Espíritas progressistas?... Que coisa mais
estranha! (Jorge Hessen)
Jorge
Hessen
Brasília-DF
Doutrinariamente falando,
seria o espírita de “esquerda” ou de “direita”? Nem uma, nem outra. Ou melhor,
no mínimo, um estudioso de Kardec deve ser de “centro” espírita (é lógico!).
Humor à parte, nas hostes do Espiritismo não deveria haver espaços para militâncias
ideológicas de “esquerda” ou de “direita”. Lembrando que longe (bem longe
mesmo!) das instituições doutrinárias não é vedado ao espírita a participação
do movimento político-partidário. Isso é uma questão pessoal.
Nas hostes espíritas, porém,
não se deveria adotar qualquer confraria política. Atrair militância política
partidária de “esquerda” ou “direita” para o ambiente espírita seria tão esdrúxulo
quanto uma roda quadrada. Em face disso, não se deveria tratar duelos
eleitorais (no sentido de desinteligências) nos recintos espíritas. A Doutrina
Espírita encontra-se acima de nuances políticas transitórias.
Assistimos com estupefação
promoção de “seminários” entre os tais espíritas “progressistas”, aqueles que
se declaram espíritas “socialistas”, mas que, de praxe, não abrem mão de um
requintado “caviar”. Tais “espíritas” “socialistas” /“progressistas” / “protetores
dos pobres e oprimidos”, via de regra, estão pouco se lixando com os deserdados
e não movem uma palha para conhecerem de perto e ou improvisarem uma visitinha
às instituições doutrinárias especializadas em prestação de serviços à
comunidade de indigentes econômicos.
Tais “espíritas
progressistas” apontam Kardec como um ingênuo por ter explanado em O Evangelho
Segundo o Espiritismo sobre a desigualdade das riquezas explicando-a sob a lei
da reencarnação. Evocam tais “espíritas progressistas” que o proprietário dos
meios de produção gera riquezas só para si, enquanto aos que trabalham resta o
salário, representando apenas uma parte da riqueza gerada.
Creem no lema “de cada qual,
segundo sua capacidade; a cada qual, segundo suas necessidades", por isso
os “espíritas progressistas” divergem de Kardec, dizendo que o Codificador se
equivocou quando afirmou que é um ponto matematicamente demonstrado que a fortuna
igualmente repartida daria a cada qual uma parte mínima e insuficiente.
Kardec assegurou também que
se houvesse a repartição dos bens materiais (riqueza), o equilíbrio estaria
rompido em pouco tempo, pela diversidade dos caracteres e das aptidões. Tal verdade
kardeciana é insuportável para os “espíritas progressistas”, pois estes
defendem a distribuição irrestrita dos bens produzidos pelas empresas, a
fim de que os proletários possam viver na prerrogativa e violência ideológica
do infausto igualitarismo; os “espíritas progressistas” idealizam uma sociedade
altruísta (à base de caviar), sem valorizar as legítimas conquistas individuais
para a boa performance das estruturas sociais.
Quando Kardec afirmou que se
a repartição da riqueza fosse possível e durável, cada um tendo apenas do que
viver, e que seria o aniquilamento de todos os grandes trabalhos que concorrem
para o progresso e o bem-estar da Humanidade, os “espíritas progressistas”
alardearam que isso representa uma blasfêmia, pois as tecnologias produzidas
têm atendido fundamentalmente às necessidades supérfluas da grande massa de
consumidores – portanto, pessoas que já possuem o necessário podem utilizar a
sua riqueza para o consumo do supérfluo.
Regurgitam os tais
“espíritas progressistas”, questionando por que supor que Deus é o agente da
concentração de riquezas? Protestam, então, que a riqueza se concentra pelo
simples fato de que quem já possui fortuna tem mais chances de vencer num
mercado competitivo, e assim acumular mais riqueza num movimento crescente de
concentração de capital. Como se observa uma, dedução horizontalizada, leviana,
mecanicista e nada razoável dos “insurgentes progressistas”, que insistem em
dizer que isso não significa que devamos “ler a realidade” como um “plano de
Deus”.
