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quinta-feira, 30 de junho de 2016

SOLUÇÕES TERAPÊUTICAS DA MEDICINA ESPIRITA Jorge Hessen



Jorge Hessen 

Diante das enfermidades o Espiritismo não recomenda o conformismo, por isso é justo buscar a medicina terrena, que pode suavizar a dor e refrear a doença no limite da permissão de Deus. Se a Providência Divina pôs os remédios ao nosso alcance é porque podemos e precisamos utilizá-los a fim de combater as energias danosas que migraram do perispírito para o corpo físico. 

Tem médico receitando bom humor, outro trocando remédio por aulas de surf para tratar doenças crônicas e até aquele que investe em comida fresquinha, saudável e barata. O médico Garth Davis, do Mermorian Herman Medical Center, no Texas, vem chamando atenção por cuidar de seus pacientes de uma forma muito orgânica. [1] Davis costuma receitar alimentos frescos como tratamento. Para isso, ele criou sua própria farmácia responsável por distribuir legumes, verduras e frutas orgânicas, a Farmacy Stand. Garth fechou uma parceria com a Kristina Gabrielle Carrillo-Bucaram, fundadora da Rawfully Organic, a maior rede de cooperação sem fins lucrativos de alimentos orgânicos com sede em Houston. [2] 

Sem entrar no mérito das eficácias da alimentação sadia, dos medicamentos fitoterápicos, alopáticos ou homeopáticos, cremos que as causas das doenças transpõem os aspectos biológicos. Há enfermidades que exigem tratamentos demorados, outras vezes precisamos até de cirurgia, mas tudo tem sua matriz na alma e está sob as diretrizes da “Lei de Causa e Efeito”, que visa despertar a reforma moral do doente através de processos dolorosos. 

Qualquer medida preventiva ou profilática em relação às doenças tem que se iniciar na conduta mental do doente, exteriorizando-se na ação moral que reflete o velho conceito latino: mens sana in corpore sano. A doença não é uma causa, é uma consequência proveniente dos alentos negativos que circundam os nossos organismos psicossomático e físico. 

O controle das energias mento-espiritual é proeza dos pensamentos, dos desejos e dos sentimentos, portanto possuímos potências energéticas que nos causam saúde ou doenças em razão das disciplinas ou desordens mentais e emocionais. Por conseguinte, “assim como o corpo físico pode ingerir alimentos venenosos que lhe intoxicam os tecidos, também o organismo perispiritual absorve elementos que lhe degradam, com reflexos sobre as células materiais”. [3] 

Se ainda não conseguimos disciplinar e dominar as emoções e mantemos paixões (ódio, inveja, mágoa, rancor, ideia de vingança), invariavelmente entraremos em sintonia com os irmãos enfermos do plano espiritual (obsessores), que emitirão fluidos maléficos para impregnar nosso perispírito, intoxicando-nos com suas emissões de energias insalubres, podendo nos levar a doenças crônicas. 

Os médicos de boa formação espírita compreendem muito bem que a resposta para as enfermidades, que há milênios perturba a humanidade, está em nossa mente. Sobre a base dos estudos de médicos encarnados e desencarnados, a medicina à luz do espiritismo vem se fortalecendo cada vez mais na Terra. São enfermos e médicos, que encontraram na Doutrina Espírita diferentes interpretações para toda e qualquer enfermidade. 

Ao contrário dos médicos tradicionais, os médicos espíritas dizem anular paradigmas ao avaliar, em seus consultórios, também a essência (alma) daquele paciente que busca socorro. Seja diante de um simples resfriado, um transtorno mental ou até mesmo um câncer, os médicos que abraçam o Espiritismo, ao contrário do médico clássico, não analisam no paciente apenas o corpo biológico enfermo, mas o espírito, a alma e suas vivências morais, que dizem muito para o diagnóstico eficaz. 

Não ignoram os médicos espiritas que a saúde e a doença estão enraizados no espírito e não na matéria, como acredita a medicina clássica. Obviamente os tratamentos à luz do Espiritismo não abandonam os remédios tradicionais e tampouco as tecnologias, porém vão além. Propõem os recursos terapêuticos da água fluidificada. Indicam o passe, isto é, a transfusão de energias fisiopsíquicas através das emissões de magnetismo pela imposição das mãos de um médium. E ainda sugerem a técnica básica do tratamento da obsessão fundamentada na doutrinação dos espíritos envolvidos, encarnados e desencarnados. 

Todos tipos de doenças pertencem às provas e às vicissitudes da vida terrena. São intrínsecos à nossa natureza material e à inferioridade do mundo que habitamos. Nos orbes mais adiantados, física e moralmente, o corpo humano, mais refinado e menos pesado, não está sujeito às mesmas doenças a que está exposto no nosso, e o corpo não é minado pela devastação das paixões. Se Deus não quisesse que pudéssemos curar ou aliviar os sofrimentos mentais e físicos, em certos casos, não teria colocado diversos meios medicinais à nossa disposição. Ao lado da medicação ordinária, elaborada pela ciência, o magnetismo e a desobsessão nos deram a conhecer o poder da ação dos Espíritos, e o Espiritismo veio comprovar-nos o potencial da mediunidade curativa e a poderosa influência da prece. 

Referências: 

[1] Disponível em http://razoesparaacreditar.com/saude/medico-cuida-de-paciente-com-alimentos-frescos-em-vez-de-remedios/ acessado em 25/06/2016
[2] idem
[3] Xavier , Francisco Cândido. Nos Domínios da Mediunidade, ditado pelo espírito André Luiz, Rio de janeiro: ED. Feb, 1999

terça-feira, 28 de junho de 2016

DIREITO À PESQUISA



Leonardo Paixão (*)
 
Como ocorre nas Ciências, sejam Naturais, Exatas ou Humanas, assim também ocorre na Ciência psíquica ou Transcendental: a imaginação sonhadora não deve ser parte das pesquisas realizadas, tanto quanto não confiarmos de maneira absoluta no que os seres de Outro Mundo ditam aos médiuns. Há imensa necessidade, neste caso, do uso da mais acurada razão e do bom senso, pois tal como nós humanos, os Espíritos descrevem o Mundo Espiritual de acordo com o seu grau evolutivo e o seu ponto de vista e ponto de vista, sabemos bem, pode ser apenas a vista de um ponto. Quantos pontos faltarão para informes claros e corretos? O Mundo Invisível contêm diversas categorias de Espíritos e não é porque um Espírito dita uma obra que temos que concordar com o que ele diz, Kardec em sua sabedoria afirmou: "Uma só garantia séria existe para o ensino dos Espíritos: a concordância que haja entre as revelações que eles façam espontaneamente, servindo-se de grande número de médiuns estranhos uns aos outros e em vários lugares" (O Evangelho Segundo o Espiritismo, Introdução, item II).
 
Desta afirmação do Mestre depreende-se, como está claro, que tal concordância universal refere-se às revelações que os Espíritos transmitem, no entanto, o que vemos em muitos espíritas é o repetirem frases ditas por Espírito X ou Y, dando-se uma confiança demasiada no que falam os Espíritos, onde aí o caráter racional da doutrina Espírita? Não estamos a desmerecer os valiosos ensinos dos Espíritos, mas é preciso que se compreenda que o progresso da Ciência Espírita não se faz só pelas revelações que os Espíritos dão, sim também pela pesquisa séria efetuada por nós, os encarnados, e exemplos não nos faltam, graças à pesquisa de Hernani Guimarães Andrade, Carlos Bernardo Loureiro, Jorge Andréa, Herculano Pires, Bezerra de Menezes, Deolindo Amorim e muitos outros, alcançamos maiores conhecimentos sobre reencarnação, mediunidade, premonição, evolução, criminologia, pedagogia, etc. O trabalho não é somente dos Espíritos, se assim pensarmos estaremos há um passo da mistificação, pois teremos excluído o raciocínio que leva à análise crítica das informações transmitidas.
 
Se aos Espíritos Superiores cabe a nossa instrução em assuntos transcendentes, a nós cabe o colaborarmos com eles para o desenvolvimento destes, vejamos o que diz Kardec no tópico 50 do I Capítulo do livro A Gênese:
 
"A terceira revelação, vinda numa época de emancipação e madureza intelectual, em que a inteligência, já desenvolvida, não se resigna a representar papel passivo; em que o homem nada aceita às cegas, mas quer ver aonde o conduzem, quer saber o porquê e o como de cada coisa - tinha ela que ser ao mesmo tempo o produto de um ensino e o fruto de um trabalho, da pesquisa e do livre exame. Os Espíritos não ensinam senão justamente o que é mister para guia-lo no caminho da verdade, mas abstém-se de revelar o que o homem pode descobrir por si mesmo, deixando-lhe o cuidado de discutir, verificar e submeter tudo ao cadinho da razão, deixando mesmo, muitas vezes, que adquira experiência à sua custa. Fornecem-lhe o princípio, os materiais; cabe-lhe a ele aproveitá-los e pô-los em obra".
 
Aí estão as palavras claras do Mestre, o bom senso encarnado, no dizer de Camille Flammarion, nelas vemos que não bastará apenas aguardarmos por revelações retumbantes do Além-Túmulo, se assim fosse, não haveria necessidade do imenso trabalho que teve Allan Kardec para por em ordem as  instruções dos Espíritos e em perceber que no Mundo Invisível tanto quanto na sociedade humana, há Espíritos de diversas gradações de saber, desde os mais ignorantes aos mais adiantados, para tal fato Kardec chamou a atenção no tópico 15, do I Capítulo de A Gênese:
 
"Passa-se no mundo dos Espíritos um fato singular, de que seguramente ninguém houvera suspeitado: o de haver Espíritos que se não consideram mortos. Pois bem, os Espíritos Superiores, que conhecem perfeitamente este fato, não vieram dizer antecipadamente: Há Espíritos que julgam viver ainda a vida terrestre, que conservam seus gostos, costumes e instintos". Provocaram a manifestação de Espíritos incertos quanto ao seu estado, ou afirmando ainda serem deste mundo, julgando-se aplicados às suas ocupações ordinárias, deduziu-se a regra a multiplicidade dos fatos análogos demonstrou que o caso não era excepcional, que constituía uma das fases da vida espírita; pode-se então estudar todas as variedades e as causas de tão singular ilusão, reconhecer que tal situação é sobretudo própria de Espíritos pouco adiantados moralmente e peculiar a certos gêneros de morte; que é temporária, podendo, todavia, durar semanas, meses e anos. Foi assim que a teoria nasceu da observação. O mesmo se deu com relação a todos os outros princípios da doutrina".
 
