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terça-feira, 17 de abril de 2012

O medo de morrer nos mata por antecipação

Roberto Cury
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1º) “Eu não sei porque tenho um medo enorme de morrer, não da morte em si, mas sempre que eu penso nisso, eu me vejo sendo enterrada e a terra sendo jogada sobre mim, isso me deixa em pânico, pois eu vejo toda a cena, tenho 41 anos e sei que a morte é uma coisa natural que vai acontecer mais cedo ou mais tarde, por favor alguém me explique porque isso acontece, se tem alguma coisa a ver com vidas passadas, e como posso ser ajudada pois isso me perturba muito.”
2º) “Mesmo sabendo que é a nossa única certeza eu morro de medo de morrer. O que acontecerá, como vai ser quando eu morrer? Fico me perguntando essas coisas.”
3º) “Não tenho medo da morte. Apenas de deixar a vida. Eu sei que quando morre acaba tudo. Todos falam de vida após a morte, que a pessoa volta e tal. Sou filha única e era muito apegada com o meu pai. Ele sempre foi tudo na minha vida. Até que um dia ele se foi dessa vida. Morreu em um assalto. Tenho certeza absoluta de que, se existisse forma de voltar, ou se existisse vida depois da morte, eu saberia. Ele teria voltado, ele me amava demais. Mas não foi o que aconteceu, eu nunca mais o vi. Tenho certeza de que acabou. Então eu não tenho medo da morte porque sei que vou descansar e isso é consequência da vida. O meu medo é saber que vou deixar pessoas aqui que me amam e que vão sentir a minha falta. Amo viver, amo respirar, realizar meus sonhos amo muito tudo isso e tenho medo de tudo simplesmente "acabar". Tenho medo de envelhecer e saber que isso me aproxima cada vez mais do "fim". Mas, infelizmente nada dura para sempre, nem a gente.”

Três depoimentos, inclusive conflitantes um com os outros.

Um amigo muito querido não gosta nadinha quando eu toco no assunto morte. Ele morre de medo de morrer. Da mesma forma uma funcionária da minha esposa me esconjura a cada vez que me refiro ao fenômeno natural, pois, também ela, morre de medo de morrer. Chega a afirmar que jamais morrerá. E quando me rio da ingenuidade, ela fica muito brava.

Joanna de Angelis entende “o Medo como um sentimento natural e necessário para que sejamos prudentes frente a perigos que possam prejudicar nossa vida.” Em várias de suas obras, afirma que “o medo da morte resulta do instinto de conservação que trabalha a favor da manutenção da existência.”

Entretanto, é importante que diferencemos o medo natural, quando moderado, do medo excessivo que se torna patológico porque passa a prejudicar a vida encarnada fazendo com que a pessoa viva mais com medo do que com tranquilidade.

Joanna de Angelis aponta: “que existem pessoas que tem tanto medo do instante da morte, que se matam para não esperá-la. Ou às vezes o medo da morte é de tal grau que a pessoa passa a temer o envelhecimento, recorrendo a todas as formas de tratamentos para manter uma aparência jovem, tentando mostrar aos outros e a ela mesma algo que ela não é.”

Todos nós um dia morreremos. Como reagiremos a esse momento? Isso dependerá da preparação que cada um fez para assegurar durante a sua vida. Afinal preparar-se para a morte não será assim tão esdrúxulo como poderá parecer, perante tantas evidências de que a vida continua além túmulo e ninguém será apenas fantasmas a aparecer ou desaparecer diante de assustados olhos humanos.

Herculano Pires, no livro Educação para a Morte, 2ª Ed. Correio Fraterno, pág. 19 ensina: “A Educação para a Morte, não é nenhuma forma de preparação religiosa para a conquista do Céu. É um processo educacional que tende a ajustar os educandos à realidade da Vida, que não consiste apenas no viver, mas também no existir e no transcender. A vida e a morte constituem os limites da existência. Entre o primeiro grito da criança ao nascer e o último suspiro do velho ao morrer, temos a consciência do ser e do seu destino. A criatura humana é um ser definido, que reflete o mundo na sua consciência e se ajusta a ele, não para nele permanecer, mas para conquistá-lo, tirar dele o suco das experiências possíveis e transcendê-lo, ou seja, passar além dele.”

No mundo turbulento e imediatista de hoje, em que a busca desesperada pelos bens de ordem material prevalece sobre os valores morais, muita gente, pensando apenas num futuro próximo e aqui, porque a morte lhe parece o fim e que é preciso aproveitar intensamente a vida na Terra, age tentando agradar a uns e a outros, procurando esquecer os sentimentos próprios, chegando até a afogar-se nas hesitações entre o desejo e o dever.

