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Luiz Carlos Formiga |
O resultado de necropsia foi asfixia
mecânica por afogamento. Morreu dia 15 de setembro de 2016, aos 54 anos o ator
protagonista da novela “Velho Chico”, Domingos Montagner.
O psiquiatra Augusto Jorge Cury diz que a
vida física desaparece, se descaracteriza, mas a vida psicológica clama pela
continuidade da existência. A morte da
consciência humana é inaceitável. A mente humana acha inconcebível a ruptura do
pulsar da vida e insuportável a inexistência
da consciência. O pensamento de Jesus referente ao fim da existência humana
tinha uma ousadia e complexidade impressionantes. Ele discursava sobre a
imortalidade com uma segurança incrível. (1)
Lembremos que depois do discurso Ele
passou, após a crucificação, a desequilibrar a incredulidade através de aulas
práticas.
Diz ainda, o psiquiatra, que a maioria dos
seres humanos nunca procurou compreender algumas implicações psicológicas e
filosóficas da morte, que a necessidade de uma busca mística, espiritual, não é
sinal de fraqueza intelectual, de fragilidade da inteligência humana. Na
realidade expressa um desejo vital de continuidade do espetáculo da vida, sendo
enfim um sinal de grandeza intelectual.
Este autor lembra o ateu declarado, pensador
brasileiro, Darcy Ribeiro que em momentos antes de sua morte pediu aos seus
íntimos que lhes dessem um pouco de fé. Isso não significou um sinal de
fraqueza, pelo contrário. Esse momento refletia a necessidade universal e
incontida de continuidade do espetáculo da vida.
O desejo de eternidade, de transcender o
caos da morte, é inerente ao ser humano, não é fruto de uma cultura. Mesmo uma
pessoa que pensa ou comete atos de suicídio não tem consciência da morte como
fim da vida, à semelhança do que ocorre no início do período da sua infância.
Ela não quer matar a vida, mas destruir a dor emocional, a angústia, o
desespero que abate suas emoções.(2)
O desejo de superação da morte é
irrefreável. Mas, como entender o pós-morte?
Aqui, a ciência biomédica se cala, pois pode fazer muito por um espírito,
no corpo, mas não pode fazer absolutamente nada depois da morte. Jesus, por ser
espírito superior, tinha um estilo de vida que estava além do limite de tempo e
espaço. Poucos foram aqueles puderam se
aproximar, mesmo que modestamente, deste nível do existir. Como poderia Pilatos
compreender o que Jesus argumentava durante sua oitiva.
Como pensavam os intelectuais do tempo de
Jesus?
Fariseus, Saduceus, Samaritanos e Essênios
acreditavam em Deus, mas discordavam em relação à prática religiosa.
Cury lembra que o homem possui uma
necessidade intrínseca de procurar por Deus, de criar religiões e de produzir
sistemas filosóficos metafísicos. Isto surge por necessidade de superar a morte
e explicar a si mesmo o mundo, o passado, o futuro, os mistérios da existência.
Jesus proclamava que sua vida estava além
dos limites do tempo e do espaço, mas a nossa ciência trabalha dentro dos
intervalos do tempo. Como estudar fenômenos que estão além desses limites.
Como Pilatos, um romano, politeísta, poderia
entender alguém adiante do seu tempo?
Jesus não pressionava ninguém, não impunha
suas ideias, era contra o autoritarismo e apenas fazia convites, procurando
abrir as janelas da inteligência do próximo.
Não compreendíamos e ainda hoje
perguntamos qual a natureza de Jesus?
No século XIX Allan Kardec se debruça
sobre esta questão. Diz-nos no livro A
Gênese:
Pelos
resultados que produziu, a sua encarnação neste mundo forçosamente há de ter
sido uma dessas missões que a Divindade confia somente a seus mensageiros
diretos, para cumprimento de seus desígnios. Mesmo sem supor que ele fosse o
próprio Deus, mas unicamente um enviado de Deus para transmitir sua palavra aos
homens, seria mais do que um profeta, porquanto seria um Messias divino.
Como
homem, Jesus tinha a organização dos seres carnais; porém, como Espírito puro,
desprendido da matéria, havia de viver mais da vida espiritual, do que da vida
corporal, de cujas fraquezas não era passível
Dizem que de tão poderoso fazia milagres.
Kardec, no mesmo livro, cap XV, item 63, diz que o maior milagre que Ele realizou, o que verdadeiramente atesta a sua
superioridade, foi a revolução que seus ensinos produziram no mundo, malgrado a
exiguidade dos seus meios de ação.
Imaginemos os poderosos que morriam de
medo de serem destituídos dos seus “tronos” terrenos. Quanto mais Jesus crescia
diante do povo, mais aumentava o desejo de eliminá-lo.
Tudo aconteceu!
Jesus foi traído, preso e levado às
autoridades judaicas. Mas, o Sinédrio tinha poderes limitados e por esse motivo
Jesus foi entregue ao Procurador Militar da Judéia – Pôncios Pilatos, então
governador. Hoje estaríamos reivindicando o direito ao contraditório. O devido
processo legal e a ampla defesa. Sem esquecer os direitos humanos e os recursos
aos supremos tribunais.
Naqueles dias, só Pilatos poderia proferir
a sentença. Pena de morte.
No
entanto, Pilatos não via no Mestre nenhuma culpa. Seria aquele homem um
revolucionário subversivo? O que fazer?
