Na pergunta n° 873 do “O Livro dos Espíritos”, Allan Kardec consulta aos Espíritos: O sentimento da justiça está em a natureza, ou é resultado de idéias adquiridas? Eles respondem: “Está de tal modo em a natureza, que vos revoltais à simples idéia de uma injustiça. É fora de dúvida que o progresso moral desenvolve esse sentimento, mas não o dá. Deus o pôs no coração do homem” (...)
Este princípio Divino, este sentimento moral da justiça, leva-nos a considerar que Deus dá as mesmas possibilidades de crescimento a cada um de seus filhos, sem abrir nenhuma concessão a quem quer que seja, e que partimos todos do mesmo ponto, rumo ao nosso aperfeiçoamento intelecto-moral. É o que nos orientam os espíritos superiores na resposta n° 133, no mesmo livro: “Todos são criados simples e ignorantes e se instruem nas lutas e tribulações da vida corporal. Deus, que é justo, não podia fazer felizes a uns, sem fadigas e trabalhos, conseguintemente sem mérito.”
Segundo tal convicção, Deus não deu existência aos chamados demônios, seres dotados de princípios negativos, inferiores, maus. Se são mencionados nas escrituras, o são somente como uma figuração, como uma metáfora, para idealizar um ser mau, facilitando a compreensão do homem que só entende as coisas por sua imagem. Como também não criou anjos, seres originalmente bons, perfeitos, sem algo ter feito para tal merecer. Qualquer justificativa em contrário seria prejudicar a uns, e beneficiar a outros. Se nós, seres inferiores, não criaríamos se possível fosse, um nosso filho inferior, imperfeito, infeliz, e outro, superior, perfeito, feliz, muito menos a Divindade!..
Por outra, não poderíamos admitir um demônio por si mesmo criado pois, aí, teríamos que aceitar a existência de um outro criador, a competir com Deus, o que provocaria desarmonia. O desconhecimento humano argumenta ainda que Deus criou os anjos, e estes se rebelaram contra Ele, tornando-se demônios. Nesse caso, teríamos que admitir tal criação imperfeita, consequentemente Deus, sem levar ainda em consideração que todo ser perfeito estaria despido de ignorância, egoísmo, vaidade, orgulho, não enfrentando a Deus por possuir inteligência bastante, submetendo-se a Sua grandeza.
Chegaríamos, portanto, à conclusão racional e lógica que Deus cria todos os seres partindo do neutro, e com as mesmas oportunidades para evoluir, proporcionando-os as encarnações, quando usariam o esforço no bem, e o livre arbítrio, doado por misericórdia, para chegarem à perfeição. É o que nos orienta Allan Kardec ao se expressar no livro “O Céu e o Inferno”, 1ª parte, cap. III, 8: “A encarnação é necessária ao duplo progresso moral e intelectual do espírito: ao progresso intelectual pela atividade obrigatória do trabalho; ao progresso moral pela necessidade recíproca dos homens entre si”. (...)
A certeza do aperfeiçoamento do homem através das suas lutas, pelas encarnações fecha “uma questão de justiça”, pois faz jus ao seu esforço na busca da sua perfeição, angelitude e felicidades.
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