De tudo o que até aqui foi dito, devemos observar que o estudo, o recolhimento, e a seriedade, jamais serão recomendações excessivas, como diz Allan Kardec, o Espiritismo é a Ciência do Infinito e interessa a todas as questões de metafísica e de ordem social (cf. Introdução de O Livro dos Espíritos), é um campo vastíssimo e há aqueles que se especializam em determinadas áreas. Uns pesquisam e estudam o Magnetismo, outros as técnicas de obsessão e prática de desobsessão, há os que dentro da sua área de formação acadêmica estudam temas da Medicina, da Psicologia, da Psiquiatria, da Pedagogia, da filosofia, da Química, da Biologia, da História, da Geografia, etc...à luz do Espiritismo, trazendo os resultados de suas pesquisas em artigos, livros, seminários, congressos, para o esclarecimento de outros com o objetivo de, tal como fez o Nobre Mestre Lionês com a Revista Espírita, "sondar a opinião dos homens e dos Espíritos sobre alguns princípios, antes de os admitir como partes constitutivas da doutrina", referimo-nos é óbvio às pesquisas dignas de tal nome, pois muitos há que obtendo certos resultados e apoiados na opinião de um só Espírito, proclamam aqueles como verdades absolutas.
 
Que o Movimento Espírita e os adeptos da Doutrina, que podem ou não estar envolvidos com o Movimento, não tentem cercear a liberdade de pensamento - em nosso país conquistada a tão pouco tempo -, e não se fique a achar que nada mais há que acrescentar por muitos serem os livros quer mediúnicos ou não que temos para longo tempo de estudo. É certo que há material suficiente, mas também é certo que deste material inúmeras coisas necessitam de desdobramentos outros, o que se fará quando nos decidirmos a pesquisar. Este o caráter progressivo da Doutrina.
 
(*) Leonardo Paixão é trabalhador espírita em Campos dos Goytacazes, RJ, colaborando com um grupo de amigos de ideal no Grupo Espírita Semeadores da Paz.

MÉDIUM, CO-AUTOR?



Leonardo Paixão (*)
 
"Qualquer que seja a natureza dos médiuns escreventes, quer mecânicos ou semimecânicos, quer simplesmente intuitivos, não variam essencialmente os nossos processos de comunicação com eles. De fato, nós nos comunicamos com os Espíritos encarnados dos médiuns, da mesma forma que com os Espíritos propriamente ditos, tão-só pela irradiação do nosso pensamento" - (KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns, Segunda Parte, Cap. XIX, item 225, Dissertação do Espírito Erasto).
 
Conforme o trecho que pusemos acima, da dissertação do Espírito Erasto, vê-se claramente que o pensamento é o meio de comunicação dos Espíritos com os médiuns e que, independente da classificação da mediunidade, o pensamento irradiado dos Espíritos é o que os médiuns percebem. Fica aí uma pergunta: Como apenas pelo pensamento pode o médium filtrar estilos diversos, não seria o caso de ele escrever e/ou falar com o seu próprio estilo, o seu próprio modo de ser? Para responder a esta questão, leiamos o que em sua dissertação expõe o Espírito Erasto em um outro trecho:
 
"Com um médium, cuja inteligência atual, ou anterior, se ache desenvolvida, o nosso pensamento se comunica instantaneamente de Espírito a Espírito, por uma faculdade peculiar à essência mesma do Espírito. Nesse caso, encontramos no cérebro do médium os elementos próprios a dar ao nosso pensamento a vestidura da palavra que lhe corresponda e isto quer o médium seja intuitivo, quer semimecânico, ou inteiramente mecânico. Essa a razão por que, seja qual for a diversidade dos Espíritos que se comunicam com um  médium, os ditados que este obtém, embora procedendo de Espíritos diferentes, trazem, quanto à forma e ao colorido, o cunho que lhe é pessoal" (Grifo nosso - KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns, Segunda Parte, Cap. XIX, item 225, Dissertação do Espírito Erasto).
 
Aí está a resposta de que, mesmo que se tenham sob as vistas comunicações de estilos diversos, poderá nelas se observar traços da personalidade do médium. Um excelente exemplo quanto a isso são as cartas familiares recebidas pelo médium Chico Xavier, muitos críticos observam que em muitas destas comunicações, os comunicantes, em especial os filhos, escrevem as expressões: "Querida mãezinha", "Mãezinha de meu coração", "Mãezinha", "Querida Mamãe", e ficam a questionar a veracidade das comunicações, esquecendo-se de observar o conjunto e não se prender apenas a uma expressão. Estas expressões nas cartas psicografadas pelo saudoso médium de Uberaba, mostram o traço da personalidade do Chico, o seu sentimento de amor em relação às mães e, assim, em geral, ele inicia as cartas dos filhos para suas mães, podemos ler na centena de livros de cartas familiares que através de suas mãos nos foi legado que as cartas trazem estas expressões, porém, há algo a também ser observado, é que através de outros médiuns, como o Eurícledes Formiga e o Júlio Cézar Grandi Ribeiro (Julinho), ambos também já desencarnados, os filhos comunicantes também usam destas expressões, o que nos conduz a pensar que, ainda que aí esteja um colorido, um traço da personalidade do médium, aí está também o amor, o carinho, a emoção dos Espíritos em contato com os seus entes caros. O que há na comunicação mediúnica fiel ao pensamento do Espírito é a reciprocidade de sentimentos e emoções entre médium e Espírito e, assim, o médium ao colocar no papel ou ao falar, visualizar, ouvir, interpretará com o seu vocabulário as ideias, sentimentos e emoções que o Espírito transmite, ele vestirá a percepção que está tendo com palavras e estas virão de forma tal a reproduzir o estilo do Espírito comunicante.
 
Em relação às comunicações estritamente instrutivas (falamos estritamente instrutivas, pois as cartas familiares também trazem instruções, basta ter 'olhos de ver'), perceberemos a necessidade de os médiuns estarem constantemente estudando e o porquê de os Espíritos sempre insistirem nisto. Ouçamos o Espírito Erasto, ainda:
 
"Por isso é que gostamos de achar médiuns bem adestrados, bem aparelhados, munidos de materiais prontos a serem utilizados, numa palavra: bons instrumentos, porque então o nosso períspirito, atuando sobre o daquele a quem mediunizamos, nada mais tem que fazer senão impulsionar a mão que nos serve de lapiseira, ou caneta, enquanto que, com os médiuns insuficientes, somos obrigados a um trabalho análogo ao que temos, quando nos comunicamos mediante pancadas, isto é, formando, letra por letra, palavra por palavra, cada uma das frases que traduzem os pensamentos que vos queiramos transmitir.
É por estas razões que de preferência nos dirigimos, para a divulgação do Espiritismo e para o desenvolvimento das faculdades mediúnicas escreventes, às classes cultas e instruídas, embora seja nessas classes que se encontram os indivíduos mais incrédulos, mais rebeldes e mais imorais. É que, assim como deixamos hoje, aos Espíritos galhofeiros e pouco adiantados, o exercício das comunicações tangíveis, de pancadas e transportes, assim também os homens pouco sérios preferem o espetáculo dos fenômenos que lhes afetam os olhos ou os ouvidos, aos fenômenos puramente espirituais, puramente psicológicos" (Idem, ibidem).
 
Com um médium que ofereça material em seus arquivos mnemônicos, os Espíritos apenas precisam dar um  impulso e, então, a ideia, o assunto que eles querem expressar começa a fluir, não é raro que médiuns experientes, particularmente no setor da psicografia, digam que o pensamento lhes corre célere, de um jato e mais que depressa eles o colocam no papel.
 
Vejamos o que nos diz o Espírito Emmanuel a respeito de sintonia mediúnica:
 
"Para cooperar na mediunidade, a serviço do bem, não deves esperar que os instrutores desencarnados te impulsionem as peças orgânicas, como se fosses um fardo movido a guindaste.
No reino da alma, o trabalhador, conquanto precise de inspiração, não pode considerar-se mola inerte.
Indiscutivelmente, o mecanismo espontâneo é nota destacada e importante, à feição de novidade para a convicção; contudo, as edificações do sentimento e da ideia exigem vigilância da consciência.
Por isso mesmo, em qualquer condição da força medianímica, podes colaborar com as Inteligências superiores, domiciliadas na Vida Maior, em favor do progresso humano.
(***)
Em toda parte, pensas e fazes algo sob a influência de alguém.
E, entendendo que todos nos encontramos consideravelmente distantes do bem verdadeiro, não percas tempo perguntando se o bom pensamento te pertence à cabeça.
Recorda, acima de tudo, que o bem puro verte essencialmente de Deus e que os mensageiros de Deus tomar-te-ão sob a tutela do amor, se te dispões a servir" (XAVIER, Francisco C. Seara dos Médiuns. 2ª edição. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira., 1961. pp. 171 e 172).
 
Feitos estes esclarecimentos, a pergunta ao título deste artigo só pode ser afirmativa, pois, apesar de se colocar que o trabalho do médium é todo mecânico, sem o material de que se precisa, os Espíritos ficam impossibilitados de se comunicar.
 
O Espírito Emmanuel, digno instrutor espiritual, através da mediunidade abençoada de Chico Xavier, em prefácio ao livro Caminheiro, do Espírito Eurícledes Formiga, psicografia de Carlos Antônio Baccelli, no ano de 1989, já nos responde a esta questão ao dizer no segundo parágrafo de seu prefácio: "Tanto o Autor quanto o co-Autor são suficientemente conhecidos para que lhes façamos a apresentação" (grifo nosso). Precisamos estudar os prefácios de Emmanuel com atenção, pois neles há instruções e revelações que nos dão desdobramentos das instruções dadas a Allan Kardec.
 
