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Luiz Carlos Formiga |
Leda Amaral era jovem e bonita quando a lepra
a assaltou.
Rosto, mãos e pés ficaram deformados e a audição
tornou-se reduzida. Os olhos ficaram sem luz, aos 17 anos.
Por que uma pessoa deficiente visual com os
dedos insensíveis e que foi obrigada a aprender o Braille utilizando a ponta da
língua, não fez a opção pelo suicídio?
Por que foi medalhista na Paralimpíada
Espiritual?
Para que a pessoa viva na plena
consciência da existência se faz necessário encontrar um sentido para a vida. O
vazio existencial é encontrado no suicídio.
Como os espíritas
podem trabalhar na prevenção?
Procurar informação, antes de tudo. Saber
os números é importante, mas é preciso ir muito além deles.
O número de suicídio
aumenta num país que tem pouca informação.
Quando a infecção ainda não tinha cura, a
“lepra” levava pessoas ao suicídio e eventualmente ao homicídio. Aquela senhora
que recebeu esse diagnóstico, no caminho de casa comprou veneno e depois de
ingeri-lo deu também a duas filhas, na primeira infância. O socorro médico não
salvou as crianças. Triste saber que a doença era do polo tuberculóide, não contagiante.
Meu amigo, Amazonas Hércules adoeceu antes
da existência dos quimioterápicos e antibióticos e chegou aos 91 anos. Tornou-se
órfão de pai, antes do nascimento, e de mãe, antes de um ano. Como o tratamento
elimina o contágio, tinha contato pessoal com as crianças. Tinha mãos
imperfeitas, mas abençoadas, “porque adquiriu a noção justa da confiança em
Deus.
Compreendeu que “dar-se a Cristo é trabalhar pelo estabelecimento de
seu reino. Sendo forte no
conhecimento, não procurou repouso na indiferença ante os impositivos
sagrados da luz acesa, pela infinita bondade do Cristo, em seu mundo
íntimo.” Era alegre e ninguém o igualava naquela gargalhada, quando a piada
lhe fazia cócegas no cérebro. Medalha de ouro do sorriso franco e aberto.
A muleta e a cadeira de rodas eram
soluções. No entanto, onde ia fazer palestras, na ausência de elevador chegava
ao salão muitas vezes carregado. A hanseníase pode levar à cegueira, mas ele
não tinha essa herança “cármica”.
Por que Amazonas não pensou em suicídio?
De onde lhe vinha a “força estranha”, que
o fazia lutar por seus sonhos?
Nossos sonhos!
Quando comecei a
fazer levantamento bibliográfico para a tese de mestrado fiquei encantado com o
elevador do Castelo de Manguinhos. RJ.RJ., Instituto Oswaldo Cruz. IOC/Fiocruz.
Achei-o antigo, mas pitoresco. Mal sabia que
meus filhos teriam a mesma sensação diante da minha máquina de escrever
portátil, que ganhara de presente de meus pais na adolescência.
A biblioteca do
IOC era o máximo e encontrei feliz um artigo de revisão do assunto que eu
pesquisava. Eu tinha aprendido, nas primeiras aulas do curso de graduação, que
eles são escritos por especialistas da área e que nos poupava tempo, nesta vida
tão corrida.
Nestes dias de
prevenção “Setembro Amarelo” senti alegria quando recebi de uma ex-aluna, D.
Sc. Thereza Cristina Ferreira Camello, um artigo sobre suicídio com o
recadinho. “Veja se lhe interessa?”.
“Atendimento
pré-hospitalar ao indivíduo com comportamento suicida: uma revisão integrativa”.
Objetivou-se identificar as ações realizadas pelos profissionais de
enfermagem, durante o atendimento pré-hospitalar, ao indivíduo com
comportamento suicida. Trata-se de uma revisão integrativa. Após o exame de
4775 artigos, foram encontradas 32 ações
de enfermagem realizadas.
Após analise chegou-se à conclusão que devemos considerar importante que
a equipe de enfermagem, gestores e sociedade voltem seu olhar para o tema a fim
de aprimorar o atendimento e entendimento sobre o desejo de morte.
SMAD, Rev.
Eletrônica Saúde Mental Álcool Drog. Abr.-Jun.;12(2):108-15, 2016.
