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quinta-feira, 28 de abril de 2016

QUANDO



Roberto Cury
             
Meu pai partiu 14 anos antes de minha mãe de volta à Pátria do Espírito. Ambos tinham 75 anos, quando cada um partiu mas, o amor continuou após a desencarnação do sêo David. Eles se amaram quando vivos e minha mãe morria de saudades do meu pai.
Dona Maria Gibran, minha mãe, morava só num apartamento do Bairro Santo Amaro na capital paulista. Na véspera da sua partida, minha mãe mais uma vez sonhara com meu pai. Foi assim que ela narrou o sonho para minha irmã Maria Catarina agora desencarnada: “Estava deitada na minha cama quando senti um perfume de rosas e abrindo os olhos me deparei com imensas braçadas de rosas vermelhas espalhadas pelo quarto. Levantei-me e no corredor muitas rosas vermelhas, não olhei no quarto de hóspedes mas tive a certeza de que também ali vicejavam muitas rosas vermelhas. Na sala então deparei-me com tantas rosas vermelhas e o seu pai no meio delas, sorrindo. Então perguntei: - Daúd (nome árabe de David) foi você quem trouxe todas essas rosas? Ele sorriu e logo desapareceu. Senti-me leve como se fosse voar. Uma alegria imensa substituiu a dor das saudades que sempre senti depois que ele partira.”

Minha irmã sorriu observando a felicidade de mamãe. Mas, não desconfiou de nada e no dia seguinte, após a desencarnação de mamãe, Catarina, que era médium inconsciente, revoltou-se contra Deus e ao falarmos pelo telefone, disse-lhe: - foi a melhor coisa que aconteceu com a nossa mãe. Ela não tinha mais nenhuma tarefa para cumprir por aqui e morria de saudades do nosso pai. Eles agora estão felizes juntos”.

Catarina, gritou: “eu não queria”, eu não queria. E eu: “nós não somos donos de ninguém, Catarina. Deus é que é o nosso Senhor e Ele sabe o que é melhor para cada um de nós”.

Ela, nervosa: “Deus não podia fazer isso comigo”. E, bateu o telefone. Meu irmão que vem logo após a mim, determinou que eu não deveria ir. Que ficasse por aqui mesmo, pois o caixão estaria lacrado.

Eu e o meu amigo espiritual Clovis pelo pensamento: compreensão ainda é uma questão complicada no mundo dos encarnados.
Meses mais tarde, resolvi ir a São Paulo passar uns dias com meus irmãos. Ninguém me recebeu então fui parar na praia de Ubatuba na casa da prima Sonia onde meus dois filhos, crianças, estavam passeando.

Uma semana depois na casa de Sonia, Catarina soube que estávamos lá, ligou pedindo que voltássemos naquele dia mesmo e nos hospedasse em seu apartamento em São Paulo. Assim fizemos. Fomos muito bem recebidos e cuidados. Ninguém tocou em nenhum assunto embaraçador e logo no outro dia, minha irmã Célia e suas duas filhas almoçaram conosco antes de embarcarmos de volta a Goiânia. Catarina nos levou ao aeroporto, lá se despedindo de nós.

Maria Catarina Cury, pela ordem decrescente a segunda filha ocupando o 4º lugar entre os rebentos do casal David/Maria, teve um infância turbulenta. Entre os 5 e 6 anos de idade esteve entre a vida e a morte em consequência de um tétano que a atingiu. Dr. Magalhães, médico da família, diante da gravidade da doença, alertou a família para o desenlace dizendo que só um milagre era capaz de salvar a menina da morte.

Lembro-me bem que sua língua enrolou na boca e começara por sufoca-la. Então vi o médico meter dois dedos na boca rígida da irmãzinha e puxar a língua para fora distendendo-a, favorecendo a respiração entrecortada pela febre alta ou sei lá o que, pois nos meus dez anos não entendia como era possível aquele quadro estranho que deixara Catarina totalmente desfigurada. Os braços e pernas da pequena pareciam de borracha se enrolando, enquanto os dedos das mãos se retorciam, os olhos circulando desordenadamente nas órbitas. Um quadro dantesco que seria fatal... a criança poderia sufocar.

Quando finalmente, a doença foi superada e pudemos voltar para nossa casa, lembro-me de nossa mãe dizendo que Catarina tinha chegado até ao portão do cemitério e voltado para a vida.
Quem foi Catarina?

Na visão de Sumaia nossa irmã carnal: Uma irmã especial, mística , sensitiva. Por onde passava deixava rastros de luz. Seus olhos eram luzes que nunca se apagavam. Irmã ternura, irmã quase mãe, conselheira e cuidadora de todos irmãos.  Inexplicável a sensação de estar perto dela, de falar com ela. Era uma autoridade sem autoritarismo, todos a respeitavam, tamanha a luz que seus olhos irradiavam.

Tornou-se PHD em Educação, título merecido. Uma intelectual sem par. Discutíamos sobre todos os assuntos.  Das nossas longas conversas posso sintetizar a nossa perplexidade diante de uma superioridade masculina, trazida pela cultura árabe. Nunca chegaríamos a ser reconhecidas pelos irmãos. Nossa capacidade era desconsiderada por motivos que não descobrimos. Juntas tínhamos uma missão que nos propusemos: um dia ser valorizada por irmãos. Os conceitos árabes falavam mais alto, e ela se retirou para o mundo espiritual, repentinamente, deixando- me a tarefa de mostrar que éramos tão capazes como nossos irmãos. Não tive, e não tenho vontade de levar essa missão adiante, não vejo mais prazer nisso. Quero apenas lembrar que fomos muito íntimas, que conhecíamos onde poderíamos chegar, acreditávamos em nossa capacidade nunca reconhecida .

Uma pessoa especial, tão especial, que incomodava as pessoas que com ela  trabalhavam. Foi diretora de uma grande escola particular, era querida pelos alunos, porém seus subalternos não toleravam tamanha capacidade de dirigir espalhando seu sorriso, amando o que fazia. Teve vitórias e decepções. Estas vieram de pessoas que não suportavam a claridade, a espiritualidade, a capacidade que lhe era peculiar .

Muitas vezes minha irmã chorou. Era um choro que transparecia as injustiças e as avaliações daqueles que não queriam aquela luz incandescente.

Então aproveitei os conceitos machistas, comuns entre os árabes, para justificar a angústia que a Catarina sentia e desabafava comigo. Foi muito difícil ver Catarina ser despedida pelo irmão, por insinuações do grupo que o assessorava. Ela foi humilhada, sem motivos, sem nenhuma razão. Seu sentimento era o amor infinito que nutria pelo irmão. Ela passou momentos de dificuldades porque ficou sem emprego, sem dinheiro para sobrevivência e demitida inexplicavelmente. Eu trabalhava com ela, era professora sob a sua direção.

O mesmo grupo, mais tarde deu um golpe fazendo um rombo nas finanças daquela empresa. Semana passada tive uma pequena resposta para essa atitude. Jantando com o irmão empresário, que me acolheu com carinho, houve a revelação de que ele precisou fazer terapia para se livrar do comportamento dele em relação ao que as pessoas diziam. Ele confessou que dava muita importância ao que diziam e que os funcionários percebendo, fizeram disso um jogo para eliminar pessoas que poderiam influencia-lo alertando-o  impedindo-as de sequenciar os projetos fraudulentos.

