Jorge Hessen
Com a proclamação da República em 1889,
seguindo-se a promulgação da Constituição de 1891, o Brasil adotou um modelo
presidencialista de democracia representativa por meio de sufrágio direto.
O Ato Institucional Número Um e a subsequente Constituição de 1967
determinavam a instituição de eleições presidenciais indiretas,
realizadas por meio de um colégio eleitoral, modelo que se seguiu até a
promulgação pela Constituição de 1988, que restabeleceu o voto direto,
secreto e universal, e possibilita uma participação popular maior que
todos os pleitos anteriores.
Dos 30 pleitos para presidente, 22
foram realizados de forma direta e 8 de forma indireta,
tendo havido apenas uma eleição extraordinária, em 1919. No
contexto, apenas 4 eleições foram vencidas pela chamada “oposição” (1960,
1985, 1989 e 2002), sendo três diretas e uma indireta.
Em 2018 haverá nova eleição direta para presidente do Brasil.
Razões temos de sobra para permanecermos atentos sobre nosso intuito de voto a
respeito de quem indicaremos para dirigir o país. Os espíritas não poderão
ficar alheios ao próximo pleito.
Esquivando um pouquinho da introdução
aqui lembrada, na verdade, hoje observamos um quadro político moralmente pervertido,
em face dos inimagináveis desvios do erário público. Um famoso procurador da
república afirmou que o Brasil é governado por “larápios egoístas e escroques
ousados”. Raríssimos parlamentares escapam da corrupção. Por outro lado, e
como se não bastasse, confessamos que é com muita inquietação que acompanhamos
a crescente popularidade de certo “pré-candidato” que, não obstante, permaneça
fora da curva dos corrompidos, todavia tem anunciado o armamento da população,
visando a conquista de votos.
Tal discurso é extremamente
preocupante. Não duvidamos da honestidade de tal candidato, contudo, suas
promessas de governo têm sido aterradoras, conquanto possa estar imbuído de
boas intenções, e até mesmo arregimentar a seu favor honestos cidadãos
brasileiros. Entretanto, cremos que o seu discurso “messiânico” para
transformação social sob o látego do revide, da animosidade, da retaliação é
cabalmente desfavorável à paz social.
Asseguramos isso com base no resultado
do plebiscito sobre o desarmamento de 2005, em que mais de 60% do
povo brasileiro optou pelo comércio de armas de fogo e munição no Brasil.
Portanto, a maioria da população apoiou o armamento do cidadão, quando detinha
o poder de decidir pela sua interdição. À época, muitos setores da sociedade
defenderam a manutenção do comércio legal das armas aos cidadãos que delas
necessitem, por algum motivo, justificando que todos têm direito a possuir, nos
limites da Lei, uma arma de fogo para se defenderem de qualquer atentado à
incolumidade física do indivíduo, sua vida, seu patrimônio etc.
Ante a Lei de Ação e Reação,
obviamente, com essa decisão brotou um espantoso débito moral (“carma”) dos
brasileiros. E isso é lamentável!
Há vários anos André Luiz tem advertido
aos espíritas segundo consta no livro Conduta Espírita, cap. 18 - “Esquivar-se
do uso de armas homicidas, bem como do hábito de menosprezar o tempo com
defesas pessoais, seja qual for o processo em que se exprimam. Pois o servidor
fiel da Doutrina possui, na consciência tranquila, a fortaleza inatacável.”
Cremos que a criminalidade tem as suas
raízes, dentre outras, na desigualdade social, no elevado índice de
desemprego, na urbanização desordenada e, destacadamente, no descrédito à
classe política mísera e comprovadamente corrupta e na difusão incontrolada da
arma de fogo, sobretudo clandestina, situações essas que contribuem de forma
decisiva para o avanço do tráfico de drogas, dos assaltos, dos roubos, dos
sequestros e, por fim, dos homicídios.
É constrangedor saber que o país onde
há milhares de centros espíritas, lidere a lista mundial em casos de mortes
produzidas com a utilização de armas de fogo. E, por forte razão, senhor
pré-candidato, cremos ser falsa a segurança oferecida pelas armas mormente no
ambiente doméstico, considerando o potencial de alto risco do uso da arma por
familiares não habilitados, que podem causar efeitos danosos irreparáveis na
vida doméstica.
De modo óbvio, não somos tão ingênuos a
ponto de acreditar que a restrição (proibição) do uso de armas de fogo
equacione definitiva e imediatamente o problema da violência. Sabemos que a
arma de fogo pode ser substituída por outras, talvez não tão eficientes. Na
ausência de estrutura da aparelhagem repressora e preventiva do Estado, as
armas de fogo continuarão chegando às mãos dos indivíduos descompromissados com
o bem e fazendo suas vítimas. Por isso, urge meditar que devemos aprender a
desarmar, antes de tudo, nossos espíritos, e isso só se consegue pela prática
do amor e da fraternidade.
Muitos vivem sob o guante da síndrome das balas perdidas. Cremos ser o
investimento de recursos em armamentos inútil, perigoso e desnecessário. As
leis e a ordem impostas à sociedade como resposta à exigência coletiva são
aceitáveis e compreensíveis, mas muito melhor será quando os homens
amarem-se ao invés de armarem-se e fazerem ao outro o que desejariam
que lhes fizessem, pelo menos respeitarem seus direitos, sobretudo o mais
fundamental, como o direito à vida e nesse contexto o ensinamento espírita
em seu esboço filosófico e religioso (ético-moral) é o instrumento por
excelência decisivo para transformação social.
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