.

sábado, 17 de agosto de 2013

O Homem, A Mulher e as Linhas Paralelas.



Palavras-chave: desencontro, ansiedade, dor, sexualidade, preconceito, reprodução.

Luiz Carlos D. Formiga

Tudo que esperei de um grande amor era só juramento, que o primeiro vento carregou. Outra vez tentei, mas pouco durou. Foi um golpe de sorte que o vento mais forte derrubou. E assim, de quando em quando, eu fui amando mais. Passei por ventos brandos, passei por temporais. Agora estou num cais, onde há uma eterna calmaria. E, não aguento mais viver em paz, sem companhia (1 ).
Estaremos transitando num terreno onde teoria e prática parecem linhas paralelas. Uma coisa é saber, outra é fazer. Como alguns governos de hoje, podemos nos sentir incompetentes, por não conseguirmos fazer investimentos em infraestrutura. Há ocasiões em que a estrada que vai do cérebro ao coração encontra-se escura e esburacada, exigindo atenção redobrada.
A Lei de Ação e Reação entrelaçada com a da Reencarnação lança luz no meio da tempestade e observamos melhor os desníveis do caminho.
Quando num casal encontramos a afeição só de um lado, sendo o amor acolhido com indiferença, não podemos deixar de cogitar a existência de punição passageira, neste planeta não só de provas.
Por outro lado, muitas vezes uma pessoa entra num atalho, reconhece o engano e retoma o caminho, do qual não deveria ter se distanciado. No entanto,  “amigos”, preconceitos em volta, podem permanecer com  dedos apontados, ainda fixados no momento anterior.
Emmanuel, pela mediunidade do médium Francisco Cândido Xavier, no livro “Vida e Sexo”, nos pede para fazer silêncio ante supostas falhas dos outros, “pois nenhum de nós é capaz de medir a parte de responsabilidade que nos compete nas irreflexões e desequilíbrios alheios.” Diz que “não dispomos de recursos para examinar consciências. Cada um é um caso particular, ante a Sabedoria Divina.”  
Conta-se que um velho mestre caminhava, com os discípulos, por uma das margens de um rio caudaloso. Explicava os perigos que o homem corre, quando diante das mulheres. Acabara de recomendar que delas não se aproximassem, quando percebeu que uma jovem bonita, de pequena estatura, não conseguia atravessar a correnteza. O mestre generoso perguntou se ela desejaria ajuda. Ela aquiesceu e ele, aconchegando-a em seus braços, a conduziu à outra margem.
Os discípulos atentos observavam. O mestre volta a caminhar em silêncio.
Um discípulo o interpela: “Senhor não nos ensinou os perigos que rondam o homem, quando se aproxima da uma mulher? Recomendou-nos manter distância, mas fez o oposto. Onde a coerência entre saber e fazer?” O mestre, segundos depois, respondeu.
Gafanhoto, disse-lhes para não se aproximarem. Levei-a ao outro lado do rio e a deixei lá. Mas, você ainda está com ela.
Programados geneticamente, sempre estamos pensando na reprodução da espécie. Este instinto possui a mesma intensidade, tanto no homem quanto na mulher. Nas primeiras encarnações até deveria ser usado precocemente, antes que fossemos devorados, por algum predador. Talvez por isso digam que a carne é fraca, quando ainda somos espíritos imaturos. Agora mais evoluídos, ainda não sabemos distinguir amor e paixão. A realidade é que o domínio da cognição não consegue oferecer boas orientações, quando colocado diante das coisas do coração.
Algumas pessoas, de nossas relações sociais, podem cometer algum deslize, pegar um atalho. Mas, podem posteriormente retomar o caminho original. Essa vitória, sobre o “erro”, acontece quando há força de vontade, não sem sofrimento e dificuldades. Portanto, é praticar caridade deixar de apontá-los, enquanto nós permanecemos ainda fixados, no momento já superado pelo desviante. Por isso, quando reencarnamos, não recordamos os próprios erros e aí está a Misericórdia Divina. Aquele que atira a primeira pedra talvez tenha cometido “erro” maior. Não deve recordar, para não ter um surto psicótico.
Um homem havia reencontrado - vidas anteriores - um grande amor. No entanto, estava agora num daqueles casamentos que deu certo. Sábia programação. Deveria estar passando por uma por uma difícil prova, pois ela também lhe dedicava grande afeição. A Doutrina Espírita foi o sustentáculo para aqueles corações divididos, não levianos. Saíram vitoriosos após o sofrimento/felicidade inicial. Souberam manter os projetos cuidadosamente elaborados antes da reencarnação. Evitaram assim que dores novas pudessem ser instaladas, não só, no “aqui e agora”.
Outros espíritos reencarnados certamente não puderam resistir as felizes lembranças afetivas do passado. Contratos de casamentos devem ter sido desfeitos, produzindo feridas incisas na alma, que necessitarão de tratamento no futuro, já que somos espíritos imortais.
