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sexta-feira, 28 de novembro de 2014

TIRANIAS - QUEIRA DEUS QUE “MINHAS” PONDERAÇÕES NÃO SEJAM PREMONITÓRIAS (Jorge Hessen)

TIRANIAS
Na qualidade de escritor espírita confirmo que sou apolítico sob o ponto de vista partidário, porém avaliando diariamente os noticiários nacionais e internacionais sobre a liberdade humana, apesar de revelar uma brutal aberração, não há como ignorar que “ escravidão, sobretudo ideológica e política, ainda acontece em diversas partes do mundo, mormente nos países socialistas (unipartidários), a exemplo da República Popular da China, República de Cuba, República Socialista do Vietname, República Democrática Popular da Coreia, República Democrática Popular de Laos, Venezuela.” [1] Alguns atores que detêm as rédeas do poder atualmente no Brasil, há meio século, alastraram o terror, a violência, a morte, o motim e a desobediência à ordem constitucional da época.
Curiosamente, sob um cenário de guerrilha subversiva, em pleno “regime militar”, o mestre Chico Xavier participou do programa “Pinga Fogo”, apresentado pela TV Tupi - Canal 4, em 21/12/1971. Dentre as enxurradas de perguntas dirigidas ao médium de Uberaba saliento a questão abaixo, por duas razões: primeiro por serem ponderações do “Maior brasileiro de todos os tempos”, segundo por ser tema que remete à atual e preocupante conjuntura cultural, política, econômica e principalmente social na “Pátria do Evangelho”
O jornalista Saulo Gomes indagou: O que pensam os Benfeitores espirituais quanto à posição do Brasil atual [regime militar], seja no terreno político ou social? Chico Xavier, o “Mineiro do século XX”, esclareceu com equilíbrio, patriotismo e sem coerção: " a posição atual [sob controle das Forças Armadas Nacionais] do Brasil é das mais dignas e das mais encorajadoras, porque a nossa democracia está guardada por forças [armadas] que nos defendem contra a intromissão de quaisquer ideologias vinculadas à desagregação.” [2]
O médium de Uberaba enfatiza a oração que segundo ilustra, “não é apenas endereçar palavra ou pensamento a Deus em súplica, significa do mesmo modo discursar e expor os pontos de vista, pois a oração é uma das expressões mais vivas do espírito democrático do Cristianismo, posto que cada um ora segundo as suas crenças.”[3]
Esclarece o “pupilo de Emmanuel” “sem qualquer expressão eufemística, que a posição atual do Brasil [Regime militar] é a das mais dignas e das mais encorajadoras para a democracia, pois está guardada por forças que nos defendem contra a intromissão de ideologia vinculadas a desagregação [referência ao totalitarismo de esquerda]. Precisamos honorificar a posição atual daqueles [militares honrados] que atualmente nos governam.” [4]
O mais ilustre “filho de Pedro Leopoldo” reenfatiza a necessidade da prece: “Devemos orar e juntarmos os nossos pensamentos, a fim de que a união seja preservada dentro das Forças Armadas, com isso manteremos o pleno direito de orar, isto é, discursar, permutar livremente os nossos pontos de vista. Dar os nossos pareceres, permitir as nossas opiniões em matéria de vivencia particular ou coletiva. Com todo respeito e sem nenhuma ideia de bajulação, nas minhas confabulações com os Espíritos amigos do Brasil rogo para que tenhamos a custódia das Forças Armadas Nacionais e que os incorruptíveis militares continuem nos auxiliando como sempre. Isso para que não venhamos a descambar para qualquer desfiladeiro de desordem.” [5]
“Muitas das vezes acreditamos que as Forças Armadas Nacionais devem apenas funcionar nas ocasiões de beligerâncias, nas ocasiões de guerra. Precisamos resguardar os nossos corações para que essas ideias [subversivas] não infiltrem em nossa vida pública, em nossa vida coletiva e venhamos a perder o dom da liberdade em Jesus Cristo.
Vamos agradecer a situação atual [sob controle das Forças Armadas Nacionais] do Brasil por que o País desfruta de ordem. Nós estamos sob o império da lei e devemos ser gratos a Deus e cooperar para que não venhamos perder a ordem, porque a ordem é como a luz do Sol, de tanto receber a luz do sol, muitas vezes nos esquecemos de agradecer esse dom da Providência Divina.” [6]
“Muitas vezes só compreendemos a ordem quando a desordem aparece. Nós somos brasileiros não devemos proceder em moldes da insensatez. Reverenciemos aqueles [Militares honestos] que estão guardando o sentido da ordem no Brasil, em fazendo com que cada um de nós possamos desfrutar esse benefício da paz em nossa vida particular, em nossos lares, em nossos grupos sociais, em nossas empresas de trabalho, lembrando sempre que só não podemos desfrutar uma espécie de “liberdade”, aquela liberdade ilusória que prejudica a comunidade, não podemos prejudicar a ninguém e muito menos a sociedade.” [7]
Como depreende-se do exposto acima, tão-somente transcrevemos um depoimento de Francisco Cândido Xavier, que a rigor, apenas reproduziu verbalmente as orientações advindas dos Benfeitores Espirituais. Um fidedigno seguidor do Evangelho não é necessariamente de “direita” ou de “esquerda”, apenas um cristão, isso é tudo. Todavia, podemos e devemos sim fazer análise de contexto. Em pleno século XXI, percebemos seres impetuosos que permanecem navegando sobre águas desassossegadas dos oceanos ideológicos (materialistas) na “Pátria do Cruzeiro”. Identificamos no horizonte densas nuvens ameaçadoras prenunciando tormentas. Contudo, Jesus permanece no Comando, por isso a sociedade precisa caminhar firmemente em direção à paz, cuja flâmula deve fulgurar a legenda da liberdade coletiva ou individual, não obstante seja a liberdade humana concernente à concessão misericordiosa do “Governador do Planeta”.
Jamais permita Deus que nessa marcha surjam as armadilhas do viés ideológico da ditadura de esquerda ou de direita. Contudo, se não orarmos, exorando a intervenção amorosa de Jesus, a benefício do Brasil, da América Latina e da Terra, provavelmente em breve futuro, todos estaremos sob o tacão de chumbo da ditadura e “legalmente” seremos proibidos (isso mesmo! PROIBIDÍSSIMOS) de anunciar com liberdade os conceitos da Terceira Revelação, exatamente como ocorre na China, Coreia do Norte e com extremas restrições em Cuba. Os compactos indícios estão sob nossos olhos, mas há os que “vendo, não enxergam; e escutando, não ouvem, muito menos compreendem.” [8]
Em verdade os impetuosos (descompromissados com o Evangelho de Jesus) são agressivos, constroem facções (suprapartidárias), aparelham os poderes (executivo, legislativo e judiciário) e conquistam foros de absoluto poder cada vez mais possante e contraditório (sob os auspícios da abominável e institucionalizada corrupção).
Os prováveis indicativos de desordem social raiam em cada milímetro na “Pátria do Cruzeiro do Sul”, cuja soberania entendemos estar sob riscos iminentes. Debaixo da alquebrada ladainha de “socorrer os pobres” (leia-se “aliená-los”) há os que alicerçam as bases para a perpetuação do ambicionado poder absoluto (como já ocorre nalguns países latino-americanos). Oremos, deprequemos, imploremos abundantemente, para que os assuntos aqui expostos sejam apenas arrebatamentos ilusórios do autor. Observemos que tudo na Pátria do Evangelho está em “perfeita ordem”. Exageros à parte queira Deus que “minhas” argumentações não sejam premonitórias.
Obviamente não estamos declarando que o Regime Militar seja hoje a mais eficiente solução para pacificação social, entretanto as Forças Armadas Nacionais devem permanecer atentas, até porque, a liberdade política de um povo não se pode manipular sem gravíssimas consequências.
A omissão nunca foi boa conselheira para quem deseja a ordem social. É contraproducente cruzarmos os braços acreditando que os “anjos celestiais” (Benfeitores) irão providenciar o que nos compete fazê-lo. Sou apolítico, não me atrevo adentrar os pórticos de qualquer militância de ideologia partidária , todavia não me permitirei eximir de participar , se necessário for, seja pelas redes sociais, seja pelos pacíficos manifestos populares (como no caso da marcha pela vida) e outros legítimos mecanismos de pressão popular e cooperar com amor e ação no bem, visando um Brasil e um mundo melhor, auxiliando, inclusive com minha orações, os que têm o compromisso político para construir uma sociedade mais harmônica, organizada sob os auspícios da legítima LIBERDADE E DA PAZ SOCIAL.
Referências:
[1]Disponível em http://jorgehessenestudandoespiritismo.blogspot.com.br/2014/01/liberdade-e-escravidao-no-contexto-da.html acessado em 17/11/2014
[2]Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=5KtBqtArRfI acessado em 18/11/2014
[3]Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=5KtBqtArRfI acessado em 18/11/2014
[4]Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=5KtBqtArRfI acessado em 18/11/2014
[5]Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=5KtBqtArRfI acessado em 18/11/2014
[6]Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=5KtBqtArRfI acessado em 18/11/2014
[7]Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=5KtBqtArRfI acessado em 18/11/2014
[8] Mateus 13:13