Não sei qual explicação para tanto sofrimento. Tão espiritualizada era essa irmãzinha, que do Alto avisaram-na que ela iria partir, mas na minha ignorância não consegui compreender. Eu morava nos EUA e por telefone me disse que em sonho me visitava, que foram momentos maravilhosos quando pode ver meus filhos que tanto amava, distantes há 12anos. Pedi que fosse nos visitar pois era um sinal de Deus... Passaram-se alguns dias novamente sonhou que nos visitava, mas que não foi uma visita feliz já que todos a ignoraram, ninguém a abraçou e eu e meu marido a levamos de volta e com ela a sua mala, sem explicações. Deixamo-la em um ponto de ônibus com a mala, sequer nos despedimos. Sozinha ficou angustiada porque não sabia para onde iria, sequer falava inglês. Partiria para o mundo espiritual, e eu na minha ignorância não consegui interpretar o sonho, apenas disse-lhe: mana nós te amamos muito e nunca a abandonaríamos  jamais deixaríamos de recebê-la com amor. Duas semanas depois em Fevereiro de 2011, ela partiu, inesperadamente para o mundo espiritual. A revelação me chegara, mas não fui capaz de entender. Só compreendi esses sonhos no dia da partida sem despedidas. Só restou a saudade.”

Solange (Sol), grande amiga de Catarina, passa-nos um bilhete que recebera da nossa irmã assim transcrito: “Minha querida amiga, irmã em Cristo!

Às vezes penso que no cotidiano duro parece não fazer muito sentido o que está na Palavra de Deus "que Ele não nos dá fardo maior do que podemos suportar". Tantas coisas acontecem e ficamos depois dos acontecimentos nos indagando como realmente tudo se passou, e passou! Nos tempos de aflição pensamos que eles não chegarão ao final, ou que talvez não cheguemos a suportar tudo e a vida vai rodando sua roda, sua ronda... E estamos nela: "Somos criação de Deus" (Efésios 2: 10).

Eu quero que perdoe o que de mal pude ter feito a você ou à sua vida, com palavras ou com atitudes durante todo o tempo que já nos conhecemos e já se passaram vinte e três anos... uma longa vida de convivência e amizade, de carinho profundo.

As preocupações já existiam desde o início dos tempos como aconteceu com homens e mulheres de Deus, nos relatos bíblicos, com Moisés, com Salomão, com Maria (mãe de Jesus) e até com Jesus, apreensivo por enfrentar a morte na cruz.

Que diríamos de nós?!? Tão frágeis como a folha ao vento, sem Jesus!

Graças ao Soberano Senhor, que nos deu JESUS, seu Filho Amado.
com carinho. Ká”

(Ká era a forma como Catarina resumia seu nome para os mais íntimos).

Sol, explica: “As linhas acima foram escritas por ela falando dos dias em Curitiba quando outra chefia chegou para assumir o lugar que tinha ocupado, para quebrar o galho do seu irmão, porque digo isso, a escola estava praticamente vendida, ela não sabia, desmontou a casa dela em São Paulo e foi para Curitiba acreditando que seria um novo começo profissional, que ela tanto desejava. Penso que ela nunca foi tão humilhada como ali pelos empregados dos novos donos. O seu apartamento estava alugado não tinha para onde voltar, preocupada pediu para uma prima, que mora em Itatiba, arranjar um apartamento. A prima e o marido conseguiram e alugaram um apartamento em uma semana. O carinho e a atenção fizeram-na sentir-se amparada e acarinhada. Sofreu muito se questionando o porquê? Apesar de tudo, não se adaptou em Itatiba. De volta para São Paulo foi convidada para tomar conta de um Colégio do ensino fundamental, outra vez sorriu feliz, tinha trabalho, mas, para grande  surpresa,  se apresentando ao empregador (seu irmão) ele já havia contratado outra pessoa. A querida amiga sofreu muito, pois as questões de emprego sempre esbarraram em familiares. Mesmo desejando ardentemente ajuda-la a sair da angustia em que se encontrava, me faltou sensibilidade para perceber que o estado emocional dela estava profundamente abalado, totalmente insegura, reclamava de dores pelo corpo. Foi então que veio como voluntária na UNICAMP e, juntas, lecionamos um curso de metodologia com a promessa do Pró-Reitor de pesquisa que teria uma verba para custear suas despesas. A verdade é que era um fardo muito grande para ela o ir e vir para Campinas, mas ela não me disse nada. A última aula com a participação dela foi dia 12 de dezembro de 2011, também foi o último dia que vi minha muito querida amiga irmã.

Conheci Catarina em 1986, no norte de Goiás. Ela era vice-diretora da Escola de uma Multinacional. Trabalhei com ela até meados de 88, foi um tempo de muito aprendizado, aprendi muito com a Catarina. Generosa, carinhosa, tratava as pessoas com muita delicadeza principalmente as pessoas mais simples, que normalmente são invisíveis aos olhos da maioria, para ela, nunca despercebidos. Muito competente no seu fazer. Lamentável que não a valorizaram como profissional competente que era. Sei que a grande frustração da Catarina foi sobre a vida profissional, pois ela buscou reconhecimento em quem não tinha para dar e ainda assim, ela não desistiu dessa aproximação. Confesso que muitas vezes odiei e queria que ela também odiasse as pessoas que machucavam-na deliberadamente, mas no seu coração não tinha lugar para rancor, somente doçura e bondade.

Sim doçura e bondade.

Poderia encerrar aqui este artigo sobre a minha maninha querida Maria Catarina, a “Tota” entre nós familiares, mas, não devo, porque não posso sem antes dizer que ela se constituiu em verdadeira heroína no ciclo da parentela e dos amigos cultivados na sua existência, tendo sempre um colo para receber os que choravam por qualquer razão, uma palavra confortadora para os que sofriam com ou sem motivo, um abraço carinhoso para matar as saudades de quem estivera distante, para acarinhar os cabelos dos que estivessem desalinhados na vida, incapaz de guardar rancor, jamais se deixou vencer pelo desânimo ou pelas tantas injustiças sofridas, mas sempre presenteou a todos com sua voz firme, tranquila, na qual as vibrações marcaram a grande ternura do seu coração, enfeixando, no abraço todo o amor que nutriu e distribuiu para todos, indistintamente, coroando com um sorriso onde a ironia jamais teve vez a doçura de todos os seus gestos e quefazeres tanto materiais quanto espirituais.

Agora no Mundo dos Espíritos imagino-a recebendo de braços abertos todos os injustiçados e discriminados nesta Terra, dulcificando as dores e sofrimentos mais variados.

Todo aquele, pois, que se humilhar e se fizer pequeno como esse menino, esse será o maior no Reino dos Céus.” – Mateus, XVIII, 1-5.

Fica com Deus irmãzinha querida.

 
 
 Roberto Cury

POEMINHA DE BEM-QUERER
                                               
Se estás presente, estou feliz,
Se não me falas, sinto saudades,
Se tu me vês e eu não te vejo,
Ainda assim eu sorrio quando tu sorris,
Eu me calo quando tu te calas.
 
Mas, é tanto, tanto meu bem-querer,
É tanto o meu amor por ti,
Que nada é capaz de escurecer,
A alegria quando ouço bater teu coração,
Nem calar a imensa felicidade,
Que invade minha alma gêmea
Da tua alma tão grande e bela!
Como é lindo o nosso amor!