Encerramos com estas sábias palavras de Emmanuel:
 
"Não há desenvolvimento mediúnico, para realizações sólidas, sem o aprimoramento da individualidade mediúnica.
No caso da terra, o lavrador será mordomo vigilante.
No caso da mediunidade, o médium será o zelador incansável de si mesmo.
E médium algum se esqueça de que é na terra boa abandonada que a praga e a serpente, o espinheiro e a tiririca proliferam mais e melhor" (XAVIER, Francisco C. Seara dos Médiuns. 2ª edição. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira., 1961. p. 132).
 
(*) Leonardo Paixão é trabalhador espírita em Campos dos Goytacazes, RJ, colaborando com amigos de ideal no Grupo Espírita Semeadores da Paz.

sexta-feira, 24 de junho de 2016

No CREMERJ: Desafiando a Incredulidade


 
Luiz Carlos Formiga

Formado em Medicina pela UFMG, Pedro da Silva Nava (1903-1984), foi escritor, autor de sete livros. Baú de Ossos, Balão Cativo, Chão de Ferro, Beira Mar, Galo das Trevas, O Círio Perfeito e Cera das Almas (incompleto). Pode-se constatar também o valor de seus escritos sobre a medicina.

Estava professor na universidade e presenciei o desconforto que foi causado pela notícia de sua morte.

Humberto Werneck diz, em “O Suicídio Anunciado de Pedro Nava”, que “tanto tempo depois de Pedro Nava disparar um tiro contra a própria cabeça, aos 80 anos de idade, tem poucas dúvidas de que o grande escritor mineiro há muito caminhava para se matar. Se não fisicamente (como fez naquela noite, 13 de maio de 1984, arriado num banco sob um oitizeiro quase em frente à sua casa, no Rio), ao menos literariamente Nava teria decidido abreviar o fim.”

Werneck diz ainda que “desconfiava disso quando, um ano antes, passou alguns dias conversando com ele, em seu apartamento na rua da Glória, para escrever na Isto É um perfil do memorialista às vésperas de completar 80 anos. Diz ele que poderia, deveria ter desconfiado, tantas eram as evidências. Estavam numas enigmáticas entrelinhas de nossa conversa, quando, enfático, Nava deplorava a erosão do corpo na velhice e insistia no esplendor da juventude e no primado do amor físico.”

"Sou um suicidário, chegou a dizer Nava pela boca de um personagem de O Círio Perfeito, saído cinco meses antes da tragédia.”

 "O calvário para o suicida é arranjar o revólver, providenciar o veneno, pendurar a corda no gancho, sentar-se no peitoril da janela."


O suicídio é um problema que incomoda à universidade, onde se discute motivações, circunstâncias precipitantes, prevenção. Incomoda também ao movimento espírita, por ser um ato de grande gravidade diante das Leis Divinas ou Naturais.


O Psiquiatra Miguel Chalub, em 1979, chama a atenção para o perfil suicida naquela época: homem, com mais de 55 anos, morador de grandes cidades, agnóstico, socialmente isolado, doente, sem antecedentes psiquiátricos e alcoólatra moderado.


Poderíamos dizer que com esse perfil, a pessoa sofre da “doença da incredulidade” e não conseguem nem perguntar se espíritos existem, mesmo que tenham estado diante deles.

Foi assim que se comportou um paciente posteriormente a uma cirurgia a que foi submetido, feita por um espírito, médico desencarnado materializado com a ajuda de um médium.

O mais interessante é que a peça foi a exame com dois patologistas, e, assistiram ao procedimento dois cirurgiões, um cardiologista e um anestesista.

O paciente, um descrente médico-professor voltou a ter vida normal, sem aqueles sintomas de asma cardíaca. Anos depois desencarnou. Na realidade ele nunca acreditou que houvesse sido submetido a uma cirurgia mediúnica. E agora José?


Agora no dia 04 de julho de 2016 teremos no CREMERJ a oportunidade de estar frente a frente com o Dr. Paulo Cesar Fructuoso, um médico que estava presente naquela cirurgia inusitada. Foi no seu livro que colhi esse exemplo, incapaz de devolver ao paciente a intuição da imortalidade da alma e a da existência de uma Inteligência Suprema, Causa Primária de todas as coisas. A incredulidade é uma difícil provação e os que sofrem dessa “doença da alma” deverão adquirir à custa do próprio raciocínio a prova da existência de Deus e da vida futura. A nossa universidade ainda não mede esforços no sentido do desenvolvimento da Inteligência Espiritual. Na realidade a universidade no nosso país vive de “pires na mão”, para trabalhar o domínio cognitivo. Criar universidades como vitrine política é muito fácil!

Para aguçar a curiosidade de nossos acadêmicos preparamos um pequeno texto, intitulado “A Face Oculta da Medicina no Cremerj”. Esperamos que ele possa ser útil aos que possuem incrédulos materialistas entre os seus amores. Esperamos que possa ser uma estrada de Damasco, para aqueles que estão sem a esperança de dias melhores.

Se dê uma chance. Clique num dos links abaixo e depois vá ao Cremerj, conversar com uma “testemunha ocular”.
“A Face Oculta da Medicina” no CREMERJ

quarta-feira, 22 de junho de 2016

ROUSTAING- UMA ETERNA DESILUSÃO FEBIANA ( JOSE PASSINI, ALTOLFO OLEGÁRIO, LEONARDO MARMO E JORGE HESSEN)



JOSÉ PASSINI
passinijose@yahoo.com.br 
Juiz de Fora, Minas Gerais (Brasil) 

            O Espiritismo, na sua condição de Cristianismo redivivo, não poderia deixar de receber os ataques das forças contrárias ao esclarecimento e libertação do espírito humano. Embora pareça um paradoxo, o volume e a intensidade dos ataques constituem um verdadeiro atestado da legitimidade do Consolador.

A primeira, e talvez a mais forte das investidas, foi a publicação da obra de J. B. Roustaing, conhecida, em língua portuguesa como “Os Quatro Evangelhos”.

Na obra “Brasil Coração do Mundo Pátria do Evangelho”, Roustaing é citado como pertencente à equipe de Kardec. Há aqueles que contestam a autenticidade de tal afirmativa. Entretanto, sabe-se que todo missionário que vem à Terra traz consigo uma equipe, constituída de Espíritos, trabalhadores de boa vontade, mas sujeitos a falhas. Zamenhof veio à Terra com um grupo de Espíritos para a implantação do Esperanto. Dentro dessa equipe, houve um Espírito que falhou. Traiu o grande Missionário, liderando um grupo que apresentou uma versão modificada do Esperanto numa convenção mundial. Sua falha foi tão grande, que foi chamado Judas por uma biógrafa de Zamenhof, tal a repercussão da sua atitude.

Roustaing, embora tenha reencarnado com tarefa definida junto à obra de Kardec, conforme relato de Humberto de Campos na obra “Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho”, foi vítima de Espíritos que se enquadram perfeitamente na classificação de Kardec, como Espíritos pseudo-sábios, conforme item 104 de “O Livro dos Espíritos”:

    
“Seus conhecimentos são bastante amplos, mas acreditam saber mais do que realmente sabem. Tendo realizado alguns progressos sob diversos pontos de vista, a linguagem deles tem caráter sério, que pode iludir quanto às suas capacidades e luzes; porém, na maioria das vezes isso não passa de um reflexo dos preconceitos e das idéias sistemáticas da vida terrestre. É uma mistura de algumas verdades com os erros mais absurdos. Em meio aos quais despontam a presunção, o orgulho, o ciúme e a obstinação, de que não puderam livrar-se.”
      Roustaing desejou produzir obra própria, tornando-se presa fácil de fascinação. Esse não foi o primeiro, nem o último caso, na Humanidade, da falência de um Espírito pertencente a um grupo de trabalho. Judas, da equipe de Jesus, também falhou.

Esses quatro volumes constituem obra fantasiosa, repetitiva, que, em muitos pontos, contradiz fundamentalmente a Doutrina Espírita. É apresentada em tom professoral, catedrático, que choca frontalmente com a simplicidade, objetividade e limpidez das expressões de Kardec e dos Espíritos que dialogaram com ele.

As citações que fizermos, respostas dos Espíritos mistificadores que orientaram Roustaing, todas em negrito vermelho serão referentes à edição de 1971 de Os Quatro Evangelhos, que difere um tanto daquela de 1942, da mesma editora, pois que foram suprimidos ataques a Kardec.

Roustaing pretendeu dar nova versão à tese da virgindade de Maria, através de uma pseudo-gravidez, que teria culminado no aparecimento de um bebê fluídico, surgido de uma gravidez enganosa, de um parto fictício, de uma lactação aparente, de um desenvolvimento físico falso e de uma desencarnação mentirosa.
“Mas, não o esqueçais: todo aquele que reveste a carne e sofre, como vós, a encarnação material humana – é falível.” (pág. 166).

Estaria o Espírito querendo dizer que se Jesus encarnasse estaria sujeito a falhar? Por isso não teria encarnado?
Jesus viveu a vida de um homem normal da sua época: trabalhava, comia, bebia, hospedava-se nas casas das pessoas. Por que mudou completamente seu modo de agir depois da desencarnação? Não há nenhum registro no Novo Testamento que se tenha hospedado em casa de alguém, nem que tenha feito refeições regulares, como fazia. É claro que desejava deixar claro que não mais estava encarnado, que não mais tinha necessidades materiais.

Seu enquadramento na vida terrena, enquanto encarnado é claramente demonstrada na citação abaixo:
“E chegando sábado, começou a ensinar na sinagoga; e muitos, ouvindo-o, se admiravam, dizendo: Donde lhe vem essas coisas? E que sabedoria é esta que lhe foi dada? E como se fazem tais maravilhas por suas mãos? Não é este o carpinteiro, filho de Maria, e irmão de Tiago, e de José, e de Judas e de Simão? E não estão aqui conosco suas irmãs? (Marcos, 6: 2 e 3).