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

A LUTA CONTRA O MAL (Espirito Humberto de Campos)



          De todas as ocorrências da tarefa apostólica, os encontros do Mestre com os endemoniados constituíam os fatos que mais impressionavam os discípulos.
          A palavra “diabo” era então compreendida na sua justa acepção. Segundo o sentido exato da expressão, era ele o adversário do bem, simbolizando o termo, dessa forma, todos os maus sentimentos que dificultavam o acesso das almas à aceitação da Boa Nova e todos os homens de vida perversa, que contrariavam os propósitos de existência pura, que deveriam caracterizar as atividades dos adeptos do Evangelho.
          Dentre os companheiros do Messias, Tadeu era o que mais se deixava impressionar por aquelas cenas dolorosas. Aguçavam-lhe, sobremaneira, a curiosidade de homem os gritos desesperados dos espíritos malfazejos, que se afastavam de suas vítimas sob a amorosa determinação do Mestre Divino. Quando os pobres obsidiados deixavam escapar um suspiro de alívio, Tadeu volvia os olhos para Jesus, maravilhado de seus feitos.
          Certo dia em que o Senhor se retirara, com Tiago e João, para os lados de Cesareia de Filipe, uma pobre demente lhe foi trazida, a fim de que ele, Tadeu, anulasse a situação dos espíritos perturbadores que a subjugavam. Entretanto, apesar de todos os esforços de sua boa-vontade, Tadeu não conseguiu modificar a situação. Somente no dia imediato, ao anoitecer, na presença confortadora do Messias, foi possível à infeliz dementada recuperar o senso de si mesma.
          Observando o fato, Tadeu caiu em sério e profundo cismar. Por que razão o Mestre não lhes transmitia, automaticamente, o poder de expulsar os demônios malfazejos, para que pudessem dominar os adversários da causa divina? Se era tão fácil a Jesus a cura integral dos endemoniados, por que motivo não provocava ele de vez a aproximação geral de todos os inimigos da luz, a fim de que, pela sua autoridade, fossem definitivamente convertidos ao reino de Deus? Com o cérebro torturado por graves cogitações e sonhando possibilidades maravilhosas para que cessassem todos os combates entre os ensinamentos do Evangelho e os seus inimigos, o discípulo inquieto procurou avistar-se particularmente com o Senhor, de modo a expor-lhe com humildade suas ideias íntimas.
*
          Numa noite tranquila, depois de lhe escutar as ponderações, perguntou-lhe Jesus, em tom austero:
          — Tadeu, qual o principal objetivo das atividades de tua vida?
          Como se recebesse uma centelha de inspiração superior, respondeu o discípulo com sinceridade:
          — Mestre, estou procurando realizar o reino de Deus no coração.
          — Se procuras semelhante realidade, por que a reclamas no adversário em primeiro lugar? Seria justo esqueceres as tuas próprias necessidades nesse sentido? Se buscamos atingir o infinito da sabedoria e do amor em Nosso Pai, indispensável se faz reconheçamos que todos somos irmãos no mesmo caminho!...
          — Senhor, os espíritos do mal são também nossos irmãos? - inquiriu, admirado, o apóstolo.
          — Toda a criação é de Deus. Os que vestem a túnica do mal envergarão um dia a da redenção pelo bem. Acaso poderias duvidar disso? O discípulo do Evangelho não combate propriamente seu irmão, como Deus nunca entra em luta com seus filhos; aquele apenas combate toda manifestação de ignorância, como o Pai que trabalha incessantemente pela vitória do seu amor, junto da humanidade inteira.
          — Mas, não seria justo - ajuntou o discípulo, com certa convicção - convocarmos todos os gênios malfazejos para que se convertessem à verdade dos céus?
          O Mestre, sem se surpreender com essa observação, disse:
          — Por que motivo não procede Deus assim?... Porventura, teríamos nós uma substância de amor mais sublime e mais forte que a do seu coração paternal? Tadeu, jamais olvidemos o bom combate. Se alguém te convoca ao labor ingrato da má semente, não desdenhes a boa luta pela vitória do bem, encarando qualquer posição difícil como ensejo sagrado para revelares a tua fidelidade a Deus. Abraça sempre o teu irmão. Se o adversário do reino te provoca ao esclarecimento de toda a verdade, não desprezes a hora de trabalhar pela vitória da luz; mas segue o teu caminho no mundo atento aos teus próprios deveres, pois não nos consta que Deus abandonasse as suas atividades divinas para impor a renovação moral dos filhos ingratos, que se rebelaram na sua casa. Se o mundo parece povoar-se de sombras, é preciso reconhecer que as leis de Deus são sempre as mesmas, em todas as latitudes da vida.
          É indispensável meditar na lição de Nosso Pai e não estacionar a meio do caminho que percorremos. Os inimigos do reino se empenham em batalhas sangrentas? Não olvides o teu próprio trabalho. Padecem no inferno das ambições desmedidas? Caminha para Deus. Lançam a perseguição contra a verdade? Tens contigo a verdade divina que o mundo não te poderá roubar, nunca. Os grandes patrimônios da vida não pertencem às forças da Terra, mas às do Céu. O homem, que dominasse o mundo inteiro com a sua força, teria de quebrar a sua espada sangrenta, ante os direitos inflexíveis da morte. E, além desta vida, ninguém te perguntará pelas obrigações que tocam a Deus, mas, unicamente, pelo mundo interior que te pertence a ti mesmo, sob as vistas amoráveis de Nosso Pai.
          Que diríamos de um rei justo e sábio que perguntasse a um só de seus súditos pela justiça e pela sabedoria do reino inteiro? Entretanto, é natural que o súdito seja inquirido acerca dos trabalhos que lhe foram confiados, no plano geral, sendo também justo se lhe pergunte pelo que foi feito de seus pais, de sua companheira, de seus filhos e irmãos. Andas assim tão esquecido desses problemas fáceis e singelos? Aceita a luta, sempre que fores julgado digno dela e não te esqueças, em todas as circunstâncias, de que construir é sempre melhor.
          Tadeu contemplou o Mestre, tomado de profunda admiração. Seus esclarecimentos lhe caíam no espírito como gotas imensas de uma nova luz.
          — Senhor - disse ele - vossos raciocínios me iluminam o coração; mas, terei errado externando meus sentimentos de piedade pelos espíritos malfazejos? Não devemos, então, convocá-los ao bom caminho?
          — Toda intenção excelente - redarguiu Jesus - será levada em justa conta no céu, mas precisamos compreender que não se deve tentar a Deus. Tenho aceitado a luta como o Pai ma envia e tenho esclarecido que a cada dia basta o seu trabalho. Nunca reuni o colégio dos meus companheiros para provocar as manifestações dos que se comprazem na treva; reuni-os, em todas as circunstâncias e oportunidades, suplicando para o nosso esforço a inspiração sagrada do Todo-Poderoso. O adversário é sempre um necessitado que comparece ao banquete das nossas alegrias e, por isso, embora não a tenho convocado, convidando somente os aflitos, os simples e os de boa-vontade, nunca lhe fechei as portas do coração, encarando a sua vinda como uma oportunidade de trabalho de que Deus nos julga dignos.
          O apóstolo humilde sorriu, saciado em sua fome de conhecimento, porém acrescentou, preocupado com a impossibilidade em que se via de atender eficazmente a vítima que o procurara:
          — Senhor, vossas palavras são sempre sábias; entretanto, de que necessitarei para afastar as entidades da sombra, quando o seu império se estabelça nas almas?!...
          — Voltamos, assim, ao início das nossas explicações - retrucou Jesus - pois, para isso, necessitas da edificação do reino no âmago do teu espírito, sendo este o objetivo de tua vida. Só a luz do amor divino é bastante forte para conveter uma alma à verdade. Já viste algum contendor da Terra convencer-se sinceramente tão-só pela força das palavras do mundo? As dissertações filosóficas não constituem toda a realização. Elas podem ser um recurso fácil da indiferença ou uma túnica brilhante, acobertando penosas necessidades. O reino de Deus, porém, é a edificação divina da luz. E a luz ilumina, dispensando os longos discursos. Capacita-te de que ninguém pode dar a outrem aquilo que ainda não possua no coração. Vai! Trabalha sem cessar pela tua grande vitória. Zela por ti e ama a teu próximo, sem olvidares que Deus cuida de todos.
*
          Tadeu guardou os esclarecimentos de Jesus, para retirar de sua substância o mais elevado proveito no futuro.
          No dia seguinte, desejando destacar, perante a comunidade dos seus seguidores, a necessidade de cada qual se atirar ao esforço silencioso pela sua própria santificação evangélica, o Mestre esclareceu aos seus apóstolos singelos, como se encontra dentro da narrativa de Lucas: “Quando o espírito imundo sai do homem, anda por lugares áridos, procurando, e não o achando diz: — Voltarei para a casa donde saí; e, ao chegar, acha-a varrida e adornada. Depois, vai e leva mais sete espíritos piores do que ele, que ali entram e habitam; e o último estado daquele homem fica sendo pior do que o primeiro”.
          Então, todos os ouvintes das pregações do lago compreenderam que não bastava ensinar o caminho da verdade e do bem aos espíritos perturbados e malfazejos; que indispensável era edificasse cada um a fortaleza luminosa e sagrada do reino de Deus, dentro de si mesmo.