Como se resguardar do julgamento da história e principalmente de seus
superiores imediatos? Resolveu então arrolar uma testemunha e ainda assim de
sua inteira confiança.
Conta-nos Emmanuel, em Há Dois Mil Anos que o governador havia
sido advertido, pela sua esposa Claudia, que não se envolvesse na morte de
Jesus. Então ele manda chamar Públio Lentulus, o senador romano e lhe pede
orientação sobre o perfil de Jesus. O senador lhe diz que o Mestre não era um
revolucionário e que nunca ninguém o vira falar contra os poderes constituídos
em Roma.
Os judeus insistiam, o povo clamava. Pilatos
então resolve partir para o interrogatório e convoca Jesus. Leva-O para o
interior do Pretório.
Tu és o Reino dos Judeus?
Existe uma frase de Jesus que surpreende.
Ele pergunta de volta a Pilatos: Falas
assim por ti mesmo ou os outros te disseram isso de mim?
Pilatos reage: como?Por acaso sou Judeu? Eles te entregaram a mim. Que fizeste?
Jesus ignora a pergunta e responde: O meu Reino não é deste mundo; se o meu
Reino fosse deste mundo, certo que os meus ministros haviam de pelejar para que
eu não fosse entregue aos judeus; mas por agora o meu Reino não é daqui.
Disse-lhe então Pilatos: Logo, tu és rei? Respondeu
Jesus: Tu o dizes, que eu sou rei. Eu não nasci nem vim a este mundo senão
para dar testemunho da verdade; todo aquele que é da verdade ouve a minha voz. (João, cap. XVIII, 33-37)
Pilatos insiste
e pergunta de novo: O que é a verdade?
Jesus nada
responde.
Diante daquele
homem incrivelmente livre, embora “algemado”, altivo e sem nenhum traço de
revolta ou de angustia, O Juiz, Pilatos, recua. Sabia-O inocente. Sai com Ele e
diz a todos: não encontro nele dolo ou culpa.
Mas,
o povo ensandecido grita. O Governador oferece o indulto, mas os poderosos o
amedrontam. Por fim, Pilatos lava as mãos. O resto todos nós sabemos.
O meu Reino não é deste mundo.
No Evangelho
Segundo o Espiritismo, Capítulo 2, lemos que por estas palavras, Jesus se refere claramente à vida
futura, que ele apresenta, em todas as circunstâncias, como o fim a que se
destina a humanidade, e como devendo ser o objeto das principais preocupações
do homem sobre a terra. Todas as suas máximas se referem a esse grande
princípio. Sem a vida futura a maior parte dos seus preceitos de moral não
teriam nenhuma razão de ser. É por isso que os que não creem na vida futura,
pensando que ele apenas falava da vida presente, não os compreendem ou os acham
pueris.
Em síntese, a vida futura é o delineamento
essencial de todo o ensinamento de Jesus. Sua trajetória revela para a
humanidade a certeza da vida espiritual aquela que aguarda a todos. O Reino que
Ele nos trouxe deve ser erguido no Templo da Alma, na consciência do homem de
Bem.
Por isso, embora tristes, com o prematuro
desencarne do nosso ator no “Velho Chico”, estamos também resignados diante dos
desígnios de Deus. Confiantes de que sua família estará amparada por todos que
lhe reconhecem a condição de “Ator do Bem” e que ele hoje renasce para a vida
espiritual, feliz por ter deixado uma boa resposta à pergunta que pode
incomodar: “se você não existisse, que falta faria?” “Qual é a tua obra?”
Muitos séculos depois de Jesus oferecer
seu testemunho de imortalidade, hoje temos a posse, com o advento da Doutrina
Espírita, da chave que abre as portas para entendermos a resposta de Jesus ao
Governador dos Militares da Judéia.
Hoje podemos
responder com relativa tranquilidade a questões: Quem sou? Por que sofro? Qual
o objetivo da minha vida? Para onde vou após a morte do meu corpo no “Velho
Chico”?
Por isso disse
Jesus: se disserem a vós o Reino de Deus está aqui ou está ali, não
acrediteis. Ele está “dentro” de vós.
O Reino é
conquista íntima, particular. O Reino de Jesus, ainda não é aqui.
Na sua
despedida Jesus nos deixou um novo mandamento: Amai-vos uns aos outros, como
Eu vos amei!
Domingos Montagner, o ator de “Velho
Chico”, viveu na época, em que o nosso Chico ofereceu evidências sugestivas da
imortalidade da alma, psicografando cartas de missivistas vindos do além para
conforto dos amores, que permaneceram na Terra em extenuante dor de saudade.
Velho Chico! Medalha de ouro! (3)
Como foram abençoadas as cartas que você
psicografou (4).
Por isso, por
mais que eu sofra, mesmo que eu chore, obrigado Senhor.
Obrigado,
Senhor pela esperança.
Obrigado,
Senhor (5).
Referências
(1) Cury, A.J.
Análise da Inteligência do Cristo. O Mestre dos Mestres. Editora Academia de
Inteligência, 1999. São Paulo. 232 p.
1 Comentários:
É preciso ter olhos de ver e ouvidos de ouvir.
Há mais de 150 anos com a publicação do livro O LIVRO DOS ESPÍRITOS todos os ensinamentos de Jesus foram explicitados de forma clara e simples e acessíveis a todos.
Vamos em frente.
Marcos Fonseca
Por Marcao, às 20 de setembro de 2016 às 04:58
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