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segunda-feira, 30 de abril de 2012

DESAPARECIMENTO DO CORPO DE JESUS

           Sérgio de Jesus Rossi
       Transcrevi abaixo a resposta que você deu a um irmão sobre a questão do corpo físico de Jesus.
Com base no meu pouco conhecimento e certa curiosidade, eu concordo plenamente; acredito realmente que Jesus veio à Terra como um de nós, submetendo-se voluntariamente às nossas limitações físicas para nos mostrar o caminho do amor puro, incondicional pela humanidade.
Espírito perfeito desde a noite dos tempos, ele sublimou-se para se fazer entender, aos poucos, pelos séculos seguintes, em processo que ainda está longe de terminar.
Já li diversos comentários e conversei com alguns amigos espíritas que entendem não ter Jesus se valido de um corpo físico durante os anos de vida terrena, mas de uma espécie de materialização; isso seria perfeitamente possível, não teria nada de extraordinário, mas eu me pergunto para quê.
Seriam então menos “reais” para ele as agruras da difícil vida naqueles tempos e, principalmente, os suplícios enfrentados nos últimos dias de existência terrena, culminando na crucificação ?
Para entender melhor o assunto, li o primeiro volume da obra de Roustaing, e também o livro Elucidações Evangélicas, de Antônio Luiz Sayão, que trilha o mesmo caminho do sábio de Bordeaux.
Não tenho argumentos pessoais suficientemente elaborados, não posso sequer aproximar-me da erudição desses dois autores, mas, sinceramente, não fiquei convencido.
Talvez eu não tenho entendido inteiramente, faltando-me embasamento para a avaliação devidamente aprofundada.
Mas, o fato é que ainda continuo a olhar para Jesus como um dos “nossos”: espírito encarnado como ser humano materialmente similar a todos nós, porém capaz como ninguém mais de praticar a vontade perfeita do Pai Maior.
Grande abraço fraterno, meu irmão.
  

Caro J........,
Kardec analisa a questão dos agêneres no livro a Gênese e obviamente sigo o pensamento dele . Aprendemos com o mestre lionês que Jesus não era um agênere. Ele tinha um molde (perispirito) do corpo físico o mais puro que conhecemos, o seu psicossoma jamais poderia ser igual ao meu, mas quanto ao corpo físico era material numa etapa e fluídico noutra, vejamos:
Para Kardec o desaparecimento do corpo de Jesus após sua morte há sido objeto de inúmeros comentários. Atestam-no os quatro evangelistas, baseados nas narrativas das mulheres que foram ao sepulcro no terceiro dia depois da crucificação e lá não o encontraram. Viram alguns, nesse desaparecimento, um fato milagroso, atribuindo-o outros a uma subtração clandestina. Segundo outra opinião, Jesus não teria tido um corpo carnal, mas apenas um corpo fluídico; não teria sido, em toda a sua vida, mais do que uma aparição tangível; numa palavra: uma espécie de agênere. Seu nascimento, sua morte e todos os atos materiais de sua vida teriam sido apenas aparentes. Assim foi que, dizem, seu corpo, voltado ao estado fluídico, pode desaparecer do sepulcro e com esse mesmo corpo é que ele se teria mostrado depois de sua morte.
É fora de dúvida que semelhante fato não se pode considerar radicalmente impossível, dentro do que hoje se sabe acerca das propriedades dos fluidos; mas, seria, pelo menos, inteiramente excepcional e em formal oposição ao caráter dos agêneres, conforme assinala o item 36 do Cap. XIV Trata-se, pois, de saber se tal hipótese é admissível, se os fatos a confirmam ou contradizem.
Kardec explica ainda que a estada de Jesus na Terra apresenta dois períodos: o que precedeu e o que se seguiu à sua morte. No primeiro, desde o momento da concepção até o nascimento, tudo, em seus atos, na sua linguagem e nas diversas circunstâncias da sua vida, revela os caracteres inequívocos da corporeidade. São acidentais os fenômenos de ordem psíquica que nele se produzem e nada têm de anômalos, pois que se explicam pelas propriedades do perispírito e se dão, em graus diferentes, noutros indivíduos.
Depois de sua morte, ao contrário, tudo nele revela o ser fluídico. É tão marcada a diferença entre os dois estados, que não podem ser assimilados.
O corpo carnal tem as propriedades inerentes à matéria propriamente dita, propriedades que diferem essencialmente das dos fluidos etéreos; naquela, a desorganização se opera pela ruptura da coesão molecular. Ao penetrar no corpo material, um instrumento cortante lhe divide os tecidos; se os órgãos essenciais à vida são atacados, cessa-lhes o funcionamento e sobrevém a morte, isto é, a do corpo. Não existindo nos corpos fluídicos essa coesão, a vida aí já não repousa no jogo de órgãos especiais e não se podem produzir desordens análogas àquelas. Um instrumento cortante ou outro qualquer penetra num corpo fluídico como se penetrasse numa massa de vapor, sem lhe ocasionar qualquer lesão. Tal a razão por que não podem morrer os corpos dessa espécie e por que os seres fluídicos, designados pelo nome de agêneres, não podem ser mortos.
Após o suplício de Jesus, seu corpo se conservou inerte e sem vida; foi sepultado como o são de ordinário os corpos e todos o puderam ver e tocar. Após a sua ressurreição, quando quis deixar a Terra, não morreu de novo; seu corpo se elevou, desvaneceu e desapareceu, sem deixar qualquer vestígio, prova evidente de que aquele corpo era de natureza diversa da do que pereceu na cruz; donde forçoso é concluir que, se foi possível que Jesus morresse, é que carnal era o seu corpo.
Jesus, pois, teve, como todo homem, um corpo carnal e um corpo fluídico, que é atestado pelos fenômenos materiais e pelos fenômenos psíquicos que lhe assinalaram a existência.
Por enquanto é o que posso afirmar.
Um abração
Jorge Hessen