Livro:  Boa Nova
Francisco Cândido Xavier, pelo Espírito Humberto de Campos
FEB – Federação Espírita Brasileira

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

AÍ... O MERITÍSSIMO CONDENOU A FISCAL DE TRÂNSITO. ATÉ QUANDO, ATÉ QUANDO...? (Jorge Hessen)

Jorge Hessen
http://aluznamente.com.br

Recebi via e-mail a historinha abaixo, intitulado Ingleses e sua estranha justiça, atribuída a Cláudia Wallin, jornalista brasileira radicada na Suécia há mais de dez anos. Ouçamo-la:
“Em 2003, um deputado inglês chamado Chris Huhne foi pego por um radar dirigindo em alta velocidade.Para não perder a carteira, pois na Inglaterra é abominável uma autoridade infringir a Lei, a mulher dele, Vicky Price, assumiu a culpa. O tempo passou, o deputado tornou-se Ministro da Energia, o casamento acabou e um dia a Vicky decidiu se vingar e contou a história para a imprensa.
Como o fato ocorreu na Inglaterra, Chris Huhne foi obrigado a se demitir inicialmente do ministério e depois do Parlamento. ACABOU AQUI A HISTORIA? NÃO. Na Inglaterra é crime mentir para a Justiça e recentemente a Justiça sentenciou o casal envolvido na fraude do radar em 8 meses de cadeia para cada um. E ambos terão de pagar multa de 120 mil libras (uns 350 mil reais).
Segredo de Justiça? Nem pensar. Julgamento aberto ao público e à imprensa. Segurança nacional? Não, infrator é infrator. Privilégio porque é político? Absolutamente não! O Primeiro Ministro David Cameron, quando soube da condenação do seu ex-ministro disse: 'É uma conspiração da mídia conservadora para denegrir a imagem do meu governo. Certo? Nada disso. O que disse Cameron acerca do seu ex-ministro foi o seguinte: 'É pra todo mundo ficar sabendo que ninguém, por mais alto e poderoso que seja, está fora do braço da Lei.
Esses ingleses são um bando de botocudos. Só mesmo nesses “paisinhos” capitalistas da Europa um ministro perde o cargo por mentir para um guarda de trânsito. Porque na Europa sim, a primeira Lei que um guarda de trânsito aprende é saber com quem está falando.
Fui agente público federal durante quatro décadas, laborei na área de defesa do consumidor. Não desconheço os desafios e riscos para desempenho da função pública. Em razão disso sou instado a refletir sobre o caso da agente de trânsito do Rio de Janeiro que foi condenada por ter dito (pasme!) que "juiz não é Deus". O episódio aconteceu durante uma fiscalização da Operação Lei Seca, em 2011. Nas argúcias dos meritíssimos (amigos do transgressor e “magistrado-deus”) está configurado "abuso de poder" da parte da agente.
Ora, na Inglaterra um ministro foi preso por transgredir a lei de trânsito e mentir para a justiça, conforme narra Wallin, e aqui no Brasil, como não é abominável uma autoridade infringir a Lei, um grupo de juízes condenou uma incorruptível agente de trânsito porque um (intimidador “juiz-deus”), infrator das leis do trânsito, tentou intimidá-la porque percebeu que a agente de trânsito tinha total controle da situação e sabia sim com quem estava falando, ou seja, com um cidadão infrator sem credenciais para ficar acima da lei.Felizmente, esse episódio repercutiu nos meios jurídicos. O presidente da OAB-RJ, sugeriu que o juiz peça licença e que o Tribunal de Justiça do Rio bombardeie a pecha de corporativista. A Amaerj (Associação dos Magistrados do Estado do Rio) emitiu nota afirmando que juízes devem se comportar como qualquer cidadão ao serem abordados em blitze.
É fato! Muitos servidores (juiz é servidor público também) são agressivos, pernósticos, mentirosos, resultado da arrogância profissional. No setor da justiça (tribunais), da saúde (hospitais), da segurança pública (delegacias de polícia), do magistério (escolas) e outras instituições públicas, encontramos profissionais inabilitados para exercer suas funções. São "servidores públicos" que desonram o Estado e seus pares através de manifestas atitudes de brutalidade, de incapacidade técnica, de preguiça, de maldade.
Por essas razões, não raramente, deparamos com juízes impulsivos, negando a mínima consideração aos cidadãos; porém saibamos que o autor de qualquer falcatrua e injustiça invoca o mal, que conspira contra ele mesmo. Assim sendo, a consequência inevitável só advirá realmente para quem pratica o mal. Revidar por revidar, na base de revolta e inconsequência em que se expressam, desgasta as nossas energias psíquicas. Por isso, devemos vigiar para não sermos vítimas das emoções incontroláveis. Isso não equivale a dizer que não devamos exprobrar o autoritarismo de juízes ou seja lá de quem for de forma enérgica se necessário for; porém, sem perdermos o equilíbrio nem a honra.
Na condição de espíritas, devemos encarar a ignorância às leis de Deus como chaga de grande porte, e o remédio é participar das debilidades alheias com nossas orações. Na prece surgem as mais inteligentes e adequadas soluções no tratamento de uma chaga, porquanto golpear a ferida indecorosamente será o mesmo que transformar a doença curável em um carcinoma incurável. A tolerância, sem conivência, é exercício descomunal de completo domínio de qualquer situação, com ação permanente no bem.
Matutando sobre o suscetível “juiz-deus”, indagamos como manter o equilíbrio ante tantas injustiças armadas por aqueles que deveriam aplicar dignamente a Lei. Não podemos perder extensas horas na posição de impaciência ou de insurreição. Emmanuel nos ensina que "a indignação rara, quando justa e construtiva no interesse geral, é sempre um bem, quando sabemos orientá-la em serviços de elevação; contudo, a indignação diária, a propósito de tudo, de todos e de nós mesmos, é um hábito pernicioso, de consequências imprevisíveis.” [1]
A omissão também é situação anestesiante, que entorpece e destrói. Mas não podemos despender tempo valioso e longo em revoltas infrutíferas, extinguindo as nossas forças. O mentor de Chico Xavier ainda adverte: "Que gênio milagroso nos doará o equilíbrio orgânico, se não sabemos calar, nem desculpar, se não ajudamos, nem compreendemos, se não nos humilhamos para os desígnios superiores, nem procuramos harmonia com os homens? Fujamos à brutalidade, enriquecendo os nossos pontos de simpatia pessoal, pela prática do amor fraterno. Sirvamos sempre na extensão do bem, guardando lealdade ao ideal superior que nos ilumina o coração, e permaneçamos convictos de que, se cultivamos a oração da fé viva, em todos os nossos passos, em qualquer lugar, Deus nos auxiliará sempre.” [2]
Para contornar essa complexa situação, mormente diante dos maus juízes, professores, médicos, advogados etc, urge ter autoridade moral para olvidar a sombra, buscando a luz. Mas fazer isso não é dobrar joelhos ou escalar galerias de superioridade falaciosa, teatralizando os impulsos do coração; contudo, sim, persistir no trabalho renovador, criando o bem e a harmonia entre todos, pois, aqueles que não nos entendem de pronto, analisam-nos o comportamento espírita, e, mais cedo ou mais tarde, compreenderão o poder da força moral.