O Centro Espírita



Diferente das demais doutrinas o Espiritismo desmaterializa. Toda a sua filosofia se volta para um sentimento acima do que a matéria nos impõe. 

Tudo, portanto, o que se realizar no Centro Espírita deverá ser no sentido de colocar a alma sob o poder de um sentimento que a espiritualize. Quaisquer atividades ali exercidas, voltadas para uma conceituação humana, além de desconcentrar dos seus propósitos evangélicos, dificulta a atuação dos Espíritos, pela formação fluídica contrária às atividades espirituais, mesmo um pensamento inconsciente terra a terra.

Se realizarmos no Centro Espírita atividades como: teatro, comércio, mesmo a benefício de terceiros, os meios não justificam os fins, estaremos modelando, ali, fluídos a repercutirem na atmosfera e viciando-a daquilo que não cabe em um ambiente espiritualizado, desarmonizando-o. Diz Allan Kardec: “Algumas vezes, essas transformações resultam de uma intenção; doutras, são produto de um pensamento inconsciente. Basta que o Espírito pense uma coisa, para que esta se produza, como basta que modele uma ária, para que esta repercuta na atmosfera”.(1) “Não sabeis que um pouco de fermento leveda a massa toda”. (2)

O Espírito Bezerra de Menezes desaconselha além de teatro e comércio, homenagens humanas, ataque a outras religiões, enfim “tudo aquilo que não se concebe num hospital, junto a um leito de dor ou um santuário de oração”. (3)

Acontecimentos mundanos requerem locais onde se possa manifestar como, vibrar desconcentrado, aplaudir, e tais demonstrações, a comunicarem os sentimentos que exprimem, tornam-se incompatíveis com o ambiente classificado pelos benfeitores espirituais como: escola, oficina e hospital. 

Certamente, cabe-nos desmaterializar cada vez mais o ambiente onde nos reunimos em nome de Deus, na expectativa de aplicarmos, ali, uma temática doutrinária Espírita similar, mais elevada do que a que hoje estudamos, pois Ela, muito mais tem a nos oferecer, e muito mais necessitamos, dependendo do que programarmos para a Casa Espírita. 

E, que as atividades humanas, embora necessárias, fiquem reservadas para os lugares propícios.

(1) – (A Gênese: cap. XIV, 14).
(2) – ( I Coríntios, 5. 6)
(3) – (Reformador: Janeiro de 1992 – págs. 20 a 24). 


Cachoeiro de Itapemirim, ES.
Domingos Cocco
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Rua Neca Bongosto n° 06 – Bairro Sumaré
Telefone: (28) – 3522-4053 – CEP – 29304-590
Cachoeiro de Itapemirim – Estado do Espírito Santo

segunda-feira, 25 de abril de 2016

DESIGUALDADE SOCIAL E REENCARNAÇÃO Jorge Hessen



Jorge Hessen

Auroville é uma pequena cidade localizada na Índia. Foi fundada em 1968 pelo casal Sri Aurobindo e Mirra Alfassa. Ali, todos os moradores recebem um salário mínimo e podem trabalhar com o que se adaptem. É uma urbe que não tem políticos ou classes sociais. Não há religião oficial e o dinheiro é de somenos importância. Atualmente, cerca de duas mil pessoas moram na cidade, que tem capacidade de acolher até 50 mil habitantes.

É uma cidade autossustentável, tem campos cultiváveis, pequenas fábricas, restaurantes, padarias, hospitais, escolas e cinemas, além de um pequeno jornal local, tudo alimentado por energia solar. Não existem prefeito, governador ou secretários. Sempre que surge um problema, uma assembleia é convocada e os cidadãos da comunidade elegem um conselho para solucioná-lo.

Os habitantes de Auroville são livres para exercer seus rituais e acreditar no que quiserem, desde que não incomodem ou tentem pregar suas crenças aos concidadãos. Para residir na cidade, o interessado precisa comprar uma casa, que custa em média 3 mil dólares. No primeiro ano que passa na cidade, o novato é observado e avaliado pela comunidade. Depois de um ano, período que eles chamam de “estágio”, os cidadãos de Auroville decidem se a pessoa pode ou não permanecer entre eles.

Observamos ser um lugar apinhado de utopias e talvez não muito encantador, pois com meio século de existência e com capacidade para receber até 50 mil moradores, hoje só habitam cerca de duas mil pessoas. Como disse, deve ser um lugar pouco atraente, ou os cidadãos de Auroville devem ser intransigentes (pouco democráticos, diria!). Pode ser que o processo de seleção pela comunidade sobre os que podem ou não residir na cidade (após um ano de “estágio” no local) seja muito rígido ou discriminatório, sabe-se lá!...

Talvez tenham conquistado em Auroville a virtual igualdade dos “bens”, mas convidamos os leitores a meditarem aqui acerca da teoria da desigualdade das riquezas conforme ensinou Kardec, demonstrando que o princípio da pluralidade das existências pode oferecer a real explicação sobre as dessemelhanças dos “bens” na Terra.

Sabemos que há “espíritas progressistas”, que apontam Kardec como um ingênuo por ter explanado sobre a desigualdade das riquezas explicando-a sob a lei da reencarnação. Evocam tais “espíritas progressistas” que o proprietário dos meios de produção gera riquezas só para si, enquanto aos que trabalham resta o salário, representando apenas uma parte da riqueza gerada. Creem no lema “de cada qual, segundo sua capacidade; a cada qual, segundo suas necessidades", por isso os “espíritas progressistas” divergem de Kardec, dizendo que o Codificador se equivocou quando afirmou que é um ponto matematicamente demonstrado que a fortuna igualmente repartida daria a cada qual uma parte mínima e insuficiente.

Kardec assegurou também que se houvesse a repartição dos bens materiais (riqueza), o equilíbrio estaria rompido em pouco tempo, pela diversidade dos caracteres e das aptidões. Tal verdade espírita é intolerável para os “espíritas progressistas”, pois estes defendem a distribuição irrestrita dos bens produzidos pelas empresas a fim de que os proletários possam viver na prerrogativa e violência ideológica do infausto igualitarismo; os “espíritas progressistas” idealizam uma sociedade altruísta (à moda deles), sem valorizar as legítimas conquistas individuais para a boa performance das estruturas sociais.

Quando Kardec afirmou que se a repartição da riqueza fosse possível e durável, cada um tendo apenas do que viver, e que seria o aniquilamento de todos os grandes trabalhos que concorrem para o progresso e o bem-estar da Humanidade, os “espíritas progressistas” blasonaram que isso representa uma blasfêmia, pois as tecnologias produzidas têm atendido fundamentalmente às necessidades supérfluas da grande massa de consumidores – portanto, pessoas que já possuem o necessário podem utilizar a sua riqueza para o consumo do supérfluo.

Gritam furiosamente os tais “espíritas progressistas”, levantando por que supor que Deus é o agente da concentração de riquezas? Bradam, então, que a riqueza concentra-se pelo simples fato de que quem já possui fortuna tem mais chances de vencer num mercado competitivo, e assim acumular mais riqueza num movimento crescente de concentração de capital. Como se observa uma, dedução horizontalizada, superficial, mecanicista e nada razoável dos “insurgentes progressistas”, que insistem em dizer que isso não significa que devamos “ler a realidade” como um “plano de Deus”.