terça-feira, 24 de abril de 2012

JOVEM, CEGA E SURDA, SURPREENDE NA UNIVERSIDADE


LUIZ CARLOS FORMIGA

Entre os seus antepassados, consta um professor, autor de um tratado sobre “surdos-mudos”.
Aos 18 meses viu-se privada dos sentidos da visão e da audição.
Poderia ter vida instintiva e chegar à idiotia. Não aprendeu a falar, mas a fazer sinais para se comunicar.
Uma professora formada pela Escola de Cegos foi contratada pelos pais, para ensinar a filha, de seis anos.
Com a jovem professora, aquela menina, que vivia num mundo sem som e imagem, aprendeu a distinguir seres e objetos com o toque das mãos e começou a ensaiar o raciocínio.
O tempo passou.
No colégio de moças "normais", foi recebida com relutância.
Não ouvia e não podia tomar notas de aulas, mas aos 24 anos concluiu a licenciatura em Humanidades, com distinção.
Escrevia em inglês e francês e fez conferências pelo mundo, incluindo o Brasil.
Seus livros são admiráveis. Em "Minha Vida de Mulher" fala da sua religiosidade.
"Eis para que serve a religião: inspirar-nos à luta até ao fim, de ânimo forte e sorriso nos lábios.
Mas, uma ambição eu tenho: a de não me deixar abater.
Para tanto conto com a bênção do trabalho, o conforto da amizade e a fé inabalável nos altos desígnios de Deus".

Fonte
Rêde Saci, Universidade de São Paulo (USP)


 
http://www.solidario.blog.br/wp-content/uploads/2011/06/banner-

Audioteca Sal e Luz
O trabalho que é realizado na Audioteca Sal e Luz corre o risco de acabar.
A Audioteca é uma instituição filantrópica, sem fins lucrativos, que produz e empresta livros falados (audiolivros).
São livros que alcançam cegos e deficientes visuais de forma gratuita.
O acervo de 2.700 títulos vai desde literatura em geral, artigos religiosos, até textos e provas corrigidas voltadas para concursos públicos em geral.
São emprestados sob a forma de fita K7, CD ou MP3. Ajude divulgando.
Se você conhece algum deficiente visual, fale do nosso trabalho.
Para ter acesso ao nosso acervo, basta se associar na nossa sede, que fica situada à Rua Primeiro de Março, 125 - Centro. RJ.
Não precisa ser morador do Rio de Janeiro.
Diante da dificuldade de locomoção, podem solicitar o livro pelo telefone, escolhendo o título pelo site.
Ele irá gratuitamente pelos Correios.
A maior preocupação é que, apesar do governo ajudar, é preciso apresentar resultados.
A Audioteca precisa número significativo de associados, caso contrário irá se extinguir.
Divulguem!
Atenciosamente, Christiane Blume
Audioteca Sal e Luz.Rua Primeiro de Março, 125- 7º Andar.
Centro - RJ. CEP 20010-000 Fone: (21) 2233-8007(21) 2233-8007.
Horário de atendimento: 08:00 às 16:00 horas
 VIDENTE CLIQUE AQUI
http://audioteca.org.br/noticias.htm
A Audioteca não precisa de dinheiro, apenas DIVULGAÇÃO!

segunda-feira, 23 de abril de 2012

ESPIRITUALIDADE E SAÚDE MENTAL (*)

