COMO DEVEMOS UTILIZAR UMA TRIBUNA ESPIRITA?
“O orador é responsável pelas imagens mentais que plasme nas mentes que o ouvem”(2) No uso da palavra (maior veículo de comunicação entre os homens), há necessidade de muito equilíbrio e sensatez. Importa falar sem dramaticidade, sem pieguismo, sem afetação, sem arrogância, sem empáfia, sem ostentação, pois, do contrário, o público mudará a atitude receptiva inicial e tornar-se-á refratário e até hostil ao final da palestra. Por essa razão, é crucial falar com doçura e firmeza, sem imitação de gestos, voz, fraseado ou o estilo de outro orador, mostrando-se simples e atencioso, vibrando simpatia e benevolência.
Conquanto precise batalhar incansavelmente no esclarecimento geral, usando processos justos e honestos, não pode esquecer que “a propaganda principal é sempre aquela desenvolvida pelos próprios atos da criatura, através da exemplificação eloqüente da reforma íntima, nos padrões do Evangelho.”(3) Deve falar com o coração trasbordante de fé luminosa e pura, agir de forma natural e entusiasta, impregnado daquela força que o ideal superior e a assistência dos Bons Espíritos os transmitem. “O campo do estudo perseverante, com o esforço sincero e a meditação sadia, é o grande veículo de amplitude da intuição, em todos os aspectos”(4) Óbvio que não se pode decretar que seja perfeito, pelo simples fato de ser palestrante, pois é um ser humano caracterizado por muitas imperfeições. Entretanto, é necessário que todos aqueles que pregam a Doutrina empreendam os maiores esforços para exemplificar aquilo que ensinam.
Aos palestrantes, candidatos ao estrelismo, importa que não “decorem simplesmente” quaisquer textos de livros espíritas para recitá-los, quais palradores, pois a expressão maquinal não agrada a quem ouve e, sobretudo, a Deus. Os espíritos nos recomendam nas palestras o “governo das próprias emoções, sem azedume, sem nervosismo e sem momices”(5), mas, alguns são abusivamente "satíricos" (visando fazer gargalhar os ouvintes na platéia), outros não conseguem despir-se das ostentações, santificações, endeusamentos e euforia proselitista. Alguns “deuses da tribuna” forçam palavras “mansas, melosas” que chegam a ficar pálidos em face do hercúleo esforço para demonstrar mansidão, outros carregam um eterno sorriso com dentes trincados (pressionando com força os de baixo com os de cima) na tentativa de demonstrar simpatia forçada. Tudo isso precisa ser evitado urgente.
No insofreável desejo de chamar a atenção alheia, muitos oradores querem ser aplaudidos e venerados perante os outros. Atualmente adota-se assustadoramente o hábito dos dirigentes incautos de exaltar oradores em público. Essas magnificências e grandiloquências, observadas à volta de alguns oradores famosos, é bem a repetição dos esplendores do cristianismo sem o Cristo. Há oradores que fazem palestras nos centros espíritas, congressos, seminários e outros “encontrões”, que veneram espalhar autógrafos, locupletando-se de ovações que às vezes têm conferido auréola de quase oráculos sagrados. Infelizmente vão se iludindo, criando a efígie de intocáveis, "emissários da paz", "embaixadores do bem". Não será impossível alguns centros “espíritas” edificarem altares em suas homenagens em futuro próximo.
A liderança do atual movimento espírita acredita que agenciando muitos congressos e seminários estará multiplicando a divulgação, como se isso fosse a necessidade imediata do Espiritismo, e ainda cobra taxas para esses eventos. Todavia, jamais esqueçamos que “a direção do Espiritismo, na sua feição do Evangelho redivivo, pertence ao Cristo e seus prepostos [espirituais], antes de qualquer esforço humano, precário e perecível.”(6) O Espiritismo em seus valores cristãos “não possui finalidade maior que a de restaurar a verdade evangélica para os corações desesperados e descrentes do mundo. A obra definitiva do Espiritismo é a da edificação da consciência profunda no Evangelho de Jesus Cristo.” (7)
O orador deve assimilar, com reverência e humildade, toda análise crítica, procurando ponderar, com atenção, o seu trabalho e, assim, aperfeiçoar, cada vez mais, a tarefa que lhe cabe. Deve reagir com todas as suas forças contra os “confetes” e lisonjas, para que a vaidade não lhe venha toldar o próprio campo de ação, e mais ainda, nunca deve julgar-se indispensável ou excepcional, criando exigências ou solicitando considerações especiais.
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(1) Vieira, Waldo. Conduta Espírita, Ditado pelo Espírito André Luiz, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 1991, Na Propaganda
(2) Idem - Cap. 14).
(3) Idem Na Propaganda
(4) Xavier, Francisco Cândido. O Consolador, ditado pelo Espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2000, perg. 122).
(5) ______, Waldo. Conduta Espírita, Ditado pelo Espírito André Luiz, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 1991, Na Tribuna
(6) _______, Francisco Cândido. O Consolador, ditado pelo Espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2000, perg. 218
(7) Idem perg. 219
(8) Xavier, Francisco Cândido. Saudação do Natal – Mensagem “Trilogia da vida”, ditado pelo espírito Cornélio Pires , SP: Editora CEU, 1996
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