Com a eclosão dos modernos fenómenos
espíritas em Hydesville, nos
Estados Unidos, pela mediunidade das
irmãs Fox (
1848), em pouco tempo estes se propagaram à
Europa onde, na
França, as chamadas "
mesas girantes" se tornaram um modismo popular. Neste país, esse tipo de fenómeno, em
1855, despertou a atenção do pedagogo
Hippolyte Léon Denizard Rivail.
1 Como resultado de sua pesquisa, publicou a primeira edição de "
O Livro dos Espíritos(
Paris,
1857), sob o pseudónimo de "
Allan Kardec".
No
Brasil, as ideias que darão origem ao espiritismo remontam às primeiras experiências com o chamado "fluido vital" (magnetismo animal,
mesmerismo) por parte dos praticantes da
homeopatia, nomeadamente os médicos
Benoît Jules Mure, natural de França, e
João Vicente Martins, de
Portugal, que chegaram ao país em
1840 e o aplicavam em seus clientes.
2 Entre as personalidades que se interessaram pelo estudo do "fluido vital" destacam-se
José Bonifácio de Andrada e Silva, o patriarca da Independência, também cultor da homeopatia, e
Mariano José Pereira da Fonseca(
Marquês de Maricá), que, em
1844, publicou uma obra com ensinamentos de fundo espírita.
3 O grupo mais antigo desses estudiosos e praticantes constituiu-se no
Rio de Janeiro, então capital do
Império do Brasil, em torno da figura do médico e historiador
Alexandre José de Mello Moraes,
4 sendo integrado por
Pedro de Araújo Lima (
Marquês de Olinda),
Bernardo José da Gama (
Visconde de Goiana),
José Cesário de Miranda Ribeiro (
Visconde de Uberaba) e outros vultos do
Segundo Reinado.
Uma história do espiritismo no Brasil pode ser dividida em três grandes etapas:
Nas páginas da
Revue Spirite, sob o título "
O Espiritismo no Brasil", Kardec informou aos seus leitores que o periódico "
Diário da Bahia" em suas edições de
26 e
27 de setembro de
1865, trouxera dois artigos, tradução em língua portuguesa dos que haviam sido publicados, seis anos antes, pelo Dr.
Amédée Dechambre (1812-1886), coordenador de publicação do "
Dictionnaire encyclopédique des sciences médicales". Os artigos eram transcrições da "
Gazette Médicale", onde aquele médico fizera uma exposição semiburlesca do assunto, referindo, por exemplo, que o fenômeno das mesas girantes e falantes já havia sido referido pelo poeta grego
Teócrito (300-250 a.C.), pelo que concluía que, não sendo novo esse fenômeno, não tinha nenhum fundo de realidade.
"
Lamentamos que a erudição do Sr. Déchambre" - comentou Kardec -, "
não lhe tenha permitido ir mais longe, porque teria encontrado o fenômeno no antigo Egito e nas Índias." (Op. cit., v. VIII, p. 334-335). Os próprios espíritas da Bahia refutaram imediatamente esses artigos no próprio "Diário da Bahia", na edição de
28 de setembro. A carta que antecedeu a refutação, dirigida à redação da folha baiana e assinada por Teles de Menezes,
José Álvarez do Amaral e
Joaquim Carneiro de Campos, leva a supor que o referido jornal só publicara o trabalho do Dr. Déchambre por julgar houvesse nele uma apreciação exata da
Doutrina Espírita.
A refutação consistiu num extenso extrato da introdução de "
O Livro dos Espíritos", o que levou Kardec a afirmar: "
As citações textuais das obras espíritas são, com efeito, a melhor refutação às desfigurações que certos críticos fazem sofrer a Doutrina." (Op. cit., p. 336. Apud Zêus Vantuil e Francisco Thiesen.
Allan Kardec - Pesquisa Bibliográfica e Ensaios de Interpretação. Rio de Janeiro: FEB.)
Em julho de
1869, em Salvador, iniciou-se a publicação da revista "
O Écho d'Alêm-Tumulo", sob a direção de Teles de Menezes.
Mais tarde, em novembro de
1873, fundou-se em Salvador a
Associação Espírita Brasileira, continuação do "Grupo Familiar do Espiritismo" e, no ano seguinte (
1874), na mesma cidade, alguns membros dessa Associação fundaram o "Grupo Santa Teresa de Jesus".
Em 1860, o professor Casimir Lieutaud, fundador e diretor do Colégio Francês no Rio de Janeiro, publicou a tradução, emlíngua portuguesa, das obras "Os tempos são chegados" (""Les Temps sont arrivés") e "O Espiritismo na sua mais simples expressão" ("Le Spiritisme à sa plus simple expression").9 10Na cidade do Rio de Janeiro, então capital do Império do Brasil, as primeiras sessões espíritas foram realizadas por franceses, muitos deles exilados políticos do regime de Napoleão III de França (1852-1870), na década de 1860. Alguns desses pioneiros foram o jornalista Adolphe Hubert, editor do periódico "Courrier do Brésil", o professor Casimir Lieutaud, e a médium psicógrafa, Madame Perret Collard.8
No mesmo período, o
Jornal do Commercio, tradicional periódico da então capital brasileira, em artigo publicado em
23 de setembro de
1863 na seção "Crónicas de Paris", abordou os espetáculos acerca dos espíritos então populares nos teatros de Paris e, em seguida, passava a tecer comentários em torno do Espiritismo. Esse artigo é citado pela "
Revue Spirite", onde Kardec comenta que o autor do artigo não se aprofundou no estudo do Espiritismo, de cuja parte teórica ignorava os processos. Elogia-lhe, porém, o comportamento sensato diante dos fatos, para a explicação dos quais não levantara teorias temerárias. "
Pelo menos" - referiu Kardec - "
ele não julga pelo que não sabe."
11 E complementa:
- "Verificamos, com satisfação que a ideia espírita faz progressos sensíveis no Rio de Janeiro, onde ela conta com numerosos representantes, fervorosos e devotados. A pequena brochura "Le Spiritisme à sa plus simple expression", publicada em língua portuguesa, contribuiu, não pouco, para ali espalhar os verdadeiros princípios da Doutrina."