Há espíritos que, para a cura das feridas afetivas necessitam reencarnar juntos num mesmo grupo familiar, mas em novos e diferentes relacionamentos. Não raro, na condição de filho ou neto passam pela rejeição e se toram motivo de desencontro do casal.
Através da pedagogia de Jesus aprendemos que o “erro” faz parte do processo, consubstanciando-se em experiência a ser bem aproveitada, uma vez que a reincidência pode ser geradora de dores maiores.
 Após a experiência e o reconhecimento do passo inadequado, para essa hora, surgirá o alerta da consciência lúcida: “Cuidado! Reincida e instalará na alma remorso maior”.
Sem dúvida, o sexo faz parte da vida física, entretanto, tem implicações profundas nos refolhos da alma, já que o ser humano é mais do que o amontoado de células que lhe constituem o corpo. Por essa razão, os conflitos se estabelecem tendo-se em vista a sua realidade espiritual, com anterioridade à forma atual, e complexas experiências vividas antes, que não foram felizes (2).  
A noção de imortalidade da alma e a reencarnação podem nos ajudar a entender, com maior facilidade e fidelidade, o tema “encontro e desencontro”.  Quando na espiritualidade, de posse de visão ampliada, o espírito José Albano incentiva: “Eis o alto pensamento, de um sábio nobre e profundo. Sem lar e sem casamento não há progresso no mundo.”
Na Terra, “somos ainda espíritos de mediana evolução, portadores de créditos apreciáveis, mas com dívidas numerosas, por isso nossas reencarnações exigirão muita cautela de preparo e esmero de previsão.” Os renascimentos “ficam a cargo de autoridades e servidores da Justiça Espiritual. Estes especialistas administrarão recursos a cada aprendiz da sublimação, de acordo com as obras edificantes que lhes contem no currículo da existência”.
Muitos de nós nos sentimos desconfortáveis quando percebemos que o momento do retorno ao corpo se aproxima. Não raro “morremos de medo”, quando percebemos a natureza da prova a resolver, na Escola da Vida Encarnada.
 Lembrava-me desse temor quando lia uma Tese de Mestrado onde a autora trazia os discursos de mulheres portadoras de lesão espinhal, com implicações na sexualidade (3).
Um depoimento é esclarecedor: “No começo foi dureza aceitar meu corpo, porque ele passa por uma mudança brusca, mas com o passar do tempo passei a gostar de mim, do meu corpo. Quando comecei a namorar vi que isso é besteira. Quando a pessoa gosta ela quer a outra independente de corpo e de beleza. Casei-me na cadeira de rodas.”
A lesão medular é prova ou expiação?
As provas são oportunidades de experiências tendo uma vida fácil ou difícil, com um corpo feio ou bonito, com deficiência física ou não. Não estão relacionadas com erros cometidos em existências anteriores. A expiação, no entanto, decorre de faltas cometidas. Uma expiação acontece, durante a existência corporal, mediante as provas a que o encarnado se acha submetido. A Providência Divina não apressa a expiação, que só é imposta quando os Espíritos não se mostram aptos a compreender o que lhe seria mais útil.
Há sofrimentos que podem surgir de um acidente de percurso, quando nos encantamos com a beleza exterior, nos aproximamos e nos apaixonamos por “um coração leviano”. Leviano coração é aquele que “trama em segredo seus planos e parte sem dizer adeus”, disse o Paulinho da Viola.
A vida encarnada pode trazer surpresas. Temos que usar a intuição e assim mesmo cometeremos enganos, vivenciaremos experiências difíceis, na tentativa de execução do nosso projeto. “Pobre navegante, com um coração amante, enfrentamos tempestades em busca da felicidade”.
 No plano espiritual, podemos ter melhor visão de conjunto, ficando mais fácil entender que “a vida de solteiro é boa, mas que a de casado é ainda melhor”. O espírito Juvenal Galeno confessa que: “quando puder reencarnar, serei homem de juízo. Mas, casarei novamente, quantas vezes for preciso”.
Uma mulher, de cima de seu preconceito, fez comentário inadequado sobre outra que chegara ao quinto casamento. O médium, que a ouvia, pediu-lhe que reparasse na virtude da monogamia. Na procura de um grande amor, ela havia tido um casamento de cada vez.
O encontro de um grande amor é sempre uma expectativa, não apenas entre os jovens. Sonha-se na realidade com a felicidade. Não raro surgem decepções. Mas, como descobrir esse amor a não ser arriscando-se? Viver é arriscar-se, namorar também. Embora seja diferente do “ficar”, onde já há manipulação.
