Jorge Hessen
Brasília-DF
Sabe-se que Mark Zuckerberg, cofundador do Facebook, e sua esposa, Priscilla Chan, doaram US$ 95 milhões para suas duas instituições de caridade, a Chan Zuckerberg Foundation e a CZI Holdings LLC. O valor, que será investido nas áreas de saúde, tecnologia e educação, soma-se aos US$ 285 milhões já doados pelo casal e reflete uma realidade comum entre os mais ricos do mundo: a filantropia como estratégia empresarial. [1] Para Stephen Kanitz a doação ou investimento que os bilionários fazem para a filantropia é uma alternativa de propaganda para as empresas que querem causar o máximo de impacto junto à opinião pública com poucos recursos. Em que pese ser presumível tal tática, não se pode ignorar que é uma estratégia elogiável e imprescindível.
O investidor bilionário George Soros declarou em um artigo publicado no jornal norte-americano Wall Street Journal que irá investir 500 milhões de dólares para ajudar a atender as necessidades de imigrantes e refugiados. [2] Bill Gates, cofundador da Microsoft, já doou US$ 31 bihões para sua instituição de caridade, a Bill & Melinda Gates Foundation, que beneficia movimentos pela redução da fome, pobreza e doença. Gates e Warren Buffett criaram, há seis anos, a Giving Pledge ("Promessa de Doação” em uma tradução livre") que incentivou mais de 190 bilionários a doarem pelo menos metade de sua fortuna, em vida ou na morte.
Larry Ellison, fundador da Oracle, criou em 1997 a Ellison Medical Foundation, que se dedica à investigação da biomedicina e melhorias de vida à população mundial. Ellison também se comprometeu a doar toda sua riqueza para a caridade. Carlos Slim Helu, dono da Telecom, já investiu mais de US$ 100 milhões em conservação ambiental no México, doou US$ 4 milhões para educação e também ofereceu um programa para que mexicanos fizessem pós-graduação na Universidade George Washington.
Michael Bloomberg, investiu US$ 53 milhões em um programa para recuperar a população de peixes no Brasil, Filipinas e Chile. A tradição da filantropia americana vem de longe. Cremos que Andrew Carnegie seja seu maior ícone e, de certo modo, definidor conceitual. Imigrante pobre, Carnegie fez fortuna na siderurgia americana, na segunda metade do século XIX. Em 1901, aos 66 anos, vendeu suas indústrias ao banqueiro J.P. Morgan e tornou-se o maior filantropo americano. Uma de suas tantas proezas, não certamente a maior, foi construir mais de 3 mil bibliotecas nos Estados Unidos. Em 1889, escreveu o artigo “The Gospel of Weath”, defendendo que os ricos deveriam viver com comedimento e tirar da cabeça a ideia de legar sua fortuna aos filhos. Melhor seria doar o dinheiro para alguma causa, ou várias delas, à sua escolha, ainda em vida. [3]
Alwaleed Bin Talal Al-Saud, príncipe da Arábia Saudita, é um dos homens mais ricos do mundo, pretende doar toda sua fortuna para causas filantrópicas. Em um comunicado em seu site, Al-Saud afirma que busca construir um mundo com mais tolerância, aceitação, igualdade e oportunidade para todos. O dinheiro vai para a Alwaleed Philanthropies, que tem parceria com a Bill & Amp; Melinda Gates Foundation, Carter Center e Weill Cornell Medical College, para reforçar os cuidados de saúde e de controle de epidemias pelo mundo. [4]
Jorge Paulo Lemann, considerado pela Revista Forbes o homem mais rico do Brasil, segue o mesmo discurso de Bill Gates de direcionar parte de sua fortuna a projetos sociais. Por meio da Fundação Lemann, investe na melhoria da educação no Brasil, oferecendo bolsas de estudo no exterior para talentos brasileiros e cursos para secretários municipais de educação, diretores e professores de escola pública.
Para os endinheirados, digamos, mais avarentos, brasileiros ou estrangeiros, segue aqui um alerta do mundo dos “mortos”. O aviso é do finado poeta Humberto de Campos: “se você possui algum dinheiro ou detém alguma posse terrestre, não adie doações, caso esteja realmente inclinado a fazê-las. Grandes homens, que admirávamos no mundo pela habilidade e poder com que concretizavam importantes negócios, aparecem, junto de nós [no além-túmulo], em muitas ocasiões, à maneira de crianças desesperadas por não mais conseguirem manobrar os talões de cheque [contas bancárias].” [5]
Referências:
[5] Xavier, Francisco Cândido. Cartas e Crônicas, ditado pelo espírito Humberto de Campos, cap. 4 “Treino para morte” Rio de Janeiro: Ed. FEB, 1967
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