A transição planetária, os países árabes e a democracia, na atualidade.
Claudia Gelernter
“É de notar-se que, em todas as épocas da história, as grandes crises sociais
foram seguidas de uma era de progresso.” (Allan Kardec, 1868).
Abraham Maslow, pai da psicologia transpessoal, propôs a teoria da hierarquia de necessidades (também conhecida como Pirâmide de Maslow). Para ele, as necessidades fisiológicas precisam ser saciadas para que precisemos saciar as necessidades de segurança. Estas, se saciadas, abrem campo para as necessidades sociais, que se saciadas, abrem espaço para as necessidades de auto-estima. Quando todas estiverem de acordo, abre-se espaço para a auto-realização, que é um aspecto de felicidade do sujeito. Portanto, segundo o psicologo americano, se com fome ou sede, o indivíduo não estará preocupado com o próximo corte de cabelo, por exemplo. Entretanto, se a fome ou outras necessidades básicas dependerem de uma mudança social, haverá maior engajamento neste setor. Esta teoria se confirma quando analisamos as movimentações sociais onde os povos gritam pela transição democrática. Países como o Egito, a Libia ou mesmo o Brasil nas décadas de 70 e 80, buscam derrubar o regime vigente, tentando uma nova realidade, porque suas necessidades não estão sendo observadas, muito menos supridas. Juliano da Silva Cortinhas, coordenador do curso de Relações Internacionais do UniCuritiba, afirma que “os governantes, mesmo se reprimirem suas populações pela utilização da força, tendem a não sofrer grandes pressões se fornecerem boas condições de vida”(2011).
Seja pela fome, pela dor ou pela falta de liberdade, o que podemos inferir é que nós, seres humanos, tendemos ao progresso e por mais nos segurem as mãos e pés, momento chega em que as movimentações pelas mudanças ocorrem. E mesmo em lugares onde os meios de comunicação são precários ou onde a repressão tenha o cunho religioso. Talvez a demora para acontecerem estes eventos se deva justamente ao segundo motivo. Apoiados em livros ditos ‘sagrados’, homens avançaram nos postos de comando das nações, alegando serem os defensores da vontade de um ser supremo. Vontade esta, curiosamente irracional e maléfica em inúmeros momentos.
Allan Kardec, na obra “A Gênese”, comentando sobre a nova geração que deve substituir a que forma o atual planeta de provas e expiações que habitamos, esclarece que “nesse tempo não se tratará mais de uma mudança parcial, de uma revolução limitada a uma região, a um povo, a uma raça; é um movimento universal que se opera no sentido do progresso moral.” (Cap. XVIII, p. 355). O codificador da Doutrina dos Espíritos, após levantar os dados enviados pelos Benfeitores da Espiritualidade, concluiu que, para que ocorra a transformação planetária preciso será que uma nova ordem de Espíritos surja no cenário ou mesmo que os que aqui estão amadureçam no sentido moral. Oras, não se pode evoluir um Planeta conservando alguns povos à margem. E estes povos não evoluirão conservando-se sob regimes ditatoriais, impostos, tendo castrados seus direitos do livre pensar. Não surgirão sociedades prontas para uma reformulação geral (que inclui o aspecto moral) se nestas não chegarem as informações de que necessitam, outras possibilidades para o pensar, o sentir, o agir.
Portanto, as crises que nos parecem caóticas, são, em verdade, janelas para novas perspectivas. A busca pela democracia, pela liberdade, pelo direito de escolha de seus governantes, mesmo tendo como motivo primeiro as necessidades básicas de um povo, acaba por fornecer um panorama promissor, onde as pessoas terão meios para se desenvolverem mais rapidamente, diminuindo preconceitos, aumentando sua bagagem intelectual, favorecendo um novo jeito de pensar para as próximas gerações.
Se por um lado este movimento se faz necessário, de outro precisamos refletir sobre os perigos da democracia na atualidade, principalmente nas questões do capitalismo a ela associado. Tendemos a sair de uma ponta da situação para a outra, não menos problemática, antes de atingirmos o que chamaremos de “estado ideal do ser e das nações”.
Alerta-nos Mauricio Gomes Ângelo que “o conceito de democracia significa basicamente que o poder é outorgado pelo povo. Só que o simples fato de conceder não é garantia de controle do poder proporcionado. Segundo a lógica, os mandatários deste poder deveriam retribuir a confiança que lhes é dada, governando para o povo. Contudo, esta lógica é invertida e o resultado final quase sempre é um pastiche de populismo, neoliberalismo, capitalismo autofágico, egocentrismo, aristocracia e um conluio de interesses que raramente colocam a população em primeiro lugar” (2005).
Saímos do regime ditatorial para o democrático e ainda enfrentamos diversas medusas sociais em nosso país. Não aprendemos a utilizar com sabedoria o poder do voto e com isso colhemos grandes dificuldades. Também não sabemos fazer valer nossos direitos. Falta-nos empenho, base, conhecimento.
A Movimentação democrática é necessária sendo vista por nós como um primeiro passo, importante, mas que deve ser superado por um segundo, mais equilibrado, durável e efetivo: a mudança moral de um povo, de todas as nações, começando em cada um de nós. Do micro ao macro e o macro, por sua vez, influenciando o micro. Só com a educação do ser poderá isto se realizar.
Esta é a proposta da Doutrina Espírita. Sinceramente, a melhor que já tivemos notícia.
Referências:
ANGELO, M.G.; Capitalismo e democracia: a sinfonia da destruição; acessado em 01 de março de 2011 em http://www.duplipensar.net/
CORTINHAS, J.S.; Jornal Gazeta do Povo, edição de 24 de fevereiro de 2011, acessado nesta data em: http://www.gazetadopovo.com.
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