Tags: Eunice Weaver, Reynaldo Leite, vidência, aborto e Hanseníase.
Chegou um grupo. Ao perguntarem quem rogaria ao Pai, antes do passe, o amigo enfermo se ofereceu. Sentados com ele na cama ouvimos sua prece, que emocionou a todos.
Marcondinho agradeceu a Deus, justo e bom, pelo dom da vida, à mãe pela oportunidade da reencarnação e as Entidades Venerandas, que nos legaram a Codificação da Doutrina Espírita.
Ele aprendera a amar a Religião dos Espíritos, no Centro Espírita Filhos de Deus, a “Casa do Caminho”, no antigo leprosário do Curupaiti. Ali, havia adquirido resistência moral contra as dores. (1)
Se sua mãe soubesse que a Hanseníase o deixaria cego, com braços e pernas atrofiados, numa cadeira de rodas, talvez fizesse a opção pelo aborto. (2)
Marcondes trabalhou na reunião mediúnica e foi pessoa admirável, poderosa, depois que encontrou a vida, a verdade e o caminho.
No passado distante, havia um programa no rádio chamado “Boa Noite Para Você”.
Com melodia de fundo, ouvíamos a voz de um “Cesar Ladeira” (3), narrando fatos que orientaram a escolha da personalidade então homenageada.
Eunice Weaver, “Boa Noite Para Você”.
Eunice Sousa Gabi Weaver nasceu em São Manoel, interior de São Paulo, em 19 de setembro de 1902. Filha de Henrique Gabbi, carpinteiro, natural da província de Reggio Emilia, Itália e de Leopoldina Gabbi, natural de Piracicaba/SP.
Ainda menina veio para Uruguaiana, RS, tendo estudado no Colégio Metodista União, quando era reitor Charles Anderson Weaver. Mais tarde, estudou no Colégio Piracicabano, em Piracicaba, São Paulo. Também estudou na Argentina e nos Estados Unidos.
A revista seleções, matéria sobre vida e obra, denominou-a “Anjo dos Leprosos”.
O reitor Charles Weaver ficou viúvo, depois de ter deixado a direção do colégio e casou-se com Eunice. Graças aos seus esforços, criou-se a Sociedade de Assistência aos Lázaros e Defesa Contra a Lepra, cuja Federação ela presidiu. Liderou campanhas em todo o Brasil, multiplicando-se os preventórios para abrigar filhos dos hansenianos.
Recebeu o título de cidadã benemérita do Rio de Janeiro, de Minas Gerais e Bahia e o de cidadã honorária de dezoito cidades brasileiras.
Em Uruguaiana teve seu nome colocado em uma travessa de rua, num dos bairros da cidade. Foi fundadora do Instituto Brasil Estados Unidos e membro de seu Conselho Deliberativo. Assessora do Dr. Miguel Couto, quando Ministro da Saúde. Integrou a primeira diretoria da Campanha Nacional da Criança. Fez parte da delegação brasileira na Oitava Conferência Pan-Americana da Criança, em Washington, em 1942. Representou o Brasil em congressos internacionais de Leprologia que se realizaram em Havana, Cairo, Madri, Tóquio e Rio de Janeiro. A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos prestou-lhe homenagem através de selo comemorativo, durante a Semana da Lepra, de 1971.
Eunice Weaver, 1902-1969 ( 4). E pensar que essa trajetória teve o seu momento mágico depois do desaparecimento inexplicável de uma amiga, Rosita, que, mais tarde, foi encontrada por Eunice na passagem de uma caravana de leprosos, que esmolavam pela estrada. Isso fez com que ela decidisse dedicar sua vida a esses “desvalidos da sorte” e muito especialmente aos seus filhos que nasciam sadios.
Muitos deles foram posteriormente encontrados, exercendo profissões que exigiam exames de saúde extremamente rigorosos.
Eunice escreveu a mensagem “Marcados na Alma”(5) através da mediunidade de Divaldo P. Franco. Dela retiramos alguns trechos.
“Sempre o preconceito — esse filho espiritual da ignorância e do obscurantismo — ditando as normas infelizes da vida e levantando obstáculos ao progresso, ao soerguimento da criatura que sai da sombra no rumo da luz.”