Creem os “progressistas” que a riqueza pode e deve ser concentrada sob a propriedade coletiva (sic), visando exclusivamente o benefício geral da humanidade, não permitindo a desigualdade de riqueza, pois assim toda a sociedade acaba “refém” da decisão do endinheirado de bem ou mal utilizar a riqueza. Além do quê, a sua apropriação fica sendo necessariamente injusta, já que os trabalhadores que recebem salário como remuneração pela venda de sua força de trabalho não ganham integralmente por toda a riqueza por eles produzida.

Expõem ainda os “progressistas” que em dez anos, no Brasil, as desordens distributivas estão na ordem do dia, pois os ricos se tornaram mais ricos, os pobres se tornaram menos pobres e uma certa classe média tradicional viu sua posição relativa em relação a essas duas outras camadas prejudicada. A classe média perdeu status. Os ricos se distanciaram e os pobres se aproximaram, daí o conflito atual. Que saibam utilizar a inteligência a fim de entenderem que “as classes [sociais] existiram e existirão sempre, o que porém deve preocupar, e é racional estabelecer a solidariedade entre elas, a conciliação de seus interesses, a multiplicação urgente das leis de assistência social, únicas alavancas mantenedoras da ordem.''[1]

É bem verdade que a desigualdade social ou econômica é um problema presente em todos os países (ricos ou pobres), decorrente da má distribuição de renda e, ademais, pela falta de investimento na área social. Compreendemos que uma repartição mais equitativa dos “bens” é imprescindível. Há “trocentas” teorias sociológicas, mil sistemas diferentes, tendendo a reformar a situação das classes desprovidas, a assegurar a cada um, pelo menos, o estritamente necessário. Ótimo!

Mas, infelizmente, noutro cenário, ao invés da recíproca tolerância que deveria aproximar os homens, a fim de lhes permitir estudar em conjunto e resolver os mais graves problemas sociais, tem sido com violência e atualmente no Brasil com ameaça na boca (verbal e saliva hostil ou “cuspidela”) que o militante reivindica seu lugar na ágape social. Outrossim, é uma lástima ver o endinheirado aguilhoado no seu egoísmo e recusando a ofertar aos famintos as menores migalhas da sua fortuna. Dessa forma, um muro tem separado ambos, e os quiproquós, as selvagerias, as cupidezes, as animosidades, os desrespeitos acumulam-se dia a dia.

Politicamente sabemos que as leis elaboradas pelos legisladores podem, de momento, modificar o exterior, mas não logram mudar a intimidade do coração humano; daí vem serem os decretos de duração efêmera e quase sempre seguidos de uma reação mais depravada. A origem do mal reside no egoísmo e no orgulho. Os abusos de toda espécie cessarão quando os homens se regerem pela lei da caridade.

Para confirmar as magníficas teses de Kardec sobre o assunto, reflitamos com Emmanuel: “A desigualdade social é o mais elevado testemunho da verdade da reencarnação, mediante a qual cada espírito tem sua posição definida de regeneração e resgate. Nesse caso, consideramos que a pobreza, a miséria, a guerra, a ignorância, como outras calamidades coletivas, são enfermidades do organismo social, devido à situação de prova da quase generalidade dos seus membros. Cessada a causa patogênica com a iluminação espiritual de todos em Jesus-Cristo, a moléstia coletiva estará eliminada dos ambientes humanos”.[2]


Referências bibliográficas:

[1] Xavier Francisco Cândido. Palavras do infinito, III parte, ditado pelo Espírito Emmanuel, SP: Ed. LAKE, 1936


[2] Xavier , Francisco Cândido. O Consolador, pergunta 55, ditado pelo Espírito Emmanuel, RJ: Ed. FEB, 1978

sexta-feira, 22 de abril de 2016

“NASCER, MORRER, RENASCER...” ADOLESCÊNCIA E SUICÍDIO - Jorge Hessen



Jorge Hessen

A juventude é uma grande fase de descobertas, de experiência de novas emoções e sensações. É compreensível, neste período de transição entre os estágios infantil e adulto, que o vendaval dos mais diversos anseios e pensamentos se torne presente na mente do jovem, erguendo opiniões, preconceitos, tabus e outros temas que eram tidos como certos e inalteráveis. A estrada sedimentada com a presença dos pais até então vai se dissipando sob seus passos, estabelecendo que ele, depressa, construa os alicerces do seu próprio caminho.

Nesse contexto de deliberação e meditação, o jovem ingênuo ou o adolescente imaturo, que jamais teve um calçamento firme e estruturado por onde pudesse caminhar se desorienta e busca, em atitudes extremas, debelar sua perturbação e tédio com o mundo. Diante do desafio de viver com as diferenças, pode brotar então a conduta suicida, que se consubstancia através de acenos psicológicos aos ensaios para a morte.

A depressão é, seguramente, o diagnóstico psiquiátrico mais notado em jovens que tentam o autoextermínio. Desfalecimento, consumo de drogas, desarmonia no lar, desordens de conduta, fatos estressantes, violências físicas, sexuais ou psicológicas e causas fisiológicas podem ser avaliados como os fundamentais agentes geradores desse distúrbio. Mesmo com o avanço significativo da ciência médica, algumas manifestações permanecem obscuras no campo da psicologia. A mente humana guarda mistérios ainda não desvendados.

Quase sempre o jovem que pensa em suicídio dá sinal dessa ideia através de um comportamento diferente no seu modo de viver, passando a buscar refúgio na solidão, isolando-se de tudo e de todos. A maioria das tentativas e das realizações de suicídio entre jovens acontece sobretudo em lares desarmonizados, com famílias desestruturadas, ou procedentes de grupos familiares que apresentam herança de enfermidades somáticas e/ou mentais. Os atos dos jovens buscando a auto eliminação podem ser formas desesperadas de pedir carinho, de chamar a atenção para si. Desse modo, a função da família deve funcionar como decidido antídoto contra o suicídio.

O autocídio é transgressão às leis de Deus, considerado dos mais graves que o ser humano pratica ante o seu Criador. Muitas são as consequências para os que atentam contra a própria vida; são, porém, variáveis para cada espírito, pois há de se levar em conta os pretextos da opção pelo autoextermínio e as formas empregadas para praticá-lo.

Os espíritos de suicidas são enfáticos e unânimes em declarar a intensidade dos sofrimentos que experimentam, a agonia da situação em que se abalam, decorrentes do seu impensado gesto. Como atitude de suprema rebeldia ante o Criador, ainda que com atenuantes ou agravantes, nenhum suicida se liberará do resultado sinistro da ação que praticou em face da desobediência às leis da Criação, e fatalmente uma nova reencarnação o esperará, seguramente em condições mais problemáticas do que aquela em que destruiu a si mesmo.

O suicídio é circundado de complexos e sutilezas imprevisíveis, cercado por circunstâncias e consequências gravíssimas, embora possam variar de grau e intensidade diante das ocorrências. As leis de Deus são incorruptíveis e ajuizadas, solicitando de cada um de nós o máximo bom senso para analisá-las e aprendê-las sem decompô-las através de nossos desejos e paixões.

