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quinta-feira, 7 de junho de 2018

A cultura do medo no movimento espírita

Vladimir Alexei


Belo Horizonte das Minas Gerais,
07 de junho de 2018.


O Evangelho é fonte inesgotável de ensinamentos superiores, traduzidos em uma linguagem parabólica, metafórica, que permite cada um compreender aquilo que melhor toca o seu coração. É maravilhoso e sublime a Pedagogia de Jesus!
Tão admirável que o homem, em estágio infinitamente inferior, conseguiu apequenar esses ensinamentos ao subverter a humildade dos ensinamentos do Evangelho com o poder que ele proporciona aos que possuem, comprovando, mais uma vez, que somos seres em construção. Tijolo por tijolo, conquista por conquista, erro por erro, degrau por degrau nossa caminhada em ascensão leva-nos a recordar diatribes do movimento espírita que chocam, pelo primitivismo com que lideranças espíritas ainda se posicionam ante os dilemas da vida.
Lembro-me, de fato ocorrido há mais de vinte anos, quando um cidadão falou-me, ao pé do ouvido, estarrecido, que o então presidente de uma federativa foi visto tomando “cerveja” em um mercado famoso na cidade. O tom da fala, a maneira como foi comentada, davam mostras do quanto a hipocrisia é presente no meio espírita, como se aquilo fosse a sentença que definiria aquela liderança. Pode parecer implicância e muitos dirão que é, e talvez até seja mesmo, mas o estrago causado pelo roustainguismo, com essa cultura do “caído”, do “pecado”, só faz alimentar o “cheiro de sacristia” no movimento espírita.
O espírita é um ser em formação como todos os outros. Possui inumeráveis defeitos e a doutrina espírita é a plataforma encontrada para trabalhar essas imperfeições a partir do esclarecimento. Quanto mais ilumino a minha mente, mais consigo iluminar o meu espírito para enfrentar as lutas do caminho. Entretanto, o que vemos é um desfile sem fim de vaidades, elitismo, perpetuidade nas cadeiras da presidência de um centro, como os filhos da viúva fazem pelo Trono de Salomão (entendedores, entenderão...).
O estimulo vem de cima. Da federação e de suas federadas, quando suas lideranças assemelham-se a seres predestinados a conduzir o rebanho ao aprisco do Cristo. E muitos assim se portam!! Com falas suaves, evangelho na ponta da língua, mas olhos de águia, não para combater os desafios da vida, defendendo os menos favorecidos e sim para defender o próprio assento do “assédio das trevas”. Tudo são “as trevas” para esses fatalistas, mal sabendo serem eles instrumento dela...
Cansamos de ler e até de presenciar, por meio de reuniões mediúnicas, as “trevas” que eles veem fora, dominando-os dentro, manipulando-os como quem manipula uma peça de xadrez.
Se o outro bebe, fuma, possui desvios na conduta, é devedor seja lá do que for (até agiota no movimento espírita encontramos!), isso só mostra que o desafio dele vai exigir mais, muito mais dele, entretanto, ele está no lugar certo, com a doutrina poderosa que será capaz de fortalece-lo a ponto de não precisar mais dedicar energia a essas coisas terrenas, mesmo que seja a luta de uma vida inteira. Ser pobre não é motivo para tratar as pessoas como inferiores, como esses mega, ultra, plus, advanced Congressos “espíritas” fazem parecer. Ou seja, quanto mais elitizado, quanto menos acesso as pessoas tiverem, melhor será o evento. Com isso, aqueles que não podem participar, se sentem em meio a uma cultura que dominou a terra, onde eleitos podiam tudo e os preteridos chafurdavam no medo, indiferença e falta de amor.
Até quando a cultura do medo ditará o ritmo no movimento espírita?

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