Mas, embora tivesse poderes para fazê-lo quando encarnado, nunca atravessou portas fechadas, nem apareceu ou desapareceu subitamente, como o fez depois de desencarnado, demonstrando a imortalidade da alma, apresentando-se apenas com seu corpo espiritual:
“E oito dias depois estavam outra vez os seus discípulos dentro, e com eles Tomé. Chegou Jesus estando as portas fechadas, e apresentou-se no meio deles, e disse: Paz seja convosco.” (João, 20: 26)
Há outro relato de aparecimento, este com desaparecimento também:
“E eis que no mesmo dia iam dois deles para uma aldeia, que distava de Jerusalém sessenta estádios, cujo nome era Emaús. E aconteceu que, indo eles falando entre si, e fazendo perguntas um ao outro, o mesmo Jesus se aproximou, e ia com eles. Mas os olhos deles estavam como que fechados, para que não o conhecessem. E chegaram à aldeia para onde iam, e ele fez como quem ia para mais longe. E eles o constrangeram dizendo: Fica conosco porque já é tarde, e já declinou o dia. E entrou para ficar com eles. E aconteceu que, estando com eles à mesa, tomando o pão o abençoou e partiu-o, e lhes deu. Abriram-se-lhes então os olhos, e o conheceram, e ele lhes desapareceu.” (Lucas, 24: 13, 15, 16, 28 a 31).
 Se Jesus não teve um corpo físico, como afirma Roustaing, por que passou a agir de maneira tão diferente depois da sua desencarnação?

Roustaing tenta apagar a notável lição de Paulo, no cap. 15 da Primeira carta aos Coríntios, onde o Apóstolo fala claramente em corpo físico e corpo espiritual.

É interessante notar a argumentação de Paulo:

“Porque se os mortos não ressuscitam, também Cristo não ressuscitou.” (16)

“Mas alguém dirá: Como ressuscitarão os mortos? E com que corpo virão?” (35).

“Semeia-se corpo animal, ressuscitará corpo espiritual. Se há corpo animal, há também corpo espiritual.” (44)
Se Paulo entendesse que Jesus tinha só corpo fluídico, não falaria em ressurreição.

Àqueles que perguntam sobre o que aconteceu com o corpo físico de Jesus – pois que desaparecera do túmulo – pode-se responder com os trabalhos levados a efeito por equipes de cientistas internacionais que estudaram o pano sobre o qual o cadáver de Jesus foi desmaterializado, pano esse conhecido como o Sudário de Turim. Constitui ele relíquia ciosamente guardada pela Igreja Católica Romana, que retrata a figura de um homem, de frente e de costas, que sofrera flagelações, tudo coincidindo com o que se conhece sobre Jesus. Mas, os cientistas não chegaram a conclusão alguma sobre como fora gravada a imagem. Declaram que não foi pintura, tintura, queimadura por fogo ou por ácido, nem radiação atômica. Sabemos, nós espíritas, que seu corpo foi desmaterializado.

Entretanto, não é a tese do corpo fluídico o ponto mais grave da obra. Há afirmativas que contrariam frontalmente as bases doutrinárias do Espiritismo. Vejamos algumas, dentre muitas:

Evolução do Espírito:
            Com Kardec, em O Livro dos Espíritos, aprende-se que o princípio inteligente percorre, durante milênios incontáveis, as trilhas da evolução, antes de atingir o estágio de humanidade. Aprende-se que a consciência moral que caracteriza o ser humano, libertando-o gradualmente do jugo dos instintos, desabrocha lentamente, revelando a perfeição imanente no Ser:
O Livro dos Espíritos - 607 a. Parece que, assim, se pode considerar a alma como tendo sido o princípio inteligente dos seres inferiores da criação, não?

            “Já não dissemos que tudo em a Natureza se encadeia e tende para a unidade? Nesses seres, cuja totalidade estais longe de conhecer, é que o princípio inteligente se elabora, se individualiza pouco a pouco e se ensaia para a vida, conforme acabamos de dizer. É, de certo modo, um trabalho preparatório, como o da germinação, por efeito do qual o princípio inteligente sofre uma transformação e se torna Espírito. Entra então no período da humanização, começando a ter consciência do seu futuro, capacidade de distinguir o bem do mal e a responsabilidade dos seus atos. Assim, à fase da infância se segue à da adolescência, vindo depois a da juventude e da madureza.”

            Respondendo a Roustaing, os Espíritos com os quais dialogou, falam numa transformação do instinto em inteligência – num determinado momento – levada a efeito por agentes exteriores e não através do próprio processo evolutivo, o que faz pensar numa espécie de “colação de grau” espiritual. Interessante notar, também, que o Espírito, depois de todas as aquisições individuais retorne ao “todo universal”, onde, certamente, perderia a sua individualidade. Além disso, como teria, um Espírito recém-saído da animalidade ter um perispírito tão sutil a ponto de quase ser invisível aos Espíritos Superiores? Vejamos a pergunta de Roustaing e a resposta dos Espíritos:

            “Como é que, chegado ao período de preparação para entrar na humanidade, na espiritualidade consciente, o Espírito passa desse estado misto, que o separa do animal e o prepara para a vida espiritual, ao estado de Espírito formado, isto é, de individualidade inteligente, livre e responsável?”

            “É nesse momento que se prepara a transformação do instinto em inteligência consciente. Suficientemente desenvolvido no estado animal, o Espírito é, de certo modo, restituído ao todo universal, mas em condições especiais é conduzido aos mundos ad hoc, às regiões preparativas, pois que lhe cumpre achar o meio onde elaboram os princípios constitutivos do perispírito. (...) Aí perde a consciência do seu ser, porquanto a influência da matéria tem que se anular no período da estagnação, e cai num estado a que chamaremos, para que nos possais compreender, letargia. Durante esse período, o perispírito, destinado a receber o princípio espiritual, se desenvolve, se constitui ao derredor daquela centelha de verdadeira vida. Toma a princípio uma forma indistinta, depois se aperfeiçoa gradualmente como o gérmen no seio materno e passa por todas as fases do desenvolvimento. Quando o invólucro está pronto para contê-lo, o Espírito sai do torpor em que jazia e solta o seu primeiro brado de admiração. Nesse ponto, o perispírito é completamente fluídico, mesmo para nós. Tão pálida é a chama que ele encerra, a essência espiritual da vida, que os nossos sentidos, embora sutilíssimos, dificilmente a distinguem.” (1º vol., pág. 308).
           
            Respondendo a Kardec, os Espíritos ensinam que o Espírito emerge lentamente da animalidade, das necessidades materiais, através de sucessivas encarnações, ao longo de milênios sucessivos, que se constituem em oportunidades absolutamente necessárias ao seu progresso. O perispírito, que sempre reveste o Espírito, vai-se modificando com o passar do tempo.

            Roustaing se refere ao períspirito como se fosse uma roupagem preparada longe do Espírito que deva usá-la: “Quando o invólucro está pronto para contê-lo, o Espírito sai do torpor em que jazia e solta o seu primeiro brado de admiração.”
            Afirma, o Espírito que respondeu a Roustaing : “Nesse ponto, o perispírito é completamente fluídico, mesmo para nós.” Que perispírito não é fluídico? Seria apenas naquele momento?

O Livro dos Espíritos - 609. Uma vez no período da humanidade, conserva o Espírito traços do que era precedentemente, quer dizer: do estado em que se achava no período a que se poderia chamar ante-humano?

            “Conforme a distância que medeie entre os dois períodos e o progresso realizado. Durante algumas gerações, pode ele conservar vestígios mais ou menos pronunciados do estado primitivo, porquanto nada se opera na Natureza por brusca transição. Há sempre anéis que ligam as extremidades da cadeias dos seres e dos acontecimentos. Aqueles vestígios, porém, se apagam com o desenvolvimento do livre-arbítrio. Os primeiros progressos só muito lentamente se efetuam, porque não têm a secundá-los a vontade. Vão em progressão mais rápida à medida que o Espírito adquire mais perfeita consciência de si mesmo.”

            Os Espíritos, respondendo a Roustaing, afirmam que o Espírito só volta à vida material por castigo. Se é humanizado apenas após cometer a primeira falta, depreende-se que se não houvesse falta não haveria reencarnação. Como Roustaing explicaria a evolução do Espírito? Analise-se seu diálogo com um Espírito:

            “(...) para o Espírito formado, que já tem inteligência independente, consciência de suas faculdades, consciência e liberdade dos seus atos, livre-arbítrio e que se encontra no estado de inocência e ignorância, a encarnação, primeiro, em terras primitivas, depois, nos mundos inferiores e superiores, até que haja atingido a perfeição, é uma necessidade e não um castigo?”

            “Não; a encarnação humana não é uma necessidade, é um castigo, já o dissemos. E o castigo não pode preceder a culpa.
O Espírito não é humanizado, também já o explicamos, antes que a primeira falta o tenha sujeitado à encarnação humana. Só então ele é preparado, como igualmente já o mostramos, para lhe sofrer as consequências.” (1º vol., pág. 317)

            Em Kardec, aprende-se que  o progresso do Espírito é irreversível, o que é racional, pois se não houvesse a irreversibilidade do progresso espiritual não haveria segurança nem estabilidade no Universo.

O Livro dos Espíritos - 118. Podem os Espíritos degenerar?
            “Não; à medida que avançam, compreendem o que os distanciava da perfeição. Concluindo uma prova, o Espírito fica com a ciência que daí lhe veio e não a esquece. Pode permanecer estacionário, mas não retrograda.”

            Roustaing admite possa um Espírito que já desempenhou funções elevadas no Mundo Espiritual ser tomado pela inveja, pelo orgulho, etc., o que evidencia uma nova versão para a “queda dos anjos”, conforme a teologia Católica Romana e, também, a Protestante.