Fomos programados pela Lei de Reprodução por isso pensamos em sexo. Não podemos nem conseguimos esquecê-lo. A mídia ganha dinheiro explorando, abusando, do divino instinto. Se você está fixado em sexo, pode ter certeza que está sendo manipulado, até por adversários desencarnados. Cuidado com a banalização do sexo (4).   
“Por ignorarem ou negarem a origem do ser, como Espírito imortal, psicólogos, sexólogos e educadores limitam-se, com honestidade, a preparar a criança de forma que apenas conheça o corpo, identifique suas funções, entre em contato com a sua realidade física. A proposta é saudável, inegavelmente; todavia, o corpo reflete os hábitos ancestrais, que provêm das experiências anteriores, vivenciadas em outras existências corporais, que imprimiram necessidades, anseios, conflitos ou harmonias que ora se apresentam com predominância no comportamento.” (2)
“Sexo, além do genital, é intimidade, entrega, companheirismo, confiança.  acho que não teria superado isso tudo se eu não tivesse essas coisas com a pessoa que gosto “(3).
Depois de algumas tentativas muitos encontraram o casamento feliz. Outros aguardam e  amargam momentos de solidão. Por que com outros deu certo?
Não existe resposta fácil, nem fórmula mágica. No entanto, é possível enumerar coincidências que podem ser encontradas nestes casos.
Procure verificar e observará alguns comportamentos. Os casais que deram certo firmaram o real comprometimento de permanecerem juntos, sendo capazes de enfrentar suas crises como uma equipe. Isso acontece porque sabem que podem contar com o outro. O divórcio não tinha sido cogitado como alternativa, durante a fase de namoro, noivado, planejamento, embora fossem favoráveis à medida, considerada extrema.
É verdade que possuíam projetos de vida semelhantes, demonstrando os mesmos interesses (estudo, religião) e tinham também uma sólida vontade de construírem uma história compartilhada.
Diante das discordâncias, sempre foram capazes de se controlar e dialogar francamente, procurando não ferir um ao outro, com absoluto respeito pela individualidade.
Outro dado observado é que não se sentem menores, quando se percebem interdependentes.
Na rua, andavam de mãos dadas. Na intimidade, consideravam o sexo como complemento do amor. Alguns traços característicos são mestres em fazer surgir as “pedras no caminho”. O homem possui sexualidade localizada. A mulher é afetiva e com sexualidade generalizada. O homem possui inteligência abstrata, a mulher inteligência concreta. O homem percebe o conjunto, a mulher está atenta a detalhes. O homem conquista, a mulher atrai. Nele há o predomínio da força, nela o da sensibilidade. São bichos completamente diferentes.
Anteriormente comentamos a dificuldade encontrada entre a teoria e prática, entre o saber e o fazer. Agora imagina se não existir amor! Poderá ser encontrado o fingimento, a dissimulação, frustração, coisificação e também muita dor. E os filhos?
Na Tese de Mestrado (3) encontramos pérolas: a) “o prazer vai além de performance, de posições, é estado de espírito. É prazer na vida, de trabalhar, de cuidar dos filhos, do marido. Quando a gente tem prazer nessas coisas, o sexo flui bem, e tudo fica mais gostoso”;  b) “orgasmo é se sentir querida. Não se reduz a clímax, é um contexto. Começa com olhar, cheiro, toque, vai desencadeando sensações e num momento terno, juntos, se torna orgasmo. Esse de se sentir acariciada, amada, é o que dá prazer pra mulher, é o mais difícil de sentir, eu sinto”; c) “hoje dou valor a sensações pequenas, a toque suave, que antes poderia até  ter  passado despercebido, porque você vai muito em busca do clímax, e hoje um toque, passar a mão no cabelo arrepia, tudo é diferente, do que é hoje depois da lesão”.
 “Sexo sem amor é agressão brutal na busca do prazer de efêmera duração e de resultado desastroso, por não satisfazer nem acalmar. Quanto mais seja usado em mecanismo de desesperação ou fuga, menos tranquilidade proporciona. A força, não canalizada, deixada em desequilíbrio, danifica e destrói, seja ela qual for” ( 2 ).
Nos casais que deram certo vamos encontrar disposição para novas tentativas, isto porque consideram os momentos mais prazerosos como os mais importantes. Estão abertos a mudanças, a médio prazo e reconhecem que, os dois, devem fazer esforços, empenhando-se em novas aprendizagens.
Escrevemos anteriormente, no “Sexo. Artigo de Compra e venda” (5): no homem mais evoluído a sexualidade é entendida num contexto mais amplo, inclusive o espiritual, vendo na sexualidade uma atividade intimamente ligada ao crescimento pessoal, à autoestima e à formação de saudáveis vínculos afetivos e amorosos. Ele percebe o sexo também como reconstituinte das forças espirituais, pelo qual as criaturas se alimentam mutuamente.