“De um lado, as excelentes aquisições do pensamento hodieno e das investigações felizes em todos os campos do saber (...). Doutro lado, a intolerância mal disfarçada, decorrente do preconceito de raça, de posição econômica, de casta, de religião estabelecendo conflitos, litígios e contendas infindáveis que, não raro, se transformam em perseguição infame aos que lhe padecem o talante (...)” “O preconceito sempre levanta o mapa negativo das almas e atira em rosto a evocação do momento infeliz de quem iniciou, ou transitou pela existência planetária, com maus momentos, instantes-experiências de dor...”
“A presença, todavia, mais danosa do preconceito é diante dos egressos das Colônias de Hanseníase ou simplesmente perante os liberados do “mal de Hansen”. Marcados no corpo, não raro, por mutilações muito dolorosas, o preconceito marca-lhes, a fogo, a alma, indelevelmente, negando-lhes oportunidade de serem úteis na sociedade. Recuperados, formam colôniàs isoladas, como se fossem párias, ou devessem experimentar punição por se haverem liberado do compromisso cármico com que as Soberanas Leis os convocou à felicidade em vigoroso resgate, isto porque são sumariamente desprezados pelos chamados “sadios” da sociedade humana.”
“Olhados a medo, interrogados com indiscrição, examinados como avis rara veem-se constrangidos ao retomo hospitalar ou à periferia das cidades, nas circunvizinhanças da Colônia de Saúde donde saíram clinicamente curados.”
“Marcados, esses irmãos constituem convite à compreensão humana.”
Marcondinho, desencarnado, foi descrito como espírito deformado, por um médium não menos admirável e poderoso. Para os dois:“Boa Noite Para Vocês”.
Tudo se passou num estúdio de gravação para um programa de TV.
Sentados à mesa, o entrevistador, profissional de TV experimentado, Reynaldo e eu. A pauta era o aborto. Creio que ali estava pela minha luta no NEU, em favor da vida intrauterina.
As luzes ofuscantes ainda não estavam acesas, embora tudo já preparado.
Antes, deixem-me situá-los no problema.
Minha mulher passou por um aborto espontâneo. O que nos deixou marcados na alma. Tivemos que fazer opção diante de um surto de rubéola. Dois partos anteriores nos deram filhas normais. Mas, com o vírus da rubéola o papo é outro!
Decidimos confiar na Providência Divina e deixamos a gravidez prosseguir seu curso natural.
Ao mesmo tempo, com auxílio de uma colega da UFRJ, realizamos exames laboratoriais com o soro da gestante.
Chegamos à conclusão que era imunologicamente competente, mas havia a possibilidade do vírus romper a barreira de defesa. Diante da explicação, minha mulher seguiu confiante, mas o neném desistiu.
Afinal, poderia ter outra chance, pois nós queríamos outros filhos. As duas experiências anteriores eram gratificantes, Mas, o psicológico deve ter exercido forte pressão contrária. Os anos passavam sem qualquer sinal, mesmo sem anticoncepcional.
Um dia, fomos à Bahia e uma mensagem de Bezerra pediu aos espíritas que aceitassem ou adotassem filhos. A fila da reencarnação era grande. Imaginei algo como a do auxílio desemprego na atualidade.
Uma amiga, depois de Bezerra, teve quatro. Nós fomos mais modestos e recebemos dois. Uma outra, de Santa Catarina e que já tinha muitos, acabou fazendo adoção em massa. Foi colaborar num “orfanato”.
Cuidado leitora não vá se descuidar!
Retornemos.
Quando o representante da TV me telefonou pedi para ligar no dia seguinte. Procurei saída honrosa dizendo que necessitava estudar a agenda e as aulas marcadas na universidade.
Levantei-me cedo, decidido a dizer não. Afinal, poderiam usar o Plano B. A pauta não me agradava. Sentia-me de saia justa e sapatos apertados. Estava só, quando a voz da “consciência” falou-me dentro do cérebro: “Está com medo do tema complicado?”
Parecia a voz do Marcondinho. Seus lábios retorcidos pela doença ofereciam um som característico, mesmo depois de morto?
Quem não tem medo de falar em público? Imagine na TV! “Estou fora!”