Nesta capital, a primeira instituição espírita a ser fundada foi a
Sociedade de Estudos Espiríticos - Grupo Confúcio, em
1873. Conforme previsto em seus estatutos, devia seguir os princípios e as formalidades expostos em
O Livro dos Espíritose em
O Livro dos Médiuns, de
Allan Kardec. As suas atividades incluíam ainda o receituário gratuito de
homeopatia e a aplicação de
passes aos necessitados. A sua maior virtude, entretanto, foi a de promover a tradução das obras básicas de Kardec para a
língua portuguesa. A reação na imprensa da época expressa-se, por exemplo, num comentário veiculado nas páginas do
Jornal do Commercio, acusando o Espiritismo de fabricar "loucos" e pedindo a interferência da polícia, concluindo: "
É uma epidemia mais perigosa que a febre amarela..." (Jornal do Commercio, 13 de dezembro de 1874)
Divergências ideológicas entre os que preconizavam um
espiritismo "científico" e outros que sustentavam um espiritismo "místico",
12 entretanto, conduzirão a dissidências da Sociedade de Estudos. Inicialmente, em
1877 um grupo se separou para constituir a
Congregação Espírita Anjo Ismael (
20 de maio). No ano seguinte (
1878), outro grupo constituiu o
Grupo Espírita Caridade (
8 de junho). Ambos tiveram efêmera duração, estando desaparecidos já em
1879. Nesse mesmo ano, a Sociedade de Estudos deu lugar à
Sociedade Acadêmica Deus, Cristo e Caridade (
3 de outubro de 1879), atendendo à orientação do grupo "cientificista", contrário ao caráter religioso da Doutrina. Em consequência, um último grupo, sob a liderança do médium
João Gonçalves do Nascimento, de acordo com a tradição sob a inspiração do próprio
espírito Ismael, constituiu uma nova agremiação que se denominou
Grupo Espírita Fraternidade (
1880).
Ainda nesse contexto,
Antônio Luís Sayão que debalde tentara conciliar a "Sociedade Acadêmica Deus, Cristo e Caridade" com o "Grupo Espírita Fraternidade", fundou, com
Frederico Pereira Júnior, João Gonçalves do Nascimento,
Francisco Leite de Bittencourt Sampaio e outros, o chamado "
Grupo dos Humildes", popularmente conhecido como "Grupo do Sayão" (
15 de julho de 1880). Este grupo, numa primeira fase, que durou cerca de um ano, realizou proveitosas reuniões. Mais tarde o grupo veio a chamar-se "Grupo Ismael", vindo a integrar-se na
Federação Espírita Brasileira, onde existe até aos nossos dias
13
Sobre esse conturbado momento, referiu o pesquisador Pedro Richard:
- "Por essa época ocorreu um fato bem significativo: Os espíritas, ou por discordância de idéias, ou por criminosa pretensão, criaram considerável número de grupos, cujos membros, em sua maioria, desconheciam os preceitos mais rudimentares da Doutrina. Qualquer espírita formava um grupo, só para satisfazer a vaidade de dar-lhe por título um nome que ele venerava. De grupos produtivos apenas se contavam alguns, em número por demais reduzido."
No ano seguinte (
1881), como um desdobramento do "Grupo Fraternidade" foi fundado o
Grupo Espírita Humildade e Fraternidade, com apoio de
Francisco Raimundo Ewerton Quadros, que viria a ser, anos mais tarde, um dos fundadores da FEB e seu primeiro presidente (
7 de junho). O ano foi marcado, entretanto, pelo início da perseguição oficial ao Espiritismo (
28 de agosto). Os periódicos cariocas
O Cruzeiro e
Jornal do Commercio, anunciaram em suas páginas, em furo de reportagem, a ordem policial que proibiu o funcionamento da "Sociedade Acadêmica Deus, Cristo e Caridade" e dos centros que lhe eram filiados, tornando passíveis de sanções penais os espíritas que contrariassem as disposições policiais. Nesse mesmo dia, a Sociedade reuniu-se em sessão extraordinária, a fim de tomar providências defensivas, caso a referida noticia fosse confirmada. Ainda nesse mesmo dia, a Diretoria da Sociedade Acadêmica compareceu perante o Ministro da Justiça, que a recebeu com muita cordialidade, declarando que deveria ter havido algum equivoco, e que não consentiria na perseguição de ninguém.
Entretanto, no dia
30 de agosto, um Oficial de Justiça apresentou à Sociedade Acadêmica a contra-fé do mandado de intimação do 2º Delegado de Polícia do Município da Corte, mandado que suspendia e vedava as reuniões da dita Sociedade, alegando que ela não se achava legalmente constituída. De imediato, a Diretoria da Sociedade Acadêmica expediu ofícios ao Chefe de Polícia e ao Ministro da Justiça, Conselheiro
Manuel Pinto de Souza Dantas, demonstrando a arbitrariedade daquela medida. Uma comissão, da qual faziam parte o Dr.
Antônio Pinheiro Guedes,
Carlos Joaquim de Lima e Cirne e o Dr.
Joaquim Carlos Travassos, entrou em contato com o Chefe de Policia, que, apesar de a ter recebido com amabilidade, nada resolveu, dando a entender que a ordem vinha de autoridade superior.
É nesse contexto que, no dia
6 de setembro de
1881, teve lugar o primeiro Congresso Espírita no Brasil, promovido pela Sociedade Acadêmica.
14 No mesmo dia, uma comissão de espíritas foi recebida pelo Imperador
Pedro II do Brasil, a quem entregou em mãos um documento com minuciosa exposição dos fatos e o pedido de que se fizesse justiça. O Imperador, na ocasião também terá afirmado: "
Eu não consinto em perseguição". Duas semanas depois, a 21, a mesma comissão retornou ao palácio a fim de conhecer da resposta às considerações emitidas na exposição que fora entregue ao Imperador. Este afirmou que enviara os papéis ao Ministro do Império para dar solução ao caso, e tornou a afirmar, com certo ar de graça: "
Ninguém os perseguirá. Mas...não queiram agora ser mártires."
Embora a ordem policial jamais tenha oficialmente revogada, também não teve prosseguimento. Finalmente, em Ofício de
10 de janeiro de
1882, dirigido a S.M. D. Pedro de Alcântara, Imperador do Brasil, a Diretoria da Sociedade Acadêmica manifestou o seu jubilo "
pelo começo da tolerância" em relação àquela Sociedade, "
sinal evidente de que estão terminadas as perseguições encetadas contra o Espiritismo e os espíritas".
Essa primeira ação policial contra o Espiritismo, teve como fruto a fundação, no Rio de Janeiro, em setembro ou outubro de 1881, do
Grupo Espírita Vinte e Oito de Agosto, data que os espíritas da época quiseram fixar para a posteridade.