            “Já tendo grande poder sobre as regiões inferiores, cujo governo aprenderam a exercer, no sentido de que, sempre sob as vistas dos Espíritos prepostos à missão de educá-los e sob a do protetor especial do planeta de que se trate, aprendem a dirigir a revolução das estações, a regular a fertilidade do solo, a guiar os encarnados, influenciando-os ocultamente, muitos acreditam que só ao merecimento próprio devem o que podem e, desprezando todos os conselhos, caem. É a queda pelo orgulho.
            Outros, por nem sempre compreenderem a ação poderosa de Deus, não admitem haja uma hierarquia espiritual e acusam de injustiça aquele que os criou, porquanto é Deus quem cria, não o esqueçais. Esses os que caem por inveja.
Até o ateísmo – por mais impossível que pareça – até o ateísmo se manifesta naqueles pobres cegos colocados no centro mesmo da luz. (...) Nesse caso, sobretudo nesse caso, mais severo é o castigo. É um dos casos de primitiva encarnação humana.      Preciso se torna que os culpados sintam, no seu interesse, o peso da mão cuja existência não quiseram reconhecer.
Qualquer que seja a causa da queda, orgulho, inveja ou ateísmo, os que caem, tornando-se, por isso, Espíritos de trevas, são precipitados nos tenebrosos lugares de encarnação humana, conforme o grau de culpabilidade, nas condições impostas pela necessidade de expiar e progredir.” (1º vol., pág. 311)

            Kardec obtém dos Espíritos Superiores resposta que deixa muito claro que o Espírito que atingiu a humanização não retorna jamais às formas animais, o que contraria frontalmente a teoria da Metempsicose esposada por Roustaing:

O Livro dos Espíritos - 612. Poderia encarnar num animal o Espírito que animou o corpo de um homem?
“Isso seria retrogradar e o Espírito não retrograda. O rio não remonta à sua nascente.”

            Em Roustaing, vê-se que, além de admitir a Metempsicose, afirmam seus interlocutores possa um Espírito voltar à Terra, ou a outros mundos, animando corpos primitivíssimos, como larvas!

            “Haveis dito que os Espíritos destinados a ser humanizados, por terem errado muito gravemente, são lançados em terras primitivas, virgens ainda do aparecimento do homem, do reino humano, mas preparadas e prontas para essas encarnações e que aí encarnam em substâncias humanas, às quais não se pode dar propriamente o nome de corpos, nas condições de macho e fêmea, aptos para a procriação e para a reprodução. Quais as condições dessas substâncias humanas?”

            “São corpos ainda rudimentares. O homem aporta a essas terras no estado de esboço, como tudo que se forma nas terras primitivas. O macho e a fêmea não são nem desenvolvidos, nem fortes, nem inteligentes.
            Mal se arrastando nos seus grosseiros invólucros, vivem, como os animais, do que encontram no solo e lhes convenha.
            As árvores e o terreno produzem abundantemente para a nutrição de cada espécie. Os animais carnívoros não os caçam. A providência do Senhor vela pela conservação de todos. Seus únicos instintos são os da alimentação e os da reprodução.
            Não poderíamos compará-los melhor do que a criptógamos carnudos. Poderíeis formar idéia da criação humana, estudando essas larvas informes que vegetam em certas plantas, particularmente nos lírios.” (págs. 312 / 313)

Autenticidade da Encarnação de Jesus:
            Kardec mostra Jesus como o modelo mais perfeito para a evolução humana, logo, o seu corpo deveria ter a mesma constituição do corpo daqueles aos quais ele deveria servir de modelo, e seu testemunho basear-se na verdade.

O Livro dos Espíritos - 625. Qual o tipo mais perfeito que Deus tem oferecido ao homem, para lhe servir de guia e modelo?
            “Jesus.”

O Livro dos Espíritos - 624. Qual o caráter do verdadeiro profeta?
            “O verdadeiro profeta é um homem de bem, inspirado por Deus. Podeis reconhecê-lo pelas suas palavras e pelos seus atos. Impossível é que Deus se sirva da boca do mentiroso para a ensinar a verdade.”

            Roustaing mostra um Jesus que estaria fingindo estar encarnado, desde o seu nascimento até a sua morte, que teria sido também um simulacro, uma verdadeira encenação teatral. Além do mais, ainda o chama de um Deus milagrosamente encarnado! (1º vol., págs. 242 / 243)

            “(...) um homem tal como vós quanto ao invólucro corporal e, ao mesmo tempo, quanto ao Espírito, um Deus: portanto, um homem-Deus.” (pág. 242)

            Aqui, é declarado que o invólucro corporal de Jesus era igual ao de todos nós...

            Kardec afirma categoricamente que Jesus teve um corpo carnal e um corpo fluídico, como todos encarnados temos:
            “A estada de Jesus na Terra apresenta dois períodos: o que precedeu e o que se seguiu à sua morte. No primeiro, desde a sua concepção até o nascimento, tudo se passa, pelo que respeita à sua mãe, como nas condições ordinárias da vida. Desde o seu nascimento até a sua morte, tudo, em seus atos, na sua linguagem e nas diversas circunstâncias de sua vida, revela caracteres inequívocos de corporeidade. (...) também forçoso é se conclua que, se Jesus sofreu materialmente, do que não se pode duvidar, é que ele tinha um corpo material de natureza semelhante ao de toda gente.”
            “Aos fatos materiais juntam-se fortíssimas considerações morais.
            Se as condições de Jesus, durante sua vida, fossem as dos seres fluídicos, ele não teria experimentado nem a dor, nem as necessidades do corpo. Supor que assim haja sido, é tirar-lhe o mérito da vida de privações e de sofrimentos que escolhera, como exemplo de resignação. (...) e fazer crer num sacrifício ilusório de sua vida, numa comédia indigna de um homem simplesmente honesto, indigna, portanto, e com mais forte razão de um ser tão superior. Numa palavra, ele teria abusado da boa fé dos seus contemporâneos e da posteridade. Tais as consequências lógicas desse sistema, consequências inadmissíveis, porque o rebaixariam moralmente, em vez de o elevarem.
            Jesus teve, pois, como todo homem, um corpo carnal e um corpo fluídico, o que é atestado pelos fenômenos materiais e pelos fenômenos psíquicos que lhe assinalaram a existência.” (A Gênese, cap. XV, itens 65 e 66)

            Roustaing mostra um Jesus que estaria fingindo estar encarnado, que fingia alimentar-se, desde o seu nascimento. Seria o guia e modelo enganando que mamava, que comia, que bebia, que sofria e que desencarnou?

            “Quando Maria, sendo Jesus, na aparência, pequenino, lhe dava o seio – o leite era desviado pelos Espíritos superiores que o cercavam, de um modo bem simples: em vez de ser sorvido pelo “menino”, que dele não precisava, era restituído à massa do sangue por uma ação fluídica, que se exercia sobre Maria, inconsciente dela.” (1º vol, pág. 243).
            “Os Espíritos superiores que o cercavam em número, para vós, incalculável, todos submissos à sua vontade, seus dedicados auxiliares, faziam desaparecer os alimentos que lhe eram apresentados e que não tinha para ele utilidade. Aqueles Espíritos os subtraiam da vista dos homens, de modo a lhes causar completa ilusão, à medida que parecia  ser ingeridos por Jesus, cobrindo-os, para esse fim, de fluidos que os tornavam invisíveis.” (1º vol, págs. 262/263).

Aparição de Moisés e Elias:
            Inegavelmente, as afirmações mais claras a respeito da reencarnação, contidas no Novo Testamento, encontram-se nos Evangelhos de Mateus (17: 10-13) e de Marcos (9: 11), onde se lê que Jesus  dialogou com Moisés e Elias no Tabor, diante dos discípulos Pedro, Tiago e João. Questionado quanto à identidade de Elias, o Mestre afirma categoricamente que João Batista foi a reencarnação do Profeta Elias.
            Em Roustaing, de maneira fantasiosa e completamente inverossímil, numa tentativa de desacreditar a reencarnação, misturando fatos e fantasias, é declarado que Moisés, Elias e, consequentemente, João Batista são o mesmo Espírito, e que ali, no Monte Tabor, um outro Espírito tomou a aparência de Moisés e conversou com Jesus. Vê-se aí, mais uma vez o ilusionismo, para não dizer a falsidade da obra de Roustaing:

            “O que, porém, Jesus naquela ocasião não podia nem devia dizer e que agora tem que ser dito é o seguinte: Moisés – Elias – João Batista – são uma mesma e única entidade. Estamos incumbidos de vos revelar isso, porque chegou o tempo em que se tem de “realizar” a “nova aliança”, em que todos os homens (Judeus e Gentios) se têm que abrigar debaixo de uma só crença, da crença – em um Deus, uno, único, indivisível, Criador incriado, eterno, único eterno: o Pai; em Jesus-Cristo, vosso protetor, vosso governador, vosso mestre: o Filho; nos Espíritos do Senhor, Espíritos puros, Espíritos superiores, bons Espíritos que, sob a direção do Cristo, trabalham pelo progresso do vosso planeta e da sua humanidade: o Espírito Santo.” (2º vol., págs 497 / 498)

            A obra é volumosa, pesada, extremamente repetitiva, escrita em tom catedrático, pretensioso, que nos remete diretamente a “O Livro dos Espíritos”, item 104, no magistral estudo que o Codificador faz a respeito da “Escala Espírita”, quando se refere aos Espíritos pseudo-sábios. São Espíritos pertencentes a comunidades espirituais que teimam em manter erros doutrinários relativamente à interpretação da Mensagem Cristã, para as quais o Espiritismo representa grande perigo por esclarecer a Humanidade.