Mentalmente respondi que não me sentia confortável para falar de um tema como aquele. A voz me desafiou a ir gravar o programa e ainda a abrir um espaço para dizer que “Hanseníase Tinha Cura.”
Senti-me paciente psiquiátrico, não sou médium ostensivo. Mas, depois do surto psicótico, como dizer não?
As luzes não estavam acesas, mas tudo estava preparado.
Quando nos informaram que ia começar, Reynaldo disse que sim, mas não sem antes relatar uma vidência.
Fiquei pasmo!
Reynaldo, o doutor médium, disse:
Formiga, um espírito, que diz ser seu amigo, me pediu para lhe dar um recado.
Disse que vai identificá-lo facilmente. Surgiu ali na entrada, mas veio rolando pelo chão, apresentando-se com pernas e braços muito atrofiados.
Postou-se a seu lado e disse que “estaria junto”. Em seguida, exibindo radical transformação, pediu-me para descrever-lhe na forma que se encontra no mundo espiritual. Aí surgiu um belo espírito de luz. Formiga, você o conhece?
Marcondes me explicava porque “surtei”.
Recentemente, um médico espírita me perguntou se tinha notícias de nossos amigos lá da colônia de hansenianos.
Resolvi oferecer resposta pública. Como guardar isso só para nós?
Devido ao compromisso de horário na TV, e tomado de forte emoção, só pude responder com um lacônico, sim. Sim, eu o conhecia.
Depois desse relato, poderei receber endereços de consultórios de médicos psiquiatras. Fiquem tranquilos, pois recentemente participei de uma mesa redonda com três deles na UFRJ.
Não poderia contar tudo isso ao médium, naquela ocasião. Por isso fui lacônico. Afinal, quem precisava de provas da minha loucura, era eu. No entanto, o médium era mais doido do que eu! Vejam sua biografia resumida. (6)
O programa foi bom, mas lamentei que o fato tivesse ficado apenas entre nós.
“Hanseníase tem Cura”. Fiz o “meu comercial” e, em seguida, fiquei livre do surto psicótico.
Será que a mãe do Marcondinho se soubesse de seu futuro na carne prosseguiria com a gestação? Afinal, ninguém quer ter um filho com problemas!
Dr. Reynaldo Leite morreu em 11 de maio de 2004, mas nos deixou uma palestra sobre esse instigante tema. (7)
Reynaldo deixou três filhos e dois netos. Dedicava-se à Doutrina Espírita trabalhando por sua divulgação em Programas de Rádio, TV e fazendo palestras, por todo o Brasil.
Psicografou livros tendo sido um deles vertido para o Inglês.
Em São Paulo, SP, durante 37 anos foi um dos trabalhadores do Núcleo Assistencial Espírita Paz e Amor em Jesus e um dos seus fundadores.
Viajou aos Estados Unidos (Miami e New York) , Suécia (Estolcomo e Västeräs), Noruega (Oslo), França (Paris e Choisy de la Roy), Portugal (Lisboa e Sintra), Espanha (Madrid), Inglaterra (Londres), Peru (Lima e Arequipa), Japão (Tókio e Gumma-ken), Canadá (Montreal), figurando como orador no Congresso Mundial de Espiritismo sediado em Portugal (Lisboa). No ano 2000 esteve em Cuba.
Participou durante seis anos do programa “Evoluir”, na Rádio Boa Nova. AM 1450; na Rádio Mundial, programa “Arautos e Você”; no canal Comunitário de São Paulo, programa “Espiritismo com Reynaldo Leite”. Produziu 92 cds e 200 palestras em vídeo.
Inaugurou no dia 31 de janeiro 2004 a sede própria da Sociedade Civil Arautos do Espiritismo, na rua Fernandes Pinheiros,298, Tatuapé, São Paulo- SP, instituição fundada em 9 de março de 1933.
Admiráveis são todos os espíritos nobres e retos que militam com grandeza na Causa do Bem.
Entretanto, não menos admiráveis são todos aqueles que se reconhecem frágeis e imperfeitos, caindo e erguendo-se, muitas vezes, nas trilhas da existência, sob críticas e censuras, mas sempre resistindo à tentação do desânimo, sem desistirem de trabalhar. (8)
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