LUIZ CARLOS AFORMIGA



O que é espiritualidade?
A espiritualidade envolve experiências que: apontam para a descoberta do grande significado e propósito na vida; para um senso de conexão profunda "pessoal e com o universo"; integração e um sentimento de plenitude.
Espiritualidade frequentemente se torna mais importante em tempos de angústia, estresse emocional, doença física e mental, perda, luto e proximidade da morte.
Todos os cuidados de saúde tentam aliviar a dor e curar - mas bons cuidados de saúde tentam fazer mais do que  isso. Espiritualidade enfatiza a cura da pessoa, não apenas da doença. Ela vê a vida como uma jornada, onde as experiências boas e ruins podem ajudar você a aprender, desenvolver e amadurecer.How is spirituality different from religion?
Espiritualidade difere de religião?
A espiritualidade não está ligada a nenhuma crença religiosa em particular ou tradição. Embora a cultura e as crenças possam desempenhar um papel na espiritualidade, cada pessoa tem sua única e própria experiência de espiritualidade - pode haver experiência pessoal, tenha a pessoa uma crença religiosa ou não. Espiritualidade também destaca como estamos conectados com o mundo e outras pessoas.What is spiritual health care ?What difference can spirituality make?
Que diferença pode fazer a espiritualidade?
Usuários do serviço dizem que eles ganharam: melhor auto-controle, auto-estima e confiança, recuperação mais rápida e fácil (muitas vezes de perdas com luto saudável e, através do reconhecimento de seus pontos fortes); melhores relacionamentos – consigo, com os outros e com Deus / criação / natureza; um novo senso de esperança, significado e paz de espírito. Isto lhes permitiu aceitar e conviver com seus problemas existenciais persistentes.
As práticas espirituais podem nos ajudar a desenvolver melhor nosso interior. Elas podem nos ajudar a nos tornamos mais criativos, pacientes, persistentes, honestos, gentis, compassivos, sábios, calmos, esperançosos e alegres. Tudo isso faz parte do adequado cuidado em saúde.
Estão incluídos nas habilidades espirituais: ser honesto - e capaz de perceber como é visto pelos outros; ser capaz de manter o foco no presente, de estar alerta, sem pressa e atento; desenvolvimento de um senso mais profundo de empatia; ser capaz de estar com alguém que está sofrendo, enquanto guarda a própria esperança; aprender a fazer melhor juízo, por exemplo, quando deve falar ou agir, e quando deve ficar em silêncio ou não fazer absolutamente nada.
Espiritualidade enfatiza nossas conexões com outras pessoas e com o mundo, criando a idéia de 'reciprocidade'. Isso significa que tanto o doador como o receptor receberão algo daquilo que acontece, que quando você ajuda o outro, ajuda a si mesmo. Muitos cuidadores desenvolvem naturalmente habilidades e valores espirituais ao longo do tempo, como resultado de seu compromisso com aqueles com quem se importam. Aqueles que estão sendo cuidados, por sua vez, podem frequentemente ajudar outros que estão passando pelo perigo.The place of chaplaincy/pastoral care
Existem evidências Education and research de que as pessoas que pertencem a uma comunidade de fé, ou que possuem crenças religiosas ou espirituais, adquirem melhor saúde mental. Assim, temos agora inúmeros cursos sobre espiritualidade para estudantes e profissionais de saúde mental.
About the Spirituality and Psychiatry Special Interest Group (SIG)A espiritualidade é profundamente pessoal. Tente descobrir o que melhor funciona com você. Três partes dessa rotina diária podem somar: um tempo regular para recolhimento interior (para oração, reflexão ou meditação); estudo de um material religioso e / ou espiritual; fazer amigos que possuem aspirações em termos de objetivos espirituais e / ou religiosos.
Referências
Puchalski C. & Larson D. (1998) Developing curricula in spirituality and medicine. Acad Med. 73(9), 970-974.
World Health Organization. (1998) WHOQOL and Spirituality, Religiousness and Personal Beliefs: Report on WHO Consultation. Geneva: WHO.
Post S., Puchalski C.& Larson D. (2000) Physicians and Patient Spirituality: Professional Boundaries, Competency, and Ethics. Annals of Internal Medicine. 132: 578-583.
Culliford L. (2007) Taking a Spiritual History. Advances in Psychiatric Treatment,13, 212-219.
Culliford L. (2009) Teaching Spirituality and Healthcare to 3rd Year Medical Students. Clinical Teacher. 6: 22-27.

Leitura complementar disponível entre nós:
 Saúde e Doença.