Referência bibliográfica:

1 Xavier, Francisco Cândido. Fonte Viva, Ditado pelo Espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2001
2 Idem

terça-feira, 25 de novembro de 2014

O PENSAMENTO DE UBALDI E A DOUTRINA ESPÍRITA (Leonardo Marmo Moreira)



LEONARDO MARMO MOREIRA
leonardomarmo@gmail.com 
São José dos Campos, São Paulo (Brasil)


Fazendo um estudo comparativo entre o pensamento de Pietro Ubaldi e a Doutrina Espírita, podemos identificar várias propostas bem como atitudes que denotam significativa discordância conceitual e/ou metodológica entre seus respectivos conteúdos. Vejamos alguns tópicos relacionados a essa discussão:
1)      Pietro Ubaldi até quase 50 anos ainda se considerava um "bom católico", e só passa a se afastar mais efetivamente da igreja católica quando o vaticano coloca suas obras “A Grande Síntese” e “Ascese Mística” no Index Librorum Prohibitorum. José Amaral (amigo pessoal e conhecido biógrafo de Pietro Ubaldi, em seu respectivo trabalho biográfico sobre Pietro Ubaldi, o qual encontra-se inserto como anexo na parte final da obra de Pietro Ubaldi “Grandes Mensagens”, publicado pela FUNDAPU) afirma que “quando A Grande Síntese foi colocada no Librorum Indice Prohibitorum, pela Igreja, sua dor foi titânica, porque ele amava aquele livro, revelado por Sua Voz. Tão grande fora seu desânimo que “decidiria quebrar a pena, renunciar a escrever, renunciar a compreender e, afinal, renunciar a pensar. Mas não compreendera que sua vontade não bastava e que não é possível, mesmo que se queira, sufocar o espírito”.  Apesar de tamanha decepção com a igreja católica, Ubaldi ainda vai se considerar um “franciscano” por toda a sua vida. Primeiramente, denominava-se católico até quase 50 anos e depois monista e/ou universalista, apesar de “franciscano”. Pietro Ubaldi nunca se considerou Espírita.
2)      Ubaldi afirmou ter lido Kardec no ano de 1912 (curiosamente, ele comenta isso em palestra proferida em 1951 para público predominantemente espírita, destacando somente o caráter reencarnacionista do Espiritismo, como se esse tópico fosse a única informação que a Doutrina Espírita nos oferece). Todavia, até 1939, Pietro Ubaldi ainda se considerava um “bom católico”. Assim, a suposta leitura de Kardec não o tornou espírita, pois continuou católico praticante (inclusive com confessor) durante várias décadas (vide texto de José Amaral em “Grandes Mensagens”). Se Ubaldi leu Kardec, leu de forma superficial, ou, por outro lado, não concordou ou não se impressionou muito. Assim como acontece com muitos católicos no Brasil, Ubaldi teve acesso ao conteúdo espírita, passando a acreditar na reencarnação, mas sem qualquer compromisso com o estudo doutrinário espírita. Ubaldi era, no máximo, um simpatizante de algumas ideias do Espiritismo, e acreditava ter superado, e muito, a Obra Kardeciana.
3)      Pietro Ubaldi fez um curioso “voto de pobreza”, em 1927, quando seu pai desencarna. Em primeiro lugar, poderíamos questionar: “voto de pobreza” é atitude espírita? Em princípio, não. A Doutrina Espírita está muito mais sintonizada, nesse sentido, com o pensamento do Apóstolo Paulo: “Fazendo com as mãos o que for bom, para ter o que repartir com aquele que passa por necessidades”. Ou seja, os recursos materiais devem ser empregados para gerar obras e produções efetivas no campo do bem. É interessante registrar que Ubaldi, que nasceu em “berço de ouro”, não trabalhou de forma efetiva durante um largo intervalo de tempo (desde sua formatura em Direito em 1910 até ser nomeado professor de inglês na Sicília em 1931, o único “trabalho” efetivo que ele teve foi como motorista de veículos durante a Primeira Guerra Mundial, pois ele nunca assumiu, de fato, a administração das fazendas e demais propriedades e negócios de sua rica família). Aliás, Ubaldi não se opôs a um casamento de interesses proposto por seus pais (vide biografia de Ubaldi por José Amaral, “Grandes Mensagens”; vide também “Para Entender Ubaldi” J. Damas Martins; Júlio Damasceno), no qual juntaram a sua fortuna com a fortuna de sua futura esposa (6 fazendas de um e mais 6 fazendas do outro). Em segundo lugar, no seu “voto de pobreza”, Ubaldi “abriu mão” dos seus direitos à herança paterna em benefício de sua esposa (casaram em regime de comunhão de bens) e dos seus filhos. Portanto, é pertinente um novo questionamento: Ubaldi realmente abriu mão de seus bens como ele e seus adeptos defendem?!
4)      Segundo o biógrafo José Amaral, quando comenta sobre o quarto pessoal de Pietro Ubaldi, “somente não havia lugar nesse quarto para livros de outros escritores, não havia nem mesmo uma prateleira destinada a livros que não fossem os seus e Ubaldi era um homem culto. Sua grande cultura provinha de outras vidas, da juventude e do período de maturação interior, espiritual. Agora, para escrever, não precisava mais de biblioteca, porque sabia ler no grande livro da vida e tinha o universo em suas mãos, através de sua poderosa intuição”. Em outras palavras, Ubaldi não lia coisa alguma. Como ele e seus adeptos podem achar que existe algo de científico em alguém que não lê nada, além de suas próprias obras? E, ademais, se ele fosse minimamente espírita, não teria que estudar com alguma freqüência as obras de Kardec e outras obras doutrinárias?! Os médiuns espíritas não são constantemente convocados ao estudo doutrinário, ao estudo de si mesmo, e ao estudo de outras obras respeitáveis a respeito do Espiritualismo e do Espiritismo?! Até médiuns que não se consideram espíritas estudam, o que, aliás, é muito louvável. Como “ele tinha o universo em suas mãos”, não precisava estudar?! Trata-se de atitude vaidosa e muito infeliz. Qualquer indivíduo minimamente esclarecido sabe que temos que estudar a vida toda, em um processo conhecido atualmente como “educação continuada”. Será que alguém com pretensão apostólica e revolucionária em termos evolutivos não tinha conhecimento disso?
5)      Ubaldi, em toda a sua obra, considera a vida física na Crosta um verdadeiro “inferno terrestre”. Tal postura contrasta com a visão positiva que a Doutrina Espírita apresenta a respeito da Reencarnação e de suas respectivas lutas evolutivas, as quais consistem em mecanismos da Lei de Progresso atuando em nosso próprio benefício.
