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domingo, 6 de janeiro de 2013

Sobre a suposta profecia de Chico (*)

Renato Valle 

(Recife, PE)




Estava lendo a entrevista sobre as previsões de Chico Xavier para o "fim dos tempos", uma coisa absurda e completamente em desacordo com o que diz a codificação a esse respeito. Não sei se a fantasia é do camarada ou do próprio Chico. Mas acho irresponsável usar o nome de Chico sobre assuntos dessa natureza sem estar documentado.
Kardec já advertira em A Gênese, XVI, 16, que "É por isso que os espíritos realmente sábios nunca predizem nada com épocas determinadas; eles se limitam a nos prevenir sobre a sequência dos fatos que nos seja útil conhecer. Insistir em obter detalhes precisos é expor-se às mistificações dos espíritos levianos, que predizem tudo o que se quer, sem se importarem com a verdade, e se divertem com os terrores e as decepções que causam. As predições que oferecem maior probabilidade são aquelas que têm um caráter de utilidade geral e humanitária; não se deve considerar as outras senão quando são realizadas. Pode-se, segundo as circunstâncias, aceitá-las a título de advertência, mas haveria imprudência em agir prematuramente em vista da sua realização com data marcada. Pode-se ter por certo que, quanto mais circunstanciadas, mais elas são suspeitas."
Isso desqualifica uma profecia como essa que a Dr.ª Marlene Nobre e Geraldo Lemos Neto tornaram pública. Não sei se a fantasia é do Geraldo ou do Chico! 
Vamos supor que Chico tenha realmente comentado tais coisas. Faz parte da natureza humana criar fantasias e Chico era humano. Uma de suas fantasias, aliás muito comum em muitos de nós, era o medo de avião. Diante da possibilidade de um avião cair, possibilidade, aliás, muito mais remota do que a aeronave chegar ao seu destino, uns rezam a viagem inteira, outros tomam Rivotril, outros entram embriagados, e assim enfrentamos a nossa pura fantasia. Como reagimos diante de uma ameaça real? Quais fantasias criamos vivendo em uma sociedade desgovernada e violenta como a nossa? Que fantasias poderemos criar diante da ameaça real de balas, bombas, armas nucleares, etc.? 
Um dado que para mim já põe abaixo a previsão de destruição do hemisfério norte – parece que os EUA seriam mais afetados –: segundo Geraldo, ela foi feita no ano de 1986 em plena guerra fria. Isso foi o que chamou de imediato minha atenção, pois em 1989, com a queda do muro de Berlin e o fim da guerra fria, os alvos mudaram. Com o fim da antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas a invasão capitalista (essa febre doentia que se alastrou pelo mundo todo) tomou conta da Rússia e até da China espalhando o ideal consumista por todo o planeta. O Paquistão, a Índia, Israel, China (outros mais, alguns que nem sabemos) possuem armas nucleares. Outros alvos e mais agressores foram surgindo (todos os que se armam são potenciais agressores). EUA e Rússia, alvos mais prováveis durante a Guerra Fria, já não são mais os mais ameaçados. Os países que comandam o capitalismo entraram em crise e promovem a degradação da milenar cultura árabe, passando uma imagem ao Ocidente e países de economia e interesses iguais aos nossos, de que aquela região é habitada por povos bárbaros que merecem intervenções com o objetivo de instalar "regimes livres". 
Durante a guerra fria as intervenções eram para promover ditaduras alinhadas às duas superpotências, ditaduras como a que ocorreu em nosso país. Ditaduras de esquerda, aliadas à URSS, e ditaduras de direita, aliadas dos EUA. Na verdade, mesmo que alguns regimes sejam corruptos e injustos, não é a intervenção externa que vai corrigir esses males. Isso nunca funcionou e o propósito real é o de dominação econômica por parte daqueles que invadem ou patrocinam as invasões.
A hipocrisia é tão grande que a Arábia Saudita, antiga aliada dos EUA que sequer tem constituição, é uma ditadura cuja lei é a palavra da família real que governa o país há mais de um século. Mas o maior produtor de petróleo do mundo é seu aliado, logo: ESSES PODEM SER DITADORES! E a China? Essa então nem se fala, quem tem coragem de intervir na segunda economia do mundo, com esse modelo esquisito de ditadura comunista cheia de empresas capitalistas?
O alvo nuclear mudou. O Irã, que é um provável membro do clube dos guerreiros atômicos, sofre ameaças de Israel e quer a aniquilação do inimigo. A região que nunca teve paz começa a se tornar cada vez mais perigosa. Um ataque nuclear aos EUA é hoje pouco provável e, caso aconteça, a distância geográfica dos seus atuais inimigos, a capacidade defensiva e a inteligência militar tem mais condições de anular uma iniciativa dessas. Não é impossível, mais é pouco provável. 
Falo isso para agora dizer do absurdo das descrições na dita profecia do fim do hemisfério norte e dos fluxos migratórios para a América Latina, sobretudo o Brasil, com toda aquela história de "evangelizar seus invasores". 
Uma guerra nuclear hoje teria como alvos principais países como o Irã e Israel. E aí? Quem iria pra onde? Quem viria para o Brasil?
Diante de algo que não está sequer documentado creio que o mais sensato é ficar com a codificação. Sou a favor da liberdade de imprensa, mas vejo a matéria como irresponsável e sensacionalista. Mesmo que Chico tenha dito, se quisesse ou julgasse importante que isso viesse a público, teria deixado por escrito. Como não dava importância a ele próprio, tanto quanto dava aos espíritos que por ele escreviam, tudo o que ele quis que viesse a público, de fato, veio.
(*) publicado e  diponível em http://www.oconsolador.com.br/ano6/293/cartas.html

1 Comentários:

  • TUDO QUANTO RENATO VALLE EXPÕE EM SEU ARTIGO É O QUE GOSTARIA DE TER ESCRITO PARA DEMONSTRAR MEU REPÚDIO À SUPOSTA PROFECIA DO SENSATO MÉDIUM FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER.
    SE NÃO TEM PROVAS CABAIS DO FATO, ESCRITO E SACRAMENTADO,NÃO SE DEVE DAR CRÉDITO A TAIS EXPEDIENTES TRISTONHOS DA MENTALIDADE HUMANA.
    fernandorpatrocinio.blogspot.com.br

    Por Blogger Filosofia do Infinito, às 12 de abril de 2013 às 06:35  

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