Acreditam os “progressistas”
que a riqueza pode e deve ser concentrada sob a propriedade coletiva (sic),
visando exclusivamente o benefício geral da humanidade, não permitindo a
desigualdade de riqueza, pois assim toda a sociedade acaba “refém” da decisão
do endinheirado de bem ou mal utilizar a riqueza. Além do que, a sua
apropriação fica sendo necessariamente injusta, já que os trabalhadores que
recebem salário como remuneração pela venda de sua força de trabalho não ganham
integralmente por toda a riqueza por eles produzida.
Expõem ainda os
“progressistas” que no Brasil as desordens distributivas estão na ordem do dia,
pois os ricos se tornaram mais ricos, os pobres se tornaram menos pobres e uma
certa classe média tradicional viu sua posição relativa em relação a essas duas
outras camadas prejudicada. A classe média perdeu status. Os ricos se
distanciaram e os pobres se aproximaram, daí o conflito atual. Que saibam
utilizar a inteligência a fim de entenderem que “as classes [sociais] existiram
e existirão sempre, o que, porém, deve preocupar, e é racional estabelecer a
solidariedade entre elas, a conciliação de seus interesses, a multiplicação
urgente das leis de assistência social, únicas alavancas mantenedoras da
ordem.''[1]
É bem verdade que a desigualdade
social ou econômica é um problema presente em todos os países (ricos ou
pobres), decorrente da má distribuição de renda e, ademais, pela falta de
investimento na área social. Compreendemos que uma repartição mais equitativa
dos “bens” é imprescindível. Há “trocentas” teorias sociológicas, mil sistemas
diferentes, tendendo a reformar a situação das classes desprovidas, a assegurar
a cada um, pelo menos, o estritamente necessário. Ótimo!
Mas, infelizmente, noutro
cenário, ao invés da recíproca tolerância que deveria aproximar os homens, a
fim de lhes permitir estudar em conjunto e resolver os mais graves problemas
sociais, tem sido com violência que o militante reivindica seu lugar na ágape
social. Outrossim, é uma lástima ver o endinheirado aguilhoado no seu egoísmo e
recusando a ofertar aos famintos as menores migalhas da sua fortuna. Dessa
forma, um muro tem separado ambos, e os quiproquós, as selvagerias, as
cupidezes, as animosidades, os desrespeitos acumulam-se dia a dia.
Politicamente sabemos que as
leis elaboradas pelos legisladores podem, de momento, modificar o exterior, mas
não logram mudar a intimidade do coração humano; daí vem serem os decretos de
duração efêmera e quase sempre seguidos de uma reação mais depravada. A origem
do mal reside no egoísmo e no orgulho. Os abusos de toda espécie cessarão
quando os homens se regerem pela lei da caridade.
Para confirmar as magníficas
teses de Kardec sobre o assunto, reflitamos com Emmanuel: “A desigualdade
social é o mais elevado testemunho da verdade da reencarnação, mediante a qual
cada espírito tem sua posição definida de regeneração e resgate. Nesse caso,
consideramos que a pobreza, a miséria, a guerra, a ignorância, como outras
calamidades coletivas, são enfermidades do organismo social, devido à situação
de prova da quase generalidade dos seus membros. Cessada a causa patogênica com
a iluminação espiritual de todos em Jesus-Cristo, a moléstia coletiva estará
eliminada dos ambientes humanos”.[2]
Referências
bibliográficas:
[1]
Xavier Francisco Cândido. Palavras do infinito, III parte, ditado pelo Espírito
Emmanuel, SP: Ed. LAKE, 1936
[2]
Xavier , Francisco Cândido. O Consolador, pergunta 55, ditado pelo Espírito
Emmanuel, RJ: Ed. FEB, 1978
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