6)      Pietro Ubaldi está sempre enfatizando, em todos os seus 24 livros, que sua vida física foi um terrível “martírio”, vivendo com intensa “dor”, em todas as fases de sua longa vida de 85 anos e alguns meses. O que nós, Espíritas, aprendemos com Allan Kardec, Léon Denis, Gabriel Delanne, Eurípedes Barsanulfo, Chico Xavier, Yvonne Pereira e tantos outros notáveis autores espíritas é que devemos amar a vida física, aprendendo a não hipervalorizar os problemas pessoais, sabendo que muitas vezes outros que estão à nossa volta sofrem muito mais e não comentam suas próprias lutas e dores (vale a pena ler o texto “O Bem e o Mal Sofrer”, inserto no Capítulo V – “Bem-Aventurados os Aflitos”, de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”). Enfrentar a luta da vida física com atitude elevada espiritualmente também significa lamentar menos, sem hipervalorizar seus próprios problemas, aprendendo a esquecer nossas próprias dores através do trabalho contínuo de auxílio aos nossos irmãos. Ubaldi só escreve sobre si mesmo e passa a impressão de ser o indivíduo mais sofredor do mundo. Tamanho nível de conflito íntimo não parece ser característica espiritual de grandes missionários do bem, ainda mais se lembrarmos que Ubaldi achava que era a reencarnação do “Apóstolo Simão Pedro”. Se lermos a obra de André Luiz, perceberemos que excessiva lamentação é típica de Espíritos que ainda estão longe de serem considerados mentores espirituais. O próprio André Luiz é por diversas vezes advertido sobre essa atitude na sua primeira obra “Nosso Lar”. Para encerrar esse tópico, poderíamos questionar: Chico Xavier costumava reclamar muito de sua vida material? E a vida de Chico Xavier foi pouco desafiadora em termos de dificuldades e lutas? Não é a resposta para as duas questões. O modus vivendi de Pietro Ubaldi é o oposto daquele característico de Chico Xavier. Quem estaria em coerência com o Evangelho de Jesus? Nesse contexto, vale lembrar as recomendações do Apóstolo Paulo: “Regozijai-vos sempre!”; e “Aprendi a não mais ir ter convosco em tristeza”. Como nos ensina Divaldo Franco (Palestra e “Pinga-Fogo” desenvolvido no início de 1990 no Centro Espírita Meimei, no ABC paulista intitulado “A Casa Espírita”) “eu não posso crer no dia e na noite na mesma situação, no mesmo momento e no mesmo local. Como eu creio em Kardec, o outro deve estar errado. Porque eu creio em Kardec por opção pessoal...”.
7)      Além de se achar a reencarnação do “Apóstolo Pedro”, Pietro Ubaldi e seus discípulos consideram que a obra de Ubaldi veio diretamente de Cristo e que sua missão é a maior da história humanidade desde Francisco de Assis. Entretanto, o conteúdo das mensagens de “Sua Voz” (supostamente Jesus de Nazaré) é muito fraco, vaidoso e repetitivo, sendo inadmissível considerar Jesus ou qualquer Espírito da “Falange do Espírito da Verdade” seu autor. Erasto na mensagem “Caracteres do Verdadeiro Profeta”, inserta em “Instruções dos Espíritos” (Capítulo 21 – “Falsos Cristos e Falsos Profetas” de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”) ensina-nos:
Outra consideração a fazer é a de que a maior parte dos verdadeiros missionários de Deus ignoram que o sejam. Realizam aquilo para que  foram chamados, graças ao poder de seu próprio gênio, secundados pelo poder oculto que os inspira e os dirige, à sua revelia, e sem que o tivessem premeditado. Numa palavra: os verdadeiros profetas se revelam pelos seus atos e são descobertos pelos outros, enquanto os falsos profetas se apresentam por si mesmos como enviados de Deus. Os primeiros são humildes e modestos; os segundos, orgulhosos e cheios de si, falam com arrogância, e como todos os mentirosos, parecem sempre receosos de não serem aceitos. Já se viram desses impostores apresentarem-se como apóstolos do Cristo, outros como o próprio Cristo, e, para vergonha da humanidade, encontraram pessoas bastante crédulas para aceitarem as suas imposturas. Uma observação bem simples, entretanto, bastaria para abrir os olhos aos mais cegos: se o Cristo reencarnasse na Terra, o faria com todo o seu poder e todas as virtudes, a menos que se admita, o que seria absurdo, que ele houvesse degenerado. Ora, da mesma maneira que se tirarmos a Deus um dos seus atributos, já não teremos Deus, se tirarmos uma só das virtudes do Cristo, não mais o teremos.
Esses que se apresentam como o Cristo revelam todas as suas virtudes? Eis a questão. Observai-os, sondai-lhes os pensamentos e os atos, e verificareis que lhes faltam sobretudo as qualidades distintivas do Cristo: a humildade e a caridade, enquanto lhes sobram as que ele não tinha: a cupidez e o orgulho. Notai ainda que neste momento existem, em diversos países, muitos pretensos cristos, como há também numerosos e pretensos Elias, supostos São João ou São Pedro, e que necessariamente não podem ser todos verdadeiros. Podeis estar certos de que aos exploradores da credulidade, que acham cômodo viver às expensas daqueles que lhes dão ouvidos”.
8)      Também inserta em “Instruções dos Espíritos” (Capítulo 21 – “Falsos Cristos e Falsos Profetas” de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”) em outra mensagem denominada “Os Falsos Profetas da Erraticidade”, Erasto esclarece-nos: “Os Espíritos da ordem a que eles dizem pertencer, devem ser não somente muito bons, mas também eminentemente racionais. Pois bem: passai os seus sistemas pelo crivo da razão e do bom-senso, e vereis o que restará. Então concordareis comigo em que, sempre que um Espírito indicar, como remédio para os males da Humanidade, ou como meios de realizar a sua transformação, medidas utópicas e impraticáveis, pueris e ridículas, ou quando formula um sistema contraditado pelas mais corriqueiras noções científicas, só pode ser um Espírito ignorante e mentiroso” (Erasto, Discípulo de Paulo, 1862). O próprio Codificador do Espiritismo Allan Kardec elaborou um capítulo em “O Livro dos Médiuns” para comentar sobre mensagens que ele recebera e que eram indignas de serem da autoria dos supostos mentores espirituais que as assinaram, alertando-nos quanto aos perigos da mediunidade. Kardec ensina-nos a avaliar rigorosamente o conteúdo das mensagens de origem mediúnica, hábito não cultivado por Ubaldi.
9)      Pietro Ubaldi é médium de um Espírito só. Ele só recebeu mensagens de “Sua Voz” durante toda a sua vida. Isso é muito estranho. Também no capítulo 21 “Falsos Cristos e Falsos Profetas” de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, entre outros, que essa é uma característica de médiuns que estão assessorados por Espíritos mistificadores. Se avaliarmos os principais médiuns do Movimento Espírita, tais como Chico Xavier, Divaldo Pereira Franco, Yvonne do Amaral Pereira, entre outros, identificaremos grande número de Espíritos comunicantes e com obras com características e propostas bem distintas. Aliás, mesmo médiuns com tarefas de menor projeção costumam receber diferentes Espíritos. Ubaldi não apenas recebe comunicações de um único Espírito, como esse Espírito seria o próprio Jesus. Tal situação pode sugerir fascinação, segundo a Doutrina Espírita. Divaldo Franco e Júlio César Grandi Ribeiro comentam sobre a intensa atuação de Chico Xavier em reuniões de desobsessão, recebendo mensagens psicofônicas de Mentores Espirituais no início e/ou no fim das reuniões e de grande número de Espíritos obsessores durante o transcurso das reuniões de intecâmbio com Espíritos sofredores.