E depois da morte?
Como se processou
o atendimento na Colônia Nosso Lar, após o desencarne do médico André Luiz?
Após reparador repouso, diz André Luiz: energias novas tocavam-me o íntimo. Tinha a
impressão de sorver a alegria da vida, a longos haustos. Na alma, apenas um
ponto sombrio - a saudade do lar, o apego à família que ficara distante.
Numerosas interrogações pairavam-me na mente, mas tão grande era a sensação de
alívio que eu sossegava o espírito, longe de qualquer interpelação.
Quis
levantar-me, gozar o espetáculo da Natureza cheia de brisas e de luz, mas não o
consegui e concluí que, sem a cooperação magnética do enfermeiro, era
impossível deixar o leito.
Não
voltara a mim das surpresas consecutivas, quando se abriu a porta e vi entrar
Clarêncio acompanhado por simpático desconhecido. Cumprimentaram-me,
atenciosos, desejando-me paz. Meu benfeitor da véspera indagou do meu estado
geral.
Sorridente,
o velhinho amigo apresentou-me o companheiro. Tratava- se do irmão Henrique de Luna, do Serviço de
Assistência Médica da colônia espiritual. Trajado de branco, traços
fisionômicos irradiando enorme simpatia, Henrique auscultou-me demoradamente,
sorriu e explicou: é de lamentar que tenha vindo pelo suicídio.
Suicídio? Creio haja engano - asseverei,
melindrado -, meu regresso do mundo não teve essa causa. Lutei mais de quarenta
dias, na Casa de Saúde, tentando vencer a morte. Sofri duas operações graves,
devido a oclusão intestinal...
- Sim - esclareceu o médico mas a oclusão radicava-se em causas profundas.
Talvez o amigo não tenha ponderado bastante. O organismo espiritual apresenta
em si mesmo a história completa das ações praticadas no mundo.
E inclinando-se, atencioso, indicava determinados pontos do meu corpo:
- Vejamos a zona intestinal - exclamou. - A oclusão derivava de elementos
cancerosos, e estes, por sua vez, de algumas leviandades do meu estimado irmão.
A moléstia talvez não assumisse características tão graves, se o seu
procedimento mental no planeta estivesse enquadrado nos princípios da
fraternidade e da temperança.
Entretanto,
seu modo especial de conviver, muita vez exasperado e sombrio, captava
destruidoras vibrações naqueles que o ouviam. Nunca imaginou que a cólera fosse
manancial de forças negativas para nós mesmos? A ausência de autodomínio; a
inadvertência no trato com os semelhantes conduziam-no à esfera dos seres
doentes e inferiores. Tal circunstância agravou, de muito, o seu estado físico.
Depois
de longa pausa, em que me examinava atentamente, continuou:
- Já observou que seu fígado foi maltratado pela sua própria ação; que os rins
foram esquecidos?
- Os órgãos do corpo somático possuem incalculáveis reservas, segundo os
desígnios do Senhor. O meu amigo, no entanto, iludiu excelentes oportunidades,
desperdiçados patrimônios preciosos da experiência física. Todo o aparelho
gástrico foi destruído à custa de excessos de alimentação e bebidas alcoólicas,
aparentemente sem importância. Devorou-lhe a sífilis energias essenciais. Como
vê, o suicídio é incontestável.
No trabalho de revisão, sobre atendimento
pré-hospitalar ao indivíduo com comportamento suicida, há frase que ganha novo
contorno se considerarmos que a morte do corpo não mata a vida.
SMAD, Rev.
Eletrônica Saúde Mental Álcool Drog. Abr.-Jun.;12(2):108-15, 2016.
“Dentre os fatores que influenciam o comportamento suicida incluem-se os
socioambientais, psicológicos e biológicos, cada um com um peso específico,
entretanto , separadamente, nenhum deles pode ser suficiente para explicar tal
atitude.”
Para André Luiz perante a nova visão
espiritual só existia, agora, uma realidade torturante: era verdadeiramente um
suicida, perdera o ensejo precioso da experiência humana, não passava de
náufrago a quem se recolhia por caridade.
Jesus lecionou sobre a continuidade da vida, a
imortalidade da alma, com a segurança de quem sabia que voltaria, para
demonstrar em aula prática, a Tomé e outros.
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