No Núcleo Espírita Universitário (NEU) acreditamos que “a educação da alma é a alma da educação”. Nosso objetivo é ajudar o desenvolvimento da espiritualidade do ser na academia. Possuímos frentes de atividades, uma delas é a “formação” - promover o aperfeiçoamento da conduta espírita, de modo que possamos exercer a cidadania com nível de consciência mais alto."Os meus discípulos serão conhecidos por muito se amarem", é a lição de que o progresso do conhecimento é estimulado pelo regime de diálogo franco e aberto; é convite à fraternidade, ao amor em ação, na aceitação da diversidade e no relacionamento pacífico entre os diferentes.A coexistência pacífica nascida da fraternidade autêntica é o ambiente favorável à produção intelectual e à tolerância das diferenças, que podem ser exibidas sem conflitos, inibindo o autoritarismo, o fanatismo, o preconceito e a exclusão. "Amai-vos e Instruí-vos" indica que a ação do segundo verbo deve ser apoiada pelo primeiro.
(*) Tradução-Fonte.
Spirituality and mental health.




domingo, 22 de abril de 2012

A ARIDEZ PASCAL DOS CENTROS ESPÍRITAS





Se todos os templos, se todos e quaisquer lugares de culto representantes das mais diversas organizações cristãs resolvessem fechar portas, como o fazem a maioria dos Centros espíritas, acabavam-se a celebrações do calendário histórico-religioso do judeo-cristianismo de que somos herdeiros. Tombaríamos redondos no chão da incultura religiosa, na crença cínica do deus operatório criado à imagem e semelhança do mais refinado egoísmo.

Por mais que certos espíritas neguem, a Doutrina tem as mesmas origens que as suas congéneres: a comunicação com os Espíritos, a Natureza como espaço sagrado, a crença na vida após a morte. Tudo isso faz parte do universo religioso intrínseco ao próprio homem, do qual as diferentes leituras e representações são a riqueza da manifestação do Espírito na sua relação constante com o Divino e o Sagrado. Nós partilhamos a mesma História, os mesmos conflitos e desenlaces; partilhamos o mesmo universo de esperança e de sentido, partilhamos a procura da felicidade e a explicação para o sofrimento.

Ora, a Páscoa dos cristãos é, antes de mais, a Páscoa do povo judeu. Esta festa do calendário litúrgico não é um acontecimento qualquer. Trata-se da celebração da passagem da escravatura à liberdade, do silêncio ao direito de auto-determinação política e religiosa baseado na promessa de Deus ao seu povo.

Este movimento de passagem é ambivalente porque a estes aspectos acresce ainda a missão ímpar na História das Religiões, a saber, não se trata apenas de libertar um povo mas de o mesmo transportar consigo, mediante uma fé inabalável, a missão de espalhar por toda a Terra a exitência de um Deus libertador, invisível, e que estabeleceu com o seu povo uma Aliança. Um povo escravo é o povo silenciado e, como tal, impedido de cumprir qualquer missão. A saída do Egipto é libertação plena da Palavra, esperança para todos os oprimidos.

Por outras palavras, a História é manifestação de Fé e do Deus único. Isto significa que o jogo entre direitos e deveres passa pelo facto de perceber que o homem é um ser superior e, como tal, na sua fé, não deve curvar-se perante nada, seja feito por mão humana, seja do que existe na Natureza (Ex 20: 2-4).

A fim de celebrar essa passagem, em Ex 12, capítulo em que está instituída a primeira Páscoa, temos no v.5 a imolação cordeiro ou cabrito, macho, sem mácula, de um ano, que será comido assado, com pães asmos e com ervas amargas (v.8), entre outros preceitos (vv 15-27). Esta era a Páscoa do judeu Jesus.

Como a sua morte por crucificação ocorreu na altura das festividades pascais, foi associada a Jesus a classificação de Cordeiro de Deus, aquele cuja morte transportou os nossos pecados. O seu ressurgimento após três dias, que nada tem a ver com reencarnação, dá testemunho da presença do seu Espírito junto dos seus companheiros e familiares, cabendo-lhe agora a feitura da Promessa: “(...)eis que eu estou convosco, todos os dias, até à consumação dos séculos. Amén.” (Mt 28: 20); “E estes sinais seguirão aos que crerem: em meu nome expulsarão os demónios; falarão novas línguas; Pegarão nas serpentes; e, se beberem alguma coisa mortífera, não lhes fará dano algum; e porão as mãos sobre os enfermos, e os curarão.” (Mc 16: 17-18); “ E eis que sobre vós envio a promessa do meu Pai: ficai, porém, na cidade de Jerusalém, até que do alto sejais revestidos de poder.” (Lc 24: 49); “E, tudo quanto pedirdes em meu nome, eu o farei, para que o Pai seja glorificado no Filho. Se pedirdes alguma coisa em meu nome, eu o farei. Se me amardes, guardareis os meus mandamentos. E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre. O Espírito de verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem conhece; mas vós o conheceis, porque habita convosco, e estará em vós. Não vos deixarei órfãos; voltarei para vós.” (Jo 14: 13-18).

