FE E RAZÃO
A maioria das pessoas inquietas pede alívio, apressadamente, como se a consolação real fosse obra do improviso, a se impor de fora para dentro. Allan Kardec afirmou, em "O Evangelho Segundo o Espiritismo", que "Fé inabalável só é a que pode encarar a razão, face a face, em todas as épocas da Humanidade". Portanto, é importante que se estabeleçam as relações entre fé e razão, pois fazem parte do contexto espírita. Contudo, sem tanger para as considerações de ordem filosófica, convém refletir, concretamente, que nem todos os espíritas compreendem a dimensão do conceito de fé raciocinada, haja vista as mais estranhas posturas de "fé" nas terapias "doutrinárias" propostas em muitos Centros Espíritas.
Kardec nos ensina que a fé raciocinada é aquela que permanece em constante contato com a razão (bom senso), isto é, busca, sempre, um encontro com a transcendência, argumenta e questiona. Motivo pelo qual a fé espírita há de ser uma fé em constante reciclagem, uma fé sempre renovada, sempre (re)construída, mas, certamente, sem que exceda seus limites. Caso contrário, sucumbirá, numa espécie de fé cega, "(in)inteligente": a que se contenta em, apenas, descobrir placebos para "tratamentos espirituais" que em nada ajudam.
A fé, com fulcro na razão, é indispensável para que registremos o socorro de que necessitamos. Mas, não nos reportamos ao fanatismo religioso ou à cegueira da ignorância, porém, sim, à atitude de segurança íntima, sensatez com reverência e submissão, diante das Leis de Deus, em cuja sabedoria e amor procuramos respaldo.
Nada temos contra as propostas terapêuticas nas Casas espíritas, para aliviar as moléstias do corpo e do espírito. Mas não podemos esquecer que, por muito tempo, ainda, não poderemos prescindir da contribuição do clínico, do cirurgião e do farmacêutico, missionários da saúde coletiva. Indubitavelmente, é na alma que reside a fonte primária de todos os recursos medicamentosos definitivos. A assistência farmacêutica do mundo não pode remover as causas transcendentes do caráter mórbido dos indivíduos. O remédio eficaz está na ação do próprio espírito enfermiço movido pela fé racional. Até porque, nada, e ninguém, conseguirão eliminar efeitos, quando as causas permanecem.
Uma fé espírita legítima nos demonstra que as mágoas, ressentimentos, irritações, ciúmes, cólera, desespero, crueldade e intemperança, criam zonas mórbidas de natureza particular no corpo físico, impondo às células as desarmonias pelas quais se anulam quase todos os recursos de defesa, abrindo-se campo fértil à cultura de microorganismos patogênicos nos órgãos menos imunes. Dessa forma, atormentam o pensamento, proporcionando lesões mentais (espirituais), verdadeiras matrizes de doenças que desembocam no corpo físico. Por outro lado, o exercício do amor encerra a filosofia do ideal superior e nos dá a visão correta de uma vida em constante aprimoramento espiritual.
Conquistar a fé é alcançar a possibilidade de não mais dizer: "eu creio", mas afirmar: "eu sei", com o respaldo da razão, tocado pela luz do sentimento. Essa fé, que é força e vitalidade, não se estagna sob qualquer pretexto ou circunstância da vida e se bem compreendida e assimilada, intensifica-se diante da dor, contribuindo para que suportemos quaisquer desafios existenciais.
A fé é a virtude que desloca montanhas, disse Jesus. Todavia, mais pesados do que as maiores montanhas, jazem depositados nos corações dos homens a impureza e todos os vícios que derivam da impureza.
A fé é o resultado do nosso conhecimento interior. Quanto maior for a nossa identidade com a fé, mais forte aparecerá em nossas vidas a felicidade. A edificação da paz interior com a luz divina exige trabalho constante e sereno. Não será tão-somente ao preço de promessas verbais que ergueremos os templos da fé raciocinada.
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