            A respeito desses Espíritos, Emmanuel faz séria advertência, que serve também como alertamento, diante dessa verdadeira “onda editorial” que está alimentando a vaidade de médiuns invigilantes e enriquecendo editoras: “As próprias esferas mais próximas da Terra, que pela força das circunstâncias se acercam mais das controvérsias dos homens que do sincero aprendizado dos espíritos estudiosos e desprendidos do orbe, refletem as opiniões contraditórias da Humanidade, a respeito do Salvador de todas as criaturas.” (“A Caminho da Luz,” cap. 12),
            Felizmente, a onda de roustainguismo está passando. Mas, como existem ainda muitos volumes dessa obra em bibliotecas e livrarias, animamo-nos a fazer estas anotações.
                                              
                                                                                                                 




ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO
aoofilho@oconsolador.com.br
Londrina, Paraná (Brasil)

O roustainguismo e seus problemas



Sempre entendi que a discussão em torno da obra Os Quatro Evangelhos, dada a lume pelo advogado J.-B. Roustaing, devia – e ainda deve – cingir-se exclusivamente aos seus aspectos doutrinários, ou seja, primeiro é preciso conhecer a obra para depois criticar ou defendê-la. Eis o motivo pelo qual, até este momento, jamais tratei do assunto, seja aqui, seja na tribuna. 



Alguém, porém, me pergunta que problemas há na referida obra e – caso existam – por que a editora da Federação Espírita Brasileira (FEB) a divulga e tantos nomes ilustres em nosso meio a defendem.



Os adeptos do chamado roustainguismo formam, de fato, um contingente numeroso. Pelo menos é o que informa Luciano dos Anjos em seu livro “Os Adeptos de Roustaing”, publicado em agosto de 1993 pela Associação Espírita Estudantes da Verdade, de Volta Redonda (RJ).


Respondendo à indagação inicial, digo que é fácil perceber na obra de Roustaing a existência de quatro pontos que a tornam incompatível com a Doutrina Espírita exposta nas obras de Kardec, Delanne, André Luiz e Emmanuel. Claro que, excetuados esses problemas, apresenta ela coisas atraentes, especialmente no que se refere à apresentação primorosa que a FEB lhe deu, um cuidado que jamais a editora teve com quaisquer outras obras. 

Os quatro pontos a que me refiro são estes:

I. A tese de que a encarnação não é obrigatória, nem mesmo necessária, e só se dá em caso de queda do Espírito. A evolução da criatura humana, após a passagem do princípio inteligente pelos reinos inferiores da criação, ocorreria, segundo Roustaing, em cidades espirituais nas quais o Espírito reveste tão-somente um corpo fluídico – o perispírito. Se o indivíduo apresentar nessa condição algum defeito a ser corrigido (vaidade, inveja etc.), aí sim, por castigo, terá de encarnar. A reencarnação seria uma conseqüência dessa primeira encarnação. O assunto é tratado no volume 1, pp. 317 e 321, no volume 3, p. 91, e no volume 4, p. 292, da 8a edição, de agosto de 1994, publicada pela FEB.

II. Ao ter de encarnar, o Espírito fá-lo-á em um mundo primitivo, encarnando-se aí num corpo rudimentar que viverá, como os animais, do que encontrar no solo. “Não poderíamos compará-los melhor do que a criptógamos carnudos”, diz o livro em seu volume 1, p. 313. Um exemplo conhecido de criptógamo carnudo são as nossas lesmas. O livro de Roustaing está dizendo, portanto, que uma alma humana, depois de viver numa cidade espiritual, encarnará numa forma animal que nem mesmo chegou ao nível dos vertebrados, um ensinamento que reedita a doutrina da metempsicose, rejeitada formalmente pela Doutrina Espírita. O assunto é tratado ainda nas pp. 299 e 312 do volume citado.

III. A encarnação, que normalmente não é necessária, só se dá em caso de queda do Espírito, uma alusão à retrogradação da alma, que o Espiritismo não admite. Os motivos, diz a obra, são diversos e seus resultados, terríveis. “Qualquer que seja a causa da queda, orgulho, inveja ou ateísmo, os que caem, tornando-se por isso Espíritos de trevas, são precipitados nos tenebrosos lugares da encarnação humana, conforme ao grau de culpabilidade, nas condições impostas pela necessidade de expiar e progredir”, eis a lição transmitida na obra em seu volume 1, p. 311. 

IV. Afirma Roustaing que Jesus não encarnou para vir à Terra trazer-nos a Boa Nova. Seu corpo teria sido fluídico. Ele fora, assim, um agênere, um Espírito materializado e desse modo se explicariam seu desaparecimento dos 12 aos 30 anos, período do qual ninguém fala, e o sumiço do corpo material nos dias seguintes à crucificação. O assunto é tratado nos quatro volumes da obra, constituindo um dos aspectos mais conhecidos da doutrina roustainguista e, por isso mesmo, o mais criticado.

Allan Kardec examinou em suas obras os quatro assuntos acima focalizados: a encarnação do Espírito como requisito indispensável à evolução espiritual e ao progresso dos planetas; a metempsicose, que rejeitou expressamente; o princípio da não-retrogradação da alma e a natureza corpórea do corpo de Jesus, ao qual dedicou os itens 64 a 67 do cap. XV de seu livro “A Gênese”. 



A conclusão que podemos tirar, à vista do exposto, é uma só: os espíritas que apóiam a obra de Roustaing certamente não a leram; pelo menos é o que deve ter ocorrido com escritores importantes que a elogiaram em certa época e depois mudaram de idéia, como os saudosos confrades Carlos Imbassahy e Henrique Rodrigues.





LEONARDO MARMO MOREIRA
leomarmo@iqsc.usp.br
De São Carlos, SP

Os erros metodológicos
de Roustaing
O benfeitor espiritual Erasto afirma em "O Livro dos Médiuns" que "É preferível rejeitar dez verdades a aceitar uma única mentira". Tal assertiva denota prudência e critério para a avaliação de qualquer conteúdo, mais notadamente os que são de origem mediúnica.
A discussão em torno dos pontos controvertidos da obra de Roustaing nos remete não só à avaliação da diferença de conteúdo doutrinário em relação à obra de Kardec mas igualmente à análise da metodologia empregada para a obtenção das mensagens mediúnicas que os dois autores utilizaram na compilação dos seus respectivos textos, pois, obviamente, os dois tópicos supracitados estão intrinsecamente relacionados.
A partir da leitura do prefácio de "Os Quatro Evangelhos" (foto) é possível constatar os seguintes pontos:

1) Roustaing superestimou a credibilidade dos textos bíblicos.
À semelhança de católicos e protestantes, Roustaing considerou a Bíblia "a palavra de Deus" e tentou explicar absolutamente tudo, sem se dar conta de que muito do que está escrito pode não ter acontecido exatamente da maneira como está narrado nos textos bíblicos. Roustaing consciente ou inconscientemente elaborou uma espécie de Reforma, semelhante à Reforma protestante. Assim, a partir da superestimação da Bíblia, a sua fusão desta com os seus limitados conhecimentos espíritas seria uma temeridade.

Reparem que, ao contrário da codificação kardequiana que nasce como ciência, a proposta roustainguista já nasce como religião, pois se trata de uma nova interpretação da Bíblia a partir da velha tese da infalibilidade dos seus textos. Tanto isso é verdade que a própria estruturação da obra "Os Quatro Evangelhos" é baseada nessa submissão aos textos bíblicos. Se a obra em questão foi realmente orientada pelos quatro evangelistas, assistidos pelos apóstolos, que foram as principais e mais preparadas testemunhas oculares dos fatos evangélicos, por que os apóstolos não contaram o que de fato aconteceu diretamente, ao invés de se basearem literalmente no que sobreviveu de registro na Bíblia e que, obviamente, sofreu com quase dois milênios de interpolações, adulterações, traduções grosseiras e outros problemas?!

Kardec, ao contrário, parte da análise do fenômeno mediúnico em um estudo criterioso sem nenhuma idéia preconcebida e, em princípio, não utilizando de maneira nenhuma a Bíblia como referencial. Aplicando o método experimental, através de análise qualitativo-quantitativa, por meio de vários médiuns previamente selecionados, busca a chamada "universalidade do ensino dos Espíritos", submetendo todos os autores espirituais ao mais crítico interrogatório e aplicando a mais rigorosa lógica na avaliação do conteúdo das mensagens.
Portanto, a codificação nasce como ciência, para gerar um corpo filosófico como conseqüência da verdade irrefutável da imortalidade da alma e da comunicabilidade dos Espíritos. E, finalmente, a filosofia espírita repercute nas inevitáveis conseqüências morais, que constituem o aspecto religioso do Espiritismo. Kardec jamais superestimou os textos evangélicos, o que é explícito tanto em "O Evangelho segundo o Espiritismo" como em "A Gênese". É por essa necessidade de nascimento como ciência e, subseqüentemente, como filosofia antes de se aprofundar o seu aspecto religioso, nesse maravilhoso tríplice aspecto, que o primeiro e principal livro espírita é a obra "O Livro dos Espíritos" e o segundo livro publicado, considerado por Kardec como a continuação do primeiro, é "O Livro dos Médiuns". De fato, ao aplicar os princípios espíritas na elucidação dos pontos principais do Evangelho, toda a estrutura doutrinária já estava extremamente sólida, independentemente das inumeráveis controvérsias geradas pelas diferentes interpretações bíblicas. Portanto, o Espiritismo não é uma reforma, como a reforma Luterana, porque não nasce como uma releitura da Bíblia, mas como ciência através do estudo da mediunidade.

2) Roustaing "decidiu" que era necessária uma nova revelação.

A partir da excessiva valorização dos textos evangélicos, Roustaing diz "...senti a impotência da razão humana para penetrar as trevas da letra e, desde então, a necessidade de uma revelação nova, de uma revelação da revelação". Note que, a partir de uma premissa equivocada, o próprio Roustaing decidiu que era necessária uma nova revelação, porque, segundo ele mesmo explica no prefácio de sua obra, a codificação explicava muito bem os aspectos morais e doutrinários da Bíblia, mas, em sua opinião, não explicava a figura de Jesus. Ora, decidir sobre a necessidade de uma nova revelação não era tarefa para ele, e nem para nenhum de nós, mas sim trabalho da Providência Divina. Roustaing poderia elaborar o seu trabalho mas daí a defini-lo, aprioristicamente, como a "revelação da revelação" foi um exagero. De fato, essa expressão "revelação da revelação" é repetida exaustivamente tanto no prefácio como na introdução e é quase sempre acompanhada pela expressão "revelação nova", em um esforço evidente para situar a obra realmente como uma revelação divina. Com efeito, na folha de rosto de "Os Quatro Evangelhos" Roustaing define sua obra como sendo "Revelação da Revelação" ou "Espiritismo Cristão", o que poderia sugerir que "há vários tipos de espiritismo" ou, até mesmo, que a Codificação não seria uma obra cristã. Se Roustaing pretendia que sua obra fosse considerada espírita, tendo mesmo enviado uma cópia para a análise de Kardec, conforme registrado na Revista Espírita, essa definição poderia ser considerada uma invigilância do advogado de Bordeaux.