Em consequência do Congresso Espírita, veio a ser fundado, a
3 de outubro do mesmo ano, na "Sociedade Acadêmica", o
Centro da União Espírita do Brasil, pelo professor
Afonso Angeli Torteroli. A novel instituição tinha a proposta de congregar e orientar as sociedades espíritas a nível nacional.
15 Entre os seus associados contava-se o nome de Lima e Cirne. Esta Sociedade lançou, em Janeiro de 1881 uma revista, o segundo periódico espírita no Rio de Janeiro, tendo nele colaborado o Major Ewerton Castro.
Para marcar o primeiro aniversário da notícia sobre a repressão aos espíritas, foi aberta, a
28 de agosto de
1882, a I Exposição Espírita do Brasil, na sede da Sociedade Acadêmica, à Rua da Alfândega nº 120 sobrado. O programa comemorativo, organizado pela própria Sociedade, intitulava-se "Festa do Espiritismo no Brasil" e estendeu-se até
3 de setembro. Os seus visitantes tiveram a oportunidade de apreciar variados trabalhos mediúnicos, como
psicografias em caracteres normais,
taquigráficos e
telegráficos, em línguas estrangeiras (até orientais),
psicopictografias, cópias da correspondência da Sociedade Acadêmica com associações espíritas estrangeiras, jornais e revistas espíritas da Europa e da América, obras espíritas diversas, retratos de vultos do Espiritismo de vários países e, também livros e jornais contrários à Doutrina. Na ocasião foi lançado ainda o jornal "
O Renovador", pelo Major
Salustiano José Monteiro de Barros e pelo Prof. Afonso Angeli Torteroli. Poucos meses depois, surgiria o "
Reformador", sob a direção de
Augusto Elias da Silva (
21 de janeiro de
1883). Para a ideia da publicação deste último pesou a Carta Pastoral combatendo o espiritismo, publicada em 1882 pelo bispo do Rio de Janeiro, que motivou respostas por parte do médico
Antônio Pinheiro Guedes.
Será Elias da Silva quem promoverá, ao final desse ano (
27 de dezembro de 1883)
16 , em sua própria residência, a reunião preparatória de rearticulação do movimento no Município da Corte, dada a manifesta incompreensão entre os componentes das diversas entidades espíritas então aí existentes:
17 o "Centro da União Espírita do Brasil", o "Grupo dos Humildes", o "Grupo Espírita Fraternidade" e a "Sociedade Acadêmica Deus, Cristo e Caridade". Como fruto desse entendimento, será fundada, a
1 de janeiro de
1884, a
Federação Espírita Brasileira, considerada como a "Casa de Ismael", com o objetivo de federar todos os grupos através de "
um programa equilibrado ou misto" e que difundisse por todos os meios o Espiritismo, principalmente pela
imprensa e pelo
livro.
18 19
A
17 de agosto de
1885, em uma sala na rua da Alfândega, a FEB inaugurou o ciclo de conferências públicas que se destacará, tendo entre os seus oradores os nomes de Elias da Silva, Bittencourt Sampaio e outros pioneiros do Espiritismo no país. O aumento do afluxo de público fará com que essas palestras se transfiram para o Salão da Guarda Velha (na rua de igual nome, atual Av. 13 de Maio) onde, a
16 de agosto de
1886, o Dr.
Adolfo Bezerra de Menezes proclamará publicamente as suas convicções espíritas diante de mais de mil pessoas (1.500 ou duas mil, conforme as fontes).
Nos agitados dias que se estenderão da Abolição da Escravatura no Brasil (1888) até à proclamação da República (1889), destacam-se:
- a série de artigos sobre a Doutrina Espírita publicada em O Paiz, periódico de maior circulação da época.nb 1 Com o nome de "Estudos Filosóficos - Espiritismo", os artigos saíram regularmente aos domingos, no período de 23 de outubro de 1887 a dezembro de 1893, assinados sob o pseudónimo "Max".
- a mensagem do espírito de Allan Kardec no "Grupo Espírita Fraternidade", conclamando os espíritas à harmonia (1888); e
- a decisão de Bezerra de Menezes - que por meio de artigos e conselhos pregava a necessidade de maior compreensão entre os espíritas - depois de muito instado, assumir a direção da FEB, sucedendo a Ewerton Quadros, que a administrara de 1884 a 1888, e que, como militar, fora transferido para a então Província de Goiás.
- a visita do médium de efeitos físicos estadunidense Henry Slade (1835-1905) ao Brasil.20
É neste momento que se reorganiza e instala nas dependências da FEB o Centro da União Espírita do Brasil em sua segunda fase, com Bezerra de Menezes como presidente e, depois, Elias da Silva (
1893)
nb 2 . Foi ainda Bezerra de Menezes quem incorporou à FEB o "Grupo dos Humildes", depois denominado "Grupo Ismael". Após a
proclamação da República, o Grupo Espírita Fraternidade incorporar-se-à, por sua vez também, à FEB.
Entretanto, estando o país ainda sem uma Constituição, o Decreto nº 847, de
11 de outubro de
1890, promulgou o
Código Penal da República. Este diploma, de inspiração
positivista, associava a prática do Espiritismo a rituais de
magia e
curandeirismo, conforme expresso em seu Artigo 157, que rezava:
- "É crime praticar o Espiritismo, a magia e seus sortilégios, usar de talismãs e cartomancias, para despertar sentimentos de ódio ou amor, inculcar cura de moléstias curáveis ou incuráveis, enfim, para fascinar e subjugar a credulidade pública. Pena: prisão celular de 1 a 6 meses e multa de 100$000 a 500$000."
Os espíritas protestaram junto a
Campos Sales, então Ministro da Justiça, sem sucesso. O relator do Código,
João Batista Pinheiro, limitou-se a afirmar que o texto referia-se à prática do chamado "baixo Espiritismo". Em
22 de dezembro de
1890, Bezerra de Menezes, enquanto presidente do "Centro da União Espírita do Brasil", oficiou ao Presidente da República, Marechal
Deodoro da Fonseca, acerca do novo Código Penal.
Preocupado com possíveis focos de resistência ao regime, o Governo autorizou a polícia a invadir reuniões e residências à procura de opositores. Como consequência, em
1891, na cidade do Rio de Janeiro, vários espíritas chegaram a ser detidos. Perseguidos e proibidos de se reunirem, os poucos centros espíritas então existentes viram-se na contingência de fecharem as suas portas, a fim de que não incorressem nas penas da Lei. A própria FEB foi obrigada a suspender a publicação de sua revista, o "Reformador" neste momento. Será nesse contexto, entretanto, que Bezerra de Menezes funda o
Grupo Espírita Regeneração (
18 de fevereiro de
1891), a "Casa dos Benefícios"
nb 3 .