Esse espírito amadurecido mesmo quando convivendo com inseguranças e sentimentos de rejeição, nunca busca o sexo como forma de autoafirmação e alívio de incertezas ou carências. Em outras palavras, ele não troca sexo por companhia, tentando diminuir o vazio da solidão. Possuindo responsabilidade, não são governados pelo divino instinto de conservação, como as pessoas ainda imaturas, fisiologicamente adultas, mas emocionalmente infantis.
Podemos saber multiplicar títulos e propriedades, mas estar afastados da receptividade, do compromisso, produzindo seres-objetos e semeando um futuro de provas com acréscimo nas expiações. Quem atirou a primeira pedra?
Joanna diz que “A ignorância responde por males incontáveis que afligem a criatura humana e confundem a sociedade. Igualmente perversa é a informação equivocada, destituída de fundamentos éticos. A sociedade contemporânea encontra-se em grave momento de conduta em relação ao sexo, particularmente na adolescência. Superada a ignorância do passado contempla, assustada, os desastres morais do presente, sofrendo terríveis incertezas acerca do futuro.”
“Inseguranças e medos, muito comuns na adolescência, procedem das atividades mal vividas nas jornadas anteriores, que imprimiram matrizes emocionais ou limitações orgânicas, deficiências ou exaltação da libido, preferências perturbadoras que exigem correta orientação, assim como terapia especializada.”
A orientação deve ser iniciada na infância, de forma que o jovem se dê conta que o sexo existe em função da vida e não esta como instrumento dele.  O controle mental, a disciplina moral, os hábitos saudáveis no preenchimento das horas, o trabalho normal, a oração ungida de amor e de entrega a Deus, constituem metodologia correta para a travessia da adolescência e o despertar da idade da razão com maturidade e equilíbrio (2).
Não é necessária muita observação para concluirmos que não existe o “casamento perfeito”.
Como não é possível atuar bem em todas as oportunidades chegamos fácil a conclusão da inexistência do “parceiro ideal”. Parece que o segredo do sucesso não é chegar a ser excelente, mas estar sempre buscando a excelência. Por isso reencarnamos e temos a coragem de enfrentar com altivez as provas e expiações. Portadores da fatalidade evolutiva, seremos melhores e, um dia, nem teremos a necessidade de animar um corpo perecível.
Cabe perguntar se o espírito Juvenal Galeno estava certo. Ele afirmou que “se pudesse reencarnar casaria novamente, quantas vezes fosse preciso”. Essa alma errante, deve ter tido boas experiências na Terra e seguido o conselho de um outro espírito, o Jovino Goedes que afirmava: “os cônjuges, lado a lado, que conservam alegria, vivem sempre de noivado, casando-se todo dia.”
 Conheci um senhor desse time, com mais de 90 anos, que viveu casado até a desencarnação. Ele conseguiu construir dois casamentos felizes, uma vez que ficou viúvo na meia idade.
Mesmo que o leitor esteja jogando em outro time, ainda há esperança, que surge quando tomamos conhecimento da questão 940 de “O Livro dos Espíritos”. A questão termina informando que mesmo nas uniões antipáticas, a medida que os preconceitos se enfraquecem, as causas dessas desgraças íntimas também desaparecem.
Creio ser ainda mais difícil enfrentar o celibato. Para algumas classes de espíritos, talvez seja a solução evolutiva mais adequada ou mais rápida.
Alguns não aguentam a solidão e não encontrei letra/expiação/interpretação melhor ( 1 )
Sabemos que há vida inteligente fora do casamento, resistindo ao instinto de preservação da espécie, programação genética. Mas, sabemos também que vai demorar a chegar o dia, quando finalmente vamos compreender a opção de Clara e Francisco (6).

Fontes
( 1 ) Sem Companhia. Ivor Lancellotti e Paulo César Pinheiro. Interprete. Mariene de Castro.
(2) Joanna de Ângelis/Divaldo P Franco. O adolescente e a sua sexualidade. Livro “Adolescência e Vida”.

( 3 ) Carneiro, V. M. B. 2007. Vivências da sexualidade: atualizações e persistências nos discursos de mulheres com lesão na medula espinhal. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Saúde Materno-Infantil da Universidade Federal do Maranhão, para obtenção do Título de Mestre em Saúde Materno-Infantil. 

(4) Banalização do sexo.
( 6) A Ordem das Paixões

1 Comentários:

  • Essas linhas algum dia deixam de ser paralelas e se encontram? Ou se tornam uma só linha?
    O Espírito a medida que evolui, vai encontrando sua essência, o amor pleno independente de sexo e se identificando com o Pai.
    Vamos em frente.
    Marcos Fonseca

    Por Blogger Marcao, às 17 de agosto de 2013 às 20:52  

Postar um comentário

<< Home