Carnaval e Doutrina Espírita
A cada dez obras ditadas por Amigos Espirituais através de médiuns idôneos, que contenham algum material que aborde o tema carnaval, dez recomendam afastamento, prevenção e orientação à população como medida profilática.
Entretanto, com muita lucidez, o Espírito Humberto de Campos adverte-nos que “um escritor, encarnado ou desencarnado, que venha falar contra os excessos do período carnavalesco, no Rio, costuma perder o seu tempo e o seu esforço sagrados” (Novas Mensagens, 1940). Isso porque a maioria dos habitantes de nosso planeta ainda não despertou para uma verdade que, embora já descrita através de inúmeros meios, continua sendo ignorada em nome das alegrias transitórias da materialidade.
Dentro deste mesmo tema e, apesar das observações iniciais do Estimado Benfeitor, decidimos nos arriscar neste caminho da divulgação de nossas idéias, embalados pelas ponderações do mesmo Espírito que, ao final de seu artigo nos pede que “busquemos semear na ala das gerações florescentes os princípios sagrados de nossas tradições e dos nossos hábitos e, mais tarde, toda podridão terá passado na esteira do Tempo, para caminharmos pelo futuro adentro com a pureza do nosso idealismo!" (Novas Mensagens, 1940).
Pois bem.
Já não é mais novidade que certa escola de samba do Rio de Janeiro decidiu prestar “homenagem” ao Espiritismo, utilizando-se para tanto um carro inteiro contendo detalhes da cidade espiritual de Nosso Lar, a imagem de Chico Xavier e o personagem André Luiz (através do ator do filme com o mesmo nome), além de “performances de mediunidade”.
Confessamos, caros amigos, que num primeiro momento ficamos atônitos, “abestalhados”, como diria o caipira, para logo depois ficarmos em situação ainda pior.
Isso porque aguardamos (ansiosamente) uma manifestação de nossa federação (a FEB) posicionando o tema em foco, alertando a população em geral que o Espiritismo não compactua com tal festividade em hipótese alguma [mesmo que não viesse a coibir a ‘homenagem’].
Entretanto, isso [infelizmente] não ocorreu, admitindo a Instituição que não fora avisada e que “continua empenhada em promover a difusão da Doutrina Espírita, nos moldes e na forma compatíveis com os seus princípios doutrinários”, num pronunciamento “morno”, carente da firmeza que nos pedem os Espíritos Superiores.
Temos aprendido que a forma compatível de promover a difusão da Doutrina Espírita está calcada na seriedade e congruência entre aquilo que ela ensina e sua prática. Concordamos que não há mal algum em levarmos o tema espiritismo até locais onde existam irmãos desviados do bem, perdidos em viciações. Isso é salutar. O que ocorre é que não se trata de levar os ensinamentos espíritas ao público carnavalesco, mas de levarmos o carnaval ao espiritismo!
A partir do momento em que nos permitimos (Espíritas, FEB, Produção de um filme Espírita, etc.) desfilar sorrisos e alegrias na Marquês de Sapucaí, estamos enviando ao público do Brasil e do mundo (carnal e espiritual) a mensagem de que aprovamos a festividade de momo. Participar desta festa é compactuar com ela. É dar combustível para que continue existindo, embora os avisos, alertas de tantos Amigos Espirituais!
Que os sambistas façam suas homenagens. Que se arvorem em levar este tema ao asfalto. Porém, se ali forem pessoas que de alguma maneira representam a Doutrina dos Espíritos, uma vez que cada pessoa age como achar melhor, que a FEB se manifeste a respeito, apontando a posição da Doutrina perante a situação, perante o carnaval.
Não se trata de puritanismo, mas de respeito e cuidado com uma Doutrina que nos foi enviada pelos Espíritos Superiores.
Allan Kardec, no livro Viagem Espírita em 1862 faz algumas advertências que convém não desprezarmos:
No item II do capítulo “Instruções Particulares”, anuncia o codificador que “os espíritas falam aos demais sem temor algum "em alto e bom tom". Não temem esconder suas convicções, são seguros e corajosos de afirmar sua opinião”.