Sob o ponto de vista espírita, recordamos que a obsessão espiritual igualmente se constitui numa das causas de jovens matarem-se. Quase sempre a perseguição espiritual exprime a desforra que um espírito exerce e que, com obstinação, se enraíza nas relações que o obsidiado manteve com o obsessor em vidas pregressas. Portanto, a ideia recorrente de autocídio, que vez por outra surge na mente de muitos jovens, pode ser reflexo de experiências de encarnações antecedentes.

No debate, garantimos que o Espiritismo é um dos maiores preservativos contra o suicídio. Quando o jovem consegue assimilar as lições dos Bons Espíritos, o suicídio deixa de fazer sentido para ele, mormente quando o adolescente reflete de forma madura a máxima “Nascer, morrer, renascer ainda, progredir sem cessar, tal é a lei”. Sim! O moço perceberá que está diante de um Código Divino que encerra a transcendência da vida, sendo, portanto, o maior defensivo contra o suicídio.

sábado, 16 de abril de 2016

ROUSTAING - O SESQUICENTENÁRIO TÃO AGUARDADO NA FEB (Jorge Hessen)





Jorge Hessen

Um confrade muito querido sugeriu-me escrever sobre a revista Reformador, estabelecendo um paralelo entre a elevação dos conteúdos doutrinários veiculados no passado remoto , e a atual insipidez doutrinária e excesso de fotografias de dirigentes publicadas nas suas páginas.

Outro companheiro informou-me que a FEB – Federação Espírita Brasileira está preparando o lançamento (previsto para o mês de junho de 2016) da nova edição dos “Quatro Evangelhos”, almejando a submissão comemorativa aos 150 anos de lançamento do livro de J.B. Roustaing. Desta forma , telefonei para o departamento editorial da FEB e foi confirmado o tal lançamento, por isso mesmo,  deliberei antecipar um manifesto de alerta em face da augurada reedição das obras que representam a ruptura de união ente os espíritas no Brasil.

Percorrendo determinadas narrativas sobre a história da revista Reformador inteiramo-nos de que ela foi fundada em 21/1/1883 por Augusto Elias da Silva, um fotógrafo português, num corajoso empreendimento de difusão espírita no Brasil do século XIX. Isto porque, fundar e conservar um órgão de propaganda espírita, na Corte do Brasil era, naquele período, para esmorecer o ânimo dos espíritas mais resolutos. Uma vez que dos púlpitos brasileiros, principalmente dos da Capital, choviam anátemas sobre os espíritas, os novos hereges que cumpria abater.

Escreveu o fotógrafo lusitano o seguinte: "Abre caminho, saudando os homens do presente que também o foram do passado e ainda hão de ser os do futuro, mais um batalhador da paz: o "Reformador". Com essas palavras inaugurais apresentava-se, no Brasil o novo órgão da divulgação espírita. ”[1]

 O artigo de fundo do primeiro número traçava as diretrizes de paz e progresso pelos quais se nortearia o informativo, definindo ainda os objetivos que tinha em vista alcançar. Apresentou-se, portanto, o "Reformador" como mais um semeador da paz, apetrechado da tolerância e da fraternidade, desfraldando a bandeira da presumível “união” entre os espíritas. Ótimo!

 Até 1888 a redação do periódico funcionou (no ateliê) montado na residência do Elias da Silva. Era um jornal quinzenal composto de quatro páginas e estima-se que sua tiragem inicial era de aproximadamente 300 exemplares, contando com cerca de uma centena de assinantes. A partir de 1902 passou ao formato de revista, inicialmente com 20 páginas e periodicidade bimestral. Na década de 1930 passou a ser mensal, e o número de páginas aumentou gradativamente. Em 1939, a FEB adquiriu e instalou as máquinas impressoras próprias, nas dependências dos fundos do prédio da Avenida Passos. Foi uma decisiva empreitada e graças a essa providência, as edições e reedições de livros espíritas e da revista começaram sua expansão.

 Em seguida, com a instalação do complexo gráfico, em 1948, em amplo edifício (atualmente abandonado, arrasado e falido) especialmente construído em São Cristóvão/Rio de Janeiro, a FEB acresceu a propaganda doutrinária. Paradoxalmente, na década de 1970 a FEB “modernizou” as impressões de Reformador com as capas coloridas, substituindo inclusive o logotipo e desenho, mas a Revista tomou novo rumo gráfico oferecendo gigantescos espaços de proeminência para as imodestas imagens (fotos) dos diretores febianos.

 Apesar de ser um dos quatro periódicos surgidos no Rio de Janeiro, de 1808 a 1889, que sobreviveram até os dias atuais e o único que nunca teve interrompida sua publicação, todavia diversas vezes desviou-se do programa de estudar, difundir e propagar a legítima Doutrina dos Espíritos sob o seu tríplice aspecto (científico-filosófico-religioso), sobretudo durante a coordenação do editor Luciano dos Anjos.

Em verdade, tudo tem matrizes nos eternos diretores roustanguistas que ininterruptamente (há mais de 100 anos) se revezam na direção da FEB até os dias atuais. Nesse confuso cenário foram infligidos e cedidos espaços fadigosos do periódico a fim de veicular as burlescas teses da metempsicose consubstanciada nos “criptógamos carnudos” (involução), do neo-docetismo [2] consoante propostos nas obras do visionário J.B. Roustaing, um “após(tolo)” da discórdia! 


Nos capítulos 14 e 15 de  "A Gênese" Allan Kardec aniquila as teses do enfadonho livro de Roustaing. E mais , na Revista Espírita, Junho de 1868 – Os Evangelhos Explicados. […] Kardec  escreve: “O autor [Roustaing] desta nova obra julgou dever seguir um outro caminho. Em vez de proceder por gradação, quis atingir o fim de um salto. Assim, tratou certas questões que não tínhamos julgado oportuno abordar ainda e das quais, por consequência, lhe deixamos a responsabilidade, como aos espíritos que as comentaram
Convém, pois, considerar essas explicações como opiniões pessoais dos espíritos que as formularam, opiniões que podem ser justas ou falsas e que, em todo o caso, necessitam da sanção do controle universal, e, até mais ampla confirmação, não poderiam ser consideradas como partes integrantes da Doutrina Espírita."

Se fossem mais prudentes reprovariam o que Roustaing , afirma na sua ÚNICA obra literária (Os Quatros Evangelhos) , no    III Volume  , na pág. 65 e 66 dizendo que “A  Igreja católica  terá a sua verdadeira significação, pois que ela estará em via de tornar-se universal, como sendo a Igreja do Cristo, o chefe da Igreja católica, dizemos, será um dos principais pilares do edifício. Quando o virdes, cheio de humildade, cingido de uma corda e trazendo na mão o cajado do viajante, podereis dizer: “Começam a despontar os rebentos da figueira; vem próximo o estio“. E pelo que sei, desde a primeira edição já são mais de 15 milhões de exemplares publicados pela FEB citando tais sandices..

 A trajetória centenária do Reformador se confunde com a própria história do quartel-general de J.B.Roustaing, a FEB, da qual tem sido a porta-voz e a representação do seu pensamento. Confrades que não rezam pela cartilha roustanguista, embora sejam coordenadores de uma ou outra área doutrinária da FEB (baixo clero), jamais alcançaram lograr maiores destaques administrativos, sendo “aceitos” de esguelha pelos poderosos diretores (alto clero) , todos fanáticos pelo advogado de Bordeaux.