A título de ilustração vale lembrar que da primeira revelação, personificada em Moisés, até a segunda, personificada em Jesus, foram aproximadamente 2 milênios e de Jesus até a codificação mais 18 séculos. Desta forma, seria muito estranho uma suposta quarta revelação começar a ser elaborada concomitantemente com a terceira revelação, já que a codificação do Espiritismo só seria concluída em 1868 com a publicação de "A Gênese", bem depois, portanto, do trabalho de Roustaing, que iniciou a confecção de sua obra em 1861 para publicá-la em 1866. Na mensagem intitulada "Meu Sucessor", em "Obras Póstumas", Kardec indaga sobre o continuador da obra, em função de já se apresentar com a saúde comprometida, e os Espíritos respondem que não era o momento de que o sucessor aparecesse, pois era necessário que a Codificação ficasse acentuadamente centralizada nas mãos dele, Kardec, para que a obra básica tivesse alta homogeneidade. Segundo o professor J. Herculano Pires, o sucessor em questão se trata de Léon Denis, que ainda era muito moço nessa época. Portanto, nenhuma menção a Roustaing ou a qualquer outro trabalho concomitante à codificação, o que é bastante sugestivo para uma obra que se intitula a "revelação da revelação".


3) A Igreja Católica nas análises das obras de Roustaing e Kardec.

No terceiro tomo da obra "Os Quatro Evangelhos" (p.65) os autores ensinam que o futuro espiritual da humanidade estará focalizado na Igreja Católica e no Papa. Eles afirmam o seguinte: "O chefe da Igreja católica, nessa época em que este qualificativo terá a sua verdadeira significação, pois que ela estará em via de tornar-se universal, como sendo a Igreja do Cristo, o chefe da Igreja católica, dizemos, será um dos principais pilares do edifício. Quando o virdes, cheio de humildade, cingido de uma corda e trazendo na mão o cajado do viajante...".

Esse comentário estranhíssimo, para dizer o mínimo, entra claramente em choque com a opinião dos Espíritos que orientavam Allan Kardec.

Para citar apenas uma única fonte, basta ler as mensagens registradas em "Obras Póstumas" intituladas "Futuro do Espiritismo" e "A Igreja". Na primeira o autor espiritual assevera "...cabe-nos retificar os erros da história e apurar a religião do Cristo, transformada, nas mãos dos padres, em comércio e em vil tráfico. Instituirá (o Espiritismo) a verdadeira religião, a religião natural, a que parte do coração e vai diretamente a Deus, sem dependência das obras da sotaina ou dos degraus do altar".

Na segunda mensagem citada é comentado que "Chegou a hora em que a Igreja deve prestar contas do depósito que lhe foi confiado; do modo como praticou os ensinos do Cristo, do uso que fez da sua autoridade, da incredulidade, enfim, a que arrastou os homens". E mais à frente o autor é ainda mais incisivo quanto ao futuro da Igreja estabelecendo que "Deus a julgou e reconheceu-a imprópria, de hoje em diante, para a missão do progresso, que incumbe a toda autoridade espiritual". Ainda sobre a Igreja Católica e o futuro da humanidade o Espírito d´ E... afirma que a Igreja "acha-se nesta alternativa: ou se transforma e suicida-se, ou fica estacionária e sucumbe esmagada pelo carro do progresso". Como se não bastasse, o autor ainda é mais peremptório asseverando que "a doutrina espírita é chamada a ferir de morte o papado..." e conclui seu artigo com a seguinte frase "A Igreja atira-se, por si mesma, ao precipício".

Essa gigantesca incoerência faz-nos questionar o motivo que levaria o mundo espiritual superior a enviar à Crosta uma terceira e uma quarta revelações se o futuro espiritual da Terra seria guiado pela representante do seu passado, que é a Igreja, com a sua trajetória dominadora, ritualística, inquisidora e obscurantista.
Para que Espiritismo como terceira revelação se a Doutrina Espírita discrepa profundamente da Igreja Católica em inumeráveis pontos?

Por outro lado, as perguntas mais simples e objetivas que surgem são as seguintes: Espíritos de mesma intenção e evolução (supostamente evolvidos intelecto e moralmente) poderiam ensinar conceitos tão discordantes um do outro?! E Roustaing não teria avaliado criticamente o conteúdo da mensagem e suspeitado dessa informação?!

4) Ao contrário de Kardec, Roustaing utiliza uma única médium.

Roustaing se isolou com a médium Émilie Collignon, evitando o intercâmbio com trabalhadores mais experientes que poderiam elaborar críticas aos textos e indagações mais exigentes e contundentes aos Espíritos orientadores da obra. Roustaing afirma "Mero instrumento, cumpri um dever executando tal ordem, entregando à publicidade esta obra...". Roustaing se mostra muito submisso e passivo em relação aos Espíritos que orientam a obra, o que pode ser facilmente constatado em várias passagens do prefácio da sua obra. Aparentemente, Roustaing não eliminou nenhum texto, o que explicaria a grande extensão de sua obra de mais de 2.000 páginas em um prazo relativamente curto para um trabalho efetuado com uma única médium. Essa atitude é bem diferente da postura altamente crítica do Codificador. Vale lembrar que médiuns psicógrafos de conhecida credibilidade como Chico Xavier, Divaldo Franco e Raul Teixeira afirmam que "queimaram malas de mensagens" no início de suas tarefas, pois eram apenas exercícios mediúnicos, sem qualidade suficiente para publicar. O próprio Allan Kardec, registra mensagens que ele considerou não condizentes com as assinaturas, mostrando que até mesmo ele estava sujeito às chamadas mistificações. O ponto-chave é que ele identificou essas mensagens como oriundas de Espíritos mistificadores e ainda as aproveitou como recurso didático.

5) Roustaing não avaliou a potencialidade mediúnica e o conteúdo moral de Mme. Collignon.

Roustaing assevera no prefácio de sua obra: "O trabalho ia ser feito por dois entes que, oito dias atrás, não se conheciam". Está evidente que Roustaing não avaliou o nível moral de Émilie Collignon e nem sua capacidade mediúnica, pois não a conhecia e em um intervalo de 8 dias começou a obra sem um maior planejamento ou avaliação da viabilidade e dos perigos da empreitada. O critério da avaliação moral do médium é fundamental pois pela sintonia o médium convive predominantemente com os Espíritos que correspondem à sua elevação espiritual. Emmanuel, em sua obra "Roteiro", é categórico, estabelecendo que "não existe bom médium sem homem bom". Todo dirigente de reuniões mediúnicas conhece minimamente a complexidade do fenômeno mediúnico e os riscos que procedimento semelhante à atitude de Roustaing pode acarretar.

6) Roustaing evocou somente Apóstolos e o Precursor João Batista.

A assertiva conhecida no meio espírita de que "o telefone toca de lá para cá" não foi respeitada por Roustaing. Vale consultar a contundente desaprovação do procedimento de evocação nominal direta, enunciada pelo benfeitor Emmanuel na Questão 369 da obra "O Consolador". Realmente, há riscos óbvios de Espíritos embusteiros usarem nomes de grandes Espíritos para se fazerem mais respeitáveis e aceitos. Por outro lado, quanto mais evoluído é o Espírito, maior número de grandes responsabilidades ele tem no mundo espiritual, que acabam limitando sua capacidade de atender pessoalmente a todas as evocações, principalmente aquelas oriundas de pessoas pouco moralizadas e responsáveis.

7) São João Evangelista seria co-autor tanto da obra de Kardec como da obra de Roustaing?!

São João Evangelista é co-autor da codificação, sendo citado até mesmo nos Prolegômenos de "O Livro dos Espíritos". Entretanto, supostamente, ele também seria co-autor da obra "Os Quatro Evangelhos" tanto pela sua condição de Evangelista como também pela sua condição de Apóstolo, tendo sido, inclusive, um dos mais participativos e próximos a Jesus em todo o Evangelho. Assim sendo, como é que as obras em questão teriam pontos tão divergentes como, por exemplo, a questão da reencarnação, que para a Codificação é necessidade e para "Os Quatro Evangelhos" é castigo e o problema da metempsicose, rejeitada peremptoriamente pela Codificação e admitida pela obra de Roustaing? Essa questão da identidade dos autores merece ser analisada com cuidado pois as obras em questão não tratam de opiniões pessoais de Espíritos mas de Leis Universais e, ademais, sendo os autores, em princípio, da mais elevada evolução, eles não poderiam divergir tão intensamente em pontos capitais dos ensinos. São João Evangelista não poderia ensinar algo em um lugar e outra coisa em outro, a não ser que em um desses lugares não fosse ele, mas alguém que se fizesse passar por ele, utilizando seu nome, algo bem comum em mediunidade, quando os cuidados fundamentais para a prática segura de tal intercâmbio não são considerados. Admitindo-se tal possibilidade, a credibilidade das informações contidas na obra em questão estaria comprometida.

