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segunda-feira, 14 de março de 2011

A GENÉTICA ANTE A DOUTRINA ESPÍRITA - ALGUNS COMENTÁRIOS



Recentemente, nasceu na Espanha um bebê selecionado geneticamente para curar uma doença de outra pessoa. Javier é o oitavo bebê nascido na Andaluzia sem doenças hereditárias, graças ao Diagnóstico Genético Pré-Implantatório- DGP. A técnica pode ser aplicada para doenças como fibrose cística, hemofilia A e B, distrofia muscular e mal de Huntington, entre outras. Se as doenças sempre apresentam um componente genético, mesmo que débil, tentar abordá-lo e neutralizá-lo é benéfico em termos de saúde pública. Em Portugal, dois gêmeos saudáveis, com 16 semanas, são a prova do êxito do teste desenvolvido no Porto por um grupo de investigadores. A mãe, de 24 anos e portadora de paramiloidose, vulgarmente conhecida por doença dos pezinhos, recorreu a um processo de fertilização "in-vitro", que permitiu obter o diagnóstico genético do embrião, antes da sua implantação no útero. A transferência foi bem sucedida e o exame pré-natal, das 16 semanas, confirmou a saúde dos bebês. Embora a sua aplicação não seja muito comum, já foram desenvolvidos testes de diagnóstico genético para diversas doenças, nomeadamente para anomalias cromossômicas.
A combinação do conhecimento genético com os avanços da tecnologia reprodutiva já permite, aos pais, selecionar alguns dos genes que querem (ou não) transmitir aos seus filhos. Mas, por enquanto, inserir genes em embriões é uma tecnologia cheia de imperfeições, com mais riscos do que benefícios, e que deverá demorar, ainda, algumas décadas antes de a situação se alterar. Será possível "produzir" bebês resistentes ao cancro, às doenças cardíacas e mentais e, até, à AIDS. Estamos convictos de que o conhecimento da condição de risco genético de cada ser se torna necessário e obrigatório para a prevenção de doença, constituindo-se em uma tecnologia social que pode estabelecer modos de relacionamento do indivíduo consigo mesmo, com a família e com a sociedade. Todavia, opções legais poderão bloquear esses avanços da genética que, entre os cientistas, não são aceitas, unanimemente, sob o ponto de vista ético.
O tema pode nos levar a refletir, também, sobre o nefasto eugenismo de Francis Galton (1), que permanece como a caução científica de toda pretensão a se predizer o futuro de um indivíduo. A doutrina da eugenia, fundada por Galton, tinha como princípio gerar uma elite genética pelo controle rigoroso da reprodução humana, favorecendo a perpetuação dos indivíduos com caracteres de comportamento desejáveis e, proscrevendo os indesejáveis. Sabemos que alguns Estados totalitários, do século XX, chegaram a adotar a eugenia como programa de desenvolvimento social com trágicas consequências.
O que pode ocorrer com a disponibilização comercial de testes, relativos a características humanas complexas, para aplicação em embriões "in vitro" em procedimentos de diagnóstico genético pré-implantatório? É interessante refletir que, muito antes de a hereditariedade ser explicada em bases biológicas, hoje, bases genéticas, as noções de SANGUE e parentesco eram usadas para explicar as desigualdades sociais. A superioridade do SANGUE AZUL era tema, historicamente discutido, e que refletia interesses de castas.
Concomitantemente às descobertas científicas, no campo da genética, foram-se somando aflições de ordem moral e ética: em conseqüência, dessas dúvidas e inquietações, é que surgiu um novo campo de estudo: "a Bioética, que objetiva a orientar os profissionais e a sociedade como um todo quanto aos rumos, aplicações e limites relacionados à questão". (2)
Não se pode desconsiderar que a genômica é uma atividade que, em suas redes e vínculos institucionais, políticos e econômicos, organiza-se sob a égide da poderosa indústria biotecnológica, representante privilegiada do capital globalizado. "Envolvem, também, políticos e gestores preocupados com o aumento dos gastos públicos com saúde e com o bem-estar das populações." (3)
A genética tem sido responsável por uma enorme variedade de contribuições práticas em vários campos da ciência como a biologia, a medicina, a veterinária e a agricultura. As possibilidades da Engenharia Genética são inimagináveis. Porém, na Genética, a questão crucial não é o que pode ser feito, e sim o que deve ser feito com responsabilidade, bom senso e ética. A Engenharia Genética é vista com naturalidade pelo Espiritismo, como se pode ver na resposta do Espírito Emmanuel, no caso da fecundação assistida: "Tais espíritos vêm à luz mediante preparação espiritual? - Sim, (...) obedecem aos Planos Superiores". (4)
O Espiritismo deve aceitar as pesquisas e revelações da Engenharia Genética, desde que tenham por objetivo a melhoria da saúde humana, quando dirigidas, essencialmente, para o bem da humanidade. Até porque, "os avanços da Ciência chegarão à Terra, como estão chegando, na proporção direta do merecimento planetário (embora, inicialmente, o homem faça mau uso)."(5)
Em suma, com relação ao tema, fazemos nossas as afirmativas de Eurípedes Kühl, "Prevendo doenças, mais fácil tratá-las. Menos doenças, menos dor. Menos dor, mais evolução espiritual. Mais evolução espiritual, mais amor entre os homens. E mais amor, mais próximos de Deus". (6)


Jorge Hessen
E-Mail: jorgehessen@gmail.com
Site: http://jorgehessen.net
FONTES:
(1) Francis Galton (1822-1911), médico e estatístico, é o fundador desse tipo de eugenismo
(2) Disponível no site http://www.espiritismoegenetica.espiridigi.net/
(3) Kerr A, Cunningham-Burley S. On ambivalence and risk: reflexive modernity and the new human genetics. Sociology. 2000; 34(2): 283-304.
(4) Disponível no site http://www.espiritismoegenetica.espiridigi.net/
(5) idem
(6) Kühl , Eurípedes. Genética e Espiritismo, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 1996

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