10)   O próprio encontro entre Pietro Ubaldi e Chico Xavier, em 1951, demonstra que Pietro Ubaldi é médium de somente um Espírito: “Sua Voz”. Na presença de Chico Xavier, no Centro Espírita Luiz Gonzaga, em Pedro Leopoldo-MG, Ubaldi recebe mensagem psicográfica de “Sua Voz”. Enquanto isso, Chico Xavier recebe mensagens psicográficas de Francisco de Assis e de Emmanuel e mensagens através de sua vidência e audiência de grande número de Espíritos familiares de Pietro Ubaldi que já tinham desencarnado, para surpresa de autor italiano. Por que Ubaldi não percebeu esses Espíritos? E não notou nenhuma outra entidade? Isso ocorre porque Ubaldi não era um “médium de ação”, ou seja, não tinha uma mediunidade significativa, apesar dos seus adeptos afirmarem ser ele “a maior antena psíquica do século XX”. Portanto, essa “exclusividade” autoral concernente ao Espírito “Sua Voz” sugere fortemente que Ubaldi nunca foi um médium ostensivo (o que também fica evidente ao se estudar outras passagens da vida e da obra de Pietro Ubaldi) e não era cuidadoso na avaliação do conteúdo da mensagem que ele gerava, pois, caso contrário, ele deveria ficar surpreso por somente receber mensagens de um único Espírito. Dessa forma, Ubaldi elaborou uma obra que possui fortíssima componente anímica, através de grande auto-sugestão, o que pode ser atribuído à sua vontade de ser médium e à ausência estudo a respeito dos problemas e riscos que o trabalho mediúnico e/ou espiritual apresenta para aqueles que não se preparam convenientemente para superá-los.
11)   A mensagem de Emmanuel dirigida a Pietro Ubaldi no encontro entre Chico Xavier e Ubaldi, em 1951, é um grande alerta a Ubaldi sobre o significado do Espiritismo para os homens na Terra, como legítima revivescência do Evangelho de Jesus. Aparentemente, Ubaldi não se sensibilizou significativamente, preferindo continuar sua “carreira-solo”, desenvolvendo um trabalho a parte da Doutrina Espírita.
12)   Ubaldi defende o chamado “Monismo”, que seria uma espécie de panteísmo, no qual matéria e espírito seriam interconversíveis, estando ambos “mergulhados em Deus”. Do ponto de vista espírita são dois equívocos: a interconversão entre matéria e espírito; e a visão panteísta de Deus. A Doutrina Espírita estabelece uma proposta dualista, na qual espírito (ou princípio espiritual) e matéria (ou princípio material) são realidades totalmente distintas, embora interagentes. Além disso, “O Livro dos Espíritos” rejeita categoricamente a idéia panteísta, estabelecendo que Deus (“A inteligência suprema, causa primária de todas as coisas”), Espírito e Matéria são totalmente independentes.
13)   Admitir a Queda Espiritual é rejeitar Allan Kardec. Entretanto, nossas heranças religiosas associadas à interpretação literal do “Gênesis” ainda dificultam o entendimento doutrinário. Léon Denis afirma em “Cristianismo e Espiritismo” que os erros na interpretação do “Gênesis” constituem causa de uma série de doutrinas equivocadas no Cristianismo e no Espiritualismo de uma forma geral. Severino Celestino e Pastor Nehemias Marien também corroboram essa opinião de Denis. Obviamente, as matrizes católicas na formação dos pseudo-espíritas e semi-espíritas vêm sendo um problema no movimento espírita. Entretanto, no caso de Ubaldi, a problemática adquire maiores proporções. De qualquer forma, Ubaldi nunca disse que sua obra era espírita. Nesse contexto, o erro maior, indiscutivelmente, é dos Espíritas que tentam “forçar” o reconhecimento da obra de Pietro Ubaldi como “obra espírita”. De qualquer maneira, apesar de Ubaldi não considerar sua obra espírita, tem a atitude contraditória de sugerir que os Espíritas incorporem suas obras no corpo doutrinário espiritista, proposta que foi contundentemente rejeitada por renomados espíritas, como é o caso do Professor J. Herculano Pires.
14)   Poderíamos reconhecer algum valor relativo na obra de Ubaldi, pois o fato de ser obra espiritualista, e não espírita, não retira do autor italiano eventual mérito que sua obra possa apresentar. Aliás, muitos autores espiritualistas são respeitados e até mesmo admirados no meio espírita. Daí, a considerá-lo “autor espírita” e, para alguns, “renovador” e ou “reformador” de Kardec vai uma grande diferença. De qualquer maneira, para um autor fornecer contribuição ao Movimento Espírita, sua obra precisa estar em coerência com os postulados básicos da Doutrina Espírita e ser chancelada pela “Universalidade do Ensino dos Espíritos”. Isso ocorre porque Espírito Superior não conta mentira! Espírito Superior comenta aquilo que conhece profundamente. Se não conhece, não comenta, ou comenta dentro dos limites do seu conhecimento, pois, afinal, não são levianos, e não vão se arriscar a ensinar algo errado a seus irmãos. Assim, o médium preparado intelecto-moralmente poderá conseguir uma boa “filtração” da mensagem dos Espíritos Superiores, contribuindo com a chegada até nós, encarnados, de conteúdos que verdadeiramente nos iluminem com a Verdade. Tais conteúdos, por diferentes Espíritos, diferentes médiuns e diferentes grupos, tendem a se confirmarem mutuamente. Entretanto, a obra de Ubaldi não é corroborada por outros autores espíritas respeitáveis, encarnados ou desencarnados.
15)   Pietro Ubaldi não era cuidadoso com o fenômeno mediúnico e baseava suas conclusões em meras suposições. As ideias de “Queda Original” e de que nosso Universo é um “Anti-sistema” não apresentam nenhuma confirmação por autores respeitáveis, sejam eles encarnados ou desencarnados.
16)   Na sua obra final intitulada “Cristo”, Ubaldi defende que Jesus sofreu na sua Paixão, Crucificação e Morte, pois era um “Espírito decaído” e só voltou para o Reino dos Céus, o que Ubaldi denomina “Sistema”, após o sofrimento final do Julgamento, Crucificação e Morte. Portanto, Jesus sofreu porque estava expiando sua “rebeldia” e como uma espécie de “anjo decaído”, ainda precisava terminar de pagar por seus erros. Essa espécie de “pagamento de pecados” só foi completada, segundo Ubaldi (vide sua obra “Cristo”), após sua morte física na cruz, para que só então Jesus pudesse voltar ao “Sistema”, isto é, à condição de habitante do “Reino dos Céus”, na concepção ubaldista. Essa visão a respeito de Jesus discorda fortemente de todos os autores respeitáveis do Espiritismo, encarnados e/ou desencarnados, não sendo corroborada por nenhuma obra representativa associada à Doutrina Espírita. Todos estariam errados e “Sua Voz”/Ubaldi certo?! Provavelmente, não. Portanto, novamente Ubaldi não possui o respaldo da “Universalidade do Ensino dos Espíritos”.
17)   Sistematicamente, Ubaldi tenta atribuir um caráter científico à sua obra, o que não tem nenhum fundamento, pois ele não aplicou nenhum método de avaliação da mensagem e nenhum tipo de avaliação do que escrevia. Aliás, considerava isso dispensável, pelo menos no que diz respeito à obra “A Grande Síntese” (vide seu comentário em “Nova Civilização do Terceiro Milênio”), a qual, para Ubaldi, era “irretocável”.