Portanto, aos ‘espíritas caridosos ‘de plantão, que acham que é preciso calar para evitar-se ‘chateações’ entre alguns, afirmamos que nos achamos no direito de manifestar nosso descontentamento com este episódio, deixando clara nossa posição, em nome da Doutrina que abraçamos.
Neste mesmo texto afirma ele (Kardec, item V) que “o ponto capital do Espiritismo é o seu lado moral. Eis o que é preciso, - mesmo à custa de todo e qualquer esforço - fazer compreensível e note-se, que é assim que ele é visto, mesmo nas classes menos esclarecidas. Por esse motivo o seu efeito moralizador já é manifesto”.
Dando continuidade ao seu raciocínio, no item XIV, diz ele: “Eis porque, repito, é necessário que saibamos distinguir aquilo que a Doutrina Espírita aceita daquilo que ela repudia”.
Quanto às performances mediúnicas, em especial, temos de meditar nas palavras do Espírito Erasto:"Tende por regra que os fenômenos espíritas não servem para espetáculos e divertimento dos curiosos."
Portanto, "(...) cuidado, porque entre os chamados para o Espiritismo, muitos se desviaram da senda! Atentai, pois, no vosso caminho e buscai a verdade." (O Livro dos Médiuns - cap. XX-04).
Caro leitor, afirmamos que em hipótese alguma a Doutrina Espírita apóia as festas carnavalescas, muito ao contrário, entendendo que se trata de combustível que facilita o processo de desequilíbrio daqueles que ainda não conseguem se desviar de seu chamado sedutor, caindo em suas águas tormentosas, diretamente nos braços do sofrimento.
O carnaval traz gastos enormes para os cofres públicos de nosso país, sendo que a fome infelizmente ainda é uma realidade difícil, a falta de educação, de saúde, etc. Acaso estaria o carnaval em primeiro lugar na lista de nossas necessidades? Seria ele mais importante que tudo isso?
Além disso, nesta época verdadeiras falanges das trevas surgem no cenário, atraídas pela sintonia com aqueles que crêem seja licito enlouquecer em determinados dias. Junto desta catástrofe mental, vem a catástrofe material, uma vez que os hospitais trabalham dobrado, atendendo os acidentados, os alcoolizados, os drogados, etc. Lembremos ainda que a quantidade de abortos criminosos aumenta consideravelmente após este período.
Famílias sofrem, profissionais da saúde se desdobram, a Espiritualidade Superior trabalha, incansável. E tudo isso por quê? Porque existe um ‘acordo social' que permite, segundo os olhos do mundo, que as pessoas saiam de seu cotidiano, em nome da descontração, entrando em verdadeiros turbilhões dos sentidos, causando enormes prejuízos a si e a muitos outros.
Divertimento responsável só ocorre quando o mal não está envolvido. O resto é problema que mais adiante terá de ser resolvido.
Finalizamos nossos apontamentos, com a citação do Espírito de Verdade, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, quando nos pede: “Crede, amai, meditai sobre as coisas que vos são reveladas; não mistureis o joio com a boa semente, as utopias com as verdades.(...) No Cristianismo encontram-se todas as verdades; são de origem humana os erros que nele se enraizaram”.(ESE., Paris, 1860, Cap. VI, item 5.)
Bibliografia:
CAMPOS, H., XAVIER, F. C., Carnaval no Rio de Janeiro, Novas Mensagens, Ed. FEB, 1940.
GELERNTER, C., Carnaval e Os Problemas Sociais, Site Proseando, em http://claudiagelernter.
____________ Obsessões Carnavalescas, em http://66.228.120.252/artigos/
KARDEC, A. Instruções Particulares, A Viagem Espírita de 1862, tradução de Wallace Leal V. Rodrigues, Ed. O CLARIM, 1981.
____________O Livro dos Médiuns, Da influência moral do Médium, Ed. FEB, Rio de Janeiro, 1992.
____________O Evangelho Segundo o Espiritismo, Ed. FEB, Rio de Janeiro, 1994.
1 Comentários:
Achei seu comentário corajoso, porém o lançamento do filme Nosso Lar deu essa abertura. Felizmente, ou infelizmente para alguns, Chico Xavier é do mundo e não exclusivo da Doutrina Espirita.
Abraços Fraternos,
http://certezaespirita.blogspot.com
Por Iany Lemos, às 6 de março de 2011 às 19:10
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