 A revista Reformador, não raro, expressou várias vezes uma linha editorial e diretrizes a serviço do Evangelho à maneira sorrateira dos fastidiosos volumes dos “Quatro Evangelhos” de Roustaing, tal como ocorreu na presidência do Armando de Assis. Destaque-se que os quatro volumes de Roustaing são estudados sistematicamente nas reuniões públicas realizadas todas as terças feiras na sede da FEB, em Brasília e na sucursal febiana, sediada na Av. Passos-Rio de Janeiro, e isto diz tudo.

 A FEB e UNICAMENTE ELA sucessivamente esteve na dianteira em defesa do roustanguismo. Nessa linha de contra-senso, tem expressado sempre a prevalência das suas verdades docetistas, embaralhadas e camuflada atrás da boa literatura do Chico Xavier e dos clássicos que edita. A FEB acredita que conseguirá catalisar a “unificação” e a unidade da Doutrina; mas em realidade , sempre sucederam e sobrevirão as dissidências (internas e externas) resultantes dos sofismas de princípios insustentáveis pela racionalidade kardeciana.

 Para a consubstanciação do projeto da disseminação do docetismo, há mais de um século a FEB vem catequisando à socapa alguns confrades ingênuos. Na volúpia insuperável das interpretações equivocadas dos eternos fascinados pelos “Quatro evangelhos” vai transformando o caleidoscópico Movimento Espírita Brasileiro numa desordem ideológica sem precedentes inspirados nos vaporosos pilares dos engodos dos Quatro Evangelhos.

 Com Roustaing narcotizando a mente do alto clero febiano será empreita impraticável evitar a dispersão sistemática e generalizada cada vez mais acentuada dos espíritas, em caminho de desintegração, por força de interferências obsessivas em nível de fascinação. Se a unidade doutrinária foi a única e derradeira divisa de Allan Kardec para o fortalecimento do Espiritismo, a união deve ser a fortaleza inexpugnável da Doutrina Espírita. Em verdade a FEB não conseguiu avançar coisa nenhuma nesse quesito de união entre os espíritas, justamente por que se deixou abater diante dos embustes docetistas, e de outras aberrações doutrinárias contidas na obra do bordelense, razão suficiente para não lograr a unificação, pois desconhece o poderoso antídoto contra os venenos das discórdias e desuniões, a coerência legada pelas obras codificadas por Allan Kardec.

 Herculano Pires na sua sapiência ponderava: “Em os Quatro Evangelhos as verdades são sempre contrariadas pelas mentiras, o natural é prejudicado pelo absurdo e o belo é sempre desfigurado pelo horrível. Jesus é fluidificado, purificado e até endeusado; mas também é ironizado, ridicularizado, deturpado e estupidificado”! “Roustaing é o anti-Kardec. Se Kardec é o bom senso, Roustaing é a falta de bom senso”. [3]

 Queira Deus que no futuro não distante ressurja o ideário da concepção e fundação de uma CONFEDERAÇÃO ESPÍRITA no Brasil (sem Roustaing, óbvio!)

Referências:

[1] disponível em http://febnet.org.br/site/conheca.php?SecPad=3&Sec=188 acesso em 13/04/2016

[2] Os gnósticos-docetas do primeiro século sustentavam que Jesus não tinha realidade física, que o seu corpo era apenas aparente. Sua posição contrariava as teses da encarnação do Cristo, apresentando-o como uma espécie de Deus mitológico, sob a influência das idéias helenísticas. O Docetismo exerceu grande influência em Alexandria, propagando-se a Éfeso, onde o apóstolo João instalara a sua Escola Cristã. João refutou a tese doceta como herética, pois além de não corresponder à realidade histórica, transformava o Cristo num falsário. A fábula dos docetas ( como o apóstolo Paulo a classificou) apresentava-se como uma das mais estranhas desfigurações do Cristo, fornecendo elementos ricos e valiosos aos mitólogos para negarem a existência real e histórica de Jesus de Nazaré.

[3] Pires, Herculano. O Verbo e a Carne, São Paulo: Ed Paideia, 1972

terça-feira, 12 de abril de 2016

O CRISTÃO NÃO SE ATEMORIZA ANTE OS DESAFIOS DA VIDA (Jorge Hessen)




Jorge Hessen

Uma situação de crise econômica e agravamento da insegurança, como nos dias de hoje, alteram as relações sociais, sobretudo no trabalho. Há nessa conjuntura uma relação entre o social e o trabalho, e o sujeito na organização será afetado por isso, aumentando seu medo e sofrimento. O maior temor de quem tem emprego hoje é perdê-lo. A demissão é traumática, sem dúvida. O modelo de relação de trabalho atual é cruel. O sujeito que, dentro da organização, assiste a diversas demissões, vê vários de seus colegas serem "despedidos", e que tem medo de ser a próxima vítima, sabe que a falta de proteção é uma das causas dos seus medos e angústias.

Vivemos e continuamos a viver numa sociedade atemorizada. O medo é um sentimento proveniente da incerteza diante dos desafios da vida. A sociedade promete demasiadamente ao indivíduo, entretanto não lhe proporciona segurança e vende ilusões sorrateiras. A tecnologia materialista impele o homem a desejar ter cada vez mais, a consumir e adquirir bens materiais, esquecendo-se dos bens verdadeiros - os bens espirituais (que coincidentemente algumas “religiões” comercializam sem nenhum pudor).

Urge reagir a esta perspectiva de obter, de adquirir. Porém, há os que desejam competir e temem fracassar. Vários deixam-se abater ante as extravagâncias de comportamento, dos gastos excessivos e do exibicionismo, esperando vencer a consternação do medo. Os desprevenidos descambam para a delinquência e para as devassidões. Procuram possuir (sem poder) o que a sociedade oferece, sendo possuídos pela posse, gerando uma onda de violência urbana e de vícios pervertidos. O excesso da vida automatizada provocou carência de solidariedade humana, originando uma avalanche de incertezas e desconfianças.

O medo pode ser decorrente de grande choque moral nas profundezas do ser, como intenções maquiavélicas ou infidelidades conjugais. Tudo isso suscita a contemporânea consciência de culpa e os enigmas de relacionamento. O receio de encarar os seus problemas e resolvê-los arremessa as pessoas a conectarem-se com outras mentes desencarnadas em desalinho que lhes inspiram e sugerem a fuga através das drogas, da bebida, do cigarro, do apelo erótico exagerado.

Irrompe-se o temor de não se sentir parte do grupo dos "vitoriosos", conduzindo os medrosos a chamar a atenção para si através do comportamento excêntrico, uso excessivo de tatuagens e de trajes espalhafatosos. E o patético da síndrome do medo é quando alguém não se sente amado e busca desenfreadamente o amor a qualquer preço, em qualquer lugar. Como não consegue distinguir o legítimo amor, busca o abominável escambo (troca) de parceiros, a compensação dos desejos, aportando facilmente na licenciosidade, na prostituição escamoteada.

Confiemos plenamente na Inteligência Suprema que providencialmente administra a vida, sabendo que Ele, a Causa primeira de todas as coisas, é Soberanamente Bom e Justo, e que nos seus estatutos não há espaços para injustiças. Certamente, agindo assim, ao olharmos para trás, teremos uma percepção diferente dos fatos que nos aconteceram e perceberemos que todas as experiências, boas ou más, cooperaram para o nosso bem, mediante as quais o ser progride sempre!


