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terça-feira, 3 de setembro de 2019

OS PROBLEMAS DE GÉNERO JÁ CHEGARAM ÀS CASAS-DE- BANHO

Margarida Azevedo
(Portugal)



Só para que fique claro, quem escreve estas linhas, sexualmente démodées, apresenta-se como sendo do sexo feminino desde que nasceu, não é produto de proveta porque na segunda metade do século passado tal coisa ainda não existia, era tudo muito naturalzinho; não tem quaisquer problemas com a sua sexualidade perfeitamente definida; é apreciadora do sexo oposto e está profundamente apaixonada por um dos seus exemplares, que por graça de Deus Nosso Senhor tem a felicidade de ser a pessoa com quem vive; que na sua extrema ignorância e desconhecimento de si própria e do mundo fantástico que por aí existe, gostaria de incongruentemente pedir a Deus que a respectiva relação se prolongasse no lado de lá; que sem interrogações e alaridos não lhe passa pela cabeça mudar de sexo, que mais não fosse só para ver como é, e assim, por tal mercê, agradece ao Poderoso tão maravilhosa ignorância; que desde a escola primária às instituições públicas e privadas sempre que precisa de utilizar os sanitários jamais teve, tem ou terá problemas sobre quais utilizar; em suma, alguém que sem lhe causar quaisquer problemas tem perfeitamente claro qual o sítio por onde faz xixi, e por onde saíu a criança que deu à luz há mais de duas décadas, também ela concebida segundo os mais naturais impulsos da Mãe Natureza, o que significa um orgasmo fecundante e visível nove meses mais tarde. Como se vê,tudo muito corriqueiro.
Assim sendo, e perante as mais recentes preocupações acerca da sexualidade dos nossos alunos, desde a pré-primária à universidade, há a dizer o seguinte:

A educação, que está tão bem, professores e alunos, pais e encarregados de educação não podem estar mais satisfeitos, tudo em maré alta, tem agora um gravíssimo problema entre mãos para resolver,  a saber, como já não há masculino nem feminino, coisa de gente ignorante, mas género, que casas-de-banho construir para a tão rica diversidade humana. No alto da mais fecunda tolerância para com tanto género, é caso para perguntar, que linhas irão traçar os arquitectos para tão díspares instalações? Se calhar nem o engenho e a arte de um Miguel Ângelo dariam conta de tamanha presunção arquitectónica, com vista a tão específica democracia.  Até porque os nus dos artistas de todos os tempos podem estar em desconformidade com o género e, assim, a reflexão artística ver-se-á a braços com mais uma complexidade da perspectiva.

Por outro lado, para construir uma escola, quase haverá tantas casas-de-banho quantas as salas pois o género, e a avaliar pelos espíritos mais enlanguescidos, pode tornar-se infinito, uma vez que as mais singulares expressões do humano no seu melhor, ainda que em número reduzido, têm direito à sua identidade, impondo-se um a milhões de pessoas, se é que esse um existe, é claro.

É claro que, qual cereja em cima do bolo, uma democracia que é capaz de resolver o problema dos xixis e dos cocós é um democracia fecunda e próspera, uma vez que resolveu a fundo os problemas da educação. Percebê-lo é garantir um futuro melhor para o país, quiça para a humanidade inteira.

Mas, reflictamos: como é que dois orifícios tão perfeitamente definidos são responsáveis por tão alta responsabilidade? É fácil. Um dia, no exercício das suas profissões, os nossos trabalhadores lembrarão que devem o seu sucesso, ou não, ao modo como foi tratado o seu género. De tão bem assumido, estarão à altura de o saber aplicar sempre que neccessário. Assim, quando descontentes com chefes e colegas, sem complexos, farão cocó e xixi  para eles, tendo a certeza de que o fazem com o seu género perfeitamente erguido, pois foi para isso que estudaram. Por outras palavras, se as urinas e as fezes se tornaram fundamentais para o bom funcionamento dos estabelecimentos de ensino, elas são, consequentemente, decisivas para o ensino-aprendizagem e, consequentemente, para um bom desempenho profissional, o garante de uma boa cidadania. Que mais podemos desejar?

Por isso é que o Ministério da Educação,  os sindicatos de professores, as associações de estudantes e as associações de pais, o Parlamento e a sociedade civil têm um grave problema sanitário entre mãos para resolver. Quem é que quer que uma rapariga, no seu género, vá à casa-de-banho das raparigas se ela não é do género feminino? Ninguém. Vai à dos rapazes, que são de outro género, o que é mais apropriado. Mas isso também não resolve nada, porque pode dar-se o caso de o género não estar em conformidade. Convém, por isso, que os governantes se decidam quanto antes, não vá dar-se o caso de, no meio de tanta confusão, os alunos acabem por fazer as necessidades pelas pernas abaixo, e ninguém quer os futuros cidadãos de calças molhadas, ou pior, ainda por cima sob pena de serem acusados de falta de respeito para com os colegas de outra facção.

E a propósito, já perfeitamente ciente do seu profissionalismo, um aluno de uma universidade de Lisboa, da licenciatura de Serviço Social e, segundo ele, inspirado num deputado alemão, antes de apresentar um trabalho oral, dirige-se à turma nestes termos:

“- Caros hetero-sexuais, caros homo-sexuais, prezadas lésbicas e bi-sexuais, caros pan-sexuais, caros bi-curiosos, caros poli-sexuais, prezados mono-sexuais, prezados alo-sexuais, caros andro-sexuais, caros gino-sexuais, caros questiono-sexuais, caros assexuais, prezados demi-sexuais, caros cinzento-assexuais, caros perioro-sexuais, caros benditos variocêntricos, prezados hetero-normativos, caros erra-sexuais, caros dois espíritos, caros terceiro género, caros não-género, caros tétris-género, caros cis-género, caros cis-het, caros poli-amorosos…”

Vendo que o aluno nunca mais acabava, a professora reclama:

“Já chega. Agradecia que passasse de imediato à exposição do trabalho porque está a perder demasiado tempo ao dirigir-se aos seus colegas de forma tão minuciosa.”

O aluno, porém, adverte:

“Não, não. Eu não quero ser acusado de discriminação de género. “e continua:

“Prezados mono-amorosos, prezados trans-sexuais, caros trans-espécies, caros trans-géneros, caros queer, caros ally, prezados género-fluídos, caros binários, caros não-binários, caros agéneros ou géneros vazios, prezados bigéneros, prezados poligéneros, caros neutróis, caros inter-géneros, caros aporagéneros, caros mavrique, prezados novigéneros, caros trans-femininos, caros trans-masculinos, caros femme, caros indecisos…”

Não estão cá todos porque são cerca de sessenta. Cabe ao/à Sr./a Leitor/a, como trabalho para casa, e é mera sugestão de quem escreve estas linhas, a pesquisa do que tudo isto significa, em noite de trovoada, substituindo o peçonhento livro de mesa-de-cabeceira.

E asssim se vão desenvolvendo os mecanismos da criação de problemas, inventando desconfortos, ocupando as mentes com pequenos grandes nadas para que  outros vão garantindo a sua cadeira no poder. Criar um problema é grande habilidade. Maior ainda é fazer parar tudo em redor do mesmo, isso só para os ditadores.

Acoplado ao problema segue-se a necessidade de o resolver e esta, movida pela ilusão da expectativa de garantir uma sociedade mais justa, e a felicidade a cada um de per si, move-se como uma marioneta sem se dar conta. Criar um problema é um bom mecanismo para atingir metas: cair governos, subir outros ao poder na condução dos cidadãos a que fins?




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