Nas proximidades dos debates para eleições políticas, "esquenta" a discussão sobre o tema, se o espírita deve ou não participar da política partidária. Sobre isso, um amigo me confidenciou que diretores de uma federativa têm feito convites, aos espíritas, para o engajamento na militância política. (pasmem!) Por lógica, essa tolice não mereceria nossos comentários, pois já escrevemos muito sobre a questão. Todavia, somos forçados a analisar essas insistentes posturas, totalmente incompatíveis com o projeto Espírita na Terra. A Doutrina Espírita não estimula o engajamento em idéias e políticas partidárias. Não coloca sua tribuna a serviço da propaganda política de candidatos, de partidos ou de movimentos políticos.
Em que pese a frase de um conhecido líder espírita, que proclama que "o problema não é de como o espírita entra na política, mas de como dela sai", o espírita, se estiver vinculado a alguma agremiação partidária, se deseja concorrer como candidato a cargo eletivo, tem total liberdade de ação, mas que atue bem longe dos ambientes espíritas, para que tudo que fizer ou disser, dentro da Instituição Espírita, não venha a ter uma conotação de atitude de disfarçada intenção, visando a conquistar os votos de seus confrades.
No Espiritismo, a cautela é recomendável, tanto quanto a discussão; não pode haver preconceitos. Todavia, em se discutindo políticas sociais, é inadmissível trazer, para dentro dos Centros ou Instituições Espíritas, a política partidária, embora, como cidadão, cada espírita tem a liberdade de militar no universo fragmentado das ideologias políticas. Até porque, o Espiritismo não é fragmento da política partidária, e nem, tampouco, envolve-se com grupos políticos sectários, que utilizam meios incoerentes com os fins de poder.
É muito importante distinguir a política terrena, da política do Cristo. O espírita, quando trabalha pela erradicação da miséria e da exclusão social do ser humano, está adotando a política do Evangelho, ou seja, a sua política, nesse sentido, é a da caridade sem fronteiras para todas as classes. A política do legítimo espírita é a favor do ser humano e de seu crescimento espiritual. Não se submete e não se omite diante do poder político, e nem, tampouco, assume o lugar de oposição ou de situação. Explica, Emmanuel, que "o discípulo sincero do Evangelho não necessita respirar o clima da política administrativa do mundo para cumprir o ministério que lhe é cometido. O Governador da Terra, entre nós, para atender aos objetivos da política do amor, representou, antes de tudo, os interesses de Deus junto do coração humano, sem necessidade de portarias e decretos, respeitáveis, embora". (1)
É inadmissível a utilização da tribuna espírita, como palanque de propaganda política. O Espiritismo não pactua com superficiais e transitórios interesses terrenos. Por isso, ninguém pode deixar-se escravizar à procura de favores de parlamentares, a ponto de, este, exercer infausta influência nos conceitos espíritas. Outra hipocrisia é um espírita nos palanques, implorando votos, qual mendigo, com sofismas e simulação de modéstia, de pobreza, de humildade, de desprendimento, de tolerância, etc., com finalidade demagógica, exaltando suas próprias "virtudes" e suas "obras" beneficentes. O bom senso nos sussurra que o ideal seria se esses "espíritas" (!?), que mendigam votos, optassem por outro credo, para que lhes seja assegurada a não-contaminação dessa infecciosa politicagem em nossas hostes, até porque, "não temos necessidade absoluta de representantes oficiais do Espiritismo em setor algum da política humana".(2)
Pela transformação de comportamento individual, lutando pelo ideal do bem, em nome do Evangelho, os espíritas não estão alheios à Política; engana-se quem pensa o contrário. Os espíritas honestos, fieis à família e aos compromissos morais, são, integralmente, cidadãos ativos, que exercem o direito e/ou obrigação (depende do ponto de vista) de votar; porém, sem vínculos com as querelas e questiúnculas partidárias.
E, mais ainda, "iniciados na luz da Revelação Nova, os espiritistas cristãos possuem patrimônios de entendimento muito acima da compreensão normal dos homens encarnados." (3) Por isso mesmo, sabem, à saciedade, que "a missão da doutrina é consolar e instruir, em Jesus, para que todos mobilizem as suas possibilidades divinas no caminho da vida. Trocá-la, por um lugar no banquete dos Estados, é inverter o valor dos ensinos, porque todas as organizações humanas são passageiras em face da necessidade de renovação de todas as fórmulas do homem na lei do progresso universal." (4)
É oportuníssimo lembrar que, nas pequeninas concessões, vamos descaracterizando o projeto da Terceira Revelação. Urge que façamos uma profunda distinção entre Espiritismo e Política. É bem verdade que somos políticos desde que nascemos e vivemos em sociedade, sim, e daí? A Doutrina Espírita não poderá, em tempo algum, ser veículo de especulação das ambições pessoais, nesse campo. Se o mundo gira em função de políticas econômicas, administrativas e sociais, não há como tolerar militância política dentro das hostes espíritas.
Emmanuel nos comprova que não se sustentam as teses simplistas de que só com a nossa participação efetiva nos processos políticos, ao nosso alcance, ajudaremos a melhorar o mundo. Recordemos que Jesus cogitou muito da melhora da criatura em si. Não nos consta que Ele tivesse aberto qualquer processo político-partidário contra o poder constituído à época. Nossa conduta apolítica não deve ser encarada como conformismo. Pelo contrário, essa atitude é sinonímia de paciência operosa, que trabalha sempre para melhorar as situações e cooperar com aqueles que recebem a responsabilidade da administração de nossos interesses públicos, e PONTO FINAL.
Jorge Hessen
FONTES:
(1) Xavier, Francisco Cândido. Vinha de Luz, ditado pelo Espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 1999, cap. 59
(2) VIEIRA, Valdo. Conduta Espírita, Ditado pelo Espírito André Luiz, Rio de janeiro: FEB, 2001, Cap. 10
(3) Xavier, Francisco Cândido. Vinha de Luz, ditado pelo Espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 1999, cap. 60
(4) Xavier, Francisco Cândido. O Consolador, ditado pelo Espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 1984, pergunta 60
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