Através do trabalho solidário e fraternal, aprendemos a entender as dores e angústias dos nossos companheiros, a ter compaixão, e finalmente a amar verdadeiramente. O triunfo é sobre nós mesmos, e para consegui-lo é preciso lutar. Portanto, oremos e peçamos orientação de Jesus; deixemos os receios e expulsemos o medo, para que possamos viver e agir com dignidade.

segunda-feira, 11 de abril de 2016

FOTOGRAFIA DO PENSAMENTO E SONHOS


Por Leonardo Paixão(*)

"A teoria das criações fluídicas e, por conseguinte, da fotografia do pensamento, é uma conquista do moderno Espiritismo e pode, doravante, considerar-se como firmada em princípio, ressalvadas as aplicações de minúcias que hão de resultar da observação. Este fenômeno é incontestavelmente a origem das visões fantásticas e desempenha grande papel em certos sonhos" (KARDEC, Allan. Obras Póstumas. 26. edição. Federação Espírita Brasileira, Brasília, DF, 1944. p.  116 – tradução de Guillon Ribeiro).

As criações fluídicas não são vistas apenas pelos encarnados em estado de vigília, nos sonhos elas são muito comuns e, como o Espírito está desprendido do corpo físico, ele recobra suas faculdades espirituais e pode ler, por assim dizer, as imagens que no Mundo Espiritual os Espíritos através de seus pensamentos produzem, imagens estas que podem lhe ser úteis como avisos preciosos e revelações. Aqui a causa dos chamados sonhos premonitórios ou pré-cognitivos (conhecimento antecipado de fatos) e dos sonhos chamados retrocognitivos (conhecimento de eventos passados – vidas passadas ou de fatos ocorridos com outrem e que não sabíamos).

Temos no Velho Testamento um exemplo claro de imagens fluídicas em sonhos e que representaram aspecto da psiprecognitiva (visão psíquica de fatos a acontecer).  Eis o relato do capítulo 41, versículos 17 a 32 do livro Gênesis:

“17 Então, disse Faraó a José: Eis que em meu sonho estava eu em pé na praia do rio.
18 E eis que subiam do rio sete vacas gordas de carne e formosas à vista e pastavam no prado.
19 E eis que outras sete vacas subiam após estas, muito feias à vista e magras de carne; não tenho visto outras tais quanto à fealdade, em toda terra do Egito.
20 E as vacas magras e feias comiam as primeiras sete vacas gordas;
21 e entravam em suas entranhas, mas não se conhecia que houvessem entrado em suas entranhas, porque o seu aspecto era feio como no princípio. Então, acordei.
22 Depois, vi em meu sonho, e eis que de um mesmo pé subiam sete espigas cheias e boas.
23 E eis que sete espigas secas, miúdas e queimadas do vento oriental brotavam após elas.
24 E as sete espigas miúdas devoravam as sete espigas boas. E eu disse-o aos magos, mas ninguém houve que mo interpretasse.
25 Então, disse José a Faraó: O sonho de Faraó é um só; o que Deus há de fazer, notificou-o a Faraó.
26 As sete vacas formosas são sete anos; as sete espigas formosas também são sete anos; o sonho é um só.
27 E as sete vacas magras e feias à vista, que subiam depois delas, são sete anos, como as sete espigas miúdas e queimadas do vento oriental; serão sete anos de fome.
28 Esta é a palavra que tenho dito a Faraó; o que Deus há de fazer, mostrou-o a Faraó.
29 E eis que vem sete anos, e haverá grande fartura em toda a terra do Egito.
30 E, depois deles, levantar-se-ão sete anos de fome, e toda aquela fartura será esquecida na terra do Egito, e a fome consumirá a terra;
31 e não será conhecida a abundância na terra, por causa daquela fome que haverá depois, porquanto será gravíssima.
32 E o sonho foi duplicado duas vezes a Faraó é porque  esta coisa é determinada de Deus, e Deus se apressa a fazê-lo”.

As imagens fluídicas neste caso foram as vacas e as espigas.
Homens destemidos como o Dr. Joseph Banks Rhine dedicaram-se a estes estudos. Rhine declarou corajosamente: “Nada em toda a história do pensamento humano – heliocentrismo, evolução, relatividade – foi mais verdadeiramente revolucionário ou radicalmente contraditório para o pensamento contemporâneo do que os resultados da investigação da psiprecognitiva” (APUD: LOUREIRO, Carlos Bernardo. IN: Das Profecias à Premonição: passado, presente e futuro se fundem para constituir a eternidade. Rio de Janeiro: FEB, 1999).

(*) Leonardo Paixão é trabalhador espírita em Campos dos Goytacazes, RJ, colaborando com um grupo de amigos de ideal no Grupo Espírita Semeadores da Paz

sexta-feira, 8 de abril de 2016

OS DONS DA “BRUXARIA” (MEDIUNIDADE!) Jorge Hessen



Jorge Hessen



Uma menina de seis anos, que sofria de albinismo, foi encontrada morta e com seus membros cortados no Burundi , na África. Eis aí um caso de assassinato, segundo autoridade policial local, motivado por rituais de feitiçaria. Acredita-se que os órgãos das pessoas com essa desordem genética são usados para fazer poções mágicas, a fim de garantir a juventude, a riqueza e o poder às pessoas que nela creem. Estamos diante da condição, extremamente, primitiva do ser humano que cultua tais crenças.

Anja Ringgren Lovén, ativista dinamarquesa, foi a responsável por salvar Hope, um garotinho africano da Nigéria de dois anos que foi abandonado pela família sob o estigma de ser a encarnação de um “bruxo” (médium!). Depois de passar oito meses morando na rua, Hope foi resgatado por Ringgren e, aos poucos, recuperou-se de um avançado estado de desnutrição. A dinamarquesa fez um magnífico serviço de socorro, sem dúvida, mas analisemos a questão pelo ponto de vista do sortilégio tão temido por diversas família africanas.

Na Idade Média, eram santos e santas, quando se afinavam à cartilha religiosa da época, ou então, feiticeiros e bruxas, recomendados à fogueira ou à forca, quando se não ajustavam aos preconceitos do tempo em que nasceram. O Papa João XXII, em 1326, autorizou a perseguição às bruxas sob o disfarce de heresia. O Concílio de Basileia (1431-1449) apelava à supressão de todos os males que pareciam arruinar a Igreja. Em 1484 o Papa Inocêncio VIII promulgou a bula Summis desiderantes affectibus, confirmando a existência da bruxaria. No mesmo ano foi lançado o livro Malleus Maleficarum, pelos inquisidores Heinrich Kraemer e James Sprenger. Com 28 edições, esse volumoso manual se tornou uma espécie de bíblia da caça às bruxas. Contudo, Benedict Capzov, um fanático luterano, foi responsável pela morte de aproximadamente 20.000 "bruxas", apoiando-se na “lei” do Êxodo (22,18); “Não deixarás viver a feiticeira”.

