Um “médium curador” [não espírita] e o rebuliço na
mídia global (Jorge Hessen)
Jorge Hessen
jorgehessen@gmail.com
A
TV Globo entrevistou mulheres que acusaram o “médium” [não espírita] João de
Deus sobre as violações sexuais que teriam sofridos quando elas buscaram o
tratamento espiritual na “Casa Dom Inácio de Loyola”, localizada em Abadiânia,
Goiás. As acusações são de três brasileiras que pediram para não serem
identificadas e da coreógrafa holandesa Zahira Lieneke Mous, a única que
aceitou mostrar o rosto na televisão.
Será que estamos diante de crimes análogos ao cometido pelo médico “Roger Abdelmassih” ? Hum! Será ?Em
nota enviada à TV Globo a assessoria de imprensa do “médium” [não espírita] afirmou
que as acusações são "falsas e fantasiosas" e questiona o motivo pelo
qual as vítimas não procuraram as autoridades. Ainda afirma que a situação é lamentável,
uma vez que o Médium [não espírita] João é uma pessoa de “índole
ilibada"(sic).
Após a difusão da sinistra notícia (de repercussão nacional), a Federação Espírita Brasileira emitiu uma pequena nota sobre atuação de médiuns curadores, declarando que o Espiritismo orienta que o serviço espiritual não deve ocorrer isoladamente, em face disso, não recomenda a atividade de médiuns que atuem em trabalho individual, por conta própria. Esclarece ainda que tais médiuns “curadores” [dentre eles o (não espírita) “João de Deus”] não estão vinculados ao Movimento Espírita, nem seguindo sua recomendação. (1) “Oh, meno male!”
Há
5 anos, após leitura de reportagem da Revista VEJA, resolvemos refletir e
contextualizar alguns trechos da matéria publicada. O título da reportagem era
exatamente: “A face humana do mais endeusado médium brasileiro” (2), a Revista
VEJA destacou a capacidade do médium [não espírita] João de Deus de atrair
gente do mundo inteiro para um município próximo do Distrito Federal. Afirma a
reportagem que o “santificado médium” vive o cotidiano sob o manto da
contradição entre o “espírito e a carne”, a “cura e a doença”, o
“desprendimento e a vaidade”, os gestos de “generosidade, os arroubos de cólera”
e os negócios terrenos (3) [é milionário], os amores [tem onze filhos com dez
mulheres diferentes]. (grifei) A cada dois anos o
“curandeiro-endeusado do cerrado” troca a frota de carros da família. O dele
era um Mohave Kia, avaliado em 2013 em 170 000 reais” [cento e setenta mil
reais]. (4)
Sabemos
que a mediunidade não guarda relação com a retidão moral do médium; seu
funcionamento independe das qualidades de honradez. O fato é que os médiuns de
tais “cirurgiões do além” sempre seduzem grande número de fregueses,
estabelecendo, não raro, com a mediunidade, um negócio rendoso, uma polpuda
fonte de captação de dólares e reais.
Em
2013 a instituição dirigida por tal “deus da mediunidade de cura” “ teve um faturamento
de aproximadamente 7,2 milhões de reais (isso mesmo! sete milhões e duzentos
mil reais), levando-se em conta somente a venda de passiflora, preparado à base
de maracujá, produzido ali mesmo, comercializado à época a bagatela de 50 reais
o frasco e receitado a uma média de 3.000 visitantes semanais.”. (5)
É
lamentável que os médiuns invoquem "Espíritos" para que lhes sirvam como “cirurgiões do além” a fim de retalhar e
perfurar corpos físicos em nome de “operações espirituais”, que lhes prescrevam
placebos.
É
constrangedor essa tendência de subestimar a contribuição da medicina humana,
entregando nossas enfermidades aos Espíritos “curandeiros do além”
(preferencialmente com nome de santos, ou com sotaque germânic ou hindu) para
que "curem" doenças. Lembremos que precisamos "aproveitar a
moléstia como período de lições, sobretudo como tempo de aplicação de valores
alusivos à convicção religiosa. A enfermidade pode ser considerada por
termômetro da fé”. (6)
Não
desconhecemos a possível intervenção dos desencarnados nos processos
terapêuticos na Terra, mas não se pode dar prioridade a esse tipo de trabalho,
na suposição de curas ou na falsa ideia de fortalecimento do Espiritismo por
esses meios. Lembramos que certa vez o Espírito do “Dr. Fritz” quis operar
Chico Xavier, em 1965, através do médium [não espírita] Zé Arigó: - "Eu te
ponho bom desse olho. Faço-te a cirurgia agora! Pronunciou Arigó, e Chico
Xavier respondeu-lhe: - "Não, isso é um reflexo do passado. Eu sei que o
senhor pode consertar o meu olho. Mas como o compromisso do passado continuará,
vai aparecer-me outra doença. Como eu já estou acostumado com essa, eu a
prefiro. Por que eu iria querer uma doença nova?.
Os
Espíritos não estão à disposição para promover curas de doenças que não raro
representam providências corretivas para nosso crescimento espiritual no buril de
reparação moral. Por tudo isso, é urgente não abrirmos mão da precaução! Ainda
mesmo que o excesso em tudo seja ruinoso. Contudo, Kardec endossa nossa atitude
dizendo que “vale mais pecar por excesso de prudência do que por excesso de
confiança". (7)
Referências
bibliográficas:
[2] Disponível em
http://vejabrasil.abril.com.br/brasilia/materia/joao-do-ceu-e-da-terra-508
acesso em 14/09/2013
[3] Suas economias vêm do garimpo. Ele é dono de fazendas na
região, é proprietário de apartamentos em Brasília, Goiânia, Anápolis e
Abadiânia, segundo a Revista Veja
[4] Disponível em
http://vejabrasil.abril.com.br/brasilia/materia/joao-do-ceu-e-da-terra-508
acesso em 14/09/2013
[5] Idem
[6] VIEIRA, Waldo. Conduta Espírita, Ditado pelo Espírito André
Luiz, Cap.35. RJ: Editora FEB, 1977-5ª edição
[7] KARDEC, Allan. Viagem Espírita-1862, Brasília, Ed. Edicel,
2002, pág. 33
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