Jorge Hessen
Uma
leitora narrou-me o seguinte: “meu noivo tem tatuados desenhos exóticos, como a
“caveira”, “Capitão Gancho”, “morte”, “deuses da mitologia nórdica” e “símbolos
de bandas Death Metal”. Sei que tais emblemas o representam, pois que ele
venera essas coisas. Acho de mau gosto, estranhos e um tanto
"patológicos". Entretanto é a opção dele. A escolha dele só a ele diz
respeito”. Você concorda comigo?
Explicamos
para a nossa leitora que ante as regras morais do Espiritismo não há
dispositivos para “danações infernais”. Certamente, pela tatuagem a pessoa pode
estar pronunciando algo de si mesma. Todavia e apesar disso, paradoxalmente,
não cremos que as tatuagens retratem totalmente a índole e o caráter de alguém.
Nada obstante conhecermos alguns modelos de tatuagens, com pretextos
assombrosos que podem ser classificados (sem excomunhões) como censuráveis e
inadequados para o cristão.
Ainda
sobre o tema, outra leitora nos indagou: “a tatuagem é uma forma de arte no
corpo? Se é uma arte deverá ser condenada? Tenho uma tatuagem no braço de uma
linda borboleta. Ela me representa inteiramente. A borboleta é considerada o
símbolo da transformação, da felicidade, da beleza, da inconstância, da
efemeridade da natureza e da renovação. Não posso crer que algo tão expressivo
para mim possa ser pernicioso na minha vida no além-túmulo. O que você acha?
Explicamos
que não identificamos argumentos de caráter rigorosamente útil o uso de
quaisquer tatuagens, especialmente se a lesão imposta ao próprio corpo for por
idolatria, vaidade e egocentrismo. Contudo, o uso de tatuagens não abafa as
qualidades morais. Até porque ninguém pode penetrar na intimidade da
consciência de alguém e saber o que aí ocorre.
Outro
leitor escreveu: “meu corpo físico já é uma arte, em face disso não ousaria
manchar-lhe! E vou mais adiante, quem teria audácia de rabiscar sobre as telas
originais de um Vincent van Gogh, de
Michelangelo, de Leonardo da Vinci ou de Pablo Picasso? Ora, a minha irmão me
contradiz, argumentando que se o corpo é
um templo, porque não decorar as paredes? Cada caso é um caso, e não se pode
dizer que uma tatuagem é um rabisco em uma obra de arte. O corpo é uma obra de
arte dada a nós como presente, sim, e não é uma tatuagem que irá tirar esse
aspecto de obra de arte”. Me elucide aí, Jorge Hessen.
Aqui
especificamente redargui que pelos ditames do livre arbítrio cada um responderá
por si. Porém, lembremos que mesmo com toda tecnologia atual, uma tatuagem não
é espontaneamente removível. Não há como desconhecermos que o corpo é o templo
do Espírito e não nos pertence, portanto, é importante preservá-lo contra
ofensivas que possam truncar a sua composição natural.
É
difícil sabermos se haverá ou não mutilação perispiritual por causa das
tatuagens. Embora saibamos que o perispírito seja lesado pelas anomalias de
caráter, desequilíbrios emocionais, vícios físicos e mentais, rancores,
pessimismos, ambição, vaidade desmesurada, luxúria, nem todos os tatuados se enquadram nesses desvios
morais.
É
verdade! Golpeia-se o perispírito todas as vezes que se prejudica o semelhante
através da maledicência, da agressividade, da aventura extraconjugal, da
violência de todos os níveis, da deslealdade. Deste modo, analisando por esse ângulo, as tatuagens
afetam nada ou quase nada o perispírito.
As
tatuagens que alguns indivíduos elaboram como forma de demonstrar carinho a
exemplo de alguém que grava o nome do pai ou da mãe no corpo de modo discreto
não trariam, acreditamos, os mesmos efeitos que ocorreriam com aqueles que se
tatuam de modo resoluto, movimentados por anseios mais abrutalhados.
André
Luiz registra que “os desencarnados podem, sob o ponto de vista fluídico,
moldar mentalmente e de maneira automática, no mundo dos Espíritos, roupas e
objetos de uso e gosto pessoal”. (1) Como se observa, é possível, embora
deploremos, que um ser no além-túmulo permaneça condicionado aos vícios,
modismos e tantas outras coisas inúteis da sociedade terrena.
Perante
essas questões propostas, evocamos a lógica espírita que nos convida ao
autoconhecimento, ao estágio do auto aprimoramento sob o patrocínio da
liberdade responsável. Os Benfeitores espirituais recomendam o bom senso, a
autoconfiança, a altivez, o equilíbrio e a busca incessante de Deus, que nos
faculta contentamento e paz ao coração e à consciência, sem as penúrias de
procurarmos alentos nas figuras e emblemas incrustrados na epiderme.
Referência
bibliográfica:
[1] Xavier, Francisco Cândido. Nosso Lar,
ditado pelo Espírito André Luiz, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 1955
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