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quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

INFLUÊNCIA PERNICIOSA E SUICÍDIO

Luiz Carlos Formiga

No livro Obras Póstumas (1) encontramos um ensaio sobre a “Influência perniciosa das ideias materialistas sobre as artes em geral e a sua regeneração pelo Espiritismo”. Kardec diz que “bem poucas vezes nos lembraremos do nome do autor de uma obra interessante que guardamos na memória. E, quanto mais avancemos no tempo, tanto mais isso será assim: as preocupações materiais se substituem, cada vez mais, às preocupações artísticas”.

Kardec continua: “outrora, quando eu via vir a mim um jovem de dezoito anos, nove sobre dez vezes era para me pedir um dicionário de rimas: hoje, é para me pedir um manual de operações da bolsa."

As preocupações materiais substituem o interesse pela arte. Por que não há de ser assim, se o pensamento e a atividade só se dirigem para a matéria, para as necessidades da carne, eliminando-se então não só as aspirações, como até a esperança pela vida de além-túmulo?

Kardec termina dizendo que “o Espiritismo abre à arte um campo novo, imenso e ainda inexplorado; e quando o artista reproduzir o mundo espírita com convicção, encontrará, nessa fonte as mais sublimes inspirações, e o seu nome viverá nos séculos futuros, porque às preocupações materiais e efêmeras da vida presente, substituirá o estudo da vida futura e eterna da alma.

São muitas as críticas dos incrédulos ao filme “Nosso Lar” (2), que surgiu da psicografia do médium Francisco Cândido Xavier. No entanto, a produção cinematográfica parece apontar nessa direção.

Por outro lado, podemos dizer que a influência perniciosa das ideias materialistas é muito mais abrangente.

Pessoas materialistas são espíritos reencarnados? Se a resposta é sim, podemos perguntar como podem existir materialistas se são espíritos que tendo passado pelo mundo espiritual deveriam ter, do mesmo, a intuição? (*) Não teriam nesse estágio de vida, sem corpo material, desenvolvido a inteligência espiritual? (**)

A resposta vem lembrar a Justiça Divina (3) Essa intuição é recusada a espíritos que, conservando o orgulho, não se arrependeram de suas faltas. Para esses a prova consiste na aquisição, na vida corporal e à custa do próprio raciocínio, da prova da existência de Deus e da vida futura. Muitas vezes, porém, a presunção de nada admitir, acima de si, os empolga e absorve. Assim, sofrem eles a pena até que, domado o orgulho, se rendem à evidência.

Então, qual a condição de um ateu, depois da morte, de volta à espiritualidade? (4)

M. J. era um homem instruído, mas em extremo saturado de ideias materialistas, não acreditando em Deus nem na existência da alma. A pedido de um parente, foi evocado, após dois anos de sua desencarnação, na Sociedade Espírita de Paris. Vejamos.

Evocação. — R. Sofro. Sou um réprobo (banido, malvado, detestado)

Fomos levados a evocar-vos em nome de parentes que, como tais, desejam conhecer da vossa sorte. Podereis dizer-nos se esta evocação vos é agradável?

— R. Penosa.

A vossa morte foi voluntária? — R. Sim. O Espírito escreve com extrema dificuldade. A letra é grossa, irregular, convulsa e quase ininteligível. Ao terminar a escrita encoleriza-se, quebra o lápis e rasga o papel.

Tende calma, que nós todos pediremos a Deus por vós. — R. Sou forçado a crer nesse Deus.

Que motivo poderia ter-vos levado ao suicídio? — R. O TÉDIO de uma vida SEM ESPERANÇA.

Quisestes escapar às vicissitudes da vida... sois agora mais feliz? — R. Não. Por que não existe o nada?

Tende a bondade de nos descrever do melhor modo possível a vossa atual situação. — R. Sofro pelo constrangimento em que estou de crer em tudo quanto negava. Estou como num braseiro, horrivelmente atormentado.

Donde vinham as suas ideias materialistas? — R. Em anterior encarnação fora mau e condenei-me na seguinte aos tormentos da incerteza, e me suicidei (afogamento).

Que ideias tínheis das consequências? — R. Nenhuma, tudo era o nada para mim. Depois é que vi que teria de sofrer mais ainda.

Estais convencido da existência de Deus? - R. Ah! Isso me atormenta!

Outro caso, de um médico chamado Philippeau, está descrito na Revista Espírita. (5)

Materialista, procurou a Faculdade de Medicina não por amor, mas por ambição e para se sentir superior diante de todos. O relato e o socorro do doutor aconteceram numa reunião na qual o Espírito-educador ofereceu diversas explicações.

Philippeau revela a surpresa desagradável de ver o corpo enterrado e o espanto de, fora dele, sentir-se mais vivo do que nunca. Apesar disso, não o escutavam, não o viam. Disse que muito tempo depois seus olhos caem numa brochura de Allan Kardec, que o fez indagar a si se “Seria, por acaso, um Espírito?” (6)

O materialismo nos faz lembrar do “princípio do prazer”. Quem bebe morre. Quem não bebe morre, também. Então vamos beber!

Como fazer diante de pessoas que estão indo na direção da tragédia, e, ainda assim, caminham para o abismo? Coexistem orgulho, faltas e intuição recusada, onde encontrar luz no fundo do túnel?