Embora com diferenças marcantes entre os quatro evangelistas, a Promessa cumpre-se, tal como fora anunciada nas Escrituras, de que a presença de Deus junto dos que permanecerem fiéis aos seus ensinamentos será inviolável. Aquele que crê torna-se imune a todas as vicissitudes, de tal forma que a sua vida é um viver constante para Deus. Dito numa linguagem espírita, este lado e o lado de lá são um só no bem fazer, na prece e no amor incondicional ao próximo.

E aqui surge o incómodo: Neste tempo de Páscoa, como foi a sua passagem? Qual foi o seu gesto libertador? O que é que modificou em si próprio? Acha que faz parte do povo escolhido para transmitir ao mundo a fé no Deus único? Sente-se com coragem para tal responsabilidade? Acha que é digno de ser servo desse Deus? Sente-se apóstolo, seguidor, ou é mero simpatizante desse Jesus, Cordeiro de Deus? Que rumo pretende dar à sua vida? Para que lado lança as suas redes? O que quer verdadeiramente: peixe, pão, serpente ou pedra?

Ser cristão incomoda. Mexe com a natureza de quem ainda trilha caminhos de Damasco ou de Emaús; de quem se esconde com medo dos soldados do Império Romano representados em milhentos olhares acusadores e dos quais não temos notícia. É o medo de vermos as nossas incongruências, a nossa cor pardacenta.

Não tenho a menor dúvida de que, se o discurso pascal fosse idêntico ao natalício, os Centros ficariam a abarrotar de roupas velhas, alimentos fora de prazo, sacos cheios de sandes, sumos e frutas para dar aos pobrezinhos (sem desonra para os que o fazem com o devido respeito e consideração por quem recebe). Mas como o discurso pascal está na outra margem, eu diria nos antípodas da caridade falaciosa, os Centros resolvem fechar as portas pois não há caridadezinha para garantir a salvação. Como evitar que isto aconteça?

Instituir nos Centros a Sessão Pascal: conduzir o crente a uma autocrítica profunda, uma reflexão sobre os seus pensamentos, as suas acções; instalar o incómodo do erro, do pecado, da falsidade; incentivar à procura do Bem, à limpeza mental; ensinar que a fé associada a uma vontade firme formam a alavanca que nos fará ultrapassar os escolhos que se nos deparam no quotidiano. Com que meios poderá o Centro espírita fazer tudo isto?

Todos os trabalhadores têm que dar o exemplo. Não significa serem perfeitos, nem bons, porque só Deus o é. Significa tão simplesmente estarem empenhados em ser melhores. Depois, deve o Centro espírita, no início de cada ano de actividades, geralmente no princípio de Setembro, estabelecer um calendário para o ano inteiro no que se refere às festividades internas à Doutrina, da Casa, bem como daquelas que marcam os episódios basilares da nossa herança religiosa. Os espíritas têm que perceber que não estão sózinhos no mundo cristão e, como tal, não lhes é permitido alhearem-se daquilo que lhes confere identidade. Isso também é uma falta de caridade. Antes de Kardec está Jesus Cristo, e antes de Jesus Cristo está Deus, e Deus está acima de todas as coisas. Celebrar a Páscoa é celebrar Deus libertador. O Espiritismo não pode esquivar-se a essa comemoração.
Seguidamente, dividir os trabalhadores com equidade, segundo aquilo para que estão mais vocacionados e mediante as possibilidades dos mesmos, penso que é coerente. Há que perceber que o Centro é uma casa de oração que deve estar ao dispor de quem chega 365/6 dias no ano. Proíbir um espírita de celebrar a Páscoa no Centro que habitualmente frequenta é, a meu ver, um pecado hediondo. Ele tem o direito de partilhar a sua oração com os demais, nem que sejam dois ou três.

Por fim, sentir a alegria de partilhar a oração, os esclarecimentos e tudo o mais que cada Centro achar por bem levar a efeito no sentido de melhor complementar os trabalhos.

Lembre-se, viver a Páscoa é celebrar a maior das victórias: a vida sobre a morte.

Qua a paz de Deus, de Jesus Cristo e de todos os que abnegadamente estão ao seu serviço estejam consigo. Amén.
Margarida Azevedo