Em suma, Roustaing demonstrou desconhecer as problemáticas da mediunidade, o que é facilmente explicável haja vista a pressa que ele demonstrou no estudo prévio das obras de Allan Kardec. O próprio Roustaing afirma no prefácio de "Os Quatro Evangelhos" que leu "O Livro dos Espíritos", "O Livro dos Médiuns" e um número enorme de obras sobre questões correlatas ao Espiritismo a partir de janeiro de 1861, o mesmo ano que ele começou a elaboração de "Os Quatro Evangelhos". Antes disso, ele nem sabia que é possível a comunicação com os Espíritos. Certamente, essas leituras foram superficiais, tendo-se em vista a profundidade do conteúdo das mesmas e o número de obras lidas em um intervalo de tempo reduzidíssimo. Ademais, ler é uma coisa, ao passo que estudar e assimilar é outra completamente diferente, principalmente em se tratando de um assunto com tamanhas nuanças e problemas como é a mediunidade.

Desta forma, entende-se por que Allan Kardec considerou a obra "Os Quatro Evangelhos" apenas como opinião pessoal dos seus autores espirituais não podendo ser considerada como parte integrante da Doutrina Espírita, conforme exarado na Revista Espírita. Afinal, a priori, "é preferível rejeitar dez verdades a aceitar uma única mentira". "Na dúvida, abstém-te", nos ensina "O Evangelho segundo Espiritismo" e a obra de Roustaing apresenta várias dúvidas, incoerências e especulações sem comprovações científicas que não estão em coerência com o pensamento kardequiano.




Jorge Hessen
jorgehessen@gmail.com
Brasília -DF

ROUSTAING – O SESQUICENTENÁRIO TÃO AGUARDADO NA FEB

Um confrade muito querido sugeriu-me escrever sobre a revista Reformador, estabelecendo um paralelo entre a elevação dos conteúdos doutrinários veiculados no passado remoto , e a atual insipidez doutrinária e excesso de fotografias de dirigentes publicadas nas suas páginas.

Outro companheiro informou-me que a FEB – Federação Espírita Brasileira está preparando o lançamento (previsto para o mês de junho de 2016) da nova edição dos “Quatro Evangelhos”, almejando a submissão comemorativa aos 150 anos de lançamento do livro de J.B. Roustaing. Em face disso, telefonei  para o departamento editorial da FEB e fui  informado sobre o tal lançamento, em razão disso, deliberei antecipar um manifesto de alerta em face da augurada reedição das obras que representam a ruptura de união ente os espíritas no Brasil.

Percorrendo determinadas narrativas sobre a história da revista Reformador inteiramo-nos de que ela foi fundada em 21/1/1883 por Augusto Elias da Silva, um fotógrafo português, num corajoso empreendimento de difusão espírita no Brasil do século XIX. Isto porque, fundar e conservar um órgão de propaganda espírita, na Corte do Brasil era, naquele período, para esmorecer o ânimo dos espíritas mais resolutos. Uma vez que dos púlpitos brasileiros, principalmente dos da Capital, choviam anátemas sobre os espíritas, os novos hereges que cumpria abater.

Escreveu o fotógrafo lusitano o seguinte: “Abre caminho, saudando os homens do presente que também o foram do passado e ainda hão de ser os do futuro, mais um batalhador da paz: o “Reformador”. Com essas palavras inaugurais apresentava-se, no Brasil o novo órgão da divulgação espírita. ”[1]

O artigo de fundo do primeiro número traçava as diretrizes de paz e progresso pelos quais se nortearia o informativo, definindo ainda os objetivos que tinha em vista alcançar. Apresentou-se, portanto, o “Reformador” como mais um semeador da paz, apetrechado da tolerância e da fraternidade, desfraldando a bandeira da presumível “união” entre os espíritas. Ótimo!

Até 1888 a redação do periódico funcionou (no ateliê) montado na residência do Elias da Silva. Era um jornal quinzenal composto de quatro páginas e estima-se que sua tiragem inicial era de aproximadamente 300 exemplares, contando com cerca de uma centena de assinantes. A partir de 1902 passou ao formato de revista, inicialmente com 20 páginas e periodicidade bimestral. Na década de 1930 passou a ser mensal, e o número de páginas aumentou gradativamente. Em 1939, a FEB adquiriu e instalou as máquinas impressoras próprias, nas dependências dos fundos do prédio da Avenida Passos. Foi uma decisiva empreitada e graças a essa providência, as edições e reedições de livros espíritas e da revista começaram sua expansão.

Em seguida, com a instalação do complexo gráfico, em 1948, em amplo edifício (atualmente abandonado, arrasado e falido) especialmente construído em São Cristóvão/Rio de Janeiro, a FEB acresceu a propaganda doutrinária. Paradoxalmente, na década de 1970 a FEB “modernizou” as impressões de Reformador com as capas coloridas, substituindo inclusive o logotipo e desenho, mas a Revista tomou novo rumo gráfico oferecendo gigantescos espaços de proeminência para as imodestas imagens (fotos) dos diretores febianos.

Apesar de ser um dos quatro periódicos surgidos no Rio de Janeiro, de 1808 a 1889, que sobreviveram até os dias atuais e o único que nunca teve interrompida sua publicação, todavia diversas vezes desviou-se do programa de estudar, difundir e propagar a legítima Doutrina dos Espíritos sob o seu tríplice aspecto (científico-filosófico-religioso), sobretudo durante a coordenação do editor Luciano dos Anjos.
Em verdade, tudo tem matrizes nos eternos diretores roustanguistas que ininterruptamente (há mais de 100 anos) se revezam na direção da FEB até os dias atuais. Nesse confuso cenário foram infligidos e cedidos espaços fadigosos do periódico a fim de veicular as burlescas teses da metempsicose consubstanciada nos “criptógamos carnudos” (involução), do neo-docetismo [2] consoante propostos nas obras do visionário J.B. Roustaing, um “após(tolo)” da discórdia! E pelo que sei, desde a primeira edição já são mais de 15 milhões de exemplares publicados pela FEB.

A trajetória centenária do Reformador se confunde com a própria história do quartel-general de J.B.Roustaing, a FEB,  da qual tem sido a porta-voz e a representação do seu pensamento. Confrades que não rezam pela cartilha roustanguista, embora sejam coordenadores de uma ou outra área doutrinária da FEB (baixo clero), jamais alcançaram lograr maiores destaques administrativos, sendo “aceitos” de esguelha pelos poderosos diretores (alto clero) , todos fanáticos pelo advogado de Bordeaux.

A revista Reformador, não raro, expressou várias vezes uma linha editorial e diretrizes a serviço do Evangelho à maneira sorrateira dos fastidiosos volumes dos “Quatro Evangelhos” de Roustaing, tal como ocorreu na presidência do Armando de Assis. Destaque-se que os quatro volumes de Roustaing são estudados sistematicamente nas reuniões públicas realizadas todas as terças feiras na sede da FEB, em Brasília e na sucursal febiana, sediada na Av. Passos-Rio de Janeiro, e isto diz tudo.

A FEB e UNICAMENTE ELA sucessivamente esteve na dianteira  em defesa do roustanguismo. Nessa linha de contra-senso, tem expressado sempre a prevalência das suas verdades docetistas, embaralhadas e camuflada atrás da boa literatura do Chico Xavier e dos clássicos que edita. A  FEB acredita  que conseguirá catalisar a “unificação” e a unidade da Doutrina; mas em realidade , sempre sucederam e sobrevirão as dissidências (internas e externas) resultantes dos sofismas de princípios insustentáveis pela racionalidade kardeciana.

Para a consubstanciação do projeto da disseminação do docetismo, há mais de um século a FEB vem catequisando à socapa alguns confrades ingênuos. Na volúpia insuperável das interpretações equivocadas dos eternos fascinados pelos “Quatro evangelhos” vai transformando o caleidoscópico Movimento Espírita Brasileiro numa desordem ideológica sem precedentes inspirados nos vaporosos pilares dos engodos dos Quatro Evangelhos.

Com Roustaing narcotizando a mente do alto clero febiano será empreita impraticável evitar a dispersão sistemática e generalizada cada vez mais acentuada dos espíritas, em caminho de desintegração, por força de interferências obsessivas em nível de fascinação. Se a unidade doutrinária foi a única e derradeira divisa de Allan Kardec para o fortalecimento do Espiritismo, a união deve ser a fortaleza inexpugnável da Doutrina Espírita. Em verdade a FEB não conseguiu avançar coisa nenhuma nesse quesito de união entre os espíritas, justamente por que se deixou abater diante dos embustes docetistas, e de outras aberrações doutrinárias contidas na obra do bordelense, razão suficiente para não lograr a unificação,  pois desconhece o poderoso antídoto contra os venenos das discórdias e desuniões, a coerência legada pelas obras codificadas por Allan Kardec.

Herculano Pires na sua sapiência ponderava: “Em os Quatro Evangelhos as verdades são sempre contrariadas pelas mentiras, o natural é prejudicado pelo absurdo e o belo é sempre desfigurado pelo horrível. Jesus é fluidificado, purificado e até endeusado; mas também é ironizado, ridicularizado, deturpado e estupidificado”! “Roustaing é o anti-Kardec. Se Kardec é o bom senso, Roustaing é a falta de bom senso”. [3]

Queira Deus que no futuro não distante ressurja o ideário da concepção e fundação de uma CONFEDERAÇÃO ESPÍRITA no Brasil (sem Roustaing, óbvio!)

Jorge |Hessen
Referências:
[1]            disponível em http://febnet.org.br/site/conheca.php?SecPad=3&Sec=188  acesso em 13/04/2016
[2]            Os gnósticos-docetas do primeiro século sustentavam que Jesus não tinha realidade física, que o seu corpo era apenas aparente. Sua posição contrariava as teses da encarnação do Cristo, apresentando-o como uma espécie de Deus mitológico, sob a influência das idéias helenísticas. O Docetismo exerceu grande influência em Alexandria, propagando-se a Éfeso, onde o apóstolo João instalara a sua Escola Cristã. João refutou a tese doceta como herética, pois além de não corresponder à realidade histórica, transformava o Cristo num falsário.  A fábula dos docetas ( como o apóstolo Paulo a classificou) apresentava-se como uma das mais estranhas desfigurações do Cristo, fornecendo elementos ricos e valiosos aos mitólogos para negarem a existência real e histórica de Jesus de Nazaré.
[3]            Pires, Herculano. O Verbo e a Carne, São Paulo: Ed Paideia, 1972