Portanto, não há sustentabilidade doutrinária na tentativa de inserção da obra de Pietro Ubaldi como obra subsidiária do Movimento Espírita.

O mau-olhado na ótica espírita

Paulo Neto
Vamos falar de uma crença comum, talvez até mesmo universal, que, segundo o nosso entendimento, tem base doutrinária, mas, no início, poderá causar estranheza a alguns dos estudiosos do Espiritismo.
Será que o mau-olhado é simplesmente uma superstição ou uma realidade percebida pela sabedoria popular? Eis a questão.
Mau-olhado ou olho gordo é uma crença folclórica (provavelmente muito antiga por ser observada entre vários povos) de que a inveja de alguém, demonstrada pelo olhar ou não, pode vir a ocasionar a degradação do alvo da inveja ou de uma boa sorte. Para tanto, em todas as culturas em diversos tempos da história, foram criados amuletos contra o mau-olhado, como nazar ([1]).
Tradicionalmente associado a ideia de “secar com os olhos” […].
Na tradição bíblica, o mau-olhado tem vinculações com a restrição à cobiça (Êxodo 20). (WIKIPÉDIA, Internet, grifo nosso).
Trouxemos a definição na Wikipédia que, embora não muito confiável, servirá apenas para ressaltar que muitas pessoas veem o mau-olhado como uma crença folclórica. Mas não seria o caso de se questionar: ora, se é uma tradição que se nota “em todas as culturas em diversos tempos da história”, e que a todo o momento são presenciadas e narradas ocorrências que levam pessoas a, pelo menos, suspeitarem da sua existência, por que apenas se considera como produto do imaginário?
Cada vez mais estamos convencidos de que, quando uma coisa é Universal, ela é fato, embora possa ser interpretada de forma equivocada, dada a falta de conhecimento dos mecanismos que a fazem funcionar. Talvez um bom exemplo disso seja a crença em fantasmas, que é, certamente, Universal, o que, no Espiritismo, se demonstrou ser a alma dos mortos se manifestando aos “vivos”.
Popularmente praticam-se até mesmo certos rituais na tentativa de se “fechar o corpo” contra o mau-olhado.
Comprova-se a sua realidade com duas ocorrências, que são de conhecimento, especialmente, de pessoas do interior. Hoje com a concentração urbana, está se perdendo essa cultura.
Uma delas é o mau-olhado dirigido contra plantas. Uma pessoa visita outra, que tem um lindo vaso de samambaia; a visitante, olhando para ele, diz: “Que samambaia linda, nunca vi uma igual”. É o que basta, no outro dia de manhã, a pobre planta está toda desmilinguida, parecendo que lhe passam uma baforada de fogo. Muitas plantas chegam mesmo a morrer, algumas poucas conseguem sobreviver, mas dispensarão muitos cuidados.





A outra diz respeito a crianças que, após elogio de determinada pessoa, muitas vezes amiga da família, ficam
agitadas, não conseguem dormir direito, até que alguém sugere: “Leve-a para benzer”. Dito e feito, após ser benzida a criança volta à situação normal, um anjinho.
As benzedeiras, são, geralmente, senhoras maduras com desprendimento invejável que, via de regra, só praticam a benzeção em crianças. O certo é que “dá certo”, quer acreditem ou não os que não estão acostumados com “essas coisas” de gente do interior, ou da periferia de cidades grandes.

