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quarta-feira, 5 de abril de 2017

Para Roustaing e Ubaldi, o Espírita poderia, e deveria, “comungar” na “eucaristia” católica!

Leonardo Marmo Moreira

J. B. Roustaing e Pietro Ubaldi constituem, na atualidade, obras artificialmente reunidas. Com um objetivo de fortalecer as duas obras para viabilizar as suas respectivas divulgações, sobretudo dentro do movimento espírita, tal reunião, claramente indébita, foi promovida por terceiros. Assim sendo, roustainguistas e/ou ubaldistas buscaram uma espécie de “cisma única”, gerando um tipo de binômio Roustaing-Ubaldi, o qual continua perturbando o movimento espírita no novo milênio.

Roustaing e Ubaldi elaboraram obras bem distintas, mas que têm, de fato, vários aspectos em comum, tais como o fato de serem textos católicos, ou, pelo menos, semicatólicos. Tal afirmativa é amplamente justificada por diversas passagens roustainguistas e ubaldistas. De qualquer forma, podemos citar, além da “queda dos espíritos”, a exaltação que ambos fazem da “eucaristia” católica!

Não satisfeitos em promoverem a eucaristia da Igreja de Roma, é chocante constatar que as duas obras recomendam fortemente que tal ritual seja cultivado por todos (obviamente, o que inclui os espíritas, uma vez que Roustaing define sua obra como “Espiritismo cristão” e Pietro Ubaldi, em meados da década de sessenta, recomenda que sua obra seja adotada pelos espíritas, para que o Espiritismo não ficasse ultrapassado, pois, segundo Ubaldi, a “Doutrina dos Espíritos” estaria estagnada no “nível Kardec” e somente sua obra poderia fazer com que o Espiritismo progredisse). No caso de Roustaing, no entanto, ele convoca específica e explicitamente os espíritas para a ingestão da hóstia.

Vejamos o que diz o texto de Roustaing no livro terceiro tomo de sua obra “Os Quatro Evangelhos” (páginas 403 e 404 da quinta edição):

“...Qualquer que seja a forma, considerai unicamente o fundo. Qualquer que seja a mão que vos ofereça o pão, vede somente a Jesus que vos repete: Fazei isto em minha memória.

Espíritas, que ainda buscais o espírito na forma, que encontrais felicidade em vos aproximardes, por meio de uma comemoração material, daquele que comeu com os discípulos a ceia pascal, simbolizando nesta a lei de amor e de unidade, de fraternidade entre todos, podeis sem temor praticar o ato material sob cuja aparência se oculta um pensamento espiritual...”. (Grifos meus)

Posteriormente, no mesmo texto (na página 404), os autores da obra de Roustaing não se controlam e demonstram todo o catolicismo que os movia, convidando até protestantes para ingerirem a hóstia:

“...Cristãos, quem quer que sejais - romanos, gregos, ou protestantes - praticai o ato material comemorativo, se as exigências do vosso coração ou mesmo os hábitos da vossa infância a isso vos impelem. Mas, não o pratiqueis nunca preocupados com a opinião dos homens. Não transijais com a vossa consciência. Suportai, se for preciso, a censura injusta; porém, sejam puras as vossas ações, ditem-nas a verdade e o amor. Para trás, para trás o covarde, que mais valor dá à consideração dos homens do que à tranquilidade da sua consciência, que mais teme a censura dos homens do que a da sua própria consciência! ” (Grifos meus)

Vejamos o que Ubaldi, eleito pelos roustainguistas sucessor e continuador do suposto “renovador” do Espiritismo, J. B. Roustaing, comenta sobre o tema.

Pietro Ubaldi,, em “Ascensões Humanas”, no capítulo IX - “Comunhão Espiritual”, assevera contundentemente:: “...Aproximar-nos-emos, assim, paulatinamente, da visão da Eucaristia, da percepção do seu verdadeiro conteúdo e significado. Abriremos, desta forma, pouco a pouco, as vias à comunhão espiritual com o Cristo, que então a nós se dá nesse momento”. Subsequentemente, Ubaldi afirmará: “...faltando a sensibilidade necessária para a percepção, para a admissão de um fato que está além da razão, como seja o da presença de Cristo na eucaristia, não há outra via que a da fé” (grifos meus).

Realmente, trata-se de algo “além da razão”, ou melhor dizendo, “além da fé verdadeiramente raciocinada”, que é o que preconiza e representa o Espiritismo codificado por Allan Kardec.

Ubaldi utiliza da velha tática de, não tendo argumentos razoáveis, chamar os outros de ignorantes ou insensíveis, chegando a demonstrar o seu fanatismo católico no citado capítulo IX, “Comunhão Espiritual” da referida obra, ao registrar: “...Quem não estiver amadurecido não pode compreender e deve preocupar-se com outra coisa. Para estes a Eucaristia é verdadeiramente um mysterium fidei, algo de incompreensível que se pode avizinhar só com: “credo quia absurdum”. É questão de evolução e relativa sensibilização”. (Grifos meus)

O irônico é que até para os próprios católicos praticantes, a eucaristia realmente constitui um “mistério” em termos de dogma de fé.

Ora, a eucaristia, enquanto dogma católico e ritual central da missa, associada à ideia falsa e fanática da “transubstanciação”, é questionada até mesmo por muitos pensadores católicos. Seria o caso de questionarmos o que os livros de tais autores estão fazendo em alguns núcleos do movimento espírita. E, o que é pior, o que instituições, ditas espíritas, e até entidades líderes do movimento espírita, querem, de fato, ao divulgar ferozmente tais autores?! Muitas dessas instituições, infelizmente, mantêm “reuniões semanais” para estudar esses textos do espiritualismo romano. Será que Kardec, Delanne, Denis, Chico Xavier, Yvonne Pereira, e Divaldo Franco, entre outros, não seriam autores mais interessantes para um centro espírita?!

Em certo sentido, isso explica, pelo menos parcialmente, porque um processo sincrético popularmente conhecido como “espiritolicismo” tem sido observado em muitas casas espíritas do movimento espírita brasileiro.


Herculano Pires em sua notável obra “O Centro Espírita” já denunciava o “igrejismo” que tomava conta do movimento espírita àquela época. Considerando que o professor Herculano desencarnou no início de 1979, seria o caso de perguntarmos a nós mesmos: O que será que o “metro que melhor mediu Kardec” acha do desenvolvimento do movimento espírita brasileiro e mundial nesses quase quarenta anos? Estaríamos em melhor situação? Estaríamos estagnados? Ou, enquanto movimento, estamos em situação mais periclitante do que a própria estagnação?!

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