Médicos Espíritas dizem que é seu protocolo indicar as reuniões nos Alcoólicos Anônimos, aos pacientes que estão chegando ao “fundo do poço” e desejam o caminho de volta e ficar “limpos”.

Dos “12 Passos” do AA cinco apontam na mesma direção. Passo 2. Você pode espernear, no entanto, acreditar que um Poder Superior pode nos devolver à sanidade é parte da libertação. 3. Percebendo a Inteligência Suprema, a pessoa tomará a decisão de entregar sua vontade e sua vida aos cuidados de Deus, na forma em que O possa conceber. 5. Teremos que admitir perante Deus, perante nós mesmos e perante outro ser humano, a natureza exata de nossas falhas. 6. Cheios de fé e de coragem haveremos de nos prontificar a deixar que Deus remova todos os nossos defeitos de caráter. 7. Deveremos então rogar humildemente a Deus que Ele que nos livre de nossas imperfeições. 11. Por meio da prece e da meditação, procurará melhorar o contato consciente com Deus, na forma em que O concebe, rogando apenas o conhecimento de Sua vontade e forças para realizar essa vontade.

Reencarnados, com a “intuição recusada”, sofrendo da “doença da incredulidade”, não conseguem nem perguntar se espíritos existem, mesmo que tenham estado diante deles.

Dr. Frederick (espírito materializado) fez cirurgia, sem hemorragia e sem anestesia. Trocou válvula mitral cardíaca, com afecção congênita, por uma nova. A peça foi a exame com dois patologistas. Assistiram ao procedimento dois cirurgiões, um cardiologista e um anestesista.

Como se comportou o paciente após a inusitada cirurgia? O descrente médico-professor-paciente voltou a ter vida normal, sem aqueles sintomas de asma cardíaca. Anos depois desencarnou. Enfarte fulminante. Por meio de amigos comuns Dr. Fructuoso (*), testemunha ocular, soube que ele nunca acreditara que houvesse sido realmente submetido a uma cirurgia mediúnica. E agora José?

Lembramos “O Sermão do Monte” e as recompensas prometidas, segundo a disposição íntima do espírito. “Bem-aventurados os puros de coração porque verão a Deus.”


(*) Intuição vem do latim intueri. Significa ver interiormente, considerar. Cada um de nós tem a sabedoria e o conhecimento em seu próprio interior, mas é necessário separar a intuição de medos e desejos.

(**) No livro QS - Inteligência Espiritual, a fí­sica e filósofa norte-americana, Danah Zohar aborda um tema tão novo quanto polêmico: a existência de um terceiro tipo de inteligência — além da inteligência intelectual e da emocional — que aumenta os horizontes das pessoas e as torna mais criativas e se manifesta em sua necessidade de encontrar um significado para a vida.

(***) Paulo Cesar Fructuoso. A Face Oculta da Medicina. 2013. Lar Frei Luiz, página 167. Três momentos no livro dão o que pensar. Na página 70 o médico-cirurgião fala que os micróbios estão por toda parte, mas não há infecção. Na 184, relata um caso de materialização e desmaterialização que aterrorizou os presentes. Na 229 fala sobre tecnologia espiritual e me causou inveja, pois já usei microscópio eletrônico.



Leitura adicional

(1) Obras Póstumas
(2) Nosso Lar
(3) Justiça Divina
(4) O Céu e o Inferno. 2º Parte. Suicidas. Um Ateu.
(5) Dr. Philippeau. Revista Espírita
(6) “Serei eu, por acaso, um espírito? http://www.oconsolador.com.br/ano8/369/especial.html

2 Comentários:

  • parabéns ao nosso Formiga, que está sempre a nos instigar a refletir, a pensar mais profundamente.

    os temas abordados são pertinentes e nos fazem meditar no quanto ainda precisamos nos desenvolver para que as nossas incertezas e dúvidas não nos conduza, mais uma vez, a tomada de decisões equivocadas.

    a consciência de ser um Espírito Imortal ainda é para poucos.

    se a tivermos, portanto, que sejamos portadores de atitudes condizentes a este estado e condição. que façamos a nossa parte e colaboremos com os nossos irmãos ainda presos a tantas ilusões.

    sigamos firmes!!

    Por Blogger Abel Sidney, às 5 de dezembro de 2014 às 02:51  

  • No livro Evangelho Segundo Espiritismo (1) “23. Em resumo, quatro alternativas se apresentam ao homem, para o seu futuro de além-túmulo: 1ª, o nada, de acordo com a doutrina materialista; 2ª, a absorção no todo universal, de acordo com a doutrina panteísta; 3ª, a individualidade, com fixação definitiva da sorte, segundo a doutrina da Igreja; 4ª, a individualidade, com progressão indefinita, conforme a Doutrina Espírita.”

    Utilizando o bom senso e a nossa inteligência, qual dessas alternativas lhe parece a mais justa diante das diferenças na sociedade?
    Vamos nos libertar dos preconceitos e compreender um pouco melhor o verdadeiro sentido da vida.

    Vamos em frente.
    (1) http://febnet.org.br/wp-content/themes/portalfeb-grid/obras/evangelho-guillon.pdf

    Por Blogger Marcao, às 6 de dezembro de 2014 às 02:02  

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