Por Jane Maiolo
“Quando eu era criança, falava como criança, pensava como criança,
raciocinava como criança, desde que me tornei homem, eliminei as coisas de crianças”
[1]
A páscoa é uma tradição religiosa,
cujas raízes têm suas origens no Judaísmo, sendo posteriormente absorvida pelo Cristianismo,
sofrendo ao longo das eras profundas adulterações, mormente nos tempos modernos.
O clima de reverência ao
sagrado e ao espiritual foi substituído pela a imagem de um coelhinho,
branquinho que nos distrai nos com seus ovinhos coloridos, trazendo-nos a
doçura do chocolate e nos afastando em definitivo do verdadeiro sentido da
celebração primordial.
A páscoa é uma comemoração do
povo judeu, lembrando a libertação do cativeiro a que foram submetidos por 400
anos, pelos egípcios, ou seja, é uma celebração de reconhecimento e gratidão a
Deus pela libertação do cativeiro.
Sem dúvida a celebração da
páscoa faz parte de todo um universo religioso, principalmente se considerarmos
sua origem, seus significados e a experiência vivenciada numa determinada época
pelo povo judeu. A religiosidade que marcou aquele período da história ficou
indelevelmente registrada no psiquismo de toda cultura judaica, rica de
símbolos e metáforas a fim de se conservar a essência espiritual do
acontecimento.
Páscoa mais que celebração
pela libertação significa Vida, ou seja, chance de recomeçar a viver livremente
sem prender-se a estreiteza dos sentimentos, daí toda a recomendação judaica de
se adotar por uma semana, como componente da casa, um cordeiro, e se afeiçoar a
ele, pois, esse cordeiro, será sacrificado para “salvar” o grupo doméstico, e
essa experiência será uma experiência mesclada pela dor, perda e desilusão, aprendizado
que os levariam a caminhos de libertação dos sentimentos. [2]
Entretanto, com a vinda do
próprio Mestre Galileu ao planeta, Ele aceita o título de Cordeiro de Deus,
como propagou o Batista: E, vendo passar a Jesus, disse: Eis aqui o Cordeiro
de Deus” [3] e convive não apenas uma semana, porém, por três anos,
afeiçoando-se aos discípulos, tendo compaixão da multidão sofrida, alterando o
rumo das existências dos cegos, mancos, leprosos, surdos, e dos pobres que foram
enriquecidos pelas luzes da Boa Nova.
Transcorridos os três anos de
ministério junto do povo padecente o Cordeiro anuncia a despedida, pois a
Páscoa se aproximava e Ele seria imolado a benefício de todos. Ele retornaria para
as culminâncias divinas e os discípulos experimentariam uma dor superlativa,
pois se afeiçoaram de tal forma a Ele que a notícia da ausência física do
Mestre lhes provocaria dores inenarráveis. Os laços afetivos se tornaram tão
intensos que Jesus já não mais o chamavam de servos, mais sim, amigos. Jesus os
amou de tal forma que não mais importavam seus defeitos, suas defecções, suas
fragilidades ou suas pusilanimidades. Era o Amor amando sem exigir. Todavia,
era o Amor ensinando aos amados a passarem por períodos de testemunhos cruciais.
Era o Cordeiro ensinando que a Páscoa era o símbolo da libertação da escravidão
da matéria. Era preciso transcender e compreender a dimensão espiritual dessa data.
Era preciso ser adulto e agir como adulto e não mais como crianças espirituais.
O Espiritismo, na condição de
Cristianismo redivivo, tendo por princípio a libertação do jugo da matéria e a
reforma íntima pela conscientização que o Evangelho proporciona, não possui
compromisso com as tradições da páscoa mundana ou qualquer outra tradição. O
compromisso do Espiritismo é reviver os princípios amorosos e restauradores que
Jesus nos ensinou e despertar em nós o sentimento de gratidão à liberdade e à
vida.
Infelizmente temos nos
afastado das verdades imortais e dos exemplos de liberdade e de renovação nos
escravizando a ilusão da matéria, trocando o real pelo doce, prazeroso e
ilusório. A páscoa é momento de reflexão. Ouçamos nos recessos da consciência o
recado de Paulo quando narra: “Não escrevo estas coisas para vos envergonhar;
mas admoesto-vos como meus filhos amados.” [4] É sempre tempo de refletir e
mudar rumos da nossa existência.
Referências bibliográficas:
[1] 1Cor 13:11
[2] Êxodo 12:1
[3] João 1:36
[4] 1 Cor 4:1
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