se de seu ambiente e das pessoas que estão ao seu redor”(3)
Albert Camus em “O Mito de Sísifo” defende a tese que só existe um problema filosófico realmente grave: o suicídio - Julgar se a vida vale ou não a pena ser vivida é responder a questão de filosofia.(!?) Que o abonem os escritores Artur Shopenhauer em “As Dores do Mundo”, que induz seu leitor invigilante ao suicídio, e Friedrich Wilhelm Nietzsche que escreveu em “Assim Falava Zaratustra” que orar é vergonhoso, afirmando que “a ideia do suicídio é uma grande consolação: ajuda a suportar muitas noites más.”(!?) .
O suicídio é uma ação unicamente humana e está presente em todas as civilizações. Suas matrizes originais são abundantes e intricadas. Algumas pessoas (re)nascem com certas desordens psiquiátricas, tal como a esquizofrenia e o alcoolismo, o que obviamente acresce o risco de suicídio. Os determinantes do autocídio patológico estão nas ansiedades mentais, desesperanças, desgostos, intranquilidades emocionais, alucinações recorrentes. Pode estar vinculada a falência financeira, vergonha e mácula moral, decepções amorosas, depressão, solidão, medo do futuro, soberba pessoal (recusa a admitir o fracasso) ou exacerbado amor próprio (acreditar que sua imagem não possa sofrer nenhum arranhão ou ferimento). Mas, cremos que a exata causa do suicídio não está nas ocorrências infelizes em si, todavia na atitude como a pessoa cede diante do desgosto.
Há autoextermínio por ideias fixas, realizados fora do império da razão, como aqueles, por exemplo, que ocorreram na psicose, na embriaguez; aqui a causa é meramente fisiológica; mas paralelamente “se encontra a categoria, muito mais numerosa, dos suicídios voluntários, realizados com premeditação e com pleno conhecimento de causa.”(4) O Codificador indagou aos espíritos - “que pensar do suicídio que tem por causa o desgosto da vida?”. Os Benfeitores responderam: "Insensatos! Por que não trabalhavam? A existência não lhes seria uma carga!"(5)
Há dois milênios Jesus disse: “Bem-aventurados os que choram, pois que serão consolados”.(.6) Mas, como compreender a conveniência de sofrer para ser feliz? Por que uns já (re)nascem abastados e outros na miséria, sem nada haverem feito (na atual existência)que justifique essas posições? “A certeza da imortalidade pode confortar e gerar resignação, contudo não elucida essas aberrações, que parecem contradizer a justiça Divina. Se Deus é soberanamente bom e justo, não pode agir caprichosamente, nem com parcialidade. Logo, as vicissitudes da vida derivam de uma causa e, pois que Deus é justo, justa há de ser essa causa.” (7)
Na Terra, é preciso ter tranquilidade para viver e conviver, até porque, não há tormentos e problemas que perdure uma eternidade. Lembremos que a vida não assenta em nossos ombros fardos mais pesados que nossos limites e carregá-los. A calma e a resignação hauridas da maneira de avaliar a vida terrestre e da certeza no futuro “dão ao espírito uma serenidade que é o melhor preservativo contra a loucura e o suicídio.” (8) Porém, a incredulidade, a simples suspeição sobre o futuro espiritual, as opiniões materialistas, por fim, são os grandes incitantes ao suicídio e ocasionam o acovardamento moral.
Os Benfeitores Espirituais advertem que o suicídio é comparável a alguém que pula no escuro sobre um despenhadeiro de brasas. Após a morte , descrevem os espíritos , advém ao suicida a sede, a fome, a friagem ou o calor insuportável, o cansaço, a insônia, os irresistíveis desejos impudicos, a promiscuidade e as tempestades com constantes inundações de lamas fétidas. E pior, aos que fogem da luta, recordamo-lhes que adiar dívida moral significa reencontrá-la mais tarde (pela reencarnação) com juros somados com cobrança sem moratória.
A Terceira Revelação comprova através das comunicações mediúnicas a posição desventurada em que se deparam os suicidas e comprova que nenhuma pessoa infringe impunemente a lei de Deus. O espírita tem, assim, vários motivos a contrapor à ideia do suicídio: a confiança de uma vida futura, em que, sabe-o ele, será de tal maneira mais venturosa, quão mais infeliz e abdicada tenha sido na Terra.
É vero! O suicídio é uma porta falsa em que o indivíduo, avaliando alforriar-se de seus incômodos, desmorona em circunstância extremamente mais arruinada. Precipitado, violentamente, para o Além-túmulo, repleto de fluido vital no corpo aniquilado, revive, continuamente, por longo tempo, os espicaces de consciência e sensações dos últimos momentos, além de permanecer debaixo de penosa tortura aprisionado aos despojos carnais sob a própria tumba. Como se ainda não bastasse, permanecerá na dimensão espiritual submerso em regiões de penumbras, onde seus martírios serão tenazes , a fim de aprender na dor pungente a respeitar a vida com mais empenho noutras oportunidades reencarnatórias.
Portanto, “a certeza de que, abreviando a vida, chega justamente a um resultado diferente daquele que espera alcançar; que se livra de um mal para tê-lo um pior, mais longo e mais terrível, que não reverá, no outro mundo, os objetos de sua afeição, que queria ir reencontrar; de onde a consequência de que o suicídio está contra os seus próprios interesses. Também o número de suicídios impedidos pelo Espiritismo é considerável, e se pode disso concluir que quando todo o mundo for espírita, não haverá mais suicídios voluntários, e isso chegará mais cedo do que se crê.” (9)
Sabemos que a prece é um apoio para a alma; contudo, não basta: é preciso tenha por base uma fé viva na bondade do Criador. Destarte, quando nos advenha uma causa de sofrimento ou de contrariedade, urge sobrepor-se a ela, e, quando houvermos conseguido dominar os ímpetos da impaciência, da cólera, ou do desespero, devemos dizer, cheio de justa satisfação: "Fui o mais forte." (11)
Ante o impositivo da Lei da fraternidade, precisamos orar pelos nossos irmãos que deram fim às suas vidas, apiedando-nos de suas dores, sem condená-los.
Jorge Hessen
http//jorgehessen.net
Referências bibliográficas:
(1)Análise sobre Estatística dos suicídios que Kardec fez do livro “Comédie sociale au dix-neuvième siècle” , autoria de B. Gastineau, publicado na Revista Espírita, julho de 1862
(2)Idem
(3)Disponível em http://www.espirito.org.br/portal/artigos/geae/argumentos-suicidio-1.html
(4)Análise sobre Estatística dos suicídios que Kardec fez do livro “Comédie sociale au dix-neuvième siècle” , autoria de B. Gastineau, publicado na Revista Espírita, julho de 1862
(5)Kardec , Allan. O Livro dos Espíritos, RJ: Ed FEB, 2001, perg. 945
(6)Lc. VI, vv. 20 e 21
(7) Kardec , Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo, RJ: Ed FEB, 2006, cap V
(8)Idem
(9)Análise sobre Estatística dos suicídios que Kardec fez do livro “Comédie sociale au dix-neuvième siècle” , autoria de B. Gastineau, publicado na Revista Espírita, julho de 1862
(10) Kardec , Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo, RJ: Ed FEB, 2006, cap V
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