No Brasil, no mês de outubro de 1890, foi promulgado o Código Penal da República, que, maliciosamente, associa a prática do Espiritismo aos rituais de magia e adivinhações. O texto dizia o seguinte, no Artigo 157: "É crime praticar o Espiritismo, a magia e seus sortilégios, usar de talismãs e cartomancia (...), inculcar curas de moléstias (...) e subjugar a credulidade pública. Pena: prisão celular de 1 a 6 meses e multa de 100 a 500 $;. Os espíritas reclamaram com Campos Sales, Ministro da Justiça da época, mas nada adiantou. O relator do Código, João Batista Pinheiro, limitou-se a dizer que o texto se referia à prática do "baixo" Espiritismo, como se existissem dois Espiritismos. 

Na verdade, os republicanos utilizaram os espíritas como bodes expiatórios para diminuir a oposição católica ao novo regime, causada pelo desatrelamento entre a Igreja e o Estado. Como consequência do Código, vários companheiros foram presos em 1891, no Rio de Janeiro. Preocupado com possíveis focos de resistência ao regime, o Governo autorizou a polícia a invadir reuniões e residências à procura de opositores. Para evitar confusões, muitos centros decidiram fechar, temporariamente.

Paulo de Tarso escreveu aos coríntios, “Acerca dos dons espirituais, não quero, irmãos, que sejais ignorantes. Vós bem sabeis que éreis gentios, levados aos ídolos mudos, conforme éreis guiados. Portanto, vos quero fazer compreender que ninguém que fala pelo Espírito de Deus diz: Jesus é anátema, e ninguém pode dizer que Jesus é o Senhor senão pelo Espírito Santo. 

Ora, há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo. E há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. E há diversidade de operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos. Mas a manifestação do Espírito é dada a cada um, para o que for útil. Porque a um pelo Espírito é dada a palavra da sabedoria; e a outro, pelo mesmo Espírito, a palavra da ciência; e a outro, a fé; e a outro, os dons de curar; e a outro a operação de maravilhas; e a outro a profecia; e a outro o dom de discernir os Espíritos; e a outro a variedade de línguas; e a outro, a interpretação das línguas.” [1]

Atualmente há médiuns tido como (“bruxos”!) de todos os matizes, em largas expressões, a saber: psicógrafos, clarividentes, clariaudientes, curadores, poliglotas, psicofônicos, materializadores, intuitivos etc. Paulo de Tarso foi admirável médium de clarividência e clariaudiência, às portas de Damasco, ao ensejo de seu encontro pessoal com Jesus. Todavia, não podemos esquecer que os subjugados – os doentes mentais e os obsedados de todos os graus – que enxameavam a estrada dos tempos apostólicos, eram também médiuns (“bruxos”!).

Referência:
[1]           I Cor., 12:1 a 11

quinta-feira, 7 de abril de 2016

MEDITAÇÃO, EDUCAÇÃO E LABOR (Jorge Hessen)


Jorge Hessen

Ao orarmos, penetramos de alguma forma no universo da meditação. Com o exercício disciplinado dos pensamentos, podemos chegar aos melhores resultados de uma prece. Contudo, o domínio dos pensamentos, considerando a cultura ocidental, é de terrível dificuldade. Quase sempre nós ocidentais construímos pensamentos repletos de ideias vagas, ingênuas, sensuais, arremessamos censuras, mantemos anseios utilitaristas, entulhamos as descargas neurológicas que geram amplo consumo de energia física e mental. Certamente a concentração (meditação) no ambiente adequado pode aliviar a tensão emocional e patrocinar um nível de estabilização e alívio psíquico que tende a refletir no bem-estar físico e espiritual.

Atraiu-nos a atenção a programação do Centro de Educação Infantil Lar de Crianças Ananda Marga, creche municipal localizada no bairro Jardim Peri Alto, na zona norte de São Paulo, administrada pela ONG Amurt-Amurtel, adotando uma linha pedagógica neo-humanista, que estimula o aluno a sentir-se como integrante da natureza que o acolhe. Oferece aulas de yoga e meditação às cerca de 110 crianças matriculadas nessa instituição. Todos os alunos entre zero e três anos de idade realizam prática de relaxamento e massagem. Até os bebês do berçário passam pela técnica.

A proposta é sedutora, pois cremos que uma legítima educação é aquela em que os poderes espirituais regem a vida social. Por outro lado, recordo que no meu tempo de criança, a pureza delas era uma realidade mensurável. A perspectiva da criança não ultrapassava os simples livros didáticos, um único humilde caderno e brinquedos baratos. Para repreendê-las e educá-las, às vezes bastava um olhar firme dos pais. Porém, aquele imaginário infantil, de quietude e sonho ingênuo, desmoronou sob o impacto da era do sensualismo, da violência, do materialismo.

Todo processo de educação constitui-se na base da formação de uma sociedade saudável. A tarefa que nos cumpre realizar é a da educação das crianças pelo exemplo de total dignificação moral. Nesse sentido, os postulados Espíritas são antídotos contra todos os venenosos ardis humanos, visto que aqueles que os conhecem têm consciência de que não poderão se eximir das suas responsabilidades sociais, sabendo que o futuro é uma decorrência do presente. Deste modo, é urgente identificarmos no coração infantil o esboço da futura geração saudável.

Como estamos tratando de educação, evidentemente a educação espírita deve ser mantida restrita aos centros espíritas (para os espíritas), ao lar e, sobretudo, desprovida da roupagem imprópria do sectarismo e do misticismo. O núcleo familiar é o primeiro grupo social do qual participamos e recebemos, não somente herança genética ou de bens materiais, mas principalmente moral. A educação espírita aí tem um papel importantíssimo na formação do caráter do indivíduo, ou melhor, na formação da pessoa como um todo

No que reporta à prática meditativa de vínculos orientalistas adotada pela creche municipal de São Paulo, esta não contém conexões diretas com as finalidades espíritas. Não constam nos cânones das Obras Básicas as técnicas para meditação e yoga, embora não haja rigorosa incompatibilidade com os princípios doutrinários, até porque todo e qualquer exercício que favoreça o equilíbrio espiritual deve ou pode ser estimulado. Entretanto, não se deve confundir as irradiações mentais através da prece com a meditação mística, mormente aplicada pela yoga. Em razão disso, a Doutrina dos Espíritos recomenda que não se instale nos centros espíritas salas específicas para tais meditações (yoga, relaxamento, defumação com ervas, shantala, massagem indiana etc.).

Não obstante haja instituições “espíritas” (não deveria haver) que promovem cursos para técnicas de meditação com base na cultura oriental, é necessário ter cuidado para que esses métodos não descaracterizem a proposta espíritas, até porque as crenças vinculadas às práticas de meditações místicas têm suas próprias instituições, destinadas aos seus adeptos, e certamente nada impede que os “espíritas” ajustados com essas propostas busquem os núcleos não espíritas adequados e aí meditem quando, como e quanto desejarem.

Finalmente, meditar é importante, sem sombra de dúvida, desde que não neutralize nossos afazeres do ganha pão, neutralizem nossos braços e mãos, nem nos faça abdicar dos convites dos Benfeitores Espirituais, uma vez que eles apontam a rota segura de uma meditação produtiva, que não nos hipnotiza com técnicas que centram atenções quase sempre exclusivas em nós mesmos. Não podemos esquecer que Jesus nos conclamou a amar o próximo como a nós mesmos e não o oposto, ou seja, todo o amor, júbilo, contentamento que ansiamos para nós, devemos em condição de equidade ao nosso próximo.