Emmanuel, em O Consolador, respondendo à pergunta “a chamada benzedura, nos meios populares, será uma modalidade de passe?”, afirma categórico: “As chamadas 'benzeduras', tão comuns no ambiente popular, sempre que empregadas na caridade, são expressões humildes do passe regenerador, vulgarizando nas instituições espiritistas de socorro e assistência”. (XAVIER, 1986a, p. 68)
Vejamos, em três fontes distintas, o que temos para sustentação disso:
1ª) Estudiosos
Jacob de Melo (1952- ), em Cure-se e cure pelos passes, aborda o tema:
Se existe um fluido ou uma energia benéfica, poderá haver também aquela que prejudica?
Sem dúvida. Todas as vezes que vibramos negativamente ou desejamos o mal para alguém, estamos produzindo um mau fluido, um fluido desarmônico, um campo desestruturador. Por isso mesmo, este pode ser qualificado como um fluido prejudicial. […].
O que seria um “mau-olhado”, um “quebranto”?
Da parte de quem o sofre, trata-se da absorção de uma carga fluídica, a qual contamina ou mesmo congestiona um ou mais centros vitais importantes, gerando a falência do(s) mesmo(s), terminando por transferir a mazela para o(s) órgão(ãos) físicos correspondentes. Da parte de quem o realiza é a emissão de uma carga fluídica muito densa, dirigida, de forma intencional ou não, a pessoas, plantas e/ou animais.
Por que as crianças estão mais sujeitas aos maus-olhados do que os adultos?
Porque nas crianças os centros vitais são “menores” e mais sensíveis. Nelas eles estão estruturados para processarem fluídos mais refinados e sutis do que os elaborados para os adultos, além de, por suas dimensões, “trabalharem” menores quantidades de fluidos. Quando recebem cargas fluídicas densas e/ou em grandes quantidades, esses centros entram rapidamente em congestão fluídica, daí advindo a falência dos mesmos. […].
E para que serve o galho que a rezadeira usa?
É uma espécie de catalisador, um sinalizador. Estando a criança sob congestão fluídica, o passar da mão da rezadeira fará a movimentação dos fluidos ali estacionados. Já que entre a mão da rezadeira e o corpo da criança existe uma planta, os fluidos passarão por esta. Como o meio vegetal é incompatível com as cargas fluídicas em trânsito, ele vai fulminando e, a depender do quanta fluídico causador da congestão, a fulminância será maior ou menor. […]. (MELO, 2003, p. 55-59, grifo nosso).
No Programa Transição, número 007 de 23.11.2008, disponível no site Kardec.TV, o médium Divaldo Pereira Franco (1927- ), explicando sobre o tema mau-olhado e feitiçaria, disse:
“[…] Naturalmente a Doutrina Espírita examina a problemática do ponto de vista dos fenômenos anímicos. O denominado mau-olhado nada mais é do que uma intensa vibração mental de alguém que é dominado por sentimentos inferiores – a inveja, a competitividade – e ao descarregar esta onda de sentimentos negativos e vibrações perversas, muitas vezes atinge aquele contra o qual é dirigido esse pensamento perturbador. E atinge-o porque o outro se encontra numa faixa vibratória equivalente, e através do fenômeno da sintonia capta aquela descarga perturbadora. […]”. (FRANCO, 2008, grifo nosso).
Na obra Diversidade dos carismas: teoria e prática da mediunidade, de autoria de Hermínio Corrêa de Miranda (1920-2013), há referência sobre este assunto:
[…] E o problema do mau-olhado? Existe mesmo?
Como vimos, os espíritos não o negam ao afirmar que há pessoas dotadas de grande força magnética da qual podem fazer mau uso. (MIRANDA, 1991, p. 311, grifo nosso).
Um pouco mais a frente, detalhando, explica Hermínio de Miranda:
É certo, porém, que forças mentais poderosas podem ser manipuladas pelo pensamento e pela vontade. Não há, portanto, mau-olhado no sentido de que um simples olhar possa fazer murchar uma planta ou adoecer uma pessoa; há, contudo, sentimentos desarmonizados que, potencializados pela vontade consciente ou inconsciente, acarretam distúrbios consideráveis em pessoas, animais ou plantas.
O pensamento é a mais poderosa energia no Universo e circula por um sistema perfeito de vasos comunicantes, através de toda a natureza. Segundo as intenções sob as quais é emitido, tanto pode construir como destruir. Dar vida, como retirá-la. Nada mais que isso. (MIRANDA, 1991, p. 320, grifo nosso).
Ney Pietro Peres (?- ), em Manual prático do espírita, trata desse assunto:
O próprio conhecimento popular já definiu o conceito de “mau-olhado”, que, ao ser dirigido por determinadas criaturas, a tantos causa prejuízos em seus bens materiais, quando não o mal-estar e a indisposição. É a vibração que o invejoso emite de tão forte envolvimento negativo, que, ao atingir alguém desprotegido e desprevenido, realmente pode provocar vários males.
Muito cuidado, portanto, com os sentimentos de inveja que venhamos a emitir para quem quer que seja, lembrando sempre que colheremos, para nós mesmos, todo o mal que aos outros provocarmos. (PERES, 1989, p. 82, grifo nosso).
2ª) Espíritos
O Espírito Antônio Carlos pela médium Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho (?- ), na obra Ah, se eu pudesse voltar no Tempo!, a certa altura, afirma:
[…] Incauto quem não crê que energias negativas, sejam elas quais ou de quem forem, possam nos atingir, como também aquele que acha que tudo que nos acontece é por influência alheia. Nunca se deve esquecer das reações de nossas próprias ações. E se vibrarmos no bem, nada de mal nos atingirá. (CARVALHO, 2006, p. 103, grifo nosso).
Joanna de Ângelis, mentora do consagrado médium baiano Divaldo Franco, na obra  Autodescobrimento – uma busca interior, tece essas considerações:
[…] são muitos os efeitos perniciosos no corpo, causados pelos pensamentos em desalinho, pelas emoções desgovernadas, pela mente pessimista e inquieta na aparelhagem celular.
Determinadas emoções fortes – medo, cólera, agressividade, ciúme – provocam alta descarga de adrenalina na corrente sanguínea, graças às glândulas suprarrenais. Por vez, essa ação emocional reagindo no físico, nele produz aumento da taxa de açúcar, mais forte contração muscular, face à volumosa irrigação do sangue e sua capacidade de coagulação mais rápida.
A repetição do fenômeno provoca várias doenças como a diabetes, a artrite, a hipertensão… Assim, cada enfermidade física traz um componente psíquico, emocional ou espiritual correspondente. […] (FRANCO, 2006, p. 19-20, grifo nosso).
3ª) Na Codificação
Na obra A Gênese, cap. XIV – Os fluidos, Kardec faz várias observações entre elas algumas que tocam diretamente o nosso assunto. É importante buscarmos essa confirmação, pois validará todas as opiniões anteriormente colocadas.
15. Sendo os fluidos o veículo do pensamento, este atua sobre os fluidos como o som sobre o ar; eles nos trazem o pensamento, como o ar nos traz o som. […].
16. Sendo esses fluidos o veículo do pensamento e podendo este modificar-lhes as propriedades, é evidente que eles devem achar-se impregnados das qualidades boas ou más dos pensamentos que os fazem vibrar, modificando-se pela pureza ou impureza dos sentimentos. Os maus pensamentos corrompem os fluidos espirituais, como os miasmas deletérios corrompem o ar respirável. […].
17. […] Como os odores, eles [os fluídos] são designados pelas suas propriedades, seus efeitos e tipos originais. Sob o ponto de vista moral, trazem o cunho dos sentimentos de ódio, de inveja, de ciúme, de orgulho, de egoísmo, de violência, de hipocrisia, de bondade, de benevolência, de amor, de caridade, de doçura, etc. Sob o aspecto físico, são excitantes, calmantes, penetrantes, adstringentes, irritantes, dulcificantes, soporíficos, narcóticos, tóxicos, reparadores, expulsivos; tornam-se força de transmissão, de propulsão, etc. O quadro dos fluidos seria, pois, o de todas as paixões, das virtudes e dos vícios da Humanidade e das propriedades da matéria, correspondentes aos efeitos que eles produzem.
18. […] O pensamento do encarnado atua sobre os fluidos espirituais, como o dos desencarnados, e se transmite de Espírito a Espírito pelas mesmas vias e, conforme seja bom ou mau, saneia ou vicia os fluidos ambientes.
[…].
Atuando esses fluidos sobre o perispírito, este, a seu turno, reage sobre o organismo material com que se acha em contacto molecular. Se os eflúvios são de boa natureza, o corpo ressente uma impressão salutar; se são maus, a impressão é penosa. Se são permanentes e enérgicos, os eflúvios maus podem ocasionar desordens físicas; não é outra a causa de certas enfermidades”. (KARDEC, 2007e, p. 324-327, grifo nosso).
Acreditamos que fica clara a posição doutrinária a respeito do tema, considerando a base principal que é o livro A Gênese, bem como as diversas opiniões acima mencionadas.
Oportuno, trazermos preciosa página do Espírito Rosângela, psicografia de José Raul Teixeira (1949- ), que leva o título de “O Pensamento”:
Para você que sabe que o pensamento é energia a plasmar a vida, surge o imperativo de bem cuidar de suas fontes, para melhorar o padrão das vibrações que partem do imo da alma.
Pensar é construir…
Pensar é semear…
Pensar é produzir…
Veja bem o que semeia, o que produz, nas construções de sua vida, com as suas ondas mentais.
Seu pensamento, inestancável, é você a projetar-se…
Pense melhor. Pensamento é vida!” (TEIXEIRA, 1996, p. 28-31).
Entendemos que todo cuidado é pouco, porquanto… “o feitiço pode se virar contra o feiticeiro”: “[…] O desequilíbrio da mente pode determinar a perturbação geral das células orgânicas. […] As intoxicações da alma determinam as moléstias do corpo.” (instrutor ALEXANDRE em Missionários da Luz) (XAVIER, 1986b, p. 315).
Voltemos ao Espírito Rosângela, na mensagem “O hóspede”:
Inicie a higienização das peças interiores de sua alma, coloque perfumes em sua casa íntima, envolva cada compartimento interno com o necessário silêncio para que Ele se faça o mais suave Hóspede de sua vida, dela jamais, então, se apartando.
De quem se trata? Por ventura ainda não se apercebeu que lhe estou falando de Jesus?
Convide-O, pois, sem mais demora, e hospede-O para sempre! (TEIXEIRA, 1996, p. 111).
Possamos seguir essas advertências para que não venhamos a sofrer as consequências de nosso sentimento de inveja, que, na verdade, é o móvel do mau-olhado.



Paulo da Silva Neto Sobrinho
nov/2014




Referências bibliográficas:
CARVALHO, V. L. M. Ah, se eu pudesse voltar no tempo! São Paulo: Petit, 2006.
FRANCO, D. P. Autodescobrimento – uma busca interior. Salvador: LEAL, 2006.
KARDEC, A. A Gênese. Rio de Janeiro: FEB, 2007e.
MIRANDA, H. C. Diversidade dos carismas: teoria e prática da mediunidade. Vol. I. Niterói, RJ: Arte e Cultura, 1991.
MELO, J. Cure-se e cure pelos passes. Natal: Vida & Saber, 2003.
PERES, N. P. Manual prático do espírita. São Paulo: Pensamento, 1989.
TEXEIRA, R. J. Rosângela. Niterói, RJ: Fráter, 1996.
XAVIER, F. C. Missionários da Luz. Rio de Janeiro: FEB, 1986b.
XAVIER, F. C. O Consolador. Rio de Janeiro: FEB, 1986a.
FRANCO, D. P. Mau olhado e feitiçaria in http://www.kardec.tv/video/transicao-tv/371/transicao-007-mal-olhado-e-feiticaria, acesso em 08.08.2013.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Mau-olhado, acesso em 08.08.2013.]
Mau-olhado em plantas: http://imguol.com/2012/10/26/ilustracao---olho-gordo-1351284447561_615x300.jpg
Mau-olhado criança (adaptada): http://www.meusnervos.com.br/wp-content/uploads/2013/01/Mal-olhado-medico-SUS-01.jpg




[1]
        Nazar ou Pedra contra o mau-olhado também chamada “olho turco” (em turco: nazar boncugu) é um amuleto que se destina a proteger contra o mau-olhado […]. (WIKIPÉDIA).