Eventos
espíritas "imponentes” para quê ? (Jorge Hessen)
Jorge
Hessen
jorgehessen@gmail.com
Allan Kardec dizia que jamais devemos dar satisfação aos amantes de
escândalos. Entretanto, há polêmica e polêmica. Há uma ante a qual jamais
recuaremos - é a discussão séria dos princípios que professamos. É isto o que
chamamos polêmica útil, pois o será sempre que ocorrer entre gente séria, que
se respeita bastante para não perder as conveniências. Podemos pensar de modo
diverso sem diminuirmos a estima recíproca. [1]
Chico Xavier advertiu que os dirigentes espíritas, sobretudo os
comprometidos com órgãos “unificadores”, compreendam e sintam que o Espiritismo
veio para o povo e com ele dialogar. Devemos primar pela simplicidade
doutrinária e evitar tudo aquilo que lembre castas, discriminações, evidências
individuais, privilégios injustificáveis, imunidades, prioridades,
industrialização dos eventos doutrinários.[2]
Avisou ainda o médium de Uberaba que os eventos devem ser realizados,
gratuitamente, para que todos, sem exceção, tenham acesso a eles. Os
Congressos, Encontros, Simpósios, etc., precisam ser estruturados com vistas a
uma programação aberta a todos e de interesse do Espiritismo, e não para
servirem de ribalta aos intelectuais com titulação acadêmica, como um
"passaporte" para traduzirem "melhor" os conceitos kardecianos.
Não há como “compreender o Espiritismo sem Jesus e sem Kardec para todos, com
todos e ao alcance de todos, a fim de que o projeto da Terceira Revelação alcance
os fins a que se propõe.” [3]
A presença da glamourização nas
atividades doutrinárias (...) “vai
expondo-nos a dogmatização dos conceitos espíritas na forma do Espiritismo para
pobres, para ricos, para intelectuais, para incultos.”[4]
Infelizmente, alguns se perdem nos
labirintos das promoções de shows de elitismo nos caríssimos “Congressos”
espíritas. Patrocinam eventos para espíritas endinheirados, e, sem qualquer constrangimentos
e/ou inquietação espiritual, sem quaisquer escrúpulos, cobram altas taxas dos
interessados, momento em que a ideia tão almejada de “unificação” se perde no
tempo.
A pergunta que não quer calar é: será
que o Espiritismo necessita desses eventos "grandiosos"?
Cobrar taxa em eventos espíritas é
incorrer nos mesmíssimos e seculares erros da Igreja, que, ainda, hoje, cobra
todo tipo de serviço que presta à sociedade. É a elitização da cultura
doutrinária. Hoje vemos portais de espíritas famosos cobrando mensalidades dos
assinantes.
É lentamente que os vícios penetram nos
organismos individuais e coletivos da sociedade. A cobrança desta e daquela
natureza, repetindo velhos erros das religiões ortodoxas do passado,
caracteriza-se ambição injustificável, induzindo-nos a erros que se podem
agravar e de difícil erradicação futura.
Temos responsabilidade com a Casa
Espírita, deveres para com ela, para com o próximo e, entre esses deveres, o da
divulgação ressalta como uma das mais belas expressões da caridade que podemos
fazer ao Espiritismo, conforme conceitua Emmanuel, através da mediunidade
abençoada de Chico Xavier.
Nos eventos essencialmente espíritas,
deveremos nós, os militantes na doutrina, assumir as responsabilidades,
evitando criar constrangimentos naqueles que, de uma ou de outra maneira,
necessitem de beneficiar-se para, em assimilando a doutrina, libertarem-se do
jogo das paixões, encontrando a verdade. O dar de graça, conforme de graça nos
chega, é determinação evangélica que não pode ser esquecida, e qualquer
tentativa de elitização da cultura doutrinária, a detrimento da generalização
do ensino a todas as criaturas, é um desvio intolerável em nosso comportamento
espírita.” [5]
A Doutrina Espírita é o convite à
liberdade de pensamento, tem movimento próprio, por isso, urge deixar fluir
naturalmente, seguindo-lhe a direção que repousa, invariavelmente, nas mãos do
Cristo. Chico Xavier já advertia, em 1977, que "É preciso fugir da tendência à ‘elitização’ no seio do movimento
espírita (...) o Espiritismo veio para o povo. É indispensável que o estudemos
junto com as massas mais humildes, social e intelectualmente falando, e deles
nos aproximarmos (...). Se não nos precavermos, daqui a pouco, estaremos em
nossas Casas Espíritas, apenas, falando e explicando o Evangelho de Cristo às
pessoas laureadas por títulos acadêmicos ou intelectuais (...).”[6]
Não vemos reais necessidades de promoção
dos inócuos Congressos, Simpósios, Seminários. Mas, se esses encontros ocorressem
debates e trocas de experiências, ótimo! Lembrando que a
Doutrina Espírita não pode se trancar nas salas de convenções luxuosas, não se
enclausurar nos anfiteatros acadêmicos e nem se escravizar a grupos de poder
investidos de “autoridade” doutrinária.
À semelhança do Cristianismo, dos
tempos apostólicos, o Espiritismo é e deve sempre ser o reflexo dos Centros
Espíritas simples, localizados nos morros, nas favelas, nos subúrbios, nas
periferias.
Graças a Deus (!), há muitos Centros
Espíritas bem dirigidos em vários municípios do País. Por causa desses Núcleos
Espíritas e médiuns humildes, o Espiritismo haverá de se manter simples e
coerente, no Brasil e, quiçá, no Mundo, conforme os Benfeitores do Senhor o
entregaram a Allan Kardec. Assim, esperamos!
Referências bibliográficas:
[1] KARDEC, Allan. Revista Espírita, nov. 1858, DF: Edicel 2002
[2] Entrevista concedida ao Dr. Jarbas Leone
Varanda e publicada no jornal uberabense O Triângulo Espírita, de 20 de março
de 1977, e publicada no Livro intitulado Encontro no Tempo, org. Hércio M.C.
Arantes, Editora IDE/SP/1979
[3] Idem
[4] Editorial da Revista O Espírita, ano 11 número 57-jan/mar/90.
[5] Revista O Espírita/DF, ano 1992- Página “Tribuna Espírita”
–Divaldo Responde- pag. 16
[6] Entrevista concedida ao Dr. Jarbas Leone
Varanda e publicada no jornal uberabense O Triângulo Espírita, de 20 de março
de 1977, e publicada no Livro intitulado Encontro no Tempo, org. Hércio M.C.
Arantes, Editora IDE/SP/1979.
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