FATALIDADE COMO CONSEQUÊNCIA DA ESCOLHA QUE FAZEMOS
Numa curiosa pesquisa realizada pela Universidade de Michigan (EUA), foi empregado um ambiente virtual com todas as imagens, sons e consequências das ações dos voluntários, incluindo os gritos de desespero daqueles seres virtuais cujos destinos (mortes) seriam traçados pelos voluntários. O ambiente cibernético apresenta-se com um trem se dirigindo para uma passagem estreita onde estão cinco pessoas que não têm como sair do seu caminho. Só os participantes têm a possibilidade de redirecionar o trem para outra passagem, onde só há uma pessoa que não conseguirá escapar. Acionaríamos ou não a alavanca para mudar o trem de rota?
Considerando essa experiência fatalística, construamos o seguinte cenário: estamos conduzindo um automóvel e nos defrontamos com situação bem real de atropelarmos um grupo de crianças, entretanto em frações de segundos podemos desviar o trajeto do veículo e entrechocar-nos com apenas uma criança. Será que optaríamos por desviar o veículo rumo a única criança para preservar a vida do grupo? Sabemos ser uma situação embaraçosa, porquanto estamos diante de duas soluções extremas, ambas trágicas, o que redundará terrível perplexidade para uma opção. Eis aí um dilema penoso perante o mandamento “não matarás”. Sabemos que é muito delicado e improvável tal episódio, mas se verdadeiro, como resolver? Não desviar do grupo de crianças para preservar apenas uma vida? Será que violaríamos uma regra moral considerando a escolha entre “um mal maior e um mal menor?” E se a única criança fosse nosso filho?
Podemos por nossa vontade, intenções e por nossos atos, fazer que não ocorram eventos que deveriam verificar-se, se essa aparente mudança tiver cabimento na sequência da vida que escolhemos. “Para fazer o bem, como nos cumpre – pois que isso constitui o objetivo único da vida – é-nos facultado impedir o mal, sobretudo aquele que possa concorrer para a produção de um mal maior.” (1)
Carlos David Navarrete, coordenador do experimento de Michigan, descobriu que o mandamento divino “não matarás” foi esmagado literalmente, pelos participantes, pois 90% dos voluntários acionaram várias vezes a chave para mudar o trem de rota, decidindo quem deveria morrer, tendo como justificativas o jargão: “um mal menor” é “melhor” do que “um mal maior”(!...)(2)
Segundo Chico Xavier “o bem sanará o mal, porque este não existe: é o bem, mal interpretado. Muitas vezes aquilo que julgamos como mal, daqui a dois, quatro, seis anos, é um bem. Um bem cuja extensão não conseguimos avaliar. Portanto, o mal está muito mais na nossa impaciência, no nosso desequilíbrio quando exigimos determinadas concessões, sem condições de obtê-las. De modo que o mal é como se fosse o frio. Este existe porque o calor ainda não chegou. Mas chegando o aquecimento, o frio deixa de existir. Se a treva aparece é porque a luz está demorando, mas quando acendemos a luz ninguém pensa mais nas trevas. Não creio na existência do mal em substância. Isso é uma ficção.”(3)
Cremos que estamos diante de situação funesta e fatalística, mas, será que existe fatalidade nos acontecimentos da vida? Os fatos de nossa existência estariam, assim, irremediavelmente traçados?
A fatalidade, como comumente é percebida, supõe deliberação precedente e irrevogável de todos os episódios da vida, qualquer que seja a gravidade deles. Mas, se tal fosse a ordem das coisas, seríamos quais fantoches destituídos de anseios. De que nos serviria a inteligência, desde que houvéssemos de estar inexoravelmente dominados, em todos os nossos atos, pela força do destino?
A Doutrina Espírita elucida que “semelhante doutrina, se verdadeira, conteria a destruição de toda liberdade moral, já não haveria para o homem responsabilidade, nem, por conseguinte, bem nem mal, crimes ou virtudes.”(3) No entanto, a fatalidade não é uma palavra sem sentido. Existe na disposição que ocupamos na Terra e nas funções que aqui cumprimos, em decorrência do modo de vida que escolhemos como prova, expiação ou missão.
Padecemos inevitavelmente todas as atribulações dessa existência e todas as tendências boas ou más que nos são intrínsecas. Aí, porém, finaliza a fatalidade, pois da nossa vontade depende ceder ou não a essas tendências. As particularidades dos acontecimentos, essas ficam subordinadas às circunstâncias que criamos pelos nossos atos, sendo que nessas ocorrências podemos ser influenciados pelos pensamentos que os espíritos sugerem. Há fatalidade, por conseguinte, nos episódios que se apresentam, por serem estes consequência da escolha que fazemos. Pode deixar de haver fatalidade no resultado de tais acontecimentos, visto ser-nos possível, pela nossa prudência, modificar-lhes o curso. “Quanto aos atos da vida moral, esses emanam sempre do próprio homem que, por conseguinte, tem sempre a liberdade de escolher. No tocante, pois, a esses atos, nunca há fatalidade.” (4)
Jorge Hessen
http://jorgehessen
Referência bibliográfica:
(1) Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro: Ed FEB 2001, síntese das questões. 851, 860, 861 e 866 e 872
(2) Disponível em
(3) Xavier, Francisco Cândido. Mandato de Amor, org. Geraldo L. Neto Espíritos Diversos, São Paulo: Ideal, 1993
(4) Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro: Ed FEB 2001, síntese das questões. 851, 860, 861 e 866 e 872
(5) idem síntese das questões. 851, 860, 861 e 866 e 872
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