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quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Não roubem do ladrão o mérito




Gerlon de Almeida







A cruz já estava de pé

Eram os últimos instantes

E o mestre de Nazaré

Dava ensinos importantes.


Horas de infelicidade

Dores físicas e morais

“Perdoa, Pai, a Humanidade,

Ela não sabe o que faz.”


Também é nesse momento

Que alguém sem notoriedade

Noutro madeiro sangrento

Torna-se celebridade.


Pelo exemplo do rapaz

Muitos hoje se redimem

Recobram forças a mais

Para saírem do crime.


Apesar de criminoso

Recebeu do Galileu

Um olhar tão amoroso,

E o convite ao Reino Seu.


Muitos se prendem à letra

Pra entender as escrituras

Extrema fidelidade

Ou conveniência pura?


Muito importante é a letra

É o instrumento da escrita

Mas se só a ela se apega

A verdade periclita.


Extrapolam o ensinamento

Do episódio do ladrão

Dizendo: “o arrependimento,

Sozinho, traz salvação”.


Jesus deu-lhe a indulgência

Não ousamos duvidar.

Deus nos deu a inteligência

Ousaremos cogitar.


Quem sabe se aquele homem

Teve infância à nossa oposta

Se muitas vezes, por fome

A barriga encontrava as costas?


Quem o viu, quando criança,

Ganhar abraço materno?

Há provas de que na infância

Sua vida não foi um inferno?


Junto à cruz do nazareno

Estava Nossa Senhora

Teve o ladrão, pelo menos,

Um amigo, nessa hora?


Onde o Livro Sagrado

Descreve o seu ato infame?

Quem sabe tenha roubado

Um pão para saciar a fome...


Certo um pão não é motivo

Para se morrer na cruz.

Mas foi da justiça o crivo

Pra crucificar Jesus?


(Dirão) qualquer que tenha sido

O motivo do atentado

O céu não foi merecido

Pecado é sempre pecado.


Tanto amor se tem ao texto

E lêem: “Ele se arrependeu”

Mas se esquecem do contexto:

O modo que ele morreu.


Do erro, qualquer que for

Remorso e dor são o pagamento

O outro ladrão só teve dor,

E nós? Só o arrependimento?


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