Carnaval -
não há outra disposição que não seja o da abstinência espontânea do folguedo
Jorge Hessen
Brasília-DF
Não fossem os
excessos de toda ordem, o carnaval, como festa de manifestação sociocultural,
poderia se tornar um evento como outro qualquer. Há pessoas que buscam fazer da
“festa” uma ocasião de perspectiva econômica, oportunizando empregos, abrigando
menores, e isso talvez tenha lá o seu valor social. Todavia, a bem da verdade, a
relação de custo-benefício do saldo da homenagem a Momo se resume em três
palavras: violência, ilusão e sensualidade.
A rigor, o
que o carnaval proporciona ao Espírito? Alegria? Divertimento? Cultura? É de se
perguntar: será que vale a pena pagar preço tão elevado por uns dias de insano delírio
coletivo? Muitos histéricos adoradores
de Momo destroem as finanças familiares para degustar a atração efêmera de
curtir três dias de completa demência. Marmanjos e donzelas se abandonam nas emboscadas
viscosas das drogas lícitas e ilícitas.
Malfeitores
das escuridões extrafísicas se conectam aos apatetados fantasiados pelos invisíveis
hipnotizadores dos nevoeiros umbralinos, em face dos entulhos lascivos que semeiam
no mundo mental. O Espírito Emmanuel avisa: “Ao lado dos mascarados da
pseudo-alegria, passam os leprosos, os cegos, as crianças abandonadas, as mães
aflitas e sofredoras. (…) Enquanto há miseráveis que estendem as mãos súplices,
cheios de necessidades e de fome, sobram as fartas contribuições para que os
salões se enfeitem.” [1]
Pactos
lúgubres são preparados no além-tumba e levados a efeito nessas ocasiões em que
Momo domina voraz sobre as pessoas que se consentem desmoronar na festa
assombrosa. Os três dias de folia, assim, poderão se transformar em três
séculos de penosas reparações.
A princípio,
o Espiritismo não estimula nem recrimina o Carnaval e respeita todos os
sentimentos humanos. Porém, será que a farra carnavalesca, vista como uma
manifestação popular, consegue satisfazer os caprichos da carne sem deteriorar
o espírito? Será lícito confundir
“diversão” passageira com alegria essencial?
Os cínicos foliões
declaram que o carnaval é um extravasador de tensões, “liberando as energias”…
Entretanto, no carnaval não são serenadas as taxas de agressividade e as
neuroses. O que se observa é um somatório da bestialidade urbana e de
desventura doméstica.
Aparecem após
os funestos três dias momescos as gravidezes indesejadas e a consequente
proliferação de abortos, incidem acidentes automobilísticos, ampliação da
criminalidade, estupros, suicídios, aumento do consumo de várias substâncias
estupefacientes e de alcoólicos, assim como o aparecimento de novos viciados,
dispersão das moléstias sexualmente transmissíveis (inclusive a AIDS) e as
chagas morais, assinalando, densamente, certas almas desavisadas e
imprevidentes.
Não vemos,
por fim, outro caminho que não seja o da “abstinência espontânea dos
folguedos”, do controle das sensações e dos instintos, da canalização das
energias, empregando o tempo de feriado do carnaval para a descoberta de si
mesmo; o entrosamento com os familiares, o aprendizado através de livros e
filmes instrutivos ou pela frequência a reuniões espíritas, eventos
educacionais, culturais ou mesmo o descanso, já que o ritmo frenético do dia a
dia exige, cada vez mais, preparo e estrutura físico-psicológica para os
embates pela sobrevivência.
Referência
bibliográfica:
[1] XAVIER , Francisco Cândido. Sobre o
Carnaval, mensagem ditada pelo Espírito Emmanuel, fonte: Revista Reformador,
Publicação da FEB fevereiro/1987
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