Em
1893, no auge da segunda
Revolta da Armada, o Governo endureceu ainda mais o regime. Os espíritas apresentaram um novo protesto ao
Congresso Nacional contra o Código Penal, uma vez mais em vão, de vez que a comissão revisora do Código não atendeu às reivindicações formuladas por aqueles. Vitimado por dificuldades externas e internas, o
Reformador deixou de circular no último trimestre daquele ano. O "Grupo Espírita Fraternidade", após ter alterado os seus estatutos passando a denominar-se "Sociedade Psicológica Fraternidade",
Revolta da Armada, extinguiu-se, e, no
Natal desse mesmo ano, Bezerra de Menezes encerrou a série "Estudos Filosóficos" que vinha publicando no
O Paiz.
No ano seguinte (
1894), com o abrandamento da situação política, Augusto Elias, em conjunto com Fernandes Figueira e Alfredo Pereira, inicia uma campanha financeira para subsidiar os projetos da FEB. O Reformador voltou a circular.
Os historiadores do movimento registam que, à época, vivia-se uma cisão ideológico-doutrinária entre os chamados "laicos" ou "científicos", representados pelo Prof. Angeli Torteroli, que defendiam o aspecto científico do espiritismo; e os "místicos", pelo Dr. Bezerra de Menezes, que defendiam o aspecto religioso. Desse modo, em
4 de abril de
1894 o "Centro da União Espírita" muda o seu nome para
Centro da União Espírita de Propaganda no Brasil, sob a direção do Prof. Angeli Torteroli, com sede à Rua Silva Jardim nº 9. À sua Diretoria pertenciam nomes como os de
Júlio César Lealnb 4 e Bezerra de Menezes, que dela se retirou em
1896, diante da campanha de insultos pessoais que contra ele se desencadeara, por ser considerado um místico, que não se dava ao trabalho de raciocinar.
nb 5 .
Diante da renúncia de Júlio César Leal à presidência da FEB, após sete meses no cargo, devido à profunda crise administrativo-financeira e ideológica vivida pela instituição, Bezerra de Menezes, a
3 de agosto de
1895, aceita assumir mais uma vez o cargo. No exercício de suas funções, imprimiu orientação evangélica aos trabalhos da instituição, permaneceu no cargo até vir a falecer, em
1900.
Em 1904 já circulavam no país nada menos que 19 periódicos dedicados ao espiritismo.23Nesse interím, em 28 de agosto de 1897 o "Centro da União Espírita de Propagada do Brasil" reúne-se em "Congresso Espírita Permanente", homenageando a "Sociedade Acadêmica Deus, Cristo e Caridade", objeto de tentativa de perseguição aos espíritas em 1881. Todavia, o "Centro" desaparece no mesmo período do Congresso.
Em
15 de abril de
1905 a sede da FEB, então à rua do Rosário 97, no centro histórico da cidade, foi visitada por funcionários da Diretoria Geral de Saúde Pública, que lavraram autos de infração contra o médium Dr.
Domingos de Barros Lima Filgueiras, por exercício ilegal da
Medicina. No processo, aberto contra o então presidente da FEB -
Leopoldo Cirne - e o médium Domingos Filgueiras, ambos foram absolvidos.
A nova sede da FEB, na Rua do Sacramento (atual Avenida Passos), foi inaugurada a
10 de dezembro de
1911.
O "
Jornal do Brasil" publicou entrevista com o escritor
Coelho Neto (
7 de junho de
1923), anteriormente intransigente adversário do Espiritismo, mas que a ele se converteu após ter participado, na extensão do seu escritório, de uma conversa ao
telefone entre a sua neta, falecida em tenra idade, e a mãe dela.
24 Nesse mesmo ano, proferiu um discurso sobre a sua adesão à
doutrina espírita, no Salão da Guarda Velha, no Rio de Janeiro.
25 Nesse mesmo ano, o serviço de mediunidade receitista da FEB atingiu o seu mais alto número de consultas, com quase 400 mil pessoas atendidas.
26
Remontam ainda à primeira década do século XX as primeiras grandes dissidências no movimento espírita, a primeira emNiterói, com o estabelecimento da Umbanda, segundo a tradição por iniciativa do Caboclo das Sete Encruzilhadas (1908), e a segunda, em Santos (1910), que se intitulou "Espiritismo Racional e Científico Cristão", sistematizada por Luís de Matos e Luís Alves Tomás.Em São Paulo, Batuíra funda o Grupo Espírita Verdade e Luz, e um periódico com o mesmo nome, composto e impresso em tipografia própria (1890);
- No Recife, a fundação da Associação Espírita Deus e Caridade dos Aflitos, na rua do Futuro, bairro dos Aflitos, em 26 de agosto de 1894, primeira sociedade espírita em Pernambuco.27
- No Recife, a fundação da Federação Espírita Pernambucana (8 de dezembro de 1904);
- Em Minas Gerais, a fundação da União Espírita Mineira, tendo Antônio Lima como seu primeiro presidente, o início da atuação, na região do Triângulo Mineiro, de Eurípedes Barsanulfo (1904), e o início da militância espírita de Cairbar Schutel, que funda um centro espírita e dá início à publicação de "O Clarim" (1905), periódico que continua a ser publicado até aos nossos dias;
- Ainda em Minas Gerais, inicia-se em 1916 a psicografia, por intermédio da médium Zilda Gama, de mensagens assinadas pelo espírito de Victor Hugo;
- Também em Minas Gerais, em 1926 a médium Yvonne do Amaral Pereira frequenta o Centro Espírita de Lavras, começando a receber, através da sua mediunidade, mensagens de espíritos de suicidas. No ano seguinte (maio de1927), ocorre a primeira sessão espírita na residência dos Xavier, em Pedro Leopoldo, que daria origem ao Centro Espírita Luiz Gonzaga, presidido por José Cândido Xavier, irmão do médium Francisco Cândido Xavier.
- Em São Paulo, a fundação da União Espírita de São Paulo (1908) e, posteriormente, à época da Primeira Guerra Mundial, os fenómenos mediúnicos de Carmine Mirabelli;
- Em Salvador, na Bahia, a fundação da Federação Espírita do Estado da Bahia (25 de dezembro de 1915);
- Em Matão, em São Paulo, o lançamento da Revista Internacional de Espiritismo, sob a direção de Cairbar Schutel (15 de fevereiro de 1925).