Uma terrível sensação de fragilidade e insegurança se abate sobre aqueles que vivem amedrontados diante do que lhes reserva o futuro e principalmente se olham o futuro desaguando no momento da morte. O que me acontecerá? - gemem entre dentes.

Esse desequilíbrio emocional tem contribuído decisivamente para que muitos vivam em constante sobressalto. Alguns choram às escondidas, no recôndito do quarto de dormir, ou nos cantos mais afastados. Outros escancaram a própria choradeira e a preocupação de que a morte dói, ou imaginam que a agonia da morte deve ser tremendamente dolorosa.

Outros, sentindo-se culpados de algum ato mais desairoso ou até mesmo criminoso, temem o momento final porquanto seria visitado por suas vítimas a cobrarem as dívidas contraídas, principalmente pelos que o antecederam no além-túmulo.

Ou então, aqueles que temem o seu desaparecimento no nada, perdendo-se todos os seus feitos terrenos, porque é o nada que enxergam depois da morte.

Estes são os mais infelizes porque não têm a menor consciência da sobrevivência da alma.

Cairbar Schutel, na obra “A Vida no outro Mundo”,6ª edição, Casa Editora O Clarim, pág. 95, define: “Morto o corpo, a individualidade sobrevivente é tomada de um estado psíquico original, dependendo muito esse estado, das crenças do indivíduo, seu modo de agir quando vivia na Terra, sua moralidade, finalmente, seu grau de evolução espiritual.”

Herculano Pires, obra citada, pags. 125/126, encerra: “Todos morremos, mas todos ressuscitamos. Mortal é o corpo material de que nos servimos para – segundo as Filosofias da Existência – nos projetarmos no plano existencial. Na Terra, só existimos quando integramos a humanidade encarnada.” Assim, para Herculano, “Mas, a mais difícil tarefa da Educação para a Morte é precisamente a de quebrar esse condicionamento milenar, integrando os homens numa visão mais realista da vida. Os fatos são de todos os tempos e estão ao alcance de todas as criaturas dotadas de bom senso, não se permitindo criaturas razoavelmente cultas ficarem  amarradas às teorias absurdas de um céu e um inferno, ou ao desaparecimento no nada.”

 Diante de tantas provas da sobrevivência da alma humana e até mesmo dos animais, não há porque temermos a morte que nada mais é que uma passagem de um plano menor para um meio mais amplo e mais completo, o Mundo Espiritual.

Devemos cuidar para que nossa estadia na Terra seja proveitosa pela prática do bem, pela busca incessante de melhoria da qualidade de vida de todos e também do Planeta que nos serve de residência temporária, pois se assim não agirmos, fatalmente, o medo de morrer nos matará por antecipação.

Não viver a vida terrena com alegria, com satisfação, regando-a incansavelmente, com nossos sorrisos e nossos contributos para o progresso de todos, significa que ficaremos devendo e ao voltarmos à Terra teremos de pagar aquilo de errado que fizemos, além de ter de construir um futuro melhor para a humanidade.

Então, até por esperteza, vivamos como se fosse a nossa última vida aqui neste Planeta para que nossa vida definitiva no Mundo do Além seja mais belo, mais rico e mais delicioso de se viver.



CONTO

A MENTIRA

                                            Antônio F. Rodrigues

Sei da história de um pastor americano ou escocês (já não me lembro o hemisfério desse conto) o qual, uma vez, ao largo e atento auditório que costumava ouvi-lo, fez saber que no dia seguinte iria falar sobre o pecado da mentira.

- Vou pregar amanhã sobre a mentira, advertiu o bom pastor. Peço, porém, a todos os meus queridos ouvintes que, para melhor preparação do que irei dizer, leiam todo o capitulo dezessete de São Marcos. Considero indispensável essa leitura prévia.

No dia seguinte, compareceram todos. E logo, o pastor inquiriu previamente.

- Aqueles que leram o capitulo 17 de São Marcos, conforme a minha recomendação, queiram levantar-se.

Levantaram-se todos como um só homem. E o pastor prosseguiu:

- Sois vós realmente os verdadeiros ouvintes do meu sermão de hoje sobre a mentira. Porque, em verdade, não existe o capitulo dezessete. O Evangelho de São Marcos tem apenas 16 capítulos.

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