O Cirurgião e a Doença da Negação
“Eu vivia trancado no quarto, sem tomar banho, bebendo vodca.”
“Em 1978, tive um infarto. Não quis ficar internado, porque não poderia beber. Fui para casa e bebia uma garrafa e meia de uísque por dia, infartado.”
Em 1997, com 68 anos, no dia 11 de novembro, seu filho lhe deu uma última chance de tratamento: “tome banho e venha comigo”. Claudio diz que tem uma gratidão eterna pelo AA, pois perdeu muito tempo bebendo a própria vida. Está sóbrio desde então.
Recentemente, estive num Seminário sobre Dependência Química, no Rio de Janeiro. Comecei a pequenina participação com um “Se Beber Não Opere” e terminei com o depoimento da “esposa de um dependente” (2). Claudio diz que “procurava não beber na véspera da cirurgia e nunca entrou num centro cirúrgico bêbado”. Por outro lado percebia as mãos trêmulas. “Um dia, com o paciente já na mesa de cirurgia, liguei para o meu assistente e disse que não tinha condições.”
Tudo começou tomando um uisquinho à noite, para relaxar e descontrair. “Hoje trabalhei muito, mereço.” Todos começam bebendo moderadamente e nem percebem a doença de progressão lenta. Difícil, depois, reconhecer que se está bebendo demais.
A mulher já não falava mais com ele e durante dez anos não dormiram juntos. O doente gosta de quem não fica dizendo: “não beba”. Por isso, vai ao motel e fica 2 ou 3 dias com prostituta, para beber. Ainda encontramos associado ao álcool mais de 60 doenças secundárias, o que não é dito na mídia.
“Durante anos sofri e me destruí, destruí minha família, minha profissão e cheguei à solidão extrema e à completa desmoralização.”
Depois de 20 anos de escravidão, o médico aos 68 anos encontra o AA e desde então são 14 anos sóbrio. O final poderia ser diferente. Conta ele que tinha mania de arma, fez tiro ao alvo. Um dia o filho tirou tudo de casa, porque ele estava com a intenção de dar um tiro na cabeça.
Hoje escreveu “Alcoolismo – A Doença da Negação”. Seu lançamento será adiante. Certamente ajudara doentes, que ainda não perceberam a própria condição, a dar o salto de qualidade, da consciência de sono à desperta/lúcida.
O alcoolismo é uma dependência química que afeta os componentes físico, mental e espiritual. “Espiritualidade não é religiosidade”, diz o médico.
Religião, religiosidade e espiritualidade já são discutidas em pós-doutorado. Precisamos examinar essa tese, sem preconceito.
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