- Em Goiás, a fundação de um centro espírita na Fazenda Palmella (1929), origem do município de Palmelo, conhecido hoje como "Cidade Espírita".
Henrique Roxo
(1877-1969), em seu "Manual de Psiquiatria" (1921) dedica um capítulo inteiro ao espiritismo, reproduzindo o discurso médico e católico da época, ainda marcado pelo escravismo, que remetia a crença, no país, a resquícios dofetichismo africano, observando: "Vê-se muito frequentemente o que se observa no cinema, nessas danças de negros, com seus movimentos extravagantes, suas contorções e seus gestos." Os profissionais formados na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro consideravam o espiritismo como uma patologia contagiosa, capaz de incapacitar grandes contingentes humanos para o trabalho. Devia, por essa razão ser reprimida pelas autoridades e erradicada por meio de campanhas de saúde pública:Desde a
década de 1920 registravam-se no Brasil choques entre o espiritismo e a
psiquiatria, que só vieram a acabar por volta da metade do século XX, devido a avanços como as pesquisas realizadas entre as décadas de 1950 e 1960 sobre a mediunidade no país pelo
sociólogo e
etnólogo francês
Roger Bastide, que demonstrou os
preconceitos e
etnocentrismosnos anteriores estudos sobre o tema.
28
| O combate ao espiritismo deve ser igualado ao que se faz à sífilis, ao alcoolismo, aos entorpecentes (ópio,cocaína, etc.), à tuberculose, à lepra, às verminoses, enfim a todos os males que contribuem para o aniquilamento das energias vitais, físicas e psiquícas do nosso povo, da nossa raça em formação. |
— João Coelho Marques, Espiritismo e Idéias Delirantes, tese de Doutorado apresentada à Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, 1929.
|
O doutorando, apelava à
Liga Brasileira de Higiene Mental e à
Igreja Católica para sensibilizarem a opinião pública e os poderes constituídos, propondo mesmo uma "Semana antiespirita" à semelhança da então existente "Semana antialcoólica", para mobilizar a sociedade contra esse mal.
29
Antônio Xavier de Oliveira, na obra "Espiritismo e Loucura" (
1931), afirmou que dos casos por ele estudados no "Pavilhão de Assistência a Psicopatas", 1.723 pessoas enlouqueceram "
só exclusivamente pelo espiritismo". E acerca de "
O Livro dos Médiuns":
| É a cocaína dos debilitados nervosos que se dão à pratica do espiritismo. E com um agravante a mais: é barato, está no alcance de todos, e por isso mesmo, leva mais gente, muito mais aos hospícios, do que a 'poeira do diabo', a 'coca maravilhosa'... É o tóxico com que se envenenam, todos os dias, os débeis mentais, futuros hóspedes dos asilos de insanos. Lêem-no, assimilam-no, incluem a essência diabólica de que é composto, caldeiam os conhecimentos nele adquiridos nas sessões espíritas. |
— António Xavier de Oliveira.Espiritismo e Loucura. Rio de Janeiro, 1921. p. 211.
|
É ainda em 1931 que o espírito Emmanuel se apresenta ao médium Francisco Cândido Xavier iniciando-se um trabalho conjunto que se estenderia até quase ao fim da vida do médium. No ano seguinte a FEB lançou a obra Parnaso de Além-Túmulo (6 de julho de 1932), pela psicografia de Francisco Cândido Xavier, com grande repercussão na imprensabrasileira, como o tivera, em Portugal, no início do século, a coletânea Do País da Luz pela mediunidade de Fernando de Lacerda.Nesse mesmo ano (1931) Murilo de Campos e Leonídio Ribeiro publicam o livro anti-espiritismo "O Espiritismo no Brasil", buscando relacionar o Espiritismo com a Medicina, e onde se lê: "A prática do espiritismo é um problema de polícia, é crime contra o código penal."30
Quando da implantação do
Estado Novo no país, em
1937, a repressão ao espiritismo aumentou.
31 A própria FEB foi fechada pela polícia (
27 de outubro) e reaberta, três dias depois, por ordem do então Ministro da Justiça, Dr.
José Carlos de Macedo Soares. No ano seguinte (
1938), vem a público a obra "
Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho", também pela psicografia de Francisco Cândido Xavier, atribuída ao espírito de
Humberto de Campos. A obra narra a formação Brasil sob a perspectiva espírita, pela qual as entidades espirituais teriam influenciado os principais eventos da história pátria, desde o "desvio" da frota de Cabral à
abolição da escravatura, profetizando-lhe um lugar de destaque entre a Cristandade.
32
Nesta década inicia-se ainda a atuação do médium
Francisco Peixoto Lins, carinhosamente referido apenas como "Peixotinho".
Ainda em 1944 Cornélio Pires publica a obra "Coisas D'Outro Mundo", de tema espírita. Viria a publicar outra obra espírita em 1947 - "Onde estás, oh Morte?" e, após o seu falecimento, prosseguiria o trabalho literário através da psicografia de Francisco Cândido Xavier.Também a partir de
1943 o
espírito André Luiz, através da mediunidade de Francisco Cândido Xavier, inicia uma série de livros que abordam a vida no plano espiritual. A primeira obra, "
Nosso Lar" foi lançada no Rio de Janeiro no ano seguinte (
1944).
33 Nesse mesmo ano (1944), D. Catarina Vergolino de Campos, viúva do escritor
Humberto de Campos (falecido em
1934), abriu processo contra a FEB e contra o médium Francisco Cândido Xavier, visando receber
direitos autorais sobre as mensagens psicografadas atribuídas ao seu finado marido
34 . Também nesta cidade, e neste ano, foi fundada a
Cruzada dos Militares Espíritas (
10 de dezembro de 1944).
Em
1945 foi fundado o
Hospital Espírita Pedro de Alcântara, no Rio de Janeiro. Nesse ano iniciou-se, em São Paulo, por iniciativa das suas federações, um novo processo pela unificação do movimento espírita no país, que dará lugar, em
1947, ao I Primeiro Congresso Espírita do Estado de São Paulo, pró-unificação. No ano seguinte (
1948, ainda em São Paulo, tem lugar o Congresso Espírita Centro-Sulino, também pró-unificação.
Dada a movimentação paulista em favor da unificação, tem lugar, no Rio de Janeiro, o evento mais importante do período: a aprovação dos dezoito itens do
Pacto Áureo, considerado o mais importante documento do movimento espírita no país (
5 de outubro de
1949). O documento tinha a finalidade de unificar as federações estaduais em torno da FEB. No ano seguinte (
1950) foi estabelecido o Conselho Federativo Nacional, composto pelo representantes das referidas entidades adesas. Ainda em 1950 partiu do Rio de Janeiro para a
Região Nordeste do Brasil, a chamada
Caravana da Fraternidade, integrada, entre outros, por
Lins de Vasconcelos,
Carlos Jordão da Silva e
Leopoldo Machado. Como resultado, ampliou-se o número das federações estaduais no país.
Em termos de divulgação, realizou-se em 1949 o II Congresso Espírita Pan-Americano, na cidade do Rio de Janeiro, promovido pela
Liga Espírita do Brasil.
O Espiritismo no país foi marcado, na
década de 1950 e na de
1960, por dois grandes fenómenos:
José Pedro de Freitas, popularmente conhecido por "Zé Arigó" - cuja prática mediúnica não se filiava estritamente à
Doutrina Espírita ou a qualquer instituição oficial -; e
Francisco Cândido Xavier, popularmente conhecido por "Chico Xavier". Zé Arigó, "recebendo" o espírito do
Dr. Fritz, realizou gratuitamente
tratamento mediúnico em milhares de pessoas e sofreu dois processos acusando-o de feitiçaria e exercício ilegal de medicina: um em
1958, no qual não foi preso pois recebeu
indulto do então presidente
Juscelino Kubitschek - cuja filha havia sido tratada por Arigó -, e outro em
1964, no qual ficou alguns meses preso mas sem parar de aplicar os tratamentos mediúnicos
35 . Chico Xavier chegou a completar o 100º livro psicografado, sendo que sempre cedeu os direitos autorais de seus livros psicografados à instituições de caridade
36 , e fundou em
Uberaba junto com o médium e médico
Waldo Vieira o
centro espírita "Comunhão Espírita Cristã", onde realizaram grande atividade mediúnica e filantrópica; também sofreu acusação de fraude (não provada e depois retirada)
37 , em
1958, pelo seu sobrinho
Amauri Pena, e esteve envolvido, com Waldo Vieira, no escândalo das chamadas "materializações de Uberaba", em 1964, que ocupou 70 páginas da revista "
O Cruzeiro", ilustradas por 87 fotografias, em onze edições, ao longo de três meses.
38
Foi ainda na década de 1950 que o padre
Oscar Quevedo se radicou no Brasil, iniciando uma ampla divulgação de sua interpretação da
parapsicologia como resposta ao Espiritismo.
No contexto do movimento federativo que se difundiu após a assinatura do chamado "Pacto Áureo, em
1953 a
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil reiterou a condenação católica ao espiritismo. No mesmo ano, a FEB declarou que os umbandistas poderiam ser considerados espíritas, o que causou vivas reações no movimento espírita.
39
No
cinema, chegou às telas o filme
Joelma 23º Andar (
1979), dirigido por
Clery Cunha e protagonizado por
Beth Goulart, baseado na obra "
Somos Seis", psicografada por Chico Xavier. Este é o primeiro filme brasileiro com temática central espírita e o único que retratou o
incêndio do Edifício Joelma que deixou 179 mortos e mais de 300 feridos (
1 de fevereiro de
1974). Também em 1979 houve um dos mais famosos casos envolvendo Chico Xavier, e que teve repercussão mundial: o caso em que José Divino Nunes, acusado de matar o melhor amigo, Maurício Henriques, foi inocentado pelo
juiz, que aceitou como prova válida (entre outras que também foram apresentadas pela defesa) um depoimento da própria vítima, já falecida, através de texto psicografado por Chico Xavier.
43
No plano editorial, a literatura espírita popularizou-se com os chamados "romances espíritas", através de autores comoVera Lúcia Marinzeck ("Reconciliação", 1990; "Violetas na Janela", 1993) e Zíbia Gasparetto ("Vencendo o Passado",2008). A popularidade alcançada por esses autores, bem como os lucros obtidos com as vendagens das obras, entretanto, despertou polémica junto aos adeptos mais ortodoxos da doutrina espírita, sob o argumento de desinteresse pelos autores clássicos (e consequente quebra de vendagem de seus títulos).[carece de fontes] Isso não impediu, entretanto, o surgimento de autores de sucesso como Elisa Masselli ("Nada fica sem Resposta", 2001); Mônica de Castro ("Gêmeas", 2009); Marcelo Cezar ("O Amor é para os Fortes", 2010); Robson Pinheiro ("Tambores de Angola") e Rubens Saraceni (estes dois últimos também classificados como literatura umbandista), entre outros.A
década de 1990 foi marcada pela constituição, em outubro de
1992, do
Grupo de Estudos Avançados Espíritas, um grupo de estudos e divulgação de notícias virtual, que trouxe o movimento espírita para a
Internet.
O final da primeira década do século foi marcado pela utilização do
cinema como meio de divulgação. Desse modo, vieram a público
47 :
- As Cartas Psicografadas por Chico Xavier (2010), filme do gênero documentário, dirigido por Cristiana Grumbach mostrando o testemunho de famílias que receberam notícias de seus entes queridos falecidos por meio de cartas psicografadas por Francisco Cândido Xavier.
Os espíritas têm sua imagem fortemente associada à prática da caridade. Eles mantêm em todos os estados brasileiros asilos, orfanatos, escolas para pessoas carentes, creches e outras instituições de assistência e promoção social.
Allan Kardec, o codificador do Espiritismo, é uma personalidade bastante conhecida e respeitada no Brasil. É o autor francês mais lido no país, seus livros já venderam mais de 25 milhões de exemplares em todo o território brasileiro. Se forem contabilizados os demais
livros espíritas, todos decorrentes das obras de Kardec, o mercado editorial brasileiro espírita ultrapassa 4.000 títulos já editados e mais de 100 milhões de exemplares vendidos.
49 Os livros espíritas lideram o ranking dos mais vendidos nas principais livrarias do país.
50
Ao longo da história do espiritismo no país, destacam-se as seguintes cisões ou dissidências ao
kardecismo:
O francês
Jean-Baptiste Roustaing, contemporâneo de
Allan Kardec, defendeu entre outras, a tese de que
Jesus Cristo manifestou-se na Terra não em um corpo físico, mas sim espiritual. No Brasil a polémica histórica resultante contribuiu para, e alimentou, uma longa cizânia entre os espíritas ditos "místicos" e os "científicos", com desdobramentos até aos dias de hoje.
Matos, que frequentava centros espíritas em Santos desde
1909, julgava haver excesso de religiosidade e misticismo entre os adeptos do espiritismo, e que este deveria ser "
a ciência das ciências, a filosofia das filosofias, mas não deveria se vincular a qualquer dimensão religiosa".
Inicialmente denominado de "Espiritismo de Ramatis", e atualmente
espiritualismo universalista, remonta à segunda metade da
década de 1950, quando alguns centros espíritas começaram a estudar e defender as obras e ideias ditada pelo espírito
Ramatis (corporificada sobretudo nas obras
psicografadas por
Hercílio Maes). Distinguem-se dos centros espíritas tradicionais em função da maior ênfase ao universalismo (origem comum das religiões) e ao estudo comparado de religiões e filosofias espiritualistas ocidentais e orientais. Nota-se também a influência mais acentuada de correntes de pensamento orientais, tais como o
budismoe o
hinduísmo.
Surgida também como uma dissidência do movimento espírita, desde setembro de
2002. Sem deixar de seguir a Doutrina Espírita, afirma fazê-lo com maior seriedade do que o movimento brasileiro em si, argumento usado para o afastamento.
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↑ Este episódio é referido por alguns autores como o da fundação do "Centro Espírita do Brasil" (21 de abril de 1889), tendo Bezerra como seu primeiro presidente, que instalou a primeira Escola de Médiuns, junto com Elias da Silva.
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↑ Para uma história da instituição, ver: Francisco Cândido Xavier. Queda e Ascensão da Casa dos Benefícios. Rio de Janeiro: Grupo Espírita Regeneração, 1991.
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↑ Que viria a ser presidente da FEB
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↑ Os "místicos" também seriam chamados de "bezerristas". Bezerra, aliás, seria atacado através de notas como esta: "Os argumentos do Dr. Bezerra de Menezes, em prol da sua orientação espírita, não passam de vistosas bolhas de sabão, sopradas pelo seu misticismo para deslumbrar a simplicidade ignorante dos que não sabem ou não querem se dar o trabalho de raciocinar." (SOARES, Sylvio Brito. Vida e Obra de Bezerra de Menezes. Rio de Janeiro: FEB, 1963.)
Referências
- Ir para cima↑ O professor Rivail havia ouvido falar do assunto um ano antes (1854), através de um amigo, o sr. Fortier, que também era magnetizador.
- Ir para cima↑ Ambos foram os fundadores do Instituto Homeopático do Brasil, em 1843.Dicionário Histórico-Biográfico das Ciências da Saúde no Brasil (1832-1930). Consultado em 25 Mai 2011.
- Ir para cima↑ Reformador, 1944, p. 207.
- Ir para cima↑ Reformador, 1 de maio de 1883.
- Ir para cima↑ Luís Olímpio Teles de Menezes in "História da Educação na Bahia" Consultado em 12 Jun 2011.
- ↑ Ir para:a b Tiago Cordeiro. Allan Kardec e o espiritismo, uma religião bem brasileira(14/10/2014). Aventuras na História - Guia do Estudante. Página visitada em 18/11/2014.
- Ir para cima↑ PALMEIRA, Vivian. "Curiosas Histórias do Espiritismo". in: "Universos Espírita", nº 49, ano 5, 2008. pp. 8-12.
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- Ir para cima↑ RIBEIRO, Gérson. O Kardecismo em São Paulo. Consultado em 12 Dez 2010.Cronologia Espírita 1857-1869 in GEAE, consultado em 12 Dez 2010.
- Ir para cima↑ Juvanir Borges de Souza, em palestra intitulada Primórdios do Movimento Espírita no Brasil, proferida durante a Conferência Espírita Brasil-Portugal (Salvador (BA), 16 a 19 de março de 2000), atribui a obra "Os Tempos são chegados" à autoria do professor Lieutaud e a tradução de "O Espiritismo na sua expressão mais simples", ao também professor Alexandre Canu, referindo que o nome deste último como tradutor apenas figurou na terceira edição da obra, publicada em 1862.
- Ir para cima↑ "Revue Spirite", julho de 1864, p. 213
- Ir para cima↑ Na raiz da divergência encontrava-se a apreciação/estudo da obra Os Quatro Evangelhos de Jean-Baptiste Roustaing: por afinidade ideológica, a quase totalidade dos "místicos" defendiam-na, enquanto que a maioria dos "científicos" repudiavam-na. in: QUINTELLA, Mauro. História do Espiritismo no Brasil.
- Ir para cima↑ Reformador, agosto de 1973.
- Ir para cima↑ QUINTELLA, Mauro. História do Espiritismo no Brasil.
- Ir para cima↑ QUINTELLA, Mauro. História do Espiritismo no Brasil. O mesmo autor indica que a edição de Novembro da revista da Sociedade Acadêmica apresenta uma relação de instituições filiadas até aquele mês.
- Ir para cima↑ Reformador, 1924, p. 497.
- Ir para cima↑ A proposta era a de fundar-se uma instituição ideologicamente neutra, que não fosse nem "mística", nem "científica". QUINTELLA, Mauro. História do Espiritismo no Brasil.
- Ir para cima↑ QUINTELLA aponta ainda que: "Para comprovar a neutralidade da nova sociedade, os científicos Angeli Torteroli e Joaquim Távora são convidados a se cadastrarem como sócios-fundadores." (Op. cit.)
- Ir para cima↑ O Reformador de 1 de janeiro de 1884, assim referiu o fato: "Acha-se em via de organização a Federação Espírita Brasileira. Fitando o largo horizonte da propaganda escrita, acreditamos que prestará serviços da máxima importância para a vulgarização dos princípios filosóficos do Espiritismo."
- Ir para cima↑ O médium foi visitado, numa casa de pensão onde se hospedara na Glória, por uma comissão da Federação Espírita Brasileira, composta por Bezerra de Menezes, Antonio Sayão, e outros, tendo Slade fornecido provas incontestáveis de sua mediunidade.
- Ir para cima↑ GIUMBELLI, Emerson. "Kardec nos Trópicos". in Revista de História da Biblioteca Nacional, ano 3, nº 33, junho de 2008, p. 14-19.
- Ir para cima↑ PALMEIRA, Vivian. "Curiosas Histórias do Espiritismo". in: "Universos Espírita", nº 49, ano 5, 2008. pp. 8-12.
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- Ir para cima↑ Cronologia Espírita: 1914-1945 Tempos de Comoções in Grupo de Estudos Avançados Espíritas. Visitado em 4 Jun 2011.
- Ir para cima↑ CURY, Aziz. Legado de Bezerra de Menezes. ISBN 978857513091-9
- Ir para cima↑ GIUMBELLI, Emerson. "Kardec nos Trópicos". in Revista de História da Biblioteca Nacional, ano 3, nº 33, junho de 2008, pp. 14-19.
- Ir para cima↑ AURÉLIO, Dâmocles. História do Espiritismo em Pernambuco (vol. I: 1853-1900). 1991.
- Ir para cima↑ Almeida, A. A. S., & Lotufo Neto, F. (2005). History of ‘Spiritist madness’ in Brazil. History of Psychiatry, 16, 5–25
- Ir para cima↑ ISAIA, Artur Cesar. "Loucura Coletiva?". in Revista de História da Biblioteca Nacional, ano 3, nº 33, junho de 2008, p. 20-25.
- Ir para cima↑ RIBEIRO, Leonídio; CAMPOS, Murilo de. O espiritismo no Brasil. São Paulo, Cia. Editora Nacional, 1931.
- Ir para cima↑ A prática do espiritismo, em suas diversas vertentes, desde 1934 era coibida pela Secção Especial de Costumes e Diversões do Departamento de Tóxicos e Mistificações do Rio de Janeiro, que também lidava com as questões ligadas aoalcoolismo, jogos ilícitos, drogas e prostituição.
- Ir para cima↑ GIUMBELLI, Emerson. "Kardec nos Trópicos". in Revista de História da Biblioteca Nacional, ano 3, nº 33, junho de 2008, p. 14-19.
- Ir para cima↑ Até então eram muito vagas as ideias de como seria a vida cotidiana no plano espiritual. A série prosseguiu com a recepção de "Os Mensageiros (1944), "Missionários da Luz" (1945), "Obreiros da Vida Eterna" (1946), "No Mundo Maior" (1947), "Libertação" (1949), "Entre a Terra e o Céu" (1954), "Nos Domínios da Mediunidade" (1955), "Ação e Reação" (1957), "Mecanismos da Mediunidade" (1960), "E a Vida Continua..." (1968).
- Ir para cima↑ Este processo, que se celebrizou pela sua originalidade, foi movido no sentido de obter uma declaração, por sentença, acerca de se daquela obra mediúnica "era ou não do 'Espírito' de Humberto de Campos", e, em caso afirmativo, que se aplicassem as sanções previstas em Lei. O assunto causou muita polêmica, tendo ocupado espaço nos principais periódicos do país à época. Em 23 de agosto de 1944, por sentença do Dr. João Frederico Mourão Russell, juiz de Direito em exercício na 8ª Vara Cível do antigo Distrito Federal, a ação foi julgada improcedente. O recurso, impetrado no Tribunal de Apelação do antigo Distrito Federal, manteve a sentença original, tendo sido relator o ministro Álvaro Moutinho Ribeiro da Costa. (TIMPONI, Miguel. A Psicografia ante os Tribunais).
- Ir para cima↑ FULLER, John Grant. Arigo: Surgeon of the Rusty Knife. New York: Thomas Y. Crowell, 1974. [prefácio por Henry K. Puharich, MD] ISBN 0690005121
- Ir para cima↑ SOUTO MAIOR, Marcel. As Vidas de Chico Xavier. 2ª ed. São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2003; pgs. 20 e 189.
- Ir para cima↑ SOUTO MAIOR, Marcel. As Vidas de Chico Xavier. 2ª ed. São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2003; pg. 141.
- Ir para cima↑ Ver RIZZINI, Jorge. "Materializações de Uberaba". 1964.
- Ir para cima↑ "Baseados em Kardec, é-nos lícito dizer: todo aquele que crê nas manifestações dos espíritos é espírita; ora, o umbandista nelas crê, logo, o umbandista é espírita." (Reformador, julho de 1953, p. 149). Anos mais tarde, em 1958, o Segundo Congresso Brasileiro de Jornalismo e Escritores Espíritas opôs-se considerar os umbandistas como espíritas. Duas décadas mais tarde, em 1978 oReformador, órgão oficial da FEB, publica que a designação de "espíritas" pelos umbandistas é "imprópria, abusiva e ilegítima".
- Ir para cima↑ Folha Espírita. Associação Médico-Espírita do Brasil. Visitado em 23 de julho de 2013..
- Ir para cima↑ Chico Xavier: a mais famosa entrevista do Pinga-Fogo]. Uol - Portal A TARDE (online). Visto em 23 de Julho de 2013
- Ir para cima↑ RIZZINI, Jorge. J. Herculano Pires, o apóstolo de Kardec. São Paulo: Paideia, 2000.
- Ir para cima↑ Souto Maior, Marcel. As Vidas de Chico Xavier. 2ª ed. São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2003; pg. 226
- Ir para cima↑ DUBUGRAS, Elsie. "Um fim trágico para Edson Queiroz". São Paulo: Revista Planeta, n° 230, novembro de 1991, p. 47-49.
- Ir para cima↑ Bisturi suspeito: Engenheiro que incorpora o Doutor Fritz é acusado de homicídio, charlatanismo e sonegação fiscal. Revista Veja, 17 fev. 1999. Consultado em 15 mai 2011.
- Ir para cima↑ Médicos de fé. Revista Época, 14 julh. 1999. Consultado em 23 julh de 2013.
- Ir para cima↑ CÁNEPA, Laura. Notas para pensar a onda dos filmes espíritas no Brasil - In Revista Online de Comunicação, Linguagem e Mídias (USP, 2013)
- Ir para cima↑ iG São Paulo (29/06/2012). IBGE: com maior rendimento e instrução, espíritas crescem 65% no País em 10 anos (html) Último Segundo › Brasil. Visitado em 15-12-2012. "(...)os adeptos do espiritismo possuem as maiores proporções de pessoas com nível superior completo (31,5%) e taxa de alfabetização (98,6%), além das menores percentagens de indivíduos sem instrução (1,8%) e com ensino fundamental incompleto (15,0%). O espiritismo também foi uma das religiões que apresentaram crescimento (65%) desde o Censo realizado em 2000: passaram de 1,3% da população (2,3 milhões) em 2000 para 2% em 2010 (3,8 milhões).(...)Também na posição mais alta quando se analisa rendimento, 19,7% dos espíritas se declararam no grupo das pessoas com rendimento acima de 5 salários mínimos."
- Ir para cima↑ Missão da Federação Espírita Brasileira (FEB). Allan Kardec. Visitado em 20-07-2013.
- Ir para cima↑ Leitores de Fé. Revista Época, 26 junh. 2009